Volume 1
Capítulo 23: Revolução
Eu estava sentado no topo do castelo, observando o horizonte à minha frente. A barreira de sombras cobria toda a cidade, ela prevenia contra ataques inesperados. Isael subiu no telhado pela torre principal e se aproximou de mim.
— Como foi em Ymir, roubando um dragão e escapando? — ele se sentou ao meu lado.
— Quase virei comida de dragão. Levei uma flechada e saí me pendurando pela cidade para escapar.
Ele deu um soco no meu braço.
— Deveria ter me chamado. Estava precisando de um pouco de aventura.
— Ymir é um reino onde as mulheres detêm o poder, e os homens são caçados e se tornam escravos — suspirei.
— Ouvi Jules falar um pouco sobre o antigo reino de Ymir. Parece que foram derrotados pelo Rei das Sombras ao declarar guerra a Atalanta.
— Poderia chamar a Annaelia para ajudar — apoiei minha cabeça na mão esquerda. — Quem sabe se Ariella não recuaria.
— Ou talvez atacasse com ainda mais força total — Isael olhou para a cidade. — Sabe, aquelas três estavam preocupadas com você.
— Até a Johanna? — movi meus olhos em direção a ele.
— Até ela... bom, do jeito dela.
Enquanto ríamos sobre esse último assunto, Jules apareceu no telhado do castelo, enquanto respirava pesadamente.
— Vocês dois! — ela disse. — O exército de Ymir está marchando para cá.
Nos levantamos e seguimos Jules até a sala do trono.
Uma bola de cristal mostrava soldadas montadas em drakes, dragões quadrúpedes sem asas.
Avistei também dragões no ar e Ariella estava montada em Bahamut.
— Estamos literalmente com problemas — disse Elowen.
— Preparem os soldados — falei, olhando para eles. — Todas as soldadas são mulheres, então, meninas, conto com vocês.
— Certo — responderam enquanto acenavam com a cabeça.
— E nós, homens? — Isael cruzou os braços.
— Vamos para Ymir — sorri. — Libertar os soldados presos.
— O que faremos com Ariella? — Elowen perguntou, olhando para mim.
— Prendam-na na masmorra do castelo.
Me aproximei de Isael e parei ao lado dele.
— Pronto para liderar um exército de novo, meu amigo?
— Claro. Vamos para o ataque.
— Tomem cuidado. — Movi os olhos em direção a elas e saí junto de Isael.
— Certo, meninas. — Elowen disse. — É hora de mostrar para a rainha de Ymir que só os mais fortes do que ela.
Me aproximei de Fafnir e montei nele. Isael se aproximou de um cavalo branco e montou nele. Os soldados se aproximaram de nós.
— Certo, vamos contar com as meninas para lidarem com Ariella. Vou voar na frente com Fafnir para abrir o caminho, caso alguém atrapalhe o exército.
— Ok. — Disse Isael.
Fafnir levantou voo, e Isael bateu as rédeas do seu cavalo. O exército começou a seguir eu e Isael em direção a Ymir.
[...]
Ariella estava à espera que Galrian aparecesse, mas se surpreendeu ao ver apenas Jules, Arya, Johanna e Hestia. Ela desmontou Bahamut e começou a caminhar em direção a elas.
— Onde está aquele maldito? — Disse Ariella.
— Sua luta é conosco, maluca por dragões. — Hestia falou enquanto cruzava os braços.
— Se vão ficar no meu caminho, então... — Ariella levantou sua mão direita. — Queime, Bahamut!
Bahamut inalou o ar para encher seus pulmões de dragão e liberou fogo em direção às meninas. Jules apenas sorriu, ergueu seus braços e círculos mágicos surgiram no ar.
Deles emergiu um enorme jato d’água que colidiu com o ataque de fogo de Bahamut.
Uma cortina de vapor cobriu o campo de batalha e Johanna aproveitou a distração para disparar uma flecha em direção ao exército de Ymir.
A flecha se multiplicou e atingiu as soldadas das linhas de frente.
— Mas o que...? — Ariella fixou os olhos enquanto dava as costas.
Hestia surgiu da cortina de vapor, e Ariella moveu os olhos em direção a ela.
— Regra número 1 do Galrian — Disse Hestia. — Enquanto estiver no campo de batalha, não dê as costas para o seu inimigo!
Ariella desviou, Hestia atingiu o chão com a espada. Ela avançou em direção a Ariella e começou a balançar a espada rapidamente enquanto a rainha de Ymir desviava habilmente. Johanna surgiu acima de Hestia com o arco apontado para Ariella.
