Volume 5
Capítulo 256: Cada Um Com Uma Emoção Distinta
Trocaram olhares por alguns minutos.
Enfim, o idoso pronunciou-se, com um sorriso amarelo:
— As senhoritas estão de passagem?... Se estiverem perdidas, posso acompanhar vocês… — As palavras do senhor cambalearam no caminho, tornando algumas sentenças quase indecifráveis. Ele foi cativado pela beleza de Cecily.
A armadura dourada com azul escondia os muitos atributos da deusa, contudo o seu rosto belo faria qualquer mortal apaixonar-se à primeira vista.
O silêncio retornou.
Uma interação com um morador do vilarejo tão cedo foi inesperada, e o fato de uma criança com um Fragmento de Astarte estar logo ao lado daquele homem pegou a deusa loira desprevenida.
— Bem… Quero dizer, sim, estávamos a caminho do vilarejo, acontece que decidimos acampar aqui e seguir para lá hoje.
Enquanto Cecily falava, Luminus sentiu a barreira que as circundava desaparecendo, sua percepção para essas coisas melhorou nos últimos dias.
Durante toda a interação de Cecily e o morador do vilarejo, a menina de cabelos prateados esteve olhando fixamente para a garotinha à sua frente. Sentia uma energia incomum emanando do corpo dela e…
[Fragmento de Astarte encontrado.]
Os batimentos cardíacos mudaram para um ritmo desordenado e acelerado. Ela sentiu o estômago dando voltas e um som alto feito por ele ecoou pelo ar, ao que o idoso falou algo como “coitada, deve estar com muita fome”.
Na verdade, a última coisa que desejava nesse momento era comida.
Mas não havia mais nada a se fazer, só puderam aceitar a gentileza daquele idoso. O senhor adiantou-se e começou a guiá-las para o vilarejo.
Cecily e Luminus acampavam até aquele momento em uma área oculta pelos diversos arbustos, qualquer pessoa só conseguiria encontrá-las por coincidência, assim como foi com o senhor e a neta.
— Se me permitem dizer, as senhoritas não parecem ser do oriente…
Naturalmente. Os habitantes do Continente Oriental compartilhavam de feições similares, cabelos de cores chamativas como esses adornando a cabeça de Luminus e Cecily eram incomuns ali. Na verdade, a cor prateada era vista com maus olhos até no ocidente.
Pelo menos não era incomum encontrar estrangeiros nas redondezas de Dart. A cidade-fronteira reunia pessoas de todas as origens, havia até mesmo base de alguns demônios na estrada que ligava Dart ao condado de al Mare.
As terra de Alucard Renfield… Luminus não entendia bem o que isso significava, ela apenas gravou todas aquelas informações ditas pela deusa Cecily antes.
Devido ao tempo passado em reclusão no orfanato, seu conhecimento do senso comum do mundo foi limitado, as únicas vezes que deixou o local foi para ir comprar algumas coisas com Loright.
As únicas referências que tinha eram livros.
Vez ou outra, a deusa citava algumas histórias sobre o mundo… mas sempre parava quando citava o nome de Astarte… Quem era Astarte, exatamente? Nem mesmo Cecily tinha uma ideia aproximada de quem era essa mulher, mesmo que fosse a sua mãe.
De uma coisa, Luminus tinha certeza: a voz que ecoava em sua mente ocasionalmente pertencia a essa entidade, uma entidade que precisava de Fragmentos espalhados no corpo de crianças para reviver.
A língua coçava, a menina queria saber mais coisas sobre a entidade chamada ‘Atarte’, mas sentia que havia coisas que ainda não podia perguntar.
Cecily dizia que não se importava com as suas emoções, o único foco da deusa loira eram os resultados… mas por que sentia que ela estava ocultando alguns fatos para proteger o seu coração? Luminus sentia que a beldade loira não era tão mau, ela apenas não entendia os próprios sentimentos.
Se não compreendesse o próprio coração, como poderia compreender o dos outros? Cecily agia apenas por instinto, como alguém que podia não conhecer o sistema de escrita, mas sabia dizer que tal conjunção de letras formava uma palavra que alguém lhe ensinou anteriormente.
Enquanto estava imersa em pensamentos, o cenário foi mudando. Os arbustos desapareceram, a grama no chão deu lugar a uma estrada de terra batida e um aglomerado de casas simples surgiu no campo de visão de Luminus.
Era um lugar como o seu primeiro lar, antes dela ser expulsa pelos próprios pais. As lembranças daquele dia não desapareceram da memória da garotinha, ela apenas tentava não pensar muito naquilo.
“Afinal, não tem o que fazer.” Essas palavras foram ditas muitas vezes por Loright, quando ele notava que a sua irmã estava pensando novamente nos pais.
Loright. Não conseguia passar mais de dez minutos sem não pensar nele. Era o seu irmão, o irmão que viria resgatá-la quando ficasse mais forte. Só precisava aguardar.
Mas o seu irmão poderia lhe perdoar pelas mortes cometidas, e que ainda iria cometer?
Uma dor pungente aflorava no cerna da menina quando a ideia de ser rejeitada pelo seu irmão surgia. Se Loright a desprezasse, o que ainda teria nesse mundo? Qual motivo teria para viver?
Não tinha pais e nem um lar para onde voltar, o seu pilar era Loright, o seu irmão. A sua única família era o garoto.
— Chegamos, senhoritas.
A voz do idoso chamou a atenção de Luminus, que fungou o nariz profundamente e tentou puxar de volta as lágrimas aflorando. Precisava ser forte.
