Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 6: RELOAD

Scarlet saiu dos destroços do prédio como se tivesse sido ejetada por eles, deu vários giros no ar e pousou levando as mãos ao chão para dar equilíbrio.

Uau! — Surpreendeu-se com a quantidade de mortos e a destruição exagerada do lugar. — Vocês não têm classe nenhuma — disse olhando os touros que avançavam em sua direção.

“Venham! Crescente e Minguante.” Convocou sua adaga azul na mão direita, quando esticou a mão esquerda a adaga verde surgiu. “Hora do Show, meus bebês!”

O touro que teve o azar de chegar primeiro tentou perfurá-la com os chifres.

Scarlet fez uma esquiva simples para o lado, em seguida, cravou a adaga azul no olho negro da fera. Aproveitou o momento, em um rápido movimento pisou sobre os chifres dele, saltou no ar e, ainda de cabeça para baixo, lançou a outra adaga no que tentava surpreendê-la pela lateral.

Quando seus pés voltaram a tocar o chão, ambos os touros caíram.

As adagas retornaram e ela correu, sem tempo para apreciar seus abates. Utilizando o corpo morto do monstro de trampolim pulou para frente, girou e caiu sentada nas costas de outro touro como se fosse cavalgá-lo.

O mostro se debateu furiosamente tentando tirá-la de cima, sem sucesso.

Ainda no embalo da montaria aproveitou para atirar suas adagas nos touros que chegavam para acertá-la a qualquer custo. Eles tentaram desviar alterando a sua trajetória, porém, suas lâminas também mudaram de direção e encontraram seus olhos negros perfeitamente.

As armas voltaram e as cravou nas costas do monstro que cavalgava com força, ele mugiu de dor e caiu sobre as patas imóvel junto com os outros.

A sua nuca arrepiou de repente avisando do perigo, usou os braços para se impulsionar e sair rapidamente, as mãos gigantes acertaram o lugar, deixando em pedaços sua breve montaria. Utilizando o impulso das pernas deu vários saltos de costas tomando distância da enorme criatura.

— Bel... — disse uma voz conhecida ao seu lado.

— Olá, Dark! — falou animada. Já sabia que ele estava ali, por isso escolheu recuar naquela direção. 

***

Gabrio observou de boca aberta Bel derrotar os touros com facilidade. Os mesmos que o fizeram forçar sua mente ao máximo, ela os derrotou sem suar.

— Você tá bem? — perguntou mesmo não fazendo sentido depois do que viu.

Bel abaixou a cabeça desanimada, como se ele tivesse a ofendido com aquela pergunta, mas não podia culpá-lo, ficou muito tempo embaixo dos escombros, antes que ela pudesse rebater o aplicativo bipou anunciando outros sete campeões e doze minutos para o fim do jogo.

— Se preocupe com os pequenos — mandou Bel, correndo na direção do Minotauro. — Deixa o grandão comigo.

Gabrio assentiu e preparou sua arma improvisada. 

“Ela tá mandona, então tá bem!”, pensou observando suas acrobacias no caminho até o chefe.

Não perceberam, mas ambos estavam sorrindo exageradamente quando reiniciaram seus contra-ataques. 

***

Scarlet chegou no chefe rapidamente pulando nos touros do caminho. O monstro a encarou urrando alto para intimidá-la e a ignorou virando para o outro lado.

“Olha a audácia desse...”, pensou ela, apertando forte suas adagas, ia ensinar uma lição de bons modos a alguém.

A área próxima ao chefe estava livre de jogadores e monstros, ninguém era tolo o suficiente para aproximar-se sem precisão daquela coisa. O jogo era de eliminação, matar os touros bastava, naquele nível enfrentar o chefe era um luxo desnecessário. Contudo, ela ficou tempo demais esperando o primeiro campeão surgir, estava completamente entediada.

O chefe dos touros era imponente por sua força, avaliava as formigas que fugiam dele e atacavam seus soldados, para o chefe, fugir do oponente mais forte era uma decisão sabia, porém desprezível, morrer com coragem era o mínimo para um guerreiro.

— Ei! Chifrudo!

Ouviu uma das míseras formigas falar.

— Que tal brincar comigo?!

A formiga vermelha era valente, isso não podia negar, avançava sozinha contra ele.

