Volume 1 – Arco 2
Capítulo 10: Lendo nas estrelas
Elia estava completamente maravilhada, o local mudou completamente, mas sempre que perguntava, Pollux desconversa, dizia que era porque sabia mexer nos planos de maneira primorosa, mas a criança não acreditava.
Infelizmente não sabia como provar isso, ao menos ainda.
Pollux explicava coisas que não sabia antes, como por exemplo o porquê daquela magia de estrelas ser chamada de “Astral” e não “Estelar”:
— As estrelas que usamos nessas magias não são as estrelas que você vê no céu, e sim estrelas do plano, nossa magia trás as estrelas do plano delas para o plano físico.
— Isso faz sentido.
De fato, as estrelas que via no céu eram diferentes das estrelas que usaria em batalha seriam diferentes:
— Você está pensando em que?
— Em como usar em batalha.
— Magia não se resume a batalhas querida, magia é quase tudo, e pode não ser batalha, pense nisso, magia estelar pode ser muitas coisas inclusive.
— Eu não entendi.
— Ok, vamos por parte. como um tipo de uso de magia, as estrelas podem fazer dezenas de coisas, por exemplo existem pessoas que conseguem prever o futuro lendo estrelas, existem pessoas que conseguem curar e outras que podem usar em batalha, em magias poderosas ou até mesmo invocar seres místicos como seus guardiões.
Elia ficou ainda mais ansiosa por aquilo sorrindo para Pollux, a vendo como uma mentora quase divina:
— Qual a sua?
Pollux só sorriu, enigmática como sempre, mas nada respondeu, deixando a mente infantil de Elia vagar por tantos pensamentos, desde a mais simples magia de prever o futuro até a magia de invocação.
Qual seria?
E porque raios Pollux sempre tinha que ser tão misteriosa?
Pollux realmente era uma boa professora, explicava como a magia astral era tirada das estrelas do plano astral, mas claro, precisava de mana para tal coisa, mana que vinha da aura que cada vez mais deveria fortalecer.
Elia escutava com atenção, mas ainda sim era tudo muito teórico pois não tinha certeza da sua aura, poderia estar aprendendo tanto e não usar para nada, mas conhecimento era conhecimento não é? Era melhor aprender algo irrelevante do que ficar olhando o infinito do plano do limbo astral sem fazer nada.
Aquele tempo era legal, produtivo até.
A pequena princesa aprendia muitas coisas, sobre as estrelas e sobre os planos astrais, os planos astrais podiam ser quase infinitos, existiam diversos tipos de criaturas lá, cada uma mais curiosa que a outra.
Mas sempre que Pollux era interrogada de onde veio sorria e deixava por isso mesmo, e mudava de assunto.
O mundo estrelado era lindo, nunca viu tantas estrelas num só lugar, o que fazia Elia ficar parada encarando todas aquelas estrelas, com um sorriso meio perdido, parecia mais velha do que aquele rosto infantil aparentava.
Pollux se pegava olhando a criança com um olhar perdido, mas logo voltava a olhar o céu, explicando as diferenças das magias das estrelas, até que Elia finalmente arrancou dela uma coisa que ela sabia fazer:
— Cartas estelares são uma das habilidades que pode ter com essa aura. — Pollux estava falando enquanto mexia em um baralho na frente da criança.
— Pode prever o futuro?
— Quase isso, mas posso ver a vida das pessoas, quer ver a sua?
Sempre foi cética.
Mas por tanta coisa, reencarnou numa nova família e agora estava falando com um ser que nem sabia o que era.
Então…
Por que não?
Elia acenou com a cabeça, iria aceitar aquilo sem ressalvas, sentando finalmente na grama verde do local.
A mestra começou embaralhar as cartas e abriu o baralho na grama, instruindo Elia a pegar três cartas, e quando fez, Pollux sorriu:
— Ok, vamos começar, a primeira carta dirá seu passado, a segunda seu presente, a terceira seu futuro, é uma leitura básica, ok?
— Certo, a primeira carta é a estrela negra. A estrela negra é a carta do peso, seja bom ou ruim, você carrega um peso, seja por expectativas, anseios ou… Pecados.
Os olhos vermelhos de Elia se arregalaram, então ela… Ela podia mesmo ler isso? Mesmo que tivesse passado por muita coisa ainda tinha certo ceticismo, será que ela conseguia ver sua vida passada?
— A carta do presente é A Bailarina, a bailarina é uma carta curiosa, ela tem a ver com situações, uma bailarina aproveita a música que está tocando para dançar, atualmente no seu presente você dança conforme a música e aproveita suas oportunidades como pode.
Elia encolheu seus ombros enquanto, e seu futuro? O que aquilo reservava para ela?