— Regra número 2 do Galrian... — Falou Johanna enquanto liberava a flecha. — Não se foque em apenas um inimigo!
A flecha cortou o ar e passou centímetros próximo do rosto de Ariella, que arregalou os olhos. Hestia e Johanna se afastaram e uma bola de fogo surgiu, e acertou Ariella em cheio. Arya ficou ao meio de Johanna e Hestia, com o braço estendido.
Jules estendeu seu braço direito em direção ao exército, um círculo mágico apareceu acima das soldadas, e lanças de fogo emergiram do círculo, acertando o exército.
Hestia e Arya avançaram, atacando Ariella com suas espadas. Enquanto ela tentava desviar, as duas causaram cortes no rosto e nos braços de Ariella. Encarando as duas, ela disparou uma bola de eletricidade em direção a elas. Hestia e Arya desapareceram e no último segundo, Hestia apareceu, ela seguro o braço esquerdo de Ariella e Arya o direito.
— Mas o que?! — Ariella tentou se libertar.
Johanna disparou uma flecha em direção às três. No último segundo, Hestia e Arya desapareceram e uma explosão surgiu, sem dar chances para Ariella escapar ou se defender. Após a fumaça se dissipar, ela saiu toda ferida e encarou todas elas.
Após lidar com o exército sozinha, Jules se juntou a Johanna, Arya e Hestia. Elas fixaram os olhos em Ariella, irritada pelo último ataque.
— Se preparem — disse Jules.
Os olhos de Ariella se tornaram vermelhos, e Hestia arregalou os olhos ao perceber que era o mesmo brilho dos olhos de Adrian. As três se prepararam.
[...]
Fafnir destruiu o teto do castelo e pousou no meio da sala do trono onde estava Valorian. Ele ficou surpreso ao me ver ali em Ymir novamente, montado em Fafnir. Desmontei do dragão e me aproximei dele.
— Onde estão os escravos?
— O que está planejando, Rei das Sombras? — disse Valorian.
— Vou tomar Ymir da sua esposa.
— Você irá matá-la?
Fiquei em silêncio por alguns segundos antes de respondê-lo.
— Não, mas este reino está em ruínas, a gestão dela como rainha é péssima.
— Ela não era assim... Isso começou há dois anos.
— Não importa como começou. Estou com o exército de Hilusia, e minhas aliadas estão lidando com sua esposa. Aceite e me entregue Ymir, ou terei que tomar à força.
— Certo... Me siga. — Ele tomou a liderança enquanto íamos em direção a um corredor.
Invoquei a espada das sombras e o segui, mantendo minha guarda caso ele tentasse me trair. Enquanto eu o seguia, Isael e os soldados liberavam os escravos da cidade. Entramos na masmorra onde havia vários homens presos.
— Ouça o que vou lhe dizer — falei, fixando meus olhos nele. — Libertem todos os homens que estão aqui. Vou confiar em você para cuidar de Ymir e de sua esposa.
— Minha esposa... A Ariella... — Valorian me encarou. — Ela está possuída por um demônio.
— O que?
— Foi há dois anos — ele colocou seus braços nas costas — um demônio com aparência feminina surgiu e fez um acordo com ela; se Ariella permitisse que seu corpo fosse usado como receptáculo do demônio, ela receberia um grande poder. A verdadeira Ariella é gentil.
— Por que não me contou logo? — encarei ele.
— Porque você estava apressado.
Se Ariella está possuída, então aquelas quatro e até mesmo Hilusia estão com problemas.
— Os dragões? Como posso trazer os dragões para o nosso lado?
— Eles entendem a língua humana.
— Ótimo, avistei apenas Bahamut, então me diga onde estão os outros.
— Abaixo do castelo.
Meus olhos foram em direção ao chão, e as botas e luvas de sombras surgiram. Valorian abriu todas as celas, e os homens fugiram pelas escadas.
— O que irá fazer, Rei das Sombras? — ele me olhou.
— Isso aqui — bati com meu punho esquerdo no chão, e uma rachadura surgiu.
O chão logo se partiu, e comecei a despencar junto de Valorian até o local onde os outros dragões ficavam.
[...]
Jules, Arya, Johanna e Hestia respiravam ofegantes enquanto encaravam Ariella, agora insanamente poderosa. Ela sorriu ao ver o olhar de cansaço das meninas.
— Como ela ficou tão forte? — disse Arya.
— Ela está com algum demônio no corpo, veja os olhos vermelhos — disse Hestia.
