Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 5

Capítulo 252: Registros de Cecily: A Seita

Elas passaram algumas semanas ao redor do monte Kuryo.

Luminus não matou nenhum monstro com a lâmina, sua força desproporcional era suficiente para arremessar as bestas no horizonte. Era desconhecido se os monstros realmente morriam.

A ideia de subir o monte e encontrar os religiosos não era boa, nada de bom podia surgir em um encontro com aquelas pessoas do oriente que idolatravam a mana.

— Vamos nos mover para perto de Dart, lá terá animais melhores e você será obrigada a usar a adaga — falou Cecily, enquanto paravam para descansar.

Não adiantava iniciar a missão de coleta dos Fragmentos de Astarte enquanto a garotinha ainda não tivesse a coragem de ferir outro ser vivo com uma lâmina, afinal…

Os Fragmentos residiam no corpo de crianças.

Após a morte da deusa, seus estilhaços foram espalhados pelo mundo e alojaram-se no coração de seres puros ao longo dos anos. 

A idade onde os Fragmentos revelavam a sua presença era entre os dez e quatorze anos, quando o fluxo de mana das crianças começava a oscilar.

Por isso, Luminus precisava matar e coletar os estilhaços. 

Como ela faria aquilo quando nem conseguia ferir um Boi de Três Chifres?

Era bem provável que ela desmaiasse quando visse o sangue escorrer pela primeira vez e os olhos de um inocente perderem a vida.

Cecily não entendia sobre empatia, mas tinha uma ideia aproximada de como aquele trabalho era cruel para uma menina em uma idade daquelas. Sem falar que a garotinha não tinha nenhuma experiência em combate.

“Mas não é problema meu, eu só preciso esperar o momento que todos os Fragmentos forem reunidos, minha única obrigação é matar os inimigos”, pensou a deusa loira.

Os sentimentos da Reencarnação de Astarte não eram importantes, então, por que sentia um incômodo no peito?

Talvez ela estivesse sob o efeito de alguma habilidade de Luminus? Precisaria estudar um pouco mais quando encontrasse alguns dos tomos escritos por Karllos Sophiette, aquele homem entendia bem sobre os comportamentos dos mortais e das divindades.

Por enquanto, apenas anotaria, em seus registros, aqueles pensamentos.

Luminus não demonstrava muitas mudanças desde que deixou o orfanato, apenas estava um pouco insatisfeita por ser obrigada a matar Bois de Três Chifres.

Os registros de Cecily ficavam cada vez maiores, tudo escrito ali era sobre a garotinha que a acompanhava.

Recentemente, a cor do cabelo da menina começou a ficar mais prateada. O olho direito também iniciou sua transformação, estava ficando no formato do esquerdo.

A deusa Cecily lembrava-se vagamente de coisas sobre Astarte devido ao seu poder de manipular memórias, mas algo estava bem claro em sua mente: A Deusa da Lua possuía longos cabelos brancos e olhos vermelhos-carmesim.

Aquela mudança na aparência física da menina indicava que, logo, o início da missão da coleta de Fragmentos não poderia mais ser postergada.

— Como se sente?

Cecily perguntou apenas por curiosidade, não tinha nenhuma preocupação. Definitivamente não estava preocupada com a saúde de Luminus.

— As vozes em minha cabeça aumentaram recentemente, mas não sinto dor como na primeira vez que meu olho mudou de cor.

Vozes?

A Reencarnação de Astarte provavelmente se referia ao “Sistema”, algo que apenas as divindades tinham acesso.

Escutar a voz do Sistema era como escutar a voz do Deus Verdadeiro, aquele que o universo estruturou a partir da mana.

De qualquer forma, sentiu que ainda não era hora de explicar à menina sobre aquelas coisas, primeiro daria instruções detalhadas sobre a fundação da mana, quando ela finalmente estivesse pronta para iniciar a missão.

“Pensando bem, não consigo usar o Sistema para analisar a Luminus.”

Sempre que tentava usar a sua habilidade de análise na menina, recebia a mensagem “Impossível analisar”, nem mesmo o nome da garotinha era exibido.

“Alguém que consegue ocultar os Status de uma divindade é realmente um ser poderoso.”

Cecily decidiu não pensar mais sobre aquilo, a Reencarnação de Astarte era algo que não poderia compreender tão fácil.

O resto do dia foi tranquilo e a menina continuava a evitar usar a sua adaga contra os monstros ao redor. Aquilo era problemático.

À noite.

Uma divindade como Cecily não precisava dormir como os humanos, porém o tempo passava mais rápido quando fazia isso.

Havia a barreira para protegê-las e a deusa conseguia detectar a aproximação de inimigos comuns. Estavam seguras… assim pensou, mas sentiu uma anomalia na barreira.

Fazia apenas vinte minutos que deitou e ainda não estava nem perto de pegar no sono, por isso levantou em um salto, a mão já ia na direção da espada na cintura fina.

— Não consigo ver nada…

Era magia do Tipo Elemental Trevas.

“Como alguém conseguiu usar magia dentro da minha barreira? Não é um inimigo comum.”

Mas ainda era um feitiço usado por um mortal. 

Cecily só precisou decifrar a essência daquela habilidade para dissipá-la. Ela não era muito inteligente, mas aquele era um padrão mágico fácil de compreender com a ajuda do Sistema.

Quando abriu os olhos mais uma vez, visualizou a fogueira, a grama banhada pela noite… e um grupo de pessoas encapuzadas carregando Luminus.

A barreira ainda estava erguida, eles entraram ali com meios sujos.

