Volume 1 – Arco 1
Capítulo 8: Além do conhecido.
Dois meses depois, 13:30, dia 10 mês 7 ano 362 AG. Reino Celeste- Campo de treino.
Mais um dia de treino se iniciou; desta vez, o campo estava encharcado e continuava a cair pequenas gotículas de chuva.
Mika e Louis mantinham-se no centro, focados e em pé de igualdade pela primeira vez.
— Parabéns novato, tive que aumentar o ritmo pela primeira vez — arqueou as sombrancelhas enquanto segurava um soco de Louis. — Desde que você voltou da batalha mental, está diferente..
Louis permaneceu quieto e, em um momento de deslize de Mika, lhe deu uma rasteira e, com sua mão direita, acertou-lhe um soco na barriga, fazendo-a atravessar diversas árvores atrás.
— Agora que acabamos, podemos conversar — disse Louis rispidamente.
Ao longe, Mika, se levantou com os olhos brilhando e voltou preparando um soco.
— Você está se achando é? Não teve a capacidade de desbloquear seu mukai completamente e ainda sim quer se achar?
— Talvez se você parar de reclamar e me ensinar de uma vez como controlá-lo.
— Seu MULEK — Antes que ela completasse, avistou ao longe, na entrada do campo de treino, Nikolaus em pé observando tudo.
— Tão estressada que nem percebeu a presença dele? — deu um leve sorriso.
— fiquem tranquilos — se aproximou — vocês quase não saíram daqui nesses dois meses, vim vê-los.
Nikolaus caminhou até um tronco ali perto e se sentou, tirou o chapéu o sacudindo a água nele presente e colocou-o novamente.
— Preciso falar com vocês.
Louis e Mika se viraram.
— Ainda faltam 4 meses para a execução. Noragami e Bruma retornaram a 3 dias com a penúltima parte das plantas subterrâneas da capital, com isso falta apenas a última planta, o problema é... — Tirou de um dos bolsos um charuto — Pedro e Toshi deveriam ter voltado já a 1 semana.
Mika fitou Nikolaus, confusa.
— Está querendo dizer o que? Que eles foram pegos? — se aproximou ainda mais.
— Se tratando daqueles dois, acharia improvável que isso acontecesse, mas hoje cedo, a ligação de Mukai que eu mantinha com eles desapareceu.
— Localização deles Nikolaus... — falou Mika em tom sério
Ele tentou interromper, mas Mika foi incisiva: — Você sabe o que pode ter acontecido! O desgraçado do Elohim está de olho em nós há algum tempo.
Nikolaus suspirou e concordou com a Mika, acenando com a cabeça, enquanto colocava seu charuto na boca.
— Irei deixar você ir, contanto que o Louis vá junto.
— O que? — repetiram os dois juntos.
— Ele ainda não dominou nem a base do Mukai, Nikolaus! Como você quer enviá-lo em missão agora?
— O garoto aprende rápido, eu confio nele. Leve-o junto ou você não irá.
Ela suspirou, colocando a mão no quadril, virou-se de costa para Nikolaus e perguntou:
— Onde?
— 19°47’42’’sul e 48°8’40’’ Oeste. Uma antiga vila, chamada: London, um dos engenheiros morava por lá.
“Coordenadas.. Então as aulas no exército me serviram para algo mais” pensou Louis.
— A vila deve ficar a 150 Quilômetros daqui. — falou Nikolaus.
— Consigo chegar em 30 minutos. Não, a situação parece mais problemática chego em 20, e você moleque como pretende ir?
— Bem.. — Colocou a mão na cabeça — Não tenho ideia... Talvez 1 hora ou duas.
— Lento demais... — Suspirou — vai me custar metade do meu Mukai, mas..
Mika andou até o centro do campo e se sentou. Juntou as duas mãos, formando um símbolo de triângulo, e relaxou o restante do corpo. Respirou calmamente e, então, um círculo amarelo apareceu embaixo de si.
