Volume 1
Capítulo 21:Ymir
Estava sentado no trono e Arya ao meu lado. Após nossa noite juntos, ficamos mais próximos, tão próximos que Hestia já estava com ciúmes.
Dei um suspiro de tédio; desde que voltamos do reino de Arya, nada de importante aconteceu para os reinos. Meu descanso foi interrompido por uma ligação de Elowen, que estava desesperada.
— Preciso da sua ajuda! — disse ela.
— Ah, claro, o que houve?
— Estamos prestes a entrar em guerra.
— E quem disse que isso é problema meu? — franzi as sobrancelhas — Cada reino com seus problemas; só preciso agir se for em relação aos demônios.
— Errado, os problemas dos reinos são seus também.
— Quem?
— Ymir.
— Achei que o reino Ymir tinha sido aniquilado — Arya falou, enquanto olhava para cima.
— Aniquilado? — movi os olhos em direção a ela.
— Ouvi dizer que a primeira batalha de Ryen foi contra Ymir e que ele aniquilou todo o exército com apenas um simples movimento.
— De acordo com a Annaelia, a luta realmente ocorreu, mas ele não aniquilou o reino. O tempo fez o reino enfraquecer — disse Elowen.
— Então é uma grande nação contra um reino pequeno? Você não precisa da minha ajuda.
— Errado, Ymir usa dragões. Ouvi dizer que eles têm um enorme dragão preso em correntes que pode aniquilar um reino com uma simples baforada.
— Estou indo aí — levantei do trono.
— Vou chamar o pessoal — disse Arya, enquanto dava um sorriso.
— Não, dessa vez eu vou sozinho — estendi meu braço esquerdo, e o portal de sombras se abriu — Descansem.
Entrei no portal e emergi em frente a Elowen, que estava sentada em um trono dourado. O portal de sombras se fechou e cruzei os braços enquanto a olhava.
— Então? — falei — Como posso ajudar?
— Tentei propor um acordo de paz, mas não quiseram me ouvir.
— Para uma guerra começar, é necessário um motivo. O que fez Elowen?
— É... tinha um espião de Ymir; um dos soldados o matou...
Parece que não vai ter acordo de paz dessa vez. Deveria ter perguntado a Nix sobre Ymir antes de me apressar e vir até aqui.
Talvez houvesse algo nos livros que eu poderia usar para saber mais sobre a história deles, ou posso simplesmente resolver isso com uma ameaça, mas se Ryen já havia lutado contra eles antes, então era improvável que ficassem quietos sobre o novo Rei das Sombras ameaçá-los.
Elowen mencionou o dragão, então se eles o libertassem, era provável que os reinos sofressem.
— O que planeja fazer?
— Te usar para ver se eles cessam o ataque.
Ela quer me usar como uma arma?!
— Olha aqui, eu não sou uma arma que serve para ameaçar o reino, ok? — encarei ela.
— Não tenho outra escolha.
— Que tal dizer para os soldados não matarem espiões e questionar o motivo de Ymir ter colocado um?
— Não tenho tempo para seus argumentos. A qualquer momento, um ataque com dragões pode ocorrer — ela me encarou enquanto mantinha sua expressão preocupada.
Dei um suspiro e levantei minha perna esquerda. Elowen ergueu sua sobrancelha enquanto se perguntava o que eu faria.
Toquei com a ponta do meu pé esquerdo no chão e uma barreira de sombras cobriu toda a cidade.
— O que fez? — disse Elowen enquanto me olhava.
— Coloquei uma barreira de sombras. É quase impossível um dragão conseguir atravessar essa barreira.
— Obrigada.
— Vou ficar aqui até essa guerra terminar então, não se preocupe.
— Mas e o castelo?
— O pessoal está lá.
[...]
Arya reuniu todos na sala do trono e contou que Galrian havia ido para Hilusia sozinho para que eles descansassem, o que deixou Hestia bastante irritada.
— Aquele Rei das Sombras desgraçado!!! — disse ela.
— Bom, eu entendo — disse Johanna — muitos eventos ocorreram.
— Com o Galrian fora, podemos fazer tudo o que quisermos — Isael deu um sorriso.
— Nada disso — Jules beliscou a bochecha de Isael — o Galrian deixou o castelo com a gente, não vamos causar problema para Luna, Lira e Feylin.
— Tá bem, tá bem, amor — disse Isael com um sorriso.
