Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 22: O Despertar da Índigo

— Ah! Não fujaaaaa! Vou te pegar rapidin! Ahá!

O tronco da árvore explodiu e Ryota derrapou no chão para desviar por pouco da esfera espinhosa que passou voando. A risada da garotinha ecoava por toda a floresta escura. Ela continuava a falar, atacando cegamente - ou era o que achava, embora constantemente escapasse por pouco dos ataques.

O barulho das correntes se chocando e sendo arrastadas lhe fazia tremer, mas também permitia que soubesse onde a adversária estava. Entretanto, uma vez que a única arma de Ryota era o próprio corpo, se lançar em direção à ela era morte certa. Principalmente tendo ciência de que a Entidade não morreria tão facilmente quebrando o pescoço, ou algo do gênero.

Primeiro, preciso descobrir o que mais ela pode fazer, e se tem um jeito de eu-

— Te achei!

Um vento frio arrepiou seu pescoço quando a voz interrompeu seus pensamentos e, por pouco, vislumbrou o par de olhos dourados arregalados ao seu lado. Ryota foi ao chão quando a esfera espinhosa passou voando por cima dela, afundando contra o tronco da árvore.

— … Ué?

— Me dá isso aqui! — disse Ryota, puxando a corrente e tentando arrancar a empunhadura da Entidade — Não tá vendo que você tá desmatando a floresta toda? Isso é algo horrível de se fazer, sabia? 

Então, sentiu que uma mão segurou seu pescoço para enforcá-la. Ou melhor, foi apenas uma sensação, porque não havia ninguém além delas duas ali, e Mania estava apenas parada a olhando com a cabeça inclinada.

Um segundo arrepio a percorreu, assim como um pequeno choque. Seus dentes começaram a bater uns nos outros e sua reação falhou por um instante. Era a habilidade da Insanidade agindo ao tocar em sua arma com as mãos nuas.

— … É verdade, cê tá certa. Mas dá pra replantar tudo depois, então quem liga? — respondeu Mania, levando o dedo sem unha aos lábios, de forma muito séria. Ela realmente tinha pensado a respeito antes de falar, o que foi meio cômico na situação em que se encontravam, principalmente pela resposta não fazer sentido algum. 

Grunhindo e lutando contra as ilusões, Ryota puxou de vez a corrente para seu lado, fazendo a garotinha tropeçar.

— Me dá isso logo, mulher! 

Então, por fim, segurou na empunhadura que Mania soltou sem lutar muito ao cair de joelhos no chão, raspando o rosto no solo. 

— Aaaaai! Isso doeu!

Ignorando-a, Ryota piscou algumas vezes e relaxou o corpo ao segurar firmemente na empunhadura da estrela-da-manhã. Não sentia nada. 

Então o efeito está só nas correntes e na bola de ferro? É por isso que ela não é afetada? E… Como essa coisa é pesada!

Com bastante esforço, mas percebendo que não teria jeito de trazer para perto a arma, Ryota segurou na empunhadura e levou a outra mão à corrente. Gemendo com a falta de noção de espaço e tempo, mas lutando contra aquilo da mesma forma que lutaria contra a vontade de se entregar às sensações - quase como se lutasse contra a vontade de dormir e desligar a consciência -, deu um berro e lançou a arma para longe na mata.

Mania, vendo aquilo, apenas estendeu a mão na direção de onde sua arma voou, com uma expressão triste.

— Aaaaah! Por que fez isso? Como é que eu vou te rasgar com só uma, agora?

— Uma é o suficiente! Não que eu queira isso! — respondeu Ryota, ainda tonta, se virando para a garotinha que se erguia fazendo beiço, como se fosse uma criança que tiraram um brinquedo que gostava muito. — Ok, um já foi. 

Espero que ela não tenha uma super-técnica-ultra-mega-cabulosa pra chamar a arma de volta como se não fosse nada!

No entanto, sua reza mental pareceu ser atendida quando a Insanidade, olhando para a outra estrela da manhã que segurava, deu de ombros e suspirou de forma melancólica.

— … Fazer o quê? Tô com preguiça de ir buscar porque você jogou longe.

Ryota fechou a expressão e se afastou da garotinha, que tinha voltado à posição de combate, puxando para perto a corrente, rastejando o metal como uma serpente… Então ela balançou o braço sem dificuldade. A bola espinhosa foi em direção à sua cabeça. 

Desviando com uma cambalhota, Ryota aproveitou o embalo para se aproximar e desferir um soco no queixo da outra. Com a violência do impacto, um estalo foi ouvido quando o pescoço da Insanidade quase virou em 180º.

Até mesmo Ryota deu um grunhido de susto ao ver o que fizera em um só golpe.

— … Nada legal. 