— A última carta, a carta do futuro é a Supernova.
Silêncio.
Pollux ficou calada olhando a carta como se não entendesse, deixando Elia ansiosa até que a mentora sorriu:
— Não estou surpresa, a carta da Supernova representa a destruição e também o recomeço.
— Ou um ou outro?
— O recomeço sempre vem após a destruição, criança. — Polux sorriu antes de guardas as cartas.
Pollux sorriu olhando para o céu estrelado, meio perdida, mas estava sorrindo de um jeito meio… Triste? Não sabia dizer, mas passava um ar de tristeza:
— Meu tempo está acabando, Eliassandra.
— Que? Não! Não pode!
A mentora sorriu, se levantando olhando a pequena garota de cima:
— Eu quero te dar algo, mas precisa confiar em mim.
Confiar?
A maga de guerra nunca confiava, nunca dava oportunidade de ser apunhalada pelas costas.
Mas Elia…?
— Eu confio.
Pollux se aproximou segurando o rosto de Elia com um instinto quase fraterno, a faixa que estava em seus olhos, mostrando os olhos que iam de amarelo para azul com estrelas neles, eram… Lindos:
— Obrigada, pequena princesa, por me dar alguns momentos de felicidade antes de ir…
— Pollux… Por favor…
Pollux beijou a testa de Elia, foi um beijo casto antes de começar a pressionar o dedo contra um dos olhos da criança:
— Pollux… Isso doi.
Tentou se afastar, mas Pollux era mais forte e continuava até sentir o dedo começar a entrar no olho e a criança começar a gritar com aquela dor quase insuportável:
— Doi!
— É meu último presente para você, pequena princesa.
Aquilo doía.
Doía muito.
As lágrimas desciam no seu rosto, não deveria sentir dor!
Não naquele plano, mas estava sentindo.
E Pollux estava causando dor!
Ela confiou em Pollux, e agora estava ali, mas talvez… Só talvez devesse manter a confiança.
Engoliu os gritos, ainda chorando, mas parou de gritar tentando focar em Pollux que sorria ainda de forma fraternal, aos poucos seu corpo se desfazia em pontos brilhantes no horizonte:
— Adeus, pequena princesa.
Tudo ficou branco, sua respiração falhava, parecia ter água ao seu redor, tentou se debater, mas bateu em algo duro ao seu redor até sentir seu corpo virando e cair contra algo:
— Princesa!
Quevel estava fazendo mais um ritual de purificação quando Elia começou a se debater até virar a banheira caldeirão, caindo no chão e começando a vomitar aquela gosma preta sem parar, seu corpo parecia colocar tudo para fora, era uma cena horrível de se ver, Ahrija ficou sem entender o que tinha acontecido:
— Mestre o que…
— Pegue toalhas! Vai!
Quevel ordenou segurando o corpo de Elia que tremia a cada novo jato de vômito, o pequeno dracônico aprendiz logo voltou com toalhas e panos de chão para limpar a sala.
Em algum momento a criança de cabelos brancos finalmente parou de vomitar aquela gosma, logo estava só tossindo, o corpo ainda era frágil e pequeno, mas ao menos ela pôs toda aquela gosma para fora. Envolveu a criança pequena em toalhas e levou para a cama.
Quevel ficou de guarda no sono da criança enquanto o pequena Ahrija limpava as coisas, se sentia mal por deixar seu aprendiz lidar com toda aquela bagunça, mas ainda não entendia o que estava acontecendo com a princesa.
Ela pareceu quase acordar, mas então por que voltou a dormir? Ela não deveria ter acordado?
Talvez agora ela só estivesse cansada, mas de que? Ela dormiu por quase dois meses inteiros.
Dois meses.
Viu os pais daquela criança angustiados dia após dia pelas transmissões, sempre perguntando como ela estava, e dia após dia ela sequer se mexia, mas agora ele viu! Viu a princesa se virando para o lado e encolhendo seu corpo:
— Ela vai acordar…
Sorriu aliviado enquanto seu querido aprendiz voltava, esfregando os olhinhos de sono:
— Eu arrumei tudo, senhor Quevel.
— Obrigado Ahrija, pode deitar agora.
— E a princesa humana?
— Irá acordar em breve, dê um tempo para ela. Deite.
A casa era realmente pequena, o que obrigou Ahrija a dividir o quarto com a princesa moribunda, o que não era problema já que a princesa mal se movia ou fazia algum barulho. Se deitou na cama, fechando os olhos e adormecendo, com seu mestre ali, sentado numa cadeira zelando pelo sono de ambos.