— Parem de flertar! — encarou Hestia.
— Acho que vou voltar a dormir então — Johanna se afastou.
— Sério, não vão fazer nada? O Galrian pode precisar da nossa ajuda — disse Hestia.
— O Galrian sabe se virar — Arya falou.
Definitivamente, ele podia e não só Arya sabia disso, como Jules e Isael também. Mesmo que ele se ferisse, Galrian ainda poderia lutar.
— Tá bem, Hornsiana! — Hestia deixou a sala irritada.
— Não se preocupe com a Hestia — disse Isael — ela só está irritada porque você e o Galrian se tornaram bem próximos.
— Eu... entendo ela — disse Arya enquanto colocava uma expressão triste em seu rosto.
[...]
As pessoas pareciam não estar preocupadas enquanto a barreira negra de sombras cobria a cidade.
Na verdade, as pessoas estavam realmente surpresas comigo, que caminhava pela cidade junto dos soldados reais.
Tipo, não sei por que a Elowen ordenou que eles fizessem minha guarda, não é por nada... mas sei me virar melhor do que muitos soldados treinados.
— Por que estão aqui comigo? — disse enquanto os olhava.
— A rainha ordenou que fizéssemos sua guarda — falou um deles.
— Não preciso de guardas.
Um rugido soou pelo ar e as pessoas ficaram apreensivas. Invoquei as asas de sombras e voei para cima. Um buraco apareceu na barreira e eu saí por ele.
No horizonte, avistei quatro dragões que se aproximavam da cidade. Um de escamas vermelhas disparou uma bola de fogo na barreira e assim como eu pensava, a barreira não sofreu nenhum dano.
Os outros três vieram em minha direção com suas bocas abertas. Desviei do primeiro, do segundo, e do terceiro segurei sua boca enquanto encarava. Avistei uma esfera de fogo se formar em sua boca, fechei a boca dele rapidamente, e uma explosão ocorreu.
Coloquei minha mão à frente do meu rosto enquanto a explosão acontecia.
Peguei a espada de sombras e olhei para os outros três que haviam sobrado.
Um de escamas azuis se aproximou de mim enquanto disparava bolas de fogo.
Desapareci e apareci ao lado dele, movi a espada de sombras e cortei seu pescoço.
— Só faltam dois — movi os olhos em direção a eles.
Para a minha surpresa, Hestia apareceu enquanto caía do céu. Ela apontou sua espada e perfurou o dragão de escamas verdes.
Como ela chegou até aqui?
Olhei para o de escamas vermelhas e disparei a esfera de sombras.
O impacto fez ele se empurrado para trás e Hestia cortou a cabeça dele, ficando à minha frente enquanto flutuava com uma magia que havia sido ensinada por Jules.
— O que faz aqui, Hestia?
— Você me deixou sozinha — ela colocou o dedo próximo ao meu peito — está muito próximo da Arya!
— Não tenho tempo para seus ciúmes bobos, volte para o castelo.
— Nem a pau! Vou te ajudar.
— Olha aqui sua teimosa, você viu que são dragões, não soldados. Consigo usar asas de sombras para lutar contra eles, você não.
— Eu posso voar — ela colocou as mãos na cintura e sua mana se esgotou — Há?
Ela começou a despencar em direção à barreira de sombras.
Coloquei minha mão sobre a testa e mergulhei atrás dela, peguei a mão dela e voei em direção ao castelo enquanto a segurava.
Às vezes, a Hestia agia pelo próprio orgulho e assim como Johanna, ela não me ouvia, o que acabava sempre em problemas.
Pousei na torre mais alta do castelo e a encarei enquanto a colocava sobre o chão. Ela olhou para o lado enquanto cruzava os braços.
— Ouça o que eu digo ao menos uma vez, Hestia — falei — volte para o castelo.
— Eu quero ajudar — ela moveu os olhos para mim.
— Vocês já me ajudaram demais na batalha contra Adrian, precisam descansar.
— Você também precisa de um descanso, mas não faz isso. Por que precisamos descansar e você não?
Olhei para o lado e depois para ela.
— Porque vocês são mais frágeis do que eu — falei enquanto ficava com o rosto vermelho.
— O que?
— Se eu me machucar, posso me regenerar — encarei ela — mas se vocês se machucarem, pode ser o fim de vocês. Não quero perder mais ninguém, então seja uma boa garota e volte para o castelo.