— Ah, eu ainda não me apresentei — continuou o senhor. — O meu nome é Higs, e essa menininha aqui é a minha neta, Mirim. Ela é um pouco tímida, acho que puxou ao pai, hehe.
A menina, Mirim, tinha uma aparência simplória, com feições comuns em crianças do oriente. Suas roupas ordinárias e um tanto desgastadas apenas a fariam passar despercebida em uma multidão de crianças da mesma idade.
Ela seria apenas mais uma criança qualquer, que poderia viver sem preocupações, isso se não houvesse aquela aura incomum emanando do seu corpo.
Luminus leu sobre a desordem do fluxo de mana que acontecia entre os dez e os quatorze anos. Era a época em que finalmente as crianças ganhavam consciência da energia percorrendo o seu corpo, e esse fenômeno parecia ser ampliado com a presença de um Fragmento de Astarte.
Mirim deu um passo à frente, com o rosto corado. A cena à frente era a de um filhote saindo do calor das asas da sua mãe. Ela fez uma reverência e apresentou-se com uma voz entrecortada:
— É-é um prazer conhecer vocês!
— É um prazer, Mirim. Eu sou Cecily, essa aqui é Luminus, a gente só está de passagem… ih, droga, vacilei.
Os olhos do idoso quase caíram do seu rosto quando ele escutou aquelas palavras.
Rosto angelical, cabelos dourados e o nome “Cecily”. Claro, qualquer um perceberia isso em uma época que era comum a convivência de imortais e mortais.
Luminus sabia que todos tinha conhecimento sobre a deusa Cecily, a “Deusa do Tempo” — sinceramente, ela ficou intrigada sobre essa posição. Essa mulher podia realmente controlar o tempo?
— Ah, não precisa se prostrar assim, eu só estou de passagem mesmo… — a beldade loira enunciou, um pouco desconfortável com a prostração do idoso e fez ele levantar-se antes que atraísse muita atenção. — Não conte sobre isso a ninguém, certo?
O senhor só pôde assentir. Quem ousaria contrariar uma divindade?
Enfim, Luminus compreendeu o motivo de evitarem as pessoas.
Mesmo que fosse normal encontrar divindades vagando por essas terras, as pessoas comuns ainda causavam muita comoção, e isso atrairia o olhar de sujeitos indesejáveis, tal qual os membros da Seita de Érebos.
Se estivessem em uma capital ou algo assim, a posição de divindade não causaria muito alvoroço, mas aí havia o problema citado antes pela deusa: pessoas muito fortes e assustadoras, como Azazel van Elsie.
Durante a interação de Cecily e o idoso, Luminus permaneceu em silêncio.
Ela não fazia ideia do que fazer em seguida. A única maneira de coletar o Fragmento de Astarte era matando, mesmo? Como poderia matar uma criança? Na verdade, como poderia tirar a vida de qualquer outro ser vivo? Era diferente dessa vez, ela estava consciente.
— É bem normal que alguns aventureiros passem alguns dias aqui, por isso construímos uma hospedaria. As senhoritas podem passar quando tempo precisarem lá. Por que não vamos fazer o registro?
A beldade loira concordou sem fazer cerimônia. Usar o título de divindade para conseguir descontos ou até produtos grátis era algo imposto pelos próprios deuses. Ninguém ousava questionar aquilo e todos simplesmente aceitaram, tornando isso senso comum.
Luminus não era uma deidade, mas ela também receberia a hospedagem gratuita por acompanhar Cecily? Esperava que sim, pois não possuía um tostão no bolso.
— Ah, enquanto resolvemos isso, Mirim pode ir mostrar o vilarejo para a senhorita Luminus. Não que tenha muitos pontos turísticos, hehe.
Uma expressão difícil surgiu no semblante de Luminus e Cecily. Esse senhor sabia pelo menos o que estava fazendo? Ele não se importava com a segurança da própria neta?!
Se o incidente com os seguidores da Seita de Érebos não ocorresse, a garotinha de cabelos prateados não hesitaria tanto. Quem podia garantir que Luminus iria perder o controle de novo e matar Mirim?
Era um perigo deixar essas duas sozinhas, mas, ainda assim, o Higs insistiu, com olhos suplicantes:
— Mirim ficaria bem feliz em passar um tempo com alguém da idade dela, então, se não for pedir muito…
A deusa loira, ao lado, fez outra expressão difícil. Ela levou um golpe no peito com o pedido suplicante, mas por não compreender os sentimentos, ela não sabia que isso se chamava “pena”.
— Tudo bem, Cecily… — a voz de Luminus saiu um pouco trêmula, mas ela tentou encarar a menina com cabelos negros à frente. — Ficarei contente se puder me mostrar o vilarejo.
Cada um ali possuía um sentimento diferente à mostra. Felicidade, timidez, confusão e medo.
O idoso feliz e a deusa confusa afastaram-se, seguindo na direção da hospedaria.
A portadora do rosto repleto de timidez virou-se para Luminus e, após brincar com os dedos, finalmente pronunciou-se:
— Va-vamos?… O que a senhorita quer ver primeiro? O nosso gado? As plantações? Ou talvez o local onde dedicamos nossas orações para a deusa Astarte?
A última oração fez o coração de Luminus gelar, pois ela sentiu que algo aconteceria caso fosse até o lugar citado. Não queria, de maneira nenhuma, chegar lá perto. Quando pensou em exteriorizar esse pensamento…
— Ei, você é como eu, não é mesmo, senhorita Luminus? Eu posso sentir isso.
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