Com seus passos que faziam o chão tremer correu para destruir a formiga que ousou desafiá-lo.

***

“Que decepção...”, remoeu a ruiva, por sua provocação tão boba ter o enfurecido.

Scarlet corria com cuidado para não se desequilibrar com o chão que rachava a cada passada que ele dava na sua direção.

O monstro socou o chão antes mesmo de chegar, o impacto dos seus punhos abalou o solo indo como uma onda de destruição. Ela escapou pulando sobre o capô do carro na calçada e saltando para se segurar nos fios do poste, o ataque deixou a rua em pedaços.

Os postes se quebraram segundos depois do golpe passar e começavam a tombar, Scarlet desceu e continuou na direção da fera.

O monstro parecia surpreso por seu ataque não ter acertado. Ficou imóvel, esperando-a se aproximar, o chefe queria ver de perto sua insolência, assim que a viu com clareza desferiu outro ataque, dessa vez mirando seu corpo.

O golpe foi mais rápido do que a ruiva imaginava, quase foi pega, mas esquivou-se rolando por baixo do seu punho, o soco poderoso acertou a casa ao lado deixando um buraco enorme que se estendeu por vários metros.

Scarlet lançou suas adagas quando recuperou sua investida, as lâminas se chocaram no corpo negro e foram repelidas para o chão, não chegou nem a arranhá-lo, era como cortar uma placa de metal com uma faca de plástico.

— Ah! Droga! — resmungou irritada. — Vai me fazer transpirar!

Suas adagas retornaram, mas não as segurou, ambas a circulavam flutuando no ar. A ruiva investiu com os punhos fechados, indicando que iria golpear o Minotauro com um soco.

O monstro previu seu movimento e também preparou seu ataque na direção dela. Na visão dele, aquilo era uma ideia estúpida da formiga, o chefe dos touros era a calamidade da força.

No momento que suas mãos iam se chocar, Scarlet interrompeu seu movimento retirando o braço da direção do encontro, girou no ar desviando do golpe, pousou sobre o braço colossal e continuou correndo até o ombro da criatura.

O Minotauro chocou o braço na lateral do prédio a sua direita, arrastando com fúria a construção, indignado por ter sido pego em uma finta.

Scarlet deslizou antes do impacto para suas costas, o escalando logo em seguida. O chefe sentiu sua presença de imediato e jogou-se no chão, a formiga não parava de subir.

A ruiva pulou antes da queda dele, caindo em cima do telhado da casa ao lado, movimentou-se rapidamente utilizando os canos presos na parede para escalar um dos prédios próximos.

A criatura levantou checando os arredores dos escombros para encontrar sua presa, algo lhe dizia que ainda não estava morta, virou a cabeça rapidamente, uma ação guiada pelo instinto o fez olhar para o teto do prédio a sua frente, viu apenas o momento em que ela saltou na direção da sua cabeça.

Scarlet arqueou o corpo no ar e preparou uma adaga em cada mão, o chefe tentou pegá-la, mas fez o movimento tardiamente, segurou apenas o vento. Ela cravou as adagas uma em cada olho do chefe.

Uuuuhaaaaaa!

O Minotauro emitiu o mugido sonoro ao ser atingido.

— A fraqueza de vocês são os olhos! — disse ao empurrar as lâminas mais fundo.

O dano das suas adagas superava qualquer resistência das criaturas daquele nível.

A ruiva pulou de volta ao solo, girou no chão e parou sobre um dos joelhos, estendeu os dois braços para alto chamando suas adagas, no momento que chegaram em suas mãos, atrás dela, caiu o chefe estremecendo o lugar.

Bel não precisou olhar, o bip do aplicativo confirmou sua vitória.

Parabéns! Você matou o Boss!

Um item especial foi adicionado ao seu inventário

Tempo restante: 5min

***

Gabrio crescia os destroços para desviar a atenção dos monstros e os atingia com as facas na chance que aparecia, era fácil acertá-los devido ao seu tamanho exagerado e para sua surpresa chegou aos 15 monstros.

O som de notificação do jogo chegou com duas notícias. A primeira era esperada.

Parabéns você é o 11° Campeão!

Resta 01 vaga.

