Santo Renegado Brasileira

Autor(a): Tomas Rohga


Volume 1

Capítulo 1: Larva

Erik Marconde decididamente não pertencia àquele lugar.

Magro, curvado, a pele amorenada e o cabelo tão preto quanto os olhos; não era do tipo que se destacava na multidão.

Caminhando pela calçada com a mochila nas costas, encarou a aproximação de uma Mercedes estacionando próxima ao meio-fio. O carro parou, largando uma aluna com aparência de celebridade à entrada do Colégio Ganeden.

Era ruiva, de seios firmes e o corpo tão cheio de curvas quanto Erik andava torto. O terninho se ajustava com perfeição a ela; a meia-calça cobrindo o resto das pernas que a saia de pregas deixava de fora.

Erik desviou o olhar, sentindo-se nervoso e envergonhado. Todos chegavam em carros impressionantes como aquele, enquanto ele só podia contar com as próprias pernas, todos os dias, suando por dentro do uniforme de terninho.

Suspirou conformado, sendo o último estudante a atravessar o grande portão gradeado.

Não tinha o dinheiro, o status, nem a aparência escultural daqueles alunos, mas foi esperto o bastante para garantir uma bolsa de estudos integral no ano que passara, o que certamente fazia de Erik o aluno mais pobre do colégio de elite.

Com o tempo, aprendeu a odiar o lugar e toda a atenção que a falta de dinheiro trazia, mas tinha de fazer valer aquela bolsa.

— Erik? Aqui!

Ele se encolheu. A garota com aparência de celebridade acenava com entusiasmo.

— Chegando atrasado como sempre?

— Oi, Bia — cumprimentou acanhado.

Conhecia Bianca Kerr desde criança. Antes de morrer há sete anos, a mãe de Erik trabalhou por muitos anos como empregada doméstica na mansão dos Kerr.

— Ouviu os boatos? — perguntou ela, o tom divertido. — Dizem que apareceu um fantasma no colégio. Chegou a sair no jornal da escola.

Erik sorriu desajeitado, coçando a bochecha enquanto olhava para o chão.

— O-ouvi sim… Acho que já tem umas duas semanas essa história, mas não sei se acredito muito.

— Lá vai você de novo. Como pode ser tão cético? — indagou ela, fazendo beicinho. — Você estuda num colégio católico.

Erik deu de ombros.

— Sei lá.

— Ah, é? — Uma nota de desafio atravessou a voz de Bianca. — Então que acha de ficar no colégio até anoitecer? Você e eu. Pra gente tirar essa história a limpo?

— Tá doida?!

— Para de ser bunda-mole. Sou Representante. Os professores me deixam com qualquer chave que eu precisar. Prometo que a gente vai embora antes de alguma irmã aparecer. Topa, vai?

Ele fitou a amiga de esguelha. Não entendia aquela insistência de Bianca em relação à amizade dos dois. Tirando o fato de estarem na mesma classe, viviam em mundos quase opostos. Bianca era um tipo de rainha na escola; uma leoa, enquanto Erik se aproximava muito mais de um cachorro vira-lata. Muita gente torcia o nariz ao vê-los andando juntos, e Erik entendia o porquê.

— E… E o seu namorado? — Ele forçou um sorriso ao mudar de assunto. — Não vai ficar bravo com isso?

— O Vicente? A gente terminou. Não aguentava mais aquele babaca.

Erik se sentiu estranho. Um misto de alegria e culpa o invadiu.

— Que aconteceu?

Bianca deu de ombros. Não parecia disposta a explicar.

— M-mas quem imaginaria vocês dois juntos, não é mesmo? Formavam um casal bem… você sabe… bem inusitado. — A voz de Erik soou patética até para ele mesmo, mas a curiosidade era tão grande que não conseguiu mais se refrear. Atropelou as palavras: — Ouvi boatos que vocês usavam a Sala de Projeção pra se pegarem às vezes.

— Que droga! — queixou-se Bianca. — Onde ouviu isso?

