Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 0: Prólogo

Três cilindros dourados caíram no chão acinzentado, provocando o som de metal tocando algo duro.

Bac!

O corpo do homem esbarrou na terra após três segundos. 

A garotinha de cabelos prateados piscou várias vezes até a compreensão chegar à sua mente. Os olhos vermelhos-carmesins voltaram-se, relutantemente, para o cadáver do seu companheiro. 

Ele estava morto! 

O delinquente que até há pouco gritava coisas como “vamos matar essa vadia” e “atire com vontade!” estava definitivamente morto…

Há! Eu avisei, eu avisei! — a demônia mascarada falou em tom sádico.

Realmente, ela advertiu: “Qualquer dano que tentarem causar em mim, voltará para vocês.” A demônia avisou, mas o companheiro imprudente ignorou as palavras e atacou. 

O coração de Luminus disparou. 

A atenção da menina voltou-se para a mulher mascarada. 

Ela apertou o fuzil negro com força para não deixar seu medo transparecer, o corpo infantil tremia, sentia como se o coração fosse saltar pela garganta.

— Ué? Vai atirar? Não viu o que acabou de acontecer ao seu amigo? Está querendo morrer mesmo? Um demônio tão nobre está triste por conta da morte de um mero humano? O que aconteceu com você, Astarte? Não é tão grandiosa assim, no fim.

Irritante, irritante, irritante! Ela não calava a boca imunda por trás da máscara. 

Esse monstro teria que morrer nesse momento. Não permitira que ela causasse mais sofrimento.

Mesmo sabendo o que aconteceria, Luminus apontou o fuzil para a demônia. 

Estava na “Área de Ação e Reação” dela, mas nem reparou nisso. Iria morrer? Não importava, sua racionalidade se foi no momento em que o seu parceiro deixou esse mundo. 

Tudo o que a garotinha, chamada carinhosamente de “loli” pelo seu amigo, pensava, nesse instante, era vingança. Seu corpo trêmulo era um empecilho. 

Enfim, o ódio superou o medo. Não hesitaria dessa vez.

As lágrimas dificultavam a visão, mas estava perto o suficiente para um tiro à queima-roupa. 

Claro, a demônia também não desviaria; ela estava parada, como que desafiando Luminus a atirar. “Você terá coragem?” Essa era a impressão que sua postura relaxada passava.

Bam!

As consequências após o disparo foram óbvias. 

Dois orifícios abriram-se no corpo pequeno, porém a garotinha mostrou um sorriso satisfeito em meio às bolhas de sangue aflorando no canto da boca. 

Apenas dois tiros atingiram Luminus, isso porque o terceiro disparo do fuzil semiautomático atingiu a máscara da monstruosidade. A criatura lasciva provavelmente fez uma expressão de surpresa por baixo da máscara. 

Por conta da arrogância, a demônia acabou com uma bala de quase cinco milímetros alojada na testa, sua Área de Ação e Reação, a habilidade que tanto se orgulhava, não era perfeita.

O corpo da garotinha de cabelos prateados foi ao chão — ela caiu próxima ao seu companheiro. 

O fim estava próximo, sangue espalhava-se, lentamente, pela grama verde. 

Não tinha mais mana para usar magia de cura.

Luminus olhou uma última vez para o céu tingido de vermelho. Um aventureiro de Andeavor uma vez lhe dissera algo como “o pôr do sol do Continente Demoníaco é o mais bonito de todos!”, e ele tinha razão. 

Queria desfrutar do céu avermelhado em seus últimos momentos, mas uma sombra impediu. 

Era a demônia mascarada novamente, mas nada importava mais. 

— Como você ousa morrer tranquilamente enquanto eu sofro? Eu odeio, odeio, odeio, odeio você! Acha mesmo que sua imortalidade te dá o direito de me desmerecer assim?!

A garotinha ficou em silêncio, vendo, de maneira turva, a máscara maculada pela bala do fuzil. A roupa de empregada, revelando muito do corpo obsceno da demônia, também fora danificada pela explosão.

— Você não morrerá em paz! — A voz irada tornou-se sádica novamente, como se tentasse recuperar a sua postura de superioridade, aquela expressão calma da menina em seus últimos momentos irritava-a. — Vamos ver se ainda pode sorrir depois disso…

Clang!

Luminus arregalou os olhos ao perceber o que aconteceu. 

O corpo do companheiro ao seu lado estava em chamas.

— Eu vou torturar esse corpo morto até me sentir satisfeita e você morrerá horrorizada, todos saem ganhando, não?! Essa é a sua punição por me fazer sofrer.

A garotinha, que desistira da vida, tentou ficar de pé mais uma vez, mas algo fincou seu corpo no chão: a adaga que seu companheiro carregava na cintura — a demônia roubou o objeto do corpo sem vida em um instante.

Blergh!

— Isso, fique horrorizada! Por mais que dessa vez eu não consiga te matar, ficarei satisfeita com seu sofrimento. Lembre-se de quem a fez sofrer e se desespere pela eternidade. Tente se lembrar do nome Azazel van

Sua visão turvou-se, nunca conseguia escutar até o fim. Nunca lembrava aquele nome completo.

Pela segunda vez, “Luminus streix Astaroth” morreu ao lado de uma pessoa querida. 

As últimas palavras que a demônia falou foram quase todas ignoradas, exceto uma. Cravaria o nome “Azazel van” em sua alma e só descansaria no dia em que desse fim a vida desse monstro, mesmo que precisasse matar todos aqueles da casa Azazel.

Não importava mais sua missão como “Reencarnação de Astarte”, não importava quantos milhares de anos se passassem, um dia certamente vingaria a morte dos que um dia a acolheram e tornaram-se sua família.



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