Volume 1
Capítulo 25: Segundo Selo
Os dragões voavam em direção ao castelo. Ao passarmos pela cidade, avistei agora vários homens junto de suas mulheres.
Definitivamente, aquele caos completo só havia sido causado por Lilithia. Tudo parecia estar bem.
Ao pousarmos no jardim do castelo, notei vários homens trabalhando arduamente para reformá-lo.
Para evitar pisar nas flores, saltei de cima do Fafnir diretamente para uma parte com um caminho de tijolos dourados. Isael e as meninas seguiram o exemplo, e nos dirigimos à entrada.
— Da última vez que estive aqui, fui caçado por várias soldadas.
— Dessa vez, estamos vindo como convidados, não como inimigos — disse Isael.
— Espero. — Coloquei uma expressão de incerteza no rosto.
As portas da sala do trono se abriram, avistando dois soldados, um homem e uma mulher.
Estava impressionado como esses dois conseguiam causar uma mudança tão drástica em tão pouco tempo.
Nos aproximamos de Ariella e Valorian, que estavam sentados sobre o trono. Isael, Jules e Johanna se curvaram, enquanto eu, Arya e Hestia ficamos de pé.
— Já sabia que Hestia era a rainha de Luminara — disse Ariella — mas Arya, você é de alguma família real?
Arya moveu os olhos na minha direção, esperando uma decisão minha para contar a verdade. Com apenas um olhar, recebeu sua resposta e encarou Ariella, mostrando sua verdadeira forma.
— Sou filha do rei dos Hornsianos, Thorian Voidborn.
— Entendi. Sejam bem-vindos — disse Valorian.
— Dessa vez, você não precisa fugir pendurado pelas construções da cidade, rei das sombras — brincou Ariella.
— Ainda bem. — Dei um sorriso sem graça.
— Galrian, se não fosse por você, Ariella ainda estaria sob o domínio do demônio — Valorian expressou satisfação.
— Estou curiosa, Ariella — disse Jules — como isso aconteceu?
— Ah... — Ariella olhou para cima — vou contar.
[...]
Ariella estava no jardim, tomando chá enquanto observava suas lindas flores. Uma sombra surgiu à frente dela. Arregalou os olhos enquanto a sombra tomava a forma de uma linda garota de cabelos rosas e olhos vermelhos.
— Prazer em conhecê-la, majestade — a garota se curvou e sorriu — me chamo Lilithia e sou alguém que pode realizar todos os seus sonhos. Para isso, basta realizar um... pacto.
— P-pacto? — Ariella ficou apreensiva.
— Pacto, acordo, chame como quiser — Lilithia fixou os seus olhos nelas enquanto sua postura se mantinha ereta — então, o que me diz?
— C-como funciona isso?
— É simples, minha cara rainha de cabelos negros. Você só precisa deixar que eu use seu corpinho como receptáculo, maaaasss, só quando eu precisar.
— E-e o que você vai me dar em troca?
— Poder, querida, poder. Com esse poder, seu reino será próspero e indestrutível.
— E-eu aceito — Ariella sorriu.
Lilithia se aproximou de Ariella e se tornou uma fumaça negra. Ela adentrou a boca dela e Ariella fechou os seus olhos. Ao abri-los, suas pupilas estavam da cor vermelha.
[...]
— É isso que aconteceu — disse Ariella.
— Você foi enganada por um demônio e ainda aceitou o pacto? — falou Johanna.
— Parece que ela é bem... ingênua? — falou Isael.
— Não confie em nenhum demônio — cruzei os meus braços.
— Tragam os presentes — disse Valorian.
Soldados e soldadas adentraram a sala do trono com alguns presentes, joias para as meninas e uma espada para mim, além de uma espécie de luvas e botas de metal.
— Outra? — sussurrou Isael.
Jules deu uma cotovelada na costela dele.
— Não seja mal educado e aceite o presente, ok?! — sussurrou Jules para ele.
— Sinto muito por não ter gostado, Isael — disse Ariella — mas não sabíamos qual seria um bom presente para você.
— Tudo bem — Isael sorriu.
Peguei a espada e a retirei da bainha. Era apenas mais uma espada comum, mas, diferente de Isael, eu valorizava qualquer presente que recebia.
Assim como a espada que Thorian havia me dado, eu também colocaria ela no meu quarto. Embainhei a espada de volta e movi meus olhos em direção às meninas.