Tempo restante: 2min

A segunda foi surpreendente, pois ela se repetiu 5 vezes;

Você subiu de nível!

Seus Atributos foram aprimorados!

No momento em que se tornou um campeão as criaturas começaram a passar por ele como se fosse um fantasma, tentou atacar uma delas, mas suas habilidades não funcionaram.

— Acabou, campeão — disse Bel, dando um soco animado no seu ombro. — Seus poderes só voltam quando o último vencedor aparecer.

— Então é isso? — Gabrio avaliava o que sobrou de uma pequena cidade da Grécia. — Toda vez essa loucura?

— Às vezes é muito pior. — Cruzou os braços e manteve seu sorriso orgulhoso. Não errou em apostar nele.

“Apesar de tudo... até que foi divertido...” Gabrio lembrou de toda a adrenalina que sentiu. “Mas... não deixa de ser loucura.”

O aplicativo anunciou o último campeão.

Havia outras pessoas que estavam parados no meio do campo de batalha esperando por essa notificação. O desespero em quem não conseguiu chamou sua atenção.

— Observe — disse séria, encarando uma direção. — Veja o que acontece com quem não consegue ficar entre os melhores.

Avistou a atiradora que viu na batalha, a mesma que Bel machucou no beco.

— Não! Não! — A garota chorava alto olhando o celular. — Me dá mais uma chance?!

Na tela tinha algo escrito em letras garrafais.

GAME OVER!

Em instantes, seu corpo começou a se desfazer tornando-se nada mais que pó. Seu celular explodiu em seguida.

Gabrio virou o rosto, a cena era bizarra demais para ver até o final, outros jogadores tiveram o mesmo destino.

— O que... — Um sinal surpresa escapou dos lábios dele.

Um brilho que emitia leves fagulhas de luz dourada começava a irradiar do corpo e das roupas de Bel preenchendo os furos grandes em seu casaco, os rasgos pequenos nas calças entre os espaços dos joelhos e os largos na região das coxas, além daqueles espalhados pelo restante do seu corpo, em cada parte exposta havia um hematoma roxo ou um aranhão vermelho, o brilho começou a dominar todos eles lentamente.

— Quando você chega no final da partida o jogo recupera suas roupas e seu estado físico — explicava enquanto apontava para as mãos dele.

— Entendi. — Gabrio observava a palma roxa e os dedos machucados pelo excesso de força que usou em seus ataques voltarem ao normal à medida que o brilho a envolvia. — Sinistro...

— Nós chamamos isso de Reload — informou quando a luz sumiu completamente, após regenerar suas roupas e ferimentos. — Uma forma de estarmos prontos pra outra.

Gabrio olhava para a ruiva sorridente intacta, sem nenhum sinal de que entrara em uma batalha mortal a minutos atrás.

“Regenera tudo, será quê?!” Tirou algo do bolso apressado. “Sim, tudo.”

A gravata manchada de sangue estava perfeita novamente.

— Até o Reload tem seu lado ruim — disparou desdenhosa ao ver aquele objeto.

Gabrio a fitou perplexo pelo seu deboche devolvendo ao bolso o acessório que utilizou por tanto tempo, o bastante para não conseguir lembrar quando ficou sem ele no seu pescoço ao menos uma vez no dia.

— Aquela é quem eu estou pensando? — comentou um dos campeões apontando na direção de Bel.

— Sim... o jeito que ela lutou e aquele cabelo vermelho só pode ser ela.

Um murmúrio se iniciou e a ruiva ao seu lado passou a ser o centro das atenções.

— Rainha Demônio! O que uma pessoa perigosa como você faz aqui?

A pergunta foi dirigida a Bel, que revirou os olhos ao ver quem a fez.

O garoto magro e baixinho, estava sentado sobre um globo de luz que flutuava do chão. A cor branca da sua pele, roupas e cabelos o fazia parecer um pequeno e magrelo boneco de neve, o que mostrava sua humanidade eram os grandes olhos azuis.

Ao seu lado havia uma mulher com um vestido verde-claro e características semelhantes, cabelo brancos curtos, os olhos azuis eram idênticos, assim como a pele dela, os dois eram uma espécie de albinos de tão claros, só que ela ao contrário dele, era alta e exuberante, bonita o suficiente para que Gabrio não soubesse se Bel era mais.