O barulho de ossos quebrados se movendo de volta ao lugar não era nada confortável, nem bonito de se ver. O rosto de Mania se contorceu, mas não de dor, ao voltar-se para a garota assustada à frente.

— Não é justo, sabe? Já morri muito hoje, cansei disso.

— Ah?!

Um grito de surpresa escapou de sua garganta quando seu corpo foi ao chão, batendo as costas no solo. A corrente foi puxada de volta, se enrolando em sua canela esquerda, a fazendo cair. Mania, vendo a cena, riu.

— Será que você vai gritar muuuuito quando eu te fazer a mesma coisa? Será que suas cores vão dançar…?

Refletindo aquilo como uma ideia qualquer, a garotinha colocou o pé em cima da barriga da outra, que se contorcia ao contato com as ilusões e a quebra de realidade. Arfava, os olhos embaçados, ouvindo vozes de outro lugar. Gritos ecoando por sua cabeça. Ela viu o pé da Entidade se erguendo por cima de seu rosto.

Precisava fazer alguma coisa. Precisava se mover. Precisava… Ergueu lentamente a mão direita, como que tentando alcançar o calcanhar dela e impedir que seu rosto fosse esmagado.

Então a risada cessou. O corpo de Mania voou para o lado espirrando sangue. Ou melhor, as duas partes voaram, uma vez que o tronco fora cortado ao meio em um só golpe. As peças sumiram na mata.

Ainda zonza e sem entender o que acontecera, Ryota se sentou com dificuldade e retirou a corrente amarrada em sua perna. Foi quando um segundo par de mãos se sobrepôs e ela precisou estreitar os olhos para entender se o que via era ou não uma ilusão. 

— … Desculpa a demora — disse Zero com seriedade, fazendo uma careta ao tocar as correntes com uma aura forte e estranha, então jogando-as para longe. — Você está bem?

— Sim, eu acho. Valeu.

Ela pegou a mão que foi oferecida e se colocou de pé, antes de resfolegar ao ver o estado do outro.

— O que aconteceu?! Tá todo machucado… Você enfrentou alguém lá na mansão?

 Zero desviou o olhar e deu de ombros. Sua roupa estava rasgada e o corpo com vários ferimentos. Seu rosto ainda tinha manchas de sangue secas de um combate que parecia ter acontecido há algum tempo.

— Nada demais.

Ryota torceu o rosto para aquela resposta uma vez que o garoto respondeu daquela forma séria. Ele não pareceu estar com vontade de falar sobre aquilo, então ela apenas decidiu não tocar mais no assunto e o agradeceu dando um tapinha em seu ombro.

— Esse treco realmente é efetivo… — disse ela, se referindo à corrente atrás de ambos. 

— Não se descuide. Tocá-la também é perigoso… Lá vem.

Com aquelas palavras, como que sendo atraída por ela, uma Mania furiosa saltou da floresta com a estrela da manhã perdida, avançando na direção dos dois. 

Ryota, percebendo que Zero se posicionou à frente, pegou a outra estrela da manhã atrás deles e lançou-a para longe no meio da mata. Desta vez, ela pareceu realmente ter desaparecido.

O tilintar das correntes atrás dela a assustou por um momento, mas logo se tranquilizou ao ver uma Lâmina de Vento desviar a direção do ataque.

— Maldito! — berrou a Entidade, irritada a ponto de veias saltarem de sua testa.

Houve uma pequena troca de olhares entre a dupla antes de se separarem para lados diferentes, mas cientes do que precisavam fazer. 

— Vocês não podem fugir de mim!

O grito da Insanidade assim ecoou pela floresta enquanto chacoalhava a estrela da manhã com raiva. A corrente, tilintando, pareceu repentinamente crescer quando foi erguida no ar e começou a rasgar todas as árvores ao redor, derrubando uma por uma, enquanto Mania girava no lugar.

— Quem disse que eu tava fugindo, sua doida?!

Saltando por cima da esfera espinhosa e desferindo um chute na nuca dela, Ryota colocou toda a força que tinha naquele golpe, tendo ciência de que teria poucas chances de acertá-la antes que se sentisse zonza de novo.

Mania, vendo aquilo, logo se voltou para a adversária e preparou-se para arrancar seu torso. Entretanto, antes mesmo de seu braço poder se mover, ele apenas voou para longe após ser arrancado por um corte liso. 

— Maldito Furotooooo!

A voz de fúria foi cortada quando o chute alcançou sua cabeça, nocauteando instantâneamente a Entidade. O corpo, duro, caiu na neve fofa e afundou.

Ryota, então, voltou-se rapidamente para trás e se defendeu do ataque corpo-a-corpo desferido por Mania, que surgiu atrás dela. Desta vez, no entanto, o efeito pareceu mais fraco do antes, o que permitiu que ela pudesse acertá-la várias vezes antes de se afastar. 