Jules havia recebido um colar que fazia com que seus feitiços gastassem pouca mana, Hestia recebeu uma pulseira que a fazia se teletransportar, Johanna recebeu um brinco que melhorava sua mira com o arco e Arya um broche que aumentava sua magia de fogo. Todas elas pareciam ter gostado de seus respectivos presentes.
— Tenho um pedido para você, Galrian — disse Ariella.
— Estou ouvindo.
— Gostaríamos que continuasse a manter contato com Ymir — Valorian falou.
— Claro, e por isso deixarei Fafnir e os outros dragões aqui.
— Agradeço pela confiança — Ariella sorriu.
[...]
À noite, havíamos retornado para o castelo das montanhas. Coloquei a espada que havia ganhado de presente ao lado da que eu havia ganhado de Thorian, dei alguns passos para trás enquanto observava como ficava. Lycan se levantou de sua almofada e ficou ao meu lado enquanto olhava as espadas.
— Se continuar ganhando espadas, esse quarto vai ficar parecido com a loja de um ferreiro — disse Lycan.
— Quero construir uma parte onde eu possa usar como esconderijo, caso a Hestia venha me perturbar.
— Nesse caso, sugiro você fazer um na dimensão das sombras.
— Espere — coloquei a mão sobre o queixo — dimensão das sombras?
— Sabe quando você abre um portal? Então, a dimensão das sombras é uma ponte que atravessa do local em que o portal foi aberto até onde você quer sair.
— Sim, mas como posso usar isso para fazer um esconderijo?
Lycan foi até a minha escrivaninha e pegou um lápis em sua boca. Ele se dirigiu até uma parede do quarto onde não havia nada do outro lado, ficou em duas patas e começou a desenhar uma porta.
— Use isso para fazer uma porta — disse ele enquanto se afastava.
— Usar sombras para fazer uma porta, isso é possível?
— Sim, confie em mim.
Me aproximei da porta que ele havia desenhado e toquei em uma das linhas do desenho. Sombras passaram do meu dedo para a linha. Comecei a deslizar o dedo enquanto cobria as linhas do desenho com as sombras. Após isso, me afastei, e um portal de sombras se abriu.
— Ótimo, agora venha comigo — Lycan entrou no portal enquanto caminhava sobre quatro patas.
O portal nos levou até uma sala onde não havia absolutamente nada. Era como se fosse uma dimensão diferente, mas parecia um local perfeito para fazer uma extensão do meu próprio quarto. Eu e Lycan nos olhamos e sorrimos.
Lycan foi até o meu quarto e puxou as espadas para o espaço. Fui até o meu quarto e peguei um baú no qual guardava alguns documentos importantes.
— Falta um ar mais eu, sabe? — falei enquanto observava ao redor.
— Estantes de livros, uma cama... Trarei isso para você.
— Obrigado, Lycan. Também traga algumas coisas suas.
— Sim, senhor.
Deixei isso para o Lycan, já que ele parecia ser mais rápido, e me deitei sobre a cama para descansar um pouco.
[...]
Na manhã seguinte, percebi que a porta que eu havia criado estava aberta. Adentrei o local e vi estantes de livros, uma cama e Lycan deitado sobre sua almofada.
O espaço tornou-se mais acolhedor, havia até uma lareira. Perguntei-me como esse lobo conseguiu carregar tudo isso enquanto eu dormia.
Retornei ao meu quarto e alguém bateu à porta. Ao abri-la, encontrei Feylin, que se curvou para mim.
— O cristal do trono está tocando, majestade.
— Já estou indo — saí e fechei a porta do quarto.
Dirigi-me ao trono, sentei sobre ele e coloquei a mão sobre o cristal. Annaelia apareceu, e pelo seu rosto, não era um bom sinal.
— Galrian, encontramos o segundo selo.
— O que? Onde?
— Está abaixo do meu castelo.
Apareci à frente dela e a olhei. Aparentemente, posso me teletransportar para onde houver um soldado de sombra, já que coloquei um para vigiar Atalanta quando precisasse vir para cá.
— Me siga — Annaelia levantou-se do trono e passou por mim.
Ela me levou até uma abertura na masmorra do castelo, pegou uma tocha e começou a adentrar a estrutura. A segui, e começamos a caminhar por um caminho estreito feito de rochas.
— Os soldados encontraram enquanto consertavam algumas coisas na masmorra — disse Annaelia enquanto caminhava.
Nos aproximamos de algo que parecia ser um círculo mágico, no meio dele havia um item que parecia ser um cálice. Me aproximei dele e a caverna começou a tremer. Várias pessoas que usavam máscaras apareceram, Annaelia correu para trás de mim.
— Ele é o Rei das Sombras, não é? — falou um deles.
— Ignorem o Rei das Sombras, foquem no selo — disse outro.
Então, eles também têm o mesmo objetivo que Adrian...
— Saia da frente, Rei das Sombras — um deles se aproximou de nós dois.
Encarei ele enquanto mantinha Annaelia protegida. Um deles saltou por cima de nós dois e caiu em pé sobre o círculo mágico.
Ele pegou uma adaga, cortou seus braços e derramou sangue no círculo. O cálice brilhou, o círculo se desfez, a caverna começou a tremer novamente, e segurei Annaelia para que ela não caísse.
Diante dos nossos olhos, avistamos uma enorme sombra emergir do chão.
A fumaça que exalava afetava nossa visão enquanto tentávamos ver qual era o demônio que estava por trás de toda aquela fumaça.
Encarei e a fumaça se dissipou; uma demônio de cabelos vermelhos abriu suas asas.
Ela moveu os olhos em direção a todas as pessoas de máscaras, deu um sorriso e estendeu seus braços.
As cabeças dos que estavam lá, exceto ela, eu e Annaelia, explodiram, e Annaelia soltou um grito. Fiquei à frente dela para que não pudesse ver.
Após os corpos caírem por terra, eu e Annaelia olhamos em direção ao demônio. Ela apareceu em minha frente e pôs sua mão sobre meu rosto.
— Você é o novo rei, não é?
— Você é...
— Sylvara e sou uma das generais da rainha dos demônios.
Ela matou os caras que a libertaram.
Sylvara bateu seus pés no chão; ele se partiu abaixo de nós. Enquanto caía em direção ao precipício, segurei Annaelia em meus braços. Ela protegeu o rosto no meu peito enquanto encarava Sylvara que sorria.
[...]
Sylvara abriu suas asas e voou para cima. Ela atravessou todo o caminho e emergiu para fora do castelo, observou toda a capital de Atalanta e levantou seu braço direito.
Uma esfera de caos se formou, e ela jogou em direção à cidade; uma explosão ocorreu enquanto aniquilava todos da cidade.
— Eu estou liberta, eu estou livre! — disse ela enquanto gargalhava.
Ela começou a voar enquanto terminava de assassinar as pessoas que haviam sobrevivido à explosão. Um demônio sádico havia sido libertado e agora voava livre pelo mundo em busca dos outros selos.
Todos sentiram uma sensação ruim e Hestia foi até o quarto de Galrian. Ela abriu a porta e percebeu que ele não estava lá. Eles se reuniram na sala do trono e notaram o cristal piscar. Isael se aproximou e atendeu, Elowen e Ariella, junto de Valorian, apareceram.
— Onde está o Galrian? — disse Elowen.
— Ele não está aqui — falou Hestia.
— Um demônio... foi solto em Atalanta.
— O que?! — reagiram surpresos.
— O reino está sendo destruído — disse Ariella.
— O que houve com Annaelia? — disse Jules.
— Ela sumiu.
Galrian e Annaelia desapareceram, e uma demônia liberta? Eles logo ligaram os pontos e perceberam que isso teria uma ligação.
Isael, Jules e Johanna decidiram ir para Atalanta em busca de enfrentar a demônia, enquanto Hestia e Arya iriam para Ymir e Hilusia para tentarem proteger os reinos caso a demônia resolvesse atacá-los.
[...]
Annaelia estava em cima de mim. Abri os meus olhos e olhei em volta; parecia ser uma caverna, mas na minha frente havia um lago. Ela despertou ainda inerte devido à queda. Nós dois olhamos para cima.
— Será que conseguiremos sair daqui? — disse ela.
— Se eu usar as asas de sombras... provavelmente.
Nos olhamos, e a peguei nos braços. As asas de sombras apareceram, e voei em direção à saída.
As asas de sombras desapareceram e caímos novamente no chão. Parece que estou cansado demais para usar os poderes das sombras, então só nos resta... Olhei em direção a um caminho que parecia levar a algum lugar.
Sem escolhas, eu e Annaelia começamos a seguir o caminho em direção à saída. Não sabia se conseguiria proteger Annaelia, mas irei tentar o possível mesmo que isso custasse a minha vida.