— Se aproxime, novato.
Assim que Louis chegou perto dela, ela aumentou o círculo em mais 5 metros.
— Estou apostando que seu corpo va resistir.
— O que?! Como Assi — foi subitamente interrompido pelo barulho em volta do círculo.
Ele começou a brilhar intensamente, até que então tanto Louis quanto Mika foram engolidos pela luz que saiu do chão e foram levados em alta velocidade pelo céu.
Dentro daquela bola de luz, Louis tentava se manter em pé, segurando-se com força contra seus próprios joelhos. A pressão era tanta que de sua boca começou a escorrer sangue.
Ele olhou para Mika, que estava sentada á sua frente, com uma expressão intocada, e um sorriso que surgiu em seu rosto.
“Eu vou te superar sua desgraçada”
Com sua magia de sangue, ele forçou o próprio coração a bombear o sangue mais rapidamente, criando assim mais glóbulos do que o normal. O processo resultou em uma coloração azulada em seu corpo, mas que gradualmente estava o fazendo conseguir se manter em pé.
“Apenas preciso forçar isso até chegarmos lá”
Louis estufou o peito, ergueu a cabeça e colocou os punhos sobre o quadril.
— O que é essa coisa? — perguntou Louis.
— Minha habilidade nativa do Mukai, “Caminho da luz”. Ela permite que eu me transporte para qualquer lugar do planeta, contanto que eu saiba as coordenadas exatas, e o tempo sempre vai ser de 3 minutos, independentemente da distância.
— Por que não falou disso antes?
— Isso gasta meu Mukai, se tivermos que lutar contra algo lá. Estaremos em desvantagem.
— Eu já não deveria ter “desbloqueado” a minha?
— Ahhh — se espreguiçou — talvez sim, mas você parece ser mais lerdo.
— Sua..
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Dois minutos depois, os dois chegaram à vila e a luz rapidamente se dissipou, deixando uma pequena marca ao redor do local.
Louis aliviado se livrou daquela aceleração no sangue, voltando ao normal aos poucos, porém com muito cansaço.
Perceberam algo estranho de imediato; a vila estava completamente destruída, com destroços por toda parte. Mesmo assim, decidiram adentrar mais fundo em busca de respostas.
Eles caminharam pela metade dela, desviando-se de destroços e outros entulhos. Conforme avançavam, notaram a ausência de corpos. Eles continuaram seu caminho até avistarem, ao longe, uma pessoa vestida de preto da cabeça aos pés, de frente para eles.
Mika segurou Louis ao sentir um Mukai tão calmo, mas ao mesmo tempo tão obscuro vindo dali. Era como se ela sentisse ele os obrigando a sair dali.
— Precisamos voltar.
— Mas — ela o interrompeu.
— AGORA! Eu já não tenho mais energia para levar nós dois, traga o Nikolaus.
Antes que ela tivesse tempo para fazer qualquer outra coisa, a figura parada abriu a boca.
— Louis… Esse sangue... Ela precisa...
“Como ele sabe meu nome?”
— Como eu não saberia? — A figura, antes distante, agora estava no meio dos dois.
“Que porra de velocidade é essa?” pensou Mika.
— Você não me é interessante agora — Estendeu a mão e, mesmo sem tocá-la, a lançou contra os diversos destroços.
Louis quase que de imediato entrou em posição de luta. Ao tentar socar a figura, sua mão bateu em uma espécie de parede invisível entre ele e o ser à sua frente.
— Posso ver uma coisa? — Agarrou o braço direito de Louis com força e, com a outra mão vazia, realizou um pequeno corte. — Isso é tão bel — Antes que conseguisse argumentar, Mika surgiu dos escombros em um pulo alto.
— Seu merda!
Ainda no alto, ela mergulhou no ar com alta velocidade, preparada para acertar um soco na figura. Quando tocou o chão, um tremor acompanhado de fumaça os cercou. Assim que a fumaça finalmente se dissipou, Mika percebeu que havia acertado apenas o chão; a presença já não estava mais entre eles.