Com o nariz sangrando e marcas de socos na face, a Insanidade deu alguns passos e afundou na neve de novo. Desta vez, no entanto, foi por uma pressão tão absurda que seu corpo atravessou o solo, sendo esmagado. O som de ossos se rachando e carne atolada era terrível.

Do outro lado do campo de batalha, Zero tinha movimentado os dedos a uma distância segura e assim lançou o Domínio Completo.

Jin.

— Ahá… En… Tendi.. Há, há… O que querem fazer…!

A dupla se reuniu quando Mania, parecendo arfar após tantas mortes consecutivas, ainda sangrando de todas as vezes que fora acertada, reapareceu e pegou a estrela da manhã que derrubou.

Com os olhos dourados brilhantes, riu alto antes de se aproximar a passos lentos. A bola de ferro fazendo um rastro na neve acumulada.

— Mas ainda falta… Muuuito pra me derrotarem…!

Em um riso enorme, abrindo sua boca num sorriso que mostrava os dentes, os três se chocaram novamente e uma nova onda de repetições voltou a ocorrer. Mortes da Entidade, que tinha um corpo pequeno e magro, eram feitas uma atrás da outra; ainda assim, Mania era forte o suficiente para vez ou outra acertar os ataques nos dois que lutavam juntos, apoiando um ao outro.

Daquela vez, Zero desferiu uma outra Lâmina de Vento na direção da garotinha risonha que vinha correndo em sua direção. O corpo dela se dividiu em dois e a parte superior continuou voando…

— Que peninha.

Até que, num piscar de olhos, Mania surgiu à sua frente e agarrou a cabeça do rapaz. Algo dentro dele se desfez, como um romper, e Zero caiu de joelhos na neve, babando. Seus braços caíram ao lado do corpo, fracos e trêmulos. Arfava, um grito era sufocado de dentro da sua garganta.

Ryota, do outro lado do campo, resfolegou ao ver a cena.

— AAAAAAAaaaaaAAAAAaaaaaAAAAAAAAArrrrGGhh!!

O berro enlouquecido de Zero ecoou pela floresta. Ele, com as íris se movendo para os lados e com o coração disparado, saltando tão forte que poderia sair do peito, agarrou a própria cabeça e continuou a gritar a plenos pulmões. Suas unhas encravavam no couro cabeludo.

— … O quê…?

Junto dos berros, uma risada destoante saia da garotinha ao lado, que assistia a cena com uma expressão de felicidade.

Até que… Ela parou. Estática, sem entender o que tinha acontecido, e ter seu campo de visão baixado.

— … Não pode ser.

Mania assim grunhiu quando sua outra estrela da manhã voou para longe e seu pulso foi firmemente segurado até se amassar completamente. Mas não foi isso o que surpreendeu a Entidade, que olhava perplexa para a face de fúria da garota.

Pequenas risadas começavam a ecoar do rapaz ajoelhado com as mãos no rosto, afundando as unhas na pele. Um misto de riso e gritos de dor e sofrimento.

O som de ossos quebrando ecoou mais alto quando Ryota fechou completamente a mão no monte de carne.

— Sem chance.

A Insanidade, sussurrando, ficou ainda mais chocada quando o sangue em seu corpo escorreu pelo braço da outra. 

— Não… Por quê? Por que não enlouquece? Nem antes, nem agora…?

— … Por que será? — respondeu Ryota, em uma voz melancólica, baixando os olhos. Para então a encarar bem de perto com pura fúria, segurando seus cabelos com a outra mão. — Tenta descobrir.

Outro estalo alto, e então sangue respingou quando sua cara foi de encontro com o joelho da garota, quebrando seu nariz. Sem dar brecha para reagir - o que, naquele estado, Mania não parecia conseguir fazer -, flexionou a perna erguida e destruiu o joelho esquerdo dela.

Não reagia. Sequer dava sinais de que sentia dor, o que só tornava tudo aquilo menos satisfatório. Fincando ainda mais as unhas no couro cabelo, ergueu novamente seu rosto destroçado para encará-la.

— … Sim. Eu sei. Agora tudo faz sentido, não é? É claro… Foi por isso que vim até aqui. Para vê-las. — As palavras não eram direcionadas a ninguém, mesmo com os olhos dourados cintilando quando viam a expressão de raiva da garota. — … As duas índigo.

Um calor fervente subia pelo corpo de Ryota. Atravessava seus braços, pulsava em suas veias… Uma linha imperceptível fumaça se ergueu da mão que agarrava os cabelos castanhos da Entidade.

— O dever de encontrar todos eles, de mudá-los e destruí-los… Sim. Foi para isso que me tornei… Uma deusa.

Um suor viscoso escorreu pelo rosto e pingou, evaporando antes mesmo de chegar ao chão. Ryota uniu as sobrancelhas para aquelas palavras desconexas.

— A provação é necessária a todos. Sou aquela quem fará isso… Em nome da Justiça.

Os olhos dourados de Mania se afiaram.

— … “Por quê”, quer saber? — riu ela, abrindo um grande sorriso, após supor os pensamentos da outra. — Bom… Pecadores merecem ser punidos, os humanos julgados, e os ensandecidos inspirarão os ordinários. Afinal, o caos é inevitável, e a loucura é apenas uma parte da nossa rasa sanidade.

Nada daquilo fazia sentido. Julgamento, insanidade, Justiça, Entidades… Era tudo muito estranho e difícil de compreender. Para Ryota, que recém havia descoberto a existência daquele mundo caótico, ouvir tudo aquilo era como um choque. Um choque que lhe causava um fervor imenso de fúria por tudo aquilo que a palavra Entidade carregava - e tudo o que ela fizera.

O chiado que escorreu da mão dela era familiar e quente. Como se algo fervesse e estivesse prestes a subir, a explodir…

O pulso de Mania derreteu e sua mão voou para longe. A garotinha riu.

— Você… Despertou, não é? Ah.

A voz de êxtase dela travou quando sua cara foi agarrada pela outra mão e sua face começou a se desfazer. A pele parecia escorrer como uma massa mole e morna. Ryota ergueu Mania no ar e a lançou para longe.

O corpo da Entidade atravessou a floresta, batendo contra algumas árvores e acabando por quicar no solo algumas vezes antes de parar. Uma fumaça branca se erguia de onde estava, a neve ao redor se desfazendo bem lentamente com a sua atual temperatura.

— Eu tô aqui. Vai ficar tudo bem. — Ryota murmurou para Zero, o envolvendo num abraço rápido, esperando que aquilo o acalmasse por enquanto até que tudo estivesse acabado.

— Ahá… Há, há, há… Ai. É a primeira vez que sou queimada viva. — Do outro lado da floresta, a qual Ryota chegou pouco tempo depois, Mania ria sozinha com as bochechas coradas de calor. Seus olhos desceram para a expressão de raiva da outra que se aproximava. — Você é mesmo uma menina impressionante… Uma índigo promissora. Mas é uma pena que não deu dessa vez. 

— Não entendo nada do que você tá falando, sua maluca psicopata.

Vendo a garota de cabelos negros se ajoelhar atrás de si, elas trocaram olhares, os rostos opostos uma da outra. Uma expressão de melancolia estampou o rosto da Entidade de repente, como se tivesse percebido ou sentido algo. No entanto, Mania logo voltou com o sorriso largo de sempre.

— Beeem… Acho que posso responder uma coisinha, então. Pergunte, vai. Qualquer coisa.

Os olhos azuis afiados se estreitaram e Ryota hesitou um pouco.

— Como eu faço pra te matar de uma vez?

Uma risada gostosa ecoou da garganta da garotinha.

— Mais uma.

— Hm?

— É só me matar mais uma vez.

— … Você está mentindo.

— É claro que não. Estou seríssima. Tudo o que faço é sério, Ryota.

Ouvi-la dizer seu nome lhe causou calafrios.

— Se estiver mentindo, vou te matar dez vezes por cada um dos que você matou. 

— Ahá, há, há! Me parece justo.

O rosto de garotinha que ria estava com carne pura exposta. A pele continuava a derreter de uma forma bastante brutal. No entanto, não parecia doer. Normalmente, uma pessoa em um estado daqueles estaria berrando ou desmaiada com o choque.

Mania aguardou em silêncio que seu fim chegasse. A palma da mão ainda fervente, brilhando em um amarelo quase cegante, uma cor de lava, tocou o rosto já bastante destruído dela.

— Foi divertido. Obrigada.

À primeira vista, Ryota achou que a Insanidade estava falando com ela. No entanto, podia-se ver claramente que seus olhos já não a viam havia muito tempo… Foram palavras que jamais alcançariam seu destino.

Quando a pressão na palma de sua mão alcançou o limite, uma luz laranja foi emitida de onde estavam. O rosto de Mania explodiu e se desfez completamente. Seu corpo sem vida permaneceu lá durante tempo o suficiente para que Ryota confirmasse a morte com os próprios olhos antes de dar as costas para ele.

Mania foi soterrada pela neve e desapareceu.

***

Seus passos se arrastavam de volta. Precisava encontrá-lo. Havia acabado. Por isso, tinha de ter certeza de que ele estava bem. De que não estava mais sofrendo daquele jeito terrível.

— … Ah.

Suas forças se foram por completo e ela desabou.

Seu corpo caiu sobre algo macio e quente. Um abraço caloroso e preocupado a envolveu.

— Você fez muito bem. — disse Zero, prendendo a respiração - ou as lágrimas - antes de tudo escurecer a sua volta e Ryota se entregar completamente ao cansaço.



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