— Mas...
— Quando terminar aqui, vou passar um tempo com você — abri o portal das sombras atrás dela — então volte para o castelo. Afinal, se estiver aqui, não vou conseguir me concentrar na batalha.
— Promete?
— Eu prometo — dei um sorriso para ela.
Ela se virou para ir em direção ao portal, enquanto eu a observava. Ela correu em minha direção, agarrou o meu pescoço, e me deu um beijo.
Arregalei os olhos enquanto ela me soltava e voltava a ir em direção ao portal.
Ela olhou para mim novamente, e eu balancei minha mão para que ela fizesse o que eu havia mandado. Ela suspirou e entrou no portal.
— Idiota — deslizei meus dedos sobre meus lábios — você que terminou comigo e agora age como se quisesse que voltássemos.
Entrei dentro do castelo, utilizando a habilidade de atravessar as paredes. Elowen se assustou ao me ver atravessar o teto e cair à sua frente.
— Que susto! — ela me encarou.
— Lidei com alguns dragões — me levantei e a olhei.
— Eu avisei.
— É uma rainha? — cruzei os braços.
— E um rei.
Um rei e uma rainha? Agora estou surpreso, visto que até o momento só conheci rainhas que não haviam se casado, como Elowen e Annaelia.
Então, se eram um rei e uma rainha, a coisa ficava complicada, pois não sabia com quem conversar.
— Qual deles devo conversar? — coloquei minha mão sobre o queixo.
— Ymir é um reino pequeno dominado por mulheres.
— Mulheres... e o rei?
— É um escravo faz-tudo da rainha.
Isso me pegou de surpresa. Então, devia falar com a rainha.
— Acho que vou fazer uma visita a Ymir então.
— Recomendo ir disfarçado de menina — Elowen sorriu — Quer um vestido meu, Rei das sombras?
— Nem em um milhão de anos — encarei ela.
— A infantaria de Ymir é toda composta por mulheres, por isso os dragões são suas armas principais.
— Um reino controlado por mulheres, hein? — olhei para cima — Mas o espião era homem, não era?
— Sim, os homens são tratados como objetos pela rainha. O rei não pode nem ao menos questioná-la.
Desviei meu olhar de Elowen para uma direção aleatória.
— É melhor eu não falar nada sobre isso, ou sinto que terei bastante problema...
— O que está querendo dizer, Galrian? — Elowen me olhou confusa.
— Nada não. Então, como posso falar com a rainha?
— Posso tentar marcar um encontro, mas duvido que ela vá escutar você.
— Por ser o sucessor daquele que humilhou Ymir no passado?
— Por ser um homem — ela me encarou.
— Deveria ter deixado a Hestia ficar comigo — murmurei.
Lidar com uma rainha não era o menor dos meus problemas até agora.
Claro, tem a Morgana também, mas ela com certeza não era uma tirana como essa rainha de Ymir.
Sinceramente, eu preferiria não me meter nisso, mas já é tarde demais e disse que ajudaria a Elowen. Não poderia deixar Hilusia virar comida de dragão.
— Ok, faça isso — olhei para ela.
— Sei que está preocupado, mas se foque em proteger o povo.
— Acredite, eu estou.
— Ótimo, vou fazer a ligação agora — disse Elowen, tocando no cristal do trono.
Após alguns minutos, uma mulher de cabelos negros e olhos roxos apareceu em frente a Elowen. Me aproximei do trono enquanto a olhava.
— O que você quer, Rainha de Hilusia? — disse ela, com a voz agressiva.
— Cansada de ameaças, chamei alguém que dita as regras — Elowen a encarou.
— O Rei das Sombras... — ela sorriu — estou impressionada.
Não sei por que, mas pela primeira vez um arrepio correu pela minha espinha. Essa garota, ou melhor, essa rainha, parecia alguém sádica, alguém que certamente me lembrava alguém do passado, mas naquele momento eu não me lembrava quem era.
Dei um passo à frente enquanto a olhava.
— Você sabe... há outros jeitos de resolver esse assunto... — falei, enquanto torcia para que ela ouvisse.
— Ora? Por que não vem aqui, então, Rei das Sombras, e resolveremos isso só nós dois? — ela disse com um sorriso.
— Por mim, tudo bem. Elowen, prepare uma carruagem para mim.
Vou resolver isso, quer seja por bem ou por mal.