— Parece que o Galrian não contou esse detalhe para a gente — Johanna falou.
— É provável que nem o Galrian soubesse disso — disse Jules.
Ariella estendeu seu braço direito, e uma esfera do caos surgiu em suas mãos.
Ela liberou o ataque e enquanto se inspirava em Galrian, Hestia rebateu a esfera com suas mãos limpas, o que impressionou Ariella.
— Como você fez isso?
— Eu treinei com o Galrian — Hestia sorriu.
Jules se aproveitou da distração e ergueu seus braços; o chão de pedra prendeu Ariella em uma cela feita de rocha, mas ela a destruiu num piscar de olhos, as meninas estavam sem saída a não ser manter Ariella ocupada até Galrian e Isael retornarem.
[...]
Eu caí em pé, enquanto Valorian caiu de cara no chão. Os dragões logo saíram da escuridão e nos cercaram.
— Escutem, a rainha de vocês está possuída por um demônio, então quero que me obedeçam e me ouçam, ok?
— Eu já imaginava que tinha algo de errado com ela — disse Tiamat.
— O que?! — olhei em direção ao dragão branco — você fala?!
Um redemoinho de vento cercou a fêmea branca, o redemoinho se esvaiu, Valorian e eu ficamos surpresos ao ver uma mulher de cabelos brancos. Ela tinha olhos azuis, ostentava asas brancas e cauda de dragão, seu corpo era sensual e usava um vestido branco.
— Por que eu não falaria? — ela sorriu — eu sou a rainha dos dragões.
— A-a rainha? — disse Valorian.
— Por anos ajudei Ymir por causa do avô da sua esposa — disse Tiamat enquanto se virava para mim — mas acho que encontrei alguém melhor para me servir.
— Então acho que não vou precisar usar as sombras para te trazer ao meu lado.
— Claro, então quer fazer um acordo comigo, rei das sombras?
— Se prometer que vai ser um bom dragão, eu aceito.
— Então temos um acordo, majestade.
— Ei! — Valorian disse — o que irá fazer?
— Vou trazer sua esposa de volta e matar o demônio que está no controle — falei enquanto me virava — Tiamat, leve seus dragões para Hilusia. Vou precisar de ajuda.
Tiamat assumiu sua forma de dragão e levantou voo junto dos outros.
— Vou emprestar Fafnir para você ir ajudar Isael e os soldados. Preciso voltar para Hilusia; afinal, se a Jules for morta, Isael me mata.
— Ok — Valorian saiu apressadamente em direção à saída.
— Certo... é hora de caçar um demônio — falei enquanto sorria.
[...]
Hestia e Jules eram as únicas que ainda estavam de pé, pois Arya e Johanna haviam sido nocauteadas por uma esfera de caos. As duas encararam Ariella enquanto se mantinham de pé com ferimentos consideravelmente graves.
— Precisamos aguentar até Galrian e Isael chegarem. Não desista, Jules — disse Hestia.
— Quem está desistindo? — Jules falou com um sorriso.
Ariella estendeu suas mãos, e duas esferas do caos surgiram.
— Morram! — disse ela enquanto as esferas eram liberadas em direção a Hestia e Jules.
[...]
Apareci à frente das duas e rebati as esferas com os pés. As esferas retornaram para Ariella, que foi atingida em cheio. As duas me olharam surpresas.
— Galrian?! — as duas falaram ao mesmo tempo.
— Bom trabalho, vocês duas. Agora, peguem Arya e Johanna e deixem que eu resolvo isso.
— C-certo — disse Hestia.
Jules pegou Johanna e Hestia pegou Arya. Elas se afastaram e movi meus olhos em direção a Ariella; sua mana demoníaca era bem maior que a de Adrian, parecia ser de um demônio superior.
— Finalmente apareceu, rei das sombras — ela disse.
— Aquieta o facho, ou melhor — estendi meu braço para ela e mexi minha mão — sai do corpo da garota e vem lutar. Quero ver se você é mulher o suficiente para me enfrentar.
— Vai mesmo lutar sozinho? Eu sou mais forte do que um humano demoníaco; nem mesmo aquelas quatro conseguiram contra mim.
— Ora... Por que eu não pensei nisso? Espera um pouco... — Sorri enquanto fechava os olhos e Tiamat pousava com os outros dragões e o exército de Hilusia retornava com Valorian e Isael. — Pensei sim.
— Tsc.
Os olhos dela ficaram em desespero ao ver os dragões ao meu lado.