Erik riu de nervoso. Tinha captado um burburinho entre Júlia e Pâmela, as duas melhores amigas de Bianca. Tentou mudar de assunto outra vez:

— Bia…? Pode ir na frente? Preciso pegar um livro que esqueci no armário.

— Posso ir com você, se quiser.

— N-n-não! Não se incomode. — Erik enfatizou com a cabeça, forçando um sorriso. — Não precisa.

— Então tudo bem. Só não vá demorar muito pra não perder a chamada.

O rapaz concordou, fitando o sorriso gentil de Bianca.

Ela continuou a se mover, carregando a cabeleira ruiva para longe, como uma fogueira perfumada sob a brisa da manhã. Sentiu um amargo na garganta ao compreender que, apesar de irritada, a amiga de infância não se preocupou em negar os boatos.

Erik permaneceu ali imóvel, em companhia dos próprios pensamentos.

 

*******

 

O céu cor de sangue se punha através da janela, começando a ser tomado pelo azul da noite.

Sozinho à mesa, Erik dobrou mais uma página de A Metamorfose. Foi quando escutou o ruído de alguém batendo à porta.

— Voltei. — Bianca surgiu sorridente. — Tá quase tudo vazio. Vamos indo?

Mais cedo, Bianca havia pedido a Erik que aguardasse na sala dos Representantes até que os professores tivessem ido embora e as freiras deixado o local, pois as portas eram trancadas depois do horário.

A princípio, estava decidido a não participar daquela insanidade, mas Bianca insistiu tanto que simplesmente desistiu de contrariá-la. Erik guardou o livro e suspirou.

— E aonde vamos? — perguntou ele.

— Até a nossa sala. Tô com a chave.

Erik enrubesceu, encarando a amiga de soslaio. O perfil daquele rosto era uma planície angelical, mas também indecente. Por algum motivo inexplicável, Erik se lembrou de uma concepção de Afrodite que viu num livro anos atrás, experimentando uma quentura ao admitir que a beleza de Bianca era quase irreal.

— P-pra que voltar lá? — balbuciou ele, desviando o olhar. — Esqueceu alguma coisa?

— Meu canivete.

— Você trouxe um canivete pro colégio?!

— É pra gente se proteger do fantasma. Tenho um amigo fissurado em revista de luta, mas que não luta nada de nada, sabe?

Uma vermelhidão abrasiva tomou o rosto de Erik. — Quem te contou sobre elas?

— Sua avó, é claro — divertiu-se Bianca.

— E… e daí? É só um passatempo. Além do mais, não tenho só sobre lutas: economia, psicologia, esportes, carros e idiomas… Que é que tem gostar de ler essas coisas?

Bianca deu ombros.

— Tirando a chatice? Nada, mas agora entendi porque escondeu aquele monte de Playboys. Foi pra compensar, fala a verdade.

— Q-quê? Mas não tenho nenhuma dessas!

Erik corou ainda mais ao captar o sorriso perspicaz de Bianca. Apertou o punho, percebendo ali que a pergunta tinha sido uma isca. Odiava quando a amiga zombava dele como se ainda fossem crianças. Baixou os olhos, reparando nos sapatos bem engraxados da garota.

— Não fica chateado — tornou ela —, tem uma coisa muito legal que deixei na sala. É isso. Mas só vou te mostrar lá na classe.

“O que ela tá tramando?”, pensou ele.

Bianca destrancou a porta assim que chegaram, fazendo um gesto teatral em direção à lousa: — Tcharam!

O rapaz ficou tão surpreso que a fala travou.

Um enorme “Feliz aniversário, Erik!” desenhado em marcador azul ocupava toda a extensão da lousa. Sobre a mesa do professor, dois pedaços de bolo de morango repousavam ao lado de um balão com o número dezoito amarrado à cadeira. Erik não ligava muito para aniversários, porém, no momento em que topou com tudo aquilo, foi verdadeiramente golpeado por um sentimento comovido e envergonhado.

