Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 8: Voltando a normalidade... ou não!

— Vocês já estão de volta? — Perguntou Miguel, maravilhando-se com a súbita presença de Karumo e Gael no recinto. Os outros guardiões haviam partido, deixando apenas Miguel com uma expressão contemplativa, aguardando o retorno dos dois.

Gael percebeu que a sala estava agora deserta, deixando apenas Miguel em seu campo de visão, imerso em reflexões silenciosas. A chegada dos dois jovens trouxe um ar de vivacidade ao ambiente.

— Sim — Respondeu Karumo, com uma admiração sincera em sua voz — O rapaz aprende com notável rapidez; ele conseguiu desmantelar o eixo de uma maneira que jamais testemunhei.

— Eu não prometi me tornar o guardião mais poderoso à toa. Nada é mais justo do que começar desta forma — Enfatizou Gael, exultante com o desabrochar de seus novos poderes, enquanto a beleza do cenário ao redor parecia refletir sua euforia.

Com uma expressão entusiasmada, Gael recebeu um breve soquinho na mão de Karumo, o protetor do vento, revelando que fora o próprio Karumo quem ensinara o cumprimento durante os intensos treinamentos. O gesto demonstrava o genuíno entusiasmo de Karumo pelas novas habilidades do garoto. A atmosfera ao redor parecia elevar-se com a energia contagiante do momento, fortalecendo ainda mais o laço entre mestre e pupilo e revelando a promessa de um futuro promissor para Gael como guardião.

Miguel, porém, interrompeu a empolgação de Gael com um tom mais sério.

— Compreendo — Alegou Miguel, dissipando momentaneamente o encanto em torno deles.

Karumo observou a interação, percebendo a confusão no olhar do jovem guardião diante da resposta seca de Miguel. Sem emitir som, o mestre de Silva fez um sinal discreto com a boca, indicando que aquela era a maneira habitual do guardião e para não se preocupar.

— Vim lhe pedir um favor, Miguel. Poderia me mandar de volta para casa? — Perguntou Gael, ansiando por se reunir com seus amigos e seu avô, cuja preocupação certamente crescia a cada momento distante.

— Tudo bem, você realmente explicou todas as coisas para o filho do homem? — Perguntou Miguel a Karumo, enfatizando a importância do conhecimento transmitido — Sobre o verdadeiro nome do fogo, sobre a espada de seu bestoj e como seu poder só se desenvolve com batalhas para alcançar os três níveis das espadas?

— Se está tão preocupado com isso, por que você mesmo não o treinou? — Retrucou Karumo, mostrando impaciência diante das perguntas de Miguel — Abra o portal para o garoto e permita que ele vá embora.

— Muito bem, filho do homem — Disse Miguel, estendendo a mão à frente, preparando-se para abrir o portal e conceder a partida de Gael.

Galhos surgiram do braço erguido de Miguel, entrelaçando-se em um arco formado por folhas e ramificações de tonalidade roxa extremamente escura, semelhante àquela que havia envolvido o garoto quando fora raptado de seu quarto. O cenário em torno deles parecia absorver o encanto daquela manifestação, realçando a beleza mágica do momento.

— Nos vemos por aí, mestre Karumo — Disse Gael, despedindo-se do guardião com um sorriso brincalhão, relembrando a piada que Karumo havia feito durante seu treinamento.

— Tudo bem, garoto. Com os recentes acontecimentos malucos, tenho certeza de que nos encontraremos muito mais vezes — Respondeu Karumo, despedindo-se de Gael com um tom animado.

Enquanto Gael atravessava o portal, Karumo e Miguel observavam o garoto partir. Uma calmaria momentânea pairou no ambiente, mas logo Karumo quebrou o silêncio:

— Espero que você não faça o mesmo com esse garoto, seja lá o que você fez com Rick — Acusou Karumo, com um olhar sério e determinado, fazendo uma brisa suave circular na sala.

O ambiente naquele local havia mudado, como se o ar não fosse mais o mesmo. A pressão na atmosfera era intensa, a ponto de fazer Gael desmaiar, caso ainda estivesse ali. Karumo sabia disso e reforçou a ideia de que o garoto precisava ir embora antes que confrontasse Miguel.

— O que você quer dizer com isso, Karumo? — Questionou Miguel, cortando o arco que Gael havia atravessado e preparando-se para um possível ataque contra Karumo.

Miguel tentava controlar o ambiente e os elementos à sua volta, mas o domínio que Karumo possuía sobre o local era muito maior. O clima naquela sala era como uma bomba-relógio prestes a explodir a qualquer momento. O cenário adquiriu um ar tenso e misterioso, refletindo o conflito invisível entre os dois guardiões e preparando o terreno para o que estava por vir.

— Entenda como bem quiser, eu estarei de olho em você e qualquer um que ficar no meu caminho — Disse o mestre de Gael, enquanto abria um portal para o jovem guardião, desaparecendo misteriosamente daquela sala.

A partida do mestre deixou Miguel absorto em seus pensamentos. Ainda havia uma figura oculta na sala, que Gael não percebera, mas Karumo certamente notou