— O que foi isso? — perguntou Louis, afastando-se enquanto tentava curar o braço.
— Ele parecia saber que viríamos para cá… aquele Mukai… Não é possível que tenha sido algum dos mestres, aquilo extrapolou até mesmo eles…
— Mika… — Ele olhou para o braço, onde o corte parecia estar aumentando.
— Merda.. — Ela se aproximou dele e estendeu a mão esquerda. — Tem resíduo de Mukai no corte, parece anular sua cura… Não, sua magia!.
Ela o envolveu o braço com uma energia amarela e aos poucos conseguiu curá-lo.
— Essa coisa atacou o Toshi e o Pedro? — indagou Louis.
— Se isso aconteceu, então eles devem estar mortos. — Passou por Louis e continuou a investigar a vila. — Mas por qual motivo alguém tão forte atacaria uma vila assim?
— Nikolaus não disse que havia um engenheiro responsável pelas plantas de Krista?
— Isso ainda não faz sentido.
Um segundo depois, uma luz azulada surgiu no céu como se fosse um tipo de aviso. Mika reconheceu aquela energia de longe e rapidamente sinalizou para que Louis a seguisse.
Ela se permitiu-se ir mais devagar para que Louis pudesse acompanhá-la — mesmo que isso afetasse sua agilidade — os dois chegaram em frente a uma pequena ponte de pedra curvada, que passava por um riacho.
Deram o primeiro passo e, então, começaram a atravessá-la. O forte bater das águas podia ser sentido por eles, somado a forte ventania que ali estava. Eles seguiram até chegar na metade da ponte.
Quando olharam para seu fim viram um caminho de gotas de sangue, e assim eles o seguiram agilmente.
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— Parece que o rastro termina por aqui — disse Louis, sua voz cheia de tensão, enquanto observava a entrada escura da caverna à sua frente.
— Vamos entrar.
Os dois deram um passo em conjunto e então adentraram naquela imensa escuridão, as sombras pareciam os envolver como um abraço gelado.
Mika criou uma pequena bola de luz amarelada, que os iluminou em um curto espaço. A caverna possui diversas estalactites no teto, e ao redor deles, podiam visualizar, corpos ainda não decompostos, juntamente com diversas marcas de cortes nas paredes.
Conforme avançaram mais alguns metros, avistaram um pouco mais distante o que parecia ser um chafariz iluminado por um buraco na caverna, com uma estátua no meio e, em frente a ele, um corpo caído. Mika sentiu um leve resquício de Mukai naquele corpo e se aproximou tão rápido quanto pode. Ao visualizar o rosto do jovem ali caido, sentiu um nó na garganta, enquanto o bater de seu coração aumentou sem parar. Ela caiu de joelhos sobre ele e falou:
— O que fizeram com você… Toshi.
Os olhos do jovem garoto estavam ambos cortados, suas vestimentas rasgadas, e uma das mãos completamente dilacerada.
Louis se aproximou em seguida e viu Mika dar um abraço em Toshi, enquanto deitava seu corpo sob aquele chafariz. Assim que ela se levantou com a testa franzida e olhar sério, ouviu um pequeno sussurro vindo da boca de Toshi.
— Mika… O Pedro, ele — Antes que conseguisse terminar, uma energia escura cercou seu corpo, fazendo-o sumir para dentro da terra.
Mal conseguiram relacionar os acontecimentos quando, atrás deles, ouviram um alto rugido. A bola de luz de Mika sumiu como se tivesse sido engolida pela escuridão, deixando-os apenas com os passos pesados de alguma criatura se aproximando.
A criatura agora mais próxima parecia ter uma cauda esverdeada, pele branca com diversas listras pretas e garras vermelhas. Ela abriu a boca e revelou sua língua avermelhada juntamente de um símbolo nunca antes visto por eles em sua testa.