— Sei que o seu aniversário é só amanhã — começou a garota —, mas, como já vou viajar cedinho, quis fazer alguma coisa antes de ir.

— V-você planejou isso desde o início? Então aquela história de fantasma…?

Bianca sorriu para ele.

— Acho que o boato veio a calhar. Aproveitei que todo mundo só falava daquilo pra te convencer. Gostou da surpresa?

Erik não soube explicar em que segundo estendeu os braços. Quando deu por si, porém, havia prendido Bianca num abraço apertado.

Ela se assustou de momento, mas fechou as pálpebras lentamente e retribuiu o gesto. Os dois amigos permaneceram unidos até que a coragem e a falta de noção cresceram em Erik, ao ponto de vazar na forma de um gaguejo:

— Obrigado, Bia… A verdade é que eu… Eu gosto de você. Gosto de você há muito tempo!

A confissão caiu como uma bomba. Bianca o soltou, perturbada.

Um silêncio horrível envolveu a sala vazia, preenchendo o espaço que havia entre ambos. Pouco a pouco, Erik se sentiu sufocar sob a própria ousadia, enxergando-se como o maior dos idiotas. “De onde veio isso?”, pensou angustiado. “Seu otário! Bianca nunca mais vai falar com você depois dessa!”

Decorrido quase um minuto de completa quietude por parte da garota, ensaiou uma frase para romper o climão…

— Olha, Bia. Eu…

Mas foi interrompido quando ela se aproximou de brusco e simplesmente jogou a boca contra a dele. Erik experimentou uma onda de eletricidade lhe atravessar o corpo e travou no lugar, sentindo um misto de êxtase e pavor. Não tinha plena consciência do que fazer naquela situação, pois era a primeira vez que beijava uma garota na vida.

— Credo, você beija mal. — Ela riu, separando-se dele e o encarando nos olhos.

— Q-q-quem? — O coração de Erik martelava tão depressa que chegava a doer.

Porém, em vez de responder, Bianca o empurrou para uma cadeira e se adiantou até a porta, enfiando a cabeça no corredor. Ela olhou de um lado para o outro, trancou a fechadura atrás de si e tornou a encarar o amigo, mordendo o canto do lábio.

— Ando meio doida ultimamente, por isso não confunda as coisas — explicou ela. — É só um presente de aniversário…

E, mais uma vez, achegou-se para enterrar a boca contra a do amigo, dessa vez com ainda mais vontade ao inclinar o corpo sobre o dele.

De olhos fechados, Erik sentiu a maciez daquela cintura e o perfume daqueles cabelos. Conduzido por Bianca, logo entendeu que um beijo não era um combate de línguas; era uma dança de volúpia. Quando se desconectaram, um filete insistente de saliva ainda os uniu.

Rubro e um tanto embriagado pela sensação dos lábios da jovem, Erik a encarou. O rosto de Bianca adquiriu cor de ameixa, sorrindo com luxúria antes de dizer:

— Olha, faz um tempinho que não faço isso…

A sequência assustadora de acontecimentos tornou Erik incapaz de compreender nas entrelinhas. Seu cérebro se transformou num chimpanzé batendo um par de pratos de metal. A mente só repetia a mesma pergunta, várias e várias vezes: “O que eu faço? O que eu faço?”

Então presenciou Bianca ficar em pé diante de si. Ela respirou fundo e baixou a saia de pregas, utilizando Erik como cabide ao atirar o terninho por sobre ele. Desamarrou o sutiã e soltou os braços. Deixou a peça cair sozinha.

A sensação de levar uma pancada no cérebro devia ser semelhante. Erik sentiu explodir no baixo-ventre, encarando os seios rosados de Bianca com um fascínio que chegava a entontecer. Apenas de calcinha, ela se aproximou mais uma vez, roçando-lhe os dedos por sobre a virilha do uniforme e empurrando o próprio peito contra o rosto de Erik; a língua dele invadiu o mamilo já teso da amiga. Ela estremeceu.

