Volume 1
Capítulo 5: Laços do Passado
Eu e Isael caminhávamos à frente das meninas enquanto elas conversavam sobre magia de fogo.
O sol já surgia no céu, e estávamos bem longe da propriedade de Isael.
Desde que começamos essa viagem, só saí da floresta uma única vez, então acho que já estava na hora de mudar o caminho da jornada.
— Sem nenhum monstro, sem nenhum soldado — disse Isael — já estou ficando entediado.
— Provavelmente os soldados deram o recado para o Adrian.
— Ao menos, eles não devem incomodar por algum tempo — ele pôs as mãos atrás de sua cabeça enquanto caminhávamos.
— Quando eu descobrir quem matou o rei, podemos viver como aventureiros.
— É uma boa ideia, mas vamos precisar de dinheiro antes disso.
Percebemos uma presença mágica que conhecíamos e paramos de caminhar. Jules e Arya bateram de cara em nós, pois estavam distraídas.
Elas colocaram a mão no rosto e lançaram um olhar irritado para nós.
— O que estão fazendo?! — disse Jules, irritada.
— Sentiu isso, Isael? — Falei enquanto direcionava meu olhar para Isael.
— É, parece que temos companhia — Isael olhou em direção às árvores.
Uma flecha surgiu do meio das árvores. Antes que ela atingisse um de nós, invoquei a espada de sombras em minha mão esquerda e desviei a flecha.
A responsável saltou do meio das folhas da árvore até o chão. A pessoa estava coberta com uma capa cinza que ocultava seu rosto e cabelos.
Isael se posicionou ao meu lado, Arya desembainhou sua espada e Jules ergueu seu cajado de maga.
— Que coincidência — disse a pessoa.
— Galrian... essa mana... — falou Isael e franziu as sobrancelhas.
— Você se esqueceu de mim, Galrian? — a pessoa falou em um tom irritado enquanto retirava o capuz de sua cabeça.
Me espantei ao ver a garota de cabelos castanhos cacheados. Nossos olhos se encontraram, e logo apontei minha espada para ela.
Isael estava entediado por não termos visto nenhum tipo de monstro, mas em nossa frente estava alguém que de certa forma preferíamos que fosse realmente um monstro.
Encontrar Johanna Ycelion era algo que realmente não queríamos.
— Johanna, há quanto tempo, não é? — meu tom irônico atingiu ela como uma espada.
— Johanna... — Jules disse e pós seus olhos em Isael — a garota que você mencionou, não é?
— A que fez coisas ruins para Galrian — Arya falou irritada.
— O que está fazendo aqui, Johanna? — disse Isael.
— Estava passando e encontrei vocês andando por aí como se fossem um bando de aventureiros.
Ao finalizar sua frase, bandidos apareceram ao nosso redor.
Johanna se aproximou de nós, e logo entendi o que ela queria dizer. Aparentemente, Johanna fez algo para irritá-los e os trouxe para nossa cola.
— Ei, garota, não sabe pedir ajuda como uma pessoa normal? — encarei ela.
— Sabe que não sou de pedir ajuda — ela disse, encostando suas costas nas minhas.
— Garotinha, você nos deixou irritados — disse o homem com uma cicatriz no olho direito.
— Meu plano é simples, damos o fora daqui e entregamos a Johanna para eles — Isael assumiu sua posição de luta.
— Não vai me abandonar, vai Galrian? — Johanna fixou o olhar para mim.
— É um bom plano, Isael — dei um sorriso satisfeito.
— O que?!
— Mas é melhor lutar contra eles, assim a gente impede que ataquem outros aventureiros — girei a espada enquanto apontava a lâmina para eles.
Sabia que se ajudássemos a Johanna, ela não iria dizer nem mesmo um obrigado, então coloquei em mente garantir que aventureiros que passassem por ali não fossem atacados por eles.
— O que você fez? — disse Jules, erguendo seu cajado.
— Salvei uns aventureiros deles.
— Você não é de se preocupar com os outros — falei.
— Quem é você e o que fez com a Johanna verdadeira? — disse Isael em tom de brincadeira.
Uma lança de chamas surgiu no ar. Arya pegou e arremessou em direção a um dos homens; a lança atingiu com sucesso o peito do homem.
O impacto o prendeu na árvore, e logo seu corpo começou a queimar. Os bandidos atacaram em nossa direção. Estendi meu braço direito, e as sombras atingiram em cheio os homens.