— Minha nossa...! — Alguns jogadores exclamaram apontando para eles. — Senhor das Estrelas e Inverno, aqui?!

O garoto fez uma pequena saudação para eles com as mãos confirmando sua identidade e os outros jogadores entraram em uma feira de comentários.  

— Olá, Scarlet! — A menina disse animada acenando com a ponta dos dedos.

Bel além de revirar os olhos suspirou profundamente de desânimo ao notá-la ali.

— O que faz em um jogo desse nível? — disse ela, ignorando sua atitude ríspida.

O menino de cílios brancos encarou Gabrio o olhando diretamente nos olhos.

— Ah! Então é nessa ilha que você se esconde! — Bateu palmas animado.

Bel o segurou pela camisa e o levantou da bola de luz.

Todos no local silenciaram.

— Se ler a mente dele de novo... — disse alto e continuou áspera. — Eu torso o seu pescoço antes que sua irmãzinha possa intervir, entendeu?!

— Sim! Entendi — gargalhou na resposta. — Com a famosa Rainha Demônio me ameaçando... acho que até senti medo.

“Rainha Demônio... então essa é a outra forma”, pensou Gabrio, lembrando das palavras de Bel sobre seu nome no jogo. Ele conviveu pouco com ela, mas pelo que viu sabia que esse outro nome fazia algum sentido.

A garota ao lado do baixinho se mantinha serena e olhava Gabrio da cabeça aos pés, ela possuía o rosto redondo com o nariz pequeno e lábios finos.

— Você tem bom gosto, Scarlet — alegou ela, soltando um sorriso malicioso no final. — Seu cachorrinho fala? — Apontou para Gabrio.

Gabrio levantou o dedo do meio para ela como resposta ao seu insulto.

Ela desfez o sorriso ao ver seu gesto e deu um passo na sua direção, Bel se colocou na frente.

— Vem! — disse a ruiva, abrindo os braços. — Se quiserem tentar a sorte hoje?

— Aquela pose! Ela vai usar aquilo?! — gritou um dos jogadores amedrontado.

O menino que abusava do branco em seus detalhes gargalhou mais alto, segurou pela mão da irmã antes que desse mais um passo e a puxou para trás, o restante dos campeões corriam como se uma bomba fosse explodir.

— Estamos nos preparando para entrar no círculo roxo — disse o garoto, se afastando deles. — Como você foi a única que voltou de um... sei lá, podia nos ajudar.

Bel abaixou os braços e começou a andar de costas empurrando Gabrio para trás também.

— Estão se preparando em um círculo amarelo? — debochou rindo.

— Participamos de um vermelho pela manhã, nas proximidades. — Fez questão de explicar, ainda se distanciando. — Estávamos descansando nessa cidade e bem... o resto você já sabe, o jogo nos pegou.

Ambos puxaram seus celulares.

— Scarlet — chamou a menina de cabelos brancos. — Você não pode se esconder para sempre!

— Vencer ou morrer. — Os dois jogadores falaram juntos, encarando Bel diretamente.

Bel permaneceu em silêncio.

O garoto bocejou e acenou se despedindo, sua irmã levou as mãos aos lábios e mandou um beijo na direção de Gabrio.

“Que ridículo...”. Gabrio cuspiu no chão olhando na direção dela, seu irmão explodiu com risadas e ela o fuzilou com os olhos.

Com um flash, desapareceram.

Bel suspirou de alívio com a partida deles. Os outros jogadores começavam a sumir um a um.

Gabrio abriu o aplicativo e leu a mensagem.

O jogo finalizou, deseja ir para onde?

Marque no mapa.

— Hora de ir embora — informou Bel, completou baixinho. — Se quiser pode vim comigo.

— Para onde mais eu iria?

Ela corou virando o rosto.

Marcaram a ilha  no mapa, esperando os cinco segundos para a viagem.

— Quem eram aqueles? — perguntou Gabrio, franzindo o rosto.

“O lado bom de ser novato”, lembrou das atitudes dele antes de responder.

— Ele se chama Solaris, e a bruxa velha é a Zero. — Parou para o observar antes de dizer as próximas palavras. — São uns dos jogadores mais forte da competição.

Gabrio ficou pálido e Bel praticamente chorou de rir com sua reação.



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