— Assim… — A garota gemeu baixinho ao enterrar as mãos nos cabelos de Erik, abraçando-o.

Bum. Bum.

Mesmo do fundo da sala, as duas fortes batidas na porta foram suficientes para trazê-los de volta à realidade.

— Alguém? — ouviu-se a voz grossa a partir do corredor. Ambos congelaram na posição em que estavam.

— Não acredito! — sibilou ela, correndo para vestir as roupas.

— Professor? — Vicente Lucius tornou a imperar. — Tem alguém aí dentro?

Ainda paralisado, Erik encarou Bianca, que o fitava de volta tão perplexa quanto ele.

— Por favor, responde alguma coisa! — cochichou ela, o tom apavorado.

— R-responder o quê? — rebateu a pergunta, forçando a mente a funcionar no tranco. — Precisamos mesmo nos esconder? Se a gente ficar quieto, podemos só fingir que a sala tá vazia.

— A luz tá acesa e você não conhece a insistência do Vicente. Duas semanas que a gente terminou e ele ainda fica me azucrinando. Não quero que brigue com você por minha causa. Ele não vai aceitar essa situação.

Erik cerrou o punho.

— Pera aí! — gritou irritado. — Já vai!

— Porra, Marconde! É você? Tá batendo uma aí dentro? Abre logo! Esqueci meu celular.

Bianca cogitou pular a janela, mas desistiu quando Erik a lembrou que não estavam no primeiro andar. Enxergando-se sem opções, ela se precipitou para dentro do armário de materiais ao fundo da sala, espremendo-se entre pastas de papelão, apagadores de lousa e um velho mimeógrafo.

— Tô indo! — Exasperado, Erik correu até a porta e a destrancou.

— Te peguei numa hora ruim? — perguntou o rapaz alto, atlético e com o cabelo em estilo militar. Adentrou na sala com ares de mau humor.

— Q-que nada. Tá tudo bem… tudo na mais perfeita ordem, como sempre.

Vicente apenas ergueu uma sobrancelha, seguindo pesadamente até a carteira. — Foi sorte ter visto a luz acesa.

— Baita sorte, n-não é mesmo? — Erik riu ansioso. — Fiquei estudando e nem vi a hora.

A resposta de Vicente foi uma fungada, mas o sinal de alerta piscou para Erik no momento em que o rapaz parou de procurar; o celular já seguro na mão. Sem dizer nada, o ex-namorado de Bianca se virou com o semblante indecifrável e um pedaço de meia-calça pendurada entre o polegar e o indicador.

— O que é isso?

Erik arregalou as órbitas, sentindo a língua travar no céu da boca.

Vicente não esperou por resposta, aproximando o objeto do nariz. Cheirou. Fez uma pausa. Depois sussurrou como se a voz tivesse sido trocada pela de um demônio:

— Tem o cheiro da Bianca nisso aqui… é a meia dela.

Sabendo o quão imprudente era continuar mentindo para alguém que farejava medo e fraqueza como um cão raivoso, Erik arriscou o engodo pela segunda vez:

— Ela… Ela passou aqui mais cedo. Amanhã é o meu aniversário, então veio comer bolo. Aceita um pedaço? É de morango.

Não houve resposta.

— Ali na lousa, olha lá! — O pânico vazava pela voz de Erik. Trêmulo, apontou para o quadro. — Bia deve ter ralado em alguma coisa quando foi embora, aí rasgou.

Vicente, no entanto, era uma estátua feita de músculos e instinto. Ele ergueu a cabeça e, quando abriu a boca para falar de novo, um brilho assassino atravessou seus olhos cinzentos:

— Não… você tá mentindo. Ela ainda tá aqui.

Sem dizer mais nada, o rapaz avançou na direção de Erik. Ele mal teve tempo de reação, percebendo no último segundo a hostilidade estampada no semblante enfurecido. Com uma exclamação, teve o pescoço agarrado por Vicente.

— Aparece, Bianca! — rugiu em voz alta, fazendo ecoar pela sala.