O líder começou a tremer enquanto olhava para todos nós. Jules pôs um sorriso em seu rosto, apontou o cajado para o homem.
Do cajado surgiu uma esfera de água que foi disparada, cobrindo o rosto do homem.
— Queria ter dado um soco nele — Isael olhou para Jules — mas você foi bem, querida.
— Obrigada, amor — ela sorriu.
— Esses dois... — falei enquanto fechava meus olhos.
— Ah, como o amor é lindo — disse Johanna — não é, Galrian?
— Sua boca não merece falar essa palavra, Ycelion.
— Você ainda está irritado pelo que eu fiz?
— Eu deveria cortar você ao meio — olhei para ela.
— Eles realmente não se dão bem, em — Arya ficou ao lado de Isael e Jules.
— A Johanna se disfarçou de uma outra garota e deu uma facada no Galrian enquanto estávamos lutando contra alguns homens que queriam tirar a vida do comandante — disse Isael.
— Uma traidora então, certo? — falou Jules.
— A Johanna não é bem uma traidora, ela ainda considera o Galrian amigo dela — Isael deu de ombros — mas o Galrian não a considera assim.
— Agora que já resolvemos seu assunto, se manda daqui — apontei para o lado para que ela seguisse seu caminho.
— Isso é jeito de falar com sua amiga?!
— Nós não somos amigos!
— Eu não posso ficar andando sozinha por aí!
Não me diga que essa garota quer se juntar a nós depois de tudo que ela fez! Não sou de ficar irritado, mas ter a Johanna no grupo certamente me deixava assim.
— Você sempre gostou de ficar sozinha — cruzei meus braços e fechei meus olhos.
— Tem muita gente que me odeia — ela apontou para mim — seja lá para onde vocês forem, eu vou com vocês!
— Ela não vai ceder, Galrian, é melhor deixá-la ir conosco — falou Jules.
— Obrigada — Johanna sorriu.
— Mas se tocar um dedo no meu Isael, eu te esmago com uma pedra — disse Jules, e um olhar assassino surgiu em seu rosto.
— Credo!
— Não tem jeito, Galrian — disse Isael — é melhor deixá-la vir conosco. Vamos precisar das habilidades dela.
— Isael e Jules têm razão, Galrian — falou Arya.
— Até você? — abri os meus olhos em direção a Arya.
Arya acenou com a cabeça. Foram três contra um, isso certamente não foi justo.
— Ok, ok, ela pode vir com a gente — falei enquanto voltava a caminhar.
[...]
Hestia havia chegado na sala onde os alquimistas estavam. Ela abriu a porta e foi surpreendida por vários cadáveres no chão.
Ela arregalou os olhos, pôs sua mão na boca e gritou desesperada. Kay rapidamente adentrou a sala, viu toda aquela cena e afastou ela para que conseguisse investigar com cuidado.
— O que houve?! — disse Hestia desesperada.
— Parece que alguém não quer que nós descubramos quem é o assassino na verdade — Kay falou enquanto se ajoelhava para investigar melhor.
— O assassino veio aqui? O Galrian nem está mais no castelo, ou seja...
— Parece que alguém ainda insiste em colocar a culpa no Galrian — Kay olhou para a espada antiga de Galrian cravada em um dos corpos e junto a ela cabelos loiros — e também parece ser o mesmo, afinal, há cabelos loiros espalhados sobre o chão.
— Isso tá ficando ridículo já — Hestia cruzou os braços irritada.
— Eu desconfio que possa ser o Adrian, Alteza.
— O Adrian estava comigo enquanto Galrian estava conversando com o papai.
— É, mas ele está enviando soldados à procura de Galrian e também tem cabelos amarelos em todas as cenas de crime.
— Existe muita gente de cabelos dourados por aí, meu noivo não mataria o meu pai — Hestia falou enquanto se afastava — talvez seja outra pessoa.
— Oh, você está confiando demais no seu noivo, Alteza — Kay colocou os olhos nos fios de cabelos do chão — mas não se preocupe, eu vou descobrir isso junto do Galrian, e vamos ver se você ainda vai defender o Adrian depois dele ter enviado um exército atrás de Galrian.
[...]
A noite havia chegado, e resolvemos acampar em uma parte mais oculta da floresta para que o fogo da fogueira não atraísse atenção para nós.
