Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 2: A Ascensão do "Lolicon Slayer"

Segundo um psiquiatra brasileiro, a “Síndrome do Pensamento Acelerado” era uma alteração onde a mente ficava repleta de pensamentos, impossibilitando a concentração — isso foram palavras da sua psicóloga, a senhorita Kanade Toshiro.

Quando começava a pensar em tantas coisas ao mesmo tempo, Kurone esquecia-se de tudo ao seu redor. Normalmente, o jovem sempre esbarrava em alguém ou caía de escadas.

Dessa vez, isso acabou custando sua vida.

— Kurone Nakano, vinte anos, estudante de medicina. Virgin… Hihihi. — uma mulher de cabelos loiros foi quem falou a última palavra em um inglês tão limpo quanto aquela sala. O que parecia ser um papel com informações pessoais de Kurone estava em sua mão esquerda.

— Quem… quem é você? E… por que diabos você tá usando Japanglish?

O jovem estava no chão, ainda vestido em suas roupas do momento fatídico — uma camisa social branca e calça preta. Todo o corpo doía, mas se esforçou para enxugar as lágrimas aflorando e se levantar em seguida. 

Por um momento, as pernas se recusaram a obedecer, tremiam incessantemente — não só elas, mas todo o corpo.

A força que teve para criticar a maneira irritante de falar daquela mulher parecia nunca ter existido. Certamente, ainda não havia se recuperado do choque de minutos atrás. 

Não era nada relacionado ao acidente, já que, pelo seu conhecimento sobre a alma e o “outro mundo”, o corpo físico permanecia na terra. Se estava certo, então era algo em seu psicológico que o impedia de se levantar. Talvez fosse a ideia de que nunca mais veria sua família? 

Sim, nunca mais veria sua mãe e suas preciosas irmãs…

“Então por que ainda continuo me sentindo vivo? Por que minha existência simplesmente não foi apagada?”

— Fui eu! Teehee! — a mulher falou, com olhos que gritavam “eu posso ler a sua mente”, enquanto forçava uma expressão fofa no rosto. Quantos anos ela achava que tinha? — Eu te impedi de reencarnar novamente, interrompi o seu ciclo de reencarnação à força. — Ela mostrou o muque. 

A beldade sentou-se em seu trono dourado e cruzou as pernas graciosamente. 

Seu vestido translúcido revelava um par de coxas cativantes aos olhos de qualquer homem, porém, mesmo estando de frente, a mente de Kurone estava tão cheia — como de costume — que deixou de prestar atenção nos dotes da mulher.

— Posso saber por que fez isso? — Ainda deitado no chão, observando o teto, ou melhor, a vasta escuridão, Kurone perguntou à bela mulher que parecia ter consumido muitos mangás e romances moe.

Humpf! — Ela fez bico. — Não parece estar agradecido. Eu o salvei de uma vida miserável! Seja mais grato! Você devia agora ficar de joelhos e dizer: “Oh, senhora deusa, obrigado por salvar esta pobre alma, serei seu escravo eternamente!” É assim que fazem nós mangás!

Silêncio. O local foi preenchido pelo silêncio por alguns instantes. Era impossível levar essa pessoa a sério quando ela forçava aquele jeito moe. 

O jovem apenas a encarou, meio confuso. Em outras circunstâncias, teria feito um gesto obsceno com o dedo do meio, mas estava calmo — tomou seus remédios antes de sair de casa.

A mulher, que se autoproclamou uma deusa, levantou o dedo dizendo “veja bem…” e prosseguiu:

— Em sua próxima vida, a qual eu não te deixei ir direto — um olhar hostil foi lançado em sua direção, mas ela apenas ignorou —, você nasceria como Yuri Yaegashi, filha de um yakuza barra pesada, que se tornaria escrava de um grupo rival de imigrantes ilegais aos dezesseis anos, tendo que fazer coisas terríveis e satisfazer cerca de trinta e oito homens por dia… Bruh! This is not uma vida tão legal, né?

A beldade de cabelos loiros fez outro jogo de pernas e olhou com pena para o jovem no chão.

— Eu não ligo.

— É mesmo... Hã? Ei, ei. Wait! Stop! Pause! O que você disse?! Não era assim que você devia reagir a uma notícia dessas!

— … Afinal de contas, sem as memórias, quem se tornaria escrava de imigrantes ilegais não seria Kurone Nakano… — O jovem deitado suspirou, apontando os fatos.

Ah! Esse é o problema das reencarnações, é tão boring não ter memórias de sua vida passada... — A garota também suspirou enquanto olhava para o alto, lembrando, talvez, de algum problema que teve com alguma reencarnação. — Buuut…! — Apontou o indicador para garoto no chão. — Tenho uma proposta for you!

— Proposta? E, por favor, sua voz tá me dando dor de cabeça, não precisa fazer isso só porque sou otaku…

— Proposta! Você pode escolher entre reencarnar sem memória alguma como Yuri Yaegashi, a filha de um yakuza que é sequestrada aos dezesseis anos e tal… Ooouu, pode aceitar reencarnar em um mundo de espadas e magia com seu corpo e suas memórias para fazer um trabalhinho para mim! — A beldade balançou seus longos cabelos loiros e apontou mais uma vez para Kurone, aguardando sua resposta.

Reunindo as forças restantes, o jovem sentou-se. Já havia se decidido, a resposta era óbvia:

— Eu quer...

— Caso consiga cumprir seu trabalho — ela interrompeu a resposta, percebendo a intenção do garoto —, posso te mandar para seu mundo novamente, dez minutos antes do seu acidente. É tempo suficiente para que você possa evitar o atropelamento pelo caminhão de vibradores, não é?

— Então… então… — ele hesitou por um segundo, mas cerrou os punhos e gritou com força: — Por favor, senhora! Eu desejo reencarnar em outro mundo! — Kurone, que já havia decidido reencarnar sem memórias em uma nova vida condenada ao infortúnio, berrou ao saber que tinha a chance de voltar a rever sua família. — Qual trabalho eu devo realizar para a senhora? — perguntou, mostrando extremo respeito a mulher à sua frente... que se recusou a responder.

Ahh… com licença… não v-vai me responder…? Eu não ligo de você falar como uma garota com falta de atenção paterna, então, por favor… Eu posso até me ajoelhar se for isso que a senhora quer. — Ele engatinhou e tentou aproximar-se da garota, mas ela simplesmente virou o rosto e afastou-se, indo para mais fundo do trono enquanto fazia bico. O objeto era bem flexível para um trono de ouro.

— Isso é muito maldoso! Apesar do fato de que deusas vivem muito, elas permanecem com o corpo de uma mulher de vinte anos. É muito maldoso chamar alguém da mesma idade de senhora! — A deusa balançou os braços enquanto gritava para Kurone, seus olhos cheios de água deram-lhe um aspecto um tanto quanto infantil… e patético. 

Havia mangás no Céu? A existência de divindades otakus poderia pôr o destino de pobres almas como a Kurone Nakano em risco. 

Hã? O que você quer dizer?...

— N-Ã-O-M-E-C-H-A-M-E-D-E-S-E-N-H-O-R-A... entendeu? — soletrou, pausadamente. Seu modo de falar era realmente estranho, se estivessem em um romance de fantasia, ela provavelmente seria a personagem criada apenas para ocupar linhas com diálogos forçados. 

— M-me desculpa… senh… quero dizer, senhorita. — Tentou acalmá-la, com medo de que ela pudesse mudar de ideia com relação a mandá-lo para o outro mundo, mas apenas a deixou mais vermelha.

— Cecily! Pode me chamar apenas de Cecily! Não quero tanta formalidade com um futuro companheiro de trabalho!

Na mitologia, deuses eram seres que exalavam o medo e a autoridade, alguém que condenava as práticas pecaminosas da humanidade e traria o juízo final em um futuro próximo. Essa mulher, a qual, nesse momento, estava com o rosto completamente corado, poderia mesmo ser chamada de divindade? 

— Certo… então, Cecily, não é? Qual trabalho eu devo realizar para você nesse outro mundo?

A deusa ficou em pé e materializou um giz. 

Magica e convenientemente, um quadro negro apareceu ao seu lado, e a garota começou a rabiscá-lo, olhando na direção do jovem às vezes. Após um suspiro, ela assumiu o semblante que quem se preparava para fazer o discurso de apresentação do mundo para o herói:

— Andeavor é o nome do reino para onde vou te mandar. Ele é repleto de nobres corruptos que tiveram sorte de escapar dos olhos do Demon King, Belzebu, o algoz desse mundo. Neste reino, onde o rei é manipulado, os nobres usam e abusam dos pobres aldeões da maneira que bem entendem e, o pior, as crianças são os principais alvos! Seu trabalho então será libertá-las das mãos desses malditos porcos e reerguer esse reino novamente… — A deusa encarou Kurone por um momento, virou-se e apagou o conteúdo, olhou novamente para o jovem e mostrou o desenho do quadro.

— Quero que você seja um caçador dos nobres que maltratam e abusam das crianças… quero que se torne... o “Lolicon Slayer”!

“Ok, esse nome é uma desgraça, posso mudar?”, pensou no mesmo instante, esquecendo-se do fato que a deusa lia mentes.

O desenho no quadro, apesar de não ser dos melhores, era de um herói musculoso, com um abdômen trincado, segurando uma espada na mão esquerda e algo, aparentemente, uma cabeça humana, na mão direita. Era para aquilo ser o Kurone? 

Aquela mulher tinha problemas sérios.



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