Com uma pisada forte no chão, a deusa não hesitou em brandir sua lâmina e avançar na direção dos inimigos. 

“Seita de Érebos, não imaginei que eles vivessem no monte Kuryo.”

Eram apenas humanos religiosos alienados, sua visão do mundo já estava distorcida e não havia mais salvação para eles, só podia guiá-los ao plano espiritual.

Ao notar a aproximação da mulher, uma das pessoas encapuzadas levantou a mão e invocou uma serpente completamente formada por trevas.

Eram todos do Tipo Elemental Trevas. Não devia haver um grupo tão grande de dominadores daquele elemento pelo mundo.

Vosh!

Bastou um corte para a figura da serpente ser cortada ao meio pela espada de Cecily. 

Aquele movimento não foi uma boa ideia.

Em instantes, o corpo fatiado explodiu como fogos e uma espessa camada de fumaça negra tomou conta do cenário, dificultando a visão da deusa.

Não era que aquelas pessoas fossem muito fortes, mas o Tipo Elemental Trevas possuía vantagem sobre qualquer usuário de outros elementos que não fosse a Luz.

Mesmo as habilidades de distorcer o espaço-tempo de Cecily não seriam úteis ali. 

O pensamento de desistir passou-se pela sua mente por um momento, ela poderia deixá-los fugir e depois persegui-los, contudo uma luz forte começou a absorver as trevas.

— Ce-Cecily?!

A voz de Luminus ecoou pelo cenário, ela devia estar confusa, mas sabia bem quem eram os inimigos. 

— Ela acordou, cadê o selo? Rápido, idiota!

— Rápido, tragam o selo!

— Não é mais fácil asfixiar até ela desmaiar?

— Façam logo algo!

A voz de homens e mulheres aflitas surgiu, eles não contaram com a possibilidade da garotinha acordar. Talvez não soubessem que a menina era imune a feitiços de sonolência?

Luminus não perdeu tempo e contorceu o seu corpo magro para escapar das mãos do homem que a segurava e rolar pelo chão, erguendo-se em posição de combate.

Ela estava com medo, era óbvio.

— Pirralha, você precisa lutar! Eles são perigosos!

Os sentidos da deusa ainda estavam confusos devido à névoa negra da serpente, e provavelmente aquelas pessoas estavam usando truques sujos para diminuir seus poderes.

— O-o que eu posso fazer, Cecily?!

Usar a adaga estava fora de cogitação, a menina só acabaria se ferindo. Naquele momento, só podia confiar naquela força monstruosa da Reencarnação de Astarte.

— Apenas dê socos neles!

Três homens avançaram no mesmo momento que a voz da deusa loira cessou. Eles não eram tão bons, não hesitariam em espancar seu alvo até ele desmaiar.

O corpo da garotinha tremeu, mas ela estava bem posturada, seu conhecimento em artes marciais não era ruim, provavelmente alguém experiente a ensinou.

Luminus deu um suspiro profundo e também avançou, lutando contra a vontade de fechar os olhos. A movimentação desordenada dela indicava que sue soco seria fraco, por isso a outra parte a subestimou.

Enfim, as forças colidiram.

Splash!

Todos ficaram em silêncio por um instante após o punho pequeno, frágil e pálido da Reencarnação de Astarte tingir-se de vermelho. 

Ela abriu um buraco na barriga daquele homem apenas com um golpe.

Até Cecily ficou horrorizada. Em teoria, o tapa de um recém-nascido teria a mesma força daquele soco mal-feito da menina… como aquilo foi possível? Ela nem colocou muito força.

Todo o corpo daquela que desferiu o golpe tremeu, nem ela imaginava que algo assim pudesse acontecer, seus olhos estavam fixos naquele sangue escorrendo pela sua mão.

As outras duas pessoas ao lado afastaram-se com um salto, perceberam que não podia mais subestimar o seu alvo. 

— Pirralha, foca naquele do centro! Se você matar ele, eu cuido dos outros!

Cada palavra proferida pela deusa loira fazia a névoa negra ao seu redor se intensificar. O responsável por aquilo era o invocador da serpente negra, caso o matasse, ela estaria livre.

Mas Luminus estava paralisada, mal sabia para onde olhar ou o que dizer. Seus olhos continuavam vidrados no líquido escorrendo pela sua pele, a essência da morte adentrava seus poros e a deixava horrorizada.

Os dois inimigos ficaram a uma distância segura e atacaram com raios negras, era energia imbuída em trevas.

— Pirra…

Cecily ainda não tinha fechado a boca quando os ataques tocaram o corpo da menina e a jogaram com violência para trás. 

O som de ossos quebrando ecoou, os inimigos não pegaram leve naquela investida. Poderia Luminus ter apagado? Nesse caso, estavam com problemas.

Luminus rolou, com o corpo tendo espasmos devido à eletricidade dos raios negros percorrendo seu corpo. 

Sua respiração estava pesada, ele quase não tinha forças para levantar…

[Aviso! A vitalidade está abaixo de 70%, começando a liberar aura assassina.]

[Devido ao aumento da aura assassina, a habilidade ‘Instinto do Caçador’ foi desbloqueada. O poder e a violência será dobrada.]

As vozes disseram mais algumas coisas, porém o que mais chamou a atenção da garotinha foi o seu peito. Estava quente.

Ela jamais sentiu… tanta raiva antes. 

A menina cerrou os punhos com força e juntou força para levantar-se, lançando um olhar mortal para seus inimigos, algo que assustou até mesmo a deusa Cecily.



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