Eu estava sentado em um dos galhos da árvore enquanto observava Arya, Isael e Jules se divertindo. Johanna veio até mim e encostou-se na árvore.
— Ainda está chateado por ter perdido? — disse Johanna claramente com a intenção de me provocar.
— Você não gosta de ficar sozinha? Então me deixe sozinho também — falei com os braços cruzados.
— Faz tempo que não nos vemos, então queria conversar um pouco com você.
— Não tenho tempo para conversar com você, Ycelion.
— Eu... — disse ela — me desculpe pelo o que eu fiz com você no passado...
Olhei em direção a ela, não sabia se aquilo era sincero ou não, mas resolvi aceitar, afinal, se ela estava no grupo agora, não havia motivos para me manter afastado dela.
— Tá, tudo bem, eu aceito suas desculpas.
— Prometo que serei útil a você.
— Apenas prometa que não vai nos trair, Ycelion.
— Nesse caso, eu prometo.
— Assim, outra coisa — me levantei e saltei do galho, caí em frente dela e a prendi contra o tronco da árvore — se precisar de ajuda, não hesite em dizer. Você quase causou um problema para nós hoje.
— S-sim — ela falou enquanto seu rosto ficava vermelho.
— Ótimo — me afastei dela e voltei para perto de Isael e das meninas.
Me sentei perto de Isael e Jules e comecei a comer. Johanna se aproximou também e se sentou ao lado de Arya.
Durante a hora de dormir, fiquei responsável por vigiar primeiro. Olhei em direção à redonda lua cheia e ao céu estrelado.
De manhã, finalmente, havíamos deixado a floresta. Avistamos as montanhas ao fundo de um lindo campo de flores aberto.
Isael correu em direção às montanhas e olhou para mim como se tivesse começado um desafio contra mim.
Sorri e comecei a correr junto com ele. As meninas se olharam e nos seguiram. As pétalas das flores dançavam no ar enquanto passávamos pelas lindas flores.
Nosso objetivo estava bem à nossa frente, e estávamos animados por finalmente chegarmos a ele.
No entanto, a poucos metros da montanha, algo nos pegou de surpresa: um enorme dragão vermelho pousou à nossa frente.
Isael e eu paramos e olhamos em direção a ele, percebemos que havia alguém montado nele. Adrian!
— Ora, ora, parece que encontrei os traidores do reino — falou ele.
Merda, esse desgraçado tinha que chegar logo quando estávamos tão próximos?
Me aproximei e o encarei. Ele desceu do dragão e se aproximou até mim.
— Eu vim pessoalmente te pegar, Galrian Wolfhart.
— Se veio pegar o Galrian — falou Isael enquanto Jules, Arya e Johanna ficavam ao seu lado — vai ter que passar por cima de nós quatro primeiro.
— Você realmente se tornou fraco, precisando do Isael e três garotas para protegê-lo — falou Adrian.
— Quem disse que eu preciso deles para me proteger? — disse, enquanto a aura de sombras se erguia.
Adrian arregalou os olhos ao sentir uma mana sombria e assustadora.
Ele se afastou enquanto uma aura negra envolvia-me. Até mesmo o dragão sentiu o quanto aquela aura representava perigo.
— Que poder é esse?! — falou Adrian.
— O que foi? Está com medo? Saiba que quando todos os reinos souberem que você está tentando me caçar, o Rei das Sombras, todos eles se levantarão contra Luminara.
— O Rei das Sombras — Johanna falou surpresa.
— Não... não pode ser como você...
— Apenas saia daqui ou farei a Hestia ficar de preto por você também — falei em um tom ameaçador para que ele entendesse que eu não estava para brincadeira.
Adrian correu e montou no dragão. Apontou seu dedo para nós e disse:
— Se prepare, Galrian. Eu acabarei com você.
O dragão levantou voo e passou por cima de nós, logo desapareceu da nossa vista.
Aquela ameaça não deixou nenhum de nós com medo.
Fixei meus olhos em direção às montanhas e comecei a caminhar. Isael, Jules, Arya e Johanna me seguiram em silêncio.
Enquanto subíamos ao topo das montanhas, todos avistamos um castelo negro com quatro torres.
Eu definitivamente não poderia descrevê-lo como um castelo; parecia mais uma fortaleza impenetrável.
Era como se algo me dissesse que ali agora seria o meu novo lar, meu novo esconderijo.