O da noite foi quase todo em calmaria, Quevel as vezes piscava um pouco demais, quase se entregando ao sono, mas abria os olhos sempre que chegava perto do sono profundo, e assim foi a noite toda até que o sol começou a se erguer, e também um baque foi ouvido.
Os dois dracônicos se levantaram num susto para verem a garota jogada no chão depois de uma queda:
— Princesa!?
Mas os olhos da princesa estavam diferentes, até onde sabia, todos os filhos de Ricardo tinham olhos vermelho sangue, assim como os dele, mas aquela criança… É verdade que um deles era dessa cor, mas o outro era um azul com amarelo, com uma estrela branca no centro como pupila.
Isso não podia ser certo.
— Princesa…?
Elia se afastou no chão olhando com medo aquele homem a sua frente, os olhos, os chifres… Estava tremendo ali encarando o dracônico.
Quevel suspirou, claro que estava com medo, acordou num lugar completamente estranho com uma pessoa estranha lhe cuidando, então tomou a decisão de pedir Ahrija que acalmasse a princesa enquanto saia para fazer algo para a criança beber.
Mas Elia não estava assustada por aquilo.
Não.
Era outra coisa.
Aquele frio na espinha que surgiu, aqueles tremores, acordar depois daquele longo tempo e ver aquele rosto só podia ser seu inferno.
O rosto de um dos poucos que já conseguiu lhe causar dano, mas também o único que lhe fez fugir do campo de batalha.
Quevel, A Espada de Chamas.
Lembrava do terror que foi estar cara a cara com ele na sua vida passada. De como suas pernas mal se moviam após levar o primeiro golpe.
Para sua vida passada ele era seu terror, aquele que tirou seu sono por anos a fio, e agora…
— Ei. Levanta daí.
Sentiu seus braços serem puxados e ficar de pé, mesmo que com apoio, ainda estava sem ação, Ahrija colocou a garota sentada na cama, ele era realmente maior que ela. Ahrija poderia ser mais baixo que uma criança dracônica, ele era maior que Elia, os olhos esverdeados dele olhavam a princesa com atenção:
— Que é? — Elia questionou vendo os olhos curiosos em si.
— Você ‘tá melhor?
A pergunta finalmente fez ela perceber que tinha acordado, levou as mãos ao rosto de Ahrija que ficou surpreso, se afastando num pulo, quase caindo no chão:
— O que ‘cê ‘tá fazendo?
— Eu acordei…
— Mestre! Ela ‘tá estranha!
O pequeno dracônico correu para onde seu mestre estava, se escondendo atrás dele, Quevel por outro lado vinha com um chá morno para a princesa que ainda olhava para ele com desconfiança:
— Beba, vou falar para seus pais que acordou.
— O que…? Quanto tempo se passou?
Quevel olhou para a criança, ela tinha olhos diferentes, não sabia dizer se ela sempre foi assim, mas aquilo não parecia ser normal a uma humana, mas não questionou aquilo naquele momento:
— Não acho que é o momento.
— Quanto tempo? — Elia insistiu.
Após alguns instantes de silêncio o médico dracônico suspirou:
— Você dormiu por quase dois meses criança.
Elia ficou em silêncio, encarando Quevel, num misto de medo e surpresa, claro não era mais aquela maga, ele não tinha porque a atacar, mas ainda sim seu coração estava acelerado. Voltou a olhar pra frente bebendo o chá.
O gosto amargo fez torcer o nariz levemente, sentia o calor descer pela sua garganta e lhe acalmar aos poucos, de fato estava em desespero e lutou para não demonstrar, e agora já parecia mais calma. Sentia os olhos curiosos do dracônico mais novo em si, mas ele se mantinha longe, sua atitude anterior parecia tê-lo assustado.
Olhou ele de volta, e diferente das outras pessoas que não sustentavam o olhar para ela, o garoto ficou encarando de volta, arqueando as sobrancelhas, parecia julgar a princesa.
Virou o rosto, não queria ficar encarando, e sabe-se lá por qual motivo sorriu como se tivesse ganhado um jogo:
— Princesa, qual a cor dos seus olhos?
A pergunta fez Elia ficar sem entender, ele era cego?
— Vermelhos.
Quevel esperava aquela resposta, então ele estava certo, algo mudou naquela criança enquanto estava desacordada:
— Senhor? Por que a pergunta? — Elia perguntou vendo o dracônico se levantar.
Algo tinha mudado?
Seus olhos estavam diferentes?
Quevel foi até a cômoda pegando um pequeno espelho que usavam para se arrumar, e quando a princesa finalmente olhou seu reflexo arregalou os olhos.
Algo tinha mudado.
Agora…
Agora era como se Pollux estivesse comigo.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios