Ronan Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini

Revisão: Marina


Volume 1

Capítulo 34: Infiltrados (3)

Assustados com o que acabaram de ouvir, os três soldados no pátio correram em direção à entrada onde outros dois faziam a guarda. Pouco antes de entrarem, o último deles bradou um comando para os dois que ficariam ali.

— Toquem o sino seus dois inúteis, toquem a porra do sino!

Ao ouvirem o comando vociferado eles demoraram alguns instantes para compreender, pois nunca presenciaram uma invasão antes.

O guarda da esquerda, um rapaz jovem e corpulento apontou que nem um desesperado para o sino de bronze no meio do pátio. Quando conseguiu ler a situação, o guarda da direita disparou para cumprir sua obrigação.

Tarde demais.

Uma flecha disparada pelo cavaleiro assassino zuniu, acertando com a precisão a testa do infeliz correndo para soar o alarme. O guarda que restou observou apavorado a escuridão vazia do pátio.

Nada havia nada além do colega caído.

Resolveu abandonar seu posto para adentrar no complexo. Até ouvir uma voz, ou no caso, um comando.

— Não abandone seu posto, desertor de merda! — disse um guarda que se aproximava.

Com a arma em mãos o fujão se aproximou da figura que o havia chamado.

— I-I-In-va-vasores s-senhor, a-acabaram d-de matar meu c-colega.

O guarda que se aproximava, sorriu.

— Eu sei, foi um dos meus camaradas.

Não pode ser, constatou tarde demais.

— Sorria. — Foi à última coisa que ouviu antes de uma flecha o selar com o mesmo destino do amigo que tentou soar o alarme.

Com o caminho livre o cavaleiro disfarçado acenou para os companheiros. O comandante, agora pensativo, refletiu: ou Guibs já está morto ou fora feito prisioneiro. E pelo que parecia, o tumulto lá em cima havia terminado. A janela de aproveitamento estava se fechando. Não poderiam deixar essa chance passar.

E entraram na prisão.

As pedras escuras que constituíam as paredes e o chão dos corredores davam um aspecto sem vida ao ambiente úmido e abafado. Após um tempo percorrendo a prisão largada aos insetos eles finalmente encontraram a entrada do calabouço. A porta de madeira que dava acesso às celas do subterrâneo estava na última sala, um ambiente impregnado por teias de aranhas.

De agora em diante os três poderiam engajar em combate sem problemas, pois havia apenas uma saída. Como era de se esperar, a porta estava trancada. Após muitos chutes e murros nas dobradiças ela cedeu num baque seco. Atrás dela apenas um chão de terra batida e uma sucessão de barras de ferro já enferrujadas formavam o desolado ambiente.

O local fedia a uma mistura de urina, vômito e merda. Nenhuma das celas daquele nível era ocupada, mas eles sabiam que não poderiam desistir. Por muito tempo percorreram as inúmeras grades até chegarem à cela onde estava o Sábio que vieram resgatar.

Ou onde ele deveria estar.

A cela anteriormente ocupada por ele estava vazia, assim como as outras. Isso só poderia significar uma coisa, ele estava lá em cima. E para piorar, o grupo de Guibs já fora descoberto.

— Comandante, ali, olhe! — Apontou o cavaleiro disfarçado com o tabardo imperial.

Curioso, o líder caminhou na direção que o colega apontava. As poucas tochas acesas nas proximidades não eram suficientes para iluminar àquilo. Logo chegaram à parede que marcava o final da prisão subterrânea. Então eles entenderam, Marcos, o Sábio, estava morto. Seu corpo estava largado, estirado no chão como um indigente preso por correntes fixadas na parede do corredor.

O comandante notou o estado do corpo. Apesar de falecido, não apresentava sinais de decomposição tardia, sua pele conservava uma leve tonalidade roxa. Desolado, o cavaleiro que portava o arco curto em mãos, questionou o líder:

— E agora comandante? Devemos resgatar o corpo?

Não foi necessária uma resposta. O líder de cabelo castanho avermelhado desembainhou a espada. Concentrou a energia arcana e a canalizou para a runa talhada na arma, que em chamas, tocou no corpo do mago. Por um tempo os três contemplaram as chamas consumirem as vestes, a carne e o restante do prisioneiro.

Quando desfez o efeito da runa o comandante se agachou e pegou o brasão da Ordem dos Magos, caído ao lado do corpo carbonizando.

— Isso será o suficiente.

O comandante sentiu algo o aquecer, mas o calor não vinha do corpo que recém-carbonizou, vinha de algo se aproximando por trás. Uma monstruosa labareda iluminou os arredores, projetando as sombras dos presentes na parede, engolindo por completo o cavaleiro disfarçado à esquerda do comandante.

O calor emanado era infernal, o líder do bando sentiu o braço esquerdo cozinhar durante pavorosos segundos. Reagindo à situação, o cavaleiro com arco em mãos ativou a runa da armadura como o comandante fizera. Os dois surpreendidos se viraram para ver o que, ou quem era capaz de tamanha demonstração de poder.

— Impressionante — admirou uma figura alta de cabelo dourado. — Uma infiltração digna de um épico, comandante Eduardo.



Comentários