Erik tentou se desvencilhar, sentindo-se sufocar através do aperto firme contra a laringe, os dedos de Vicente agindo como garras de pedra.

Ouviu-se um ruído apressado que durou até Bianca se materializar de dentro do armário.

— Deixa ele em paz!

Vicente lançou um olhar terrível para a garota, apertando ainda mais a garganta de Erik.

— Por que tava escondida?

— Vai se ferrar, Vicente! A gente terminou.

— Sua puta!

E meteu um soco devastador no rosto de Erik, mandando-o para longe.

— Não machuca o meu amigo! — Ela se atirou para cima do ex-namorado, agarrando-o aos berros.

Encolhido no piso frio, Erik enxergava um turbilhão de imagens soltas. Vislumbrava uma dupla de silhuetas girando pela sala; a segunda figura parecendo agarrada ao pescoço da primeira como numa dança ou batalha, não sabia distinguir. A voz aguda de Bianca gritava à distância, mas bem podia ser um delírio…

De repente, discerniu o sujeito mais alto atirar o menor à parede, compreendendo naquele instante que Vicente simplesmente malhou Bianca contra a lousa, fazendo a garota deslizar inconsciente para o chão.

— Que merda… — resmungou Erik, sentindo um naco de sangue coagulado surgir à boca. Cuspiu para fora. — Que merda você fez?

Vicente se aproximou, os passos silenciosos como os de um leão. Agachou-se perante a figura caída de Erik e o puxou pelo cabelo, obrigando-o a encará-lo.

— Eu sempre te suportei, seu bosta — Vicente cuspiu no chão —, porque pensei que você e Bianca fossem como irmãos. Que merda tavam fazendo aqui sozinhos?

— Acha… Acha que vai se safar dessa? A polícia vai aparecer e…

— Então tem colhão pra me ameaçar? — Vicente parecia quase achar graça da situação. Levantou-se e encarou Erik a um metro e noventa de altura. — Pelo jeito ainda não entendeu o que tá rolando aqui, Marconde. Você é só um verme que rastejou tempo demais entre leões. Sua palavra não tem valor nenhum contra a minha. Nenhum. Por isso… — Desceu o primeiro chute na fuça de Erik. — Chega… — Outro chute. — De achar… — E mais um. — Que faz parte… Disso aqui!

Tão logo terminou a frase, também deteve a sessão de espancamento, encarando o rosto macerado e coberto de sangue de Erik.

— Por favor — murmurou ele, o olho inchando como uma bolha de carne.

Mas Vicente não parecia preocupado. — Você nunca devia ter pisado nesse colégio.

E, com esse aviso, Erik sentiu a cabeça receber a pancada mais dolorosa de sua vida inteira, sendo envolvido pelo vazio.

Para Erik, as trevas perduraram infinitamente, mas algo de um escuro mais intenso que o abismo o fez despertar aos poucos, atordoado. A silhueta o encarava do canto mais afastado da sala com um tipo de coroa na cabeça disforme; o crucifixo sobre a lousa virado de cabeça para baixo.

— Você… Você é o fantasma? — balbuciou ele. — Estou sonhando?

Sentiu o frio da noite penetrar nos ossos ao mesmo tempo em que meia dúzia de olhos brancos piscaram para ele. A voz opressiva da silhueta ecoou diretamente nos ouvidos de Erik:

— Sou o Eremita, criança. Estás à beira da morte.

— Eles me abandonaram aqui…?

A criatura demorou a responder.

— Há muito abandonaste a si mesmo, Erik Marconde. Por isso lhe trago um contrato e uma nova chance de viver. Aceitas a minha oferta?

O desespero mesclado à raiva invadiu o coração de Erik.

“Que vá tudo pro inferno!”, condenou. Sabia que nada daquilo era real e, num sonho, não tinha medo de nada.

— Eu quero viver…

Mesmo sem boca, a criatura pareceu sorrir.

O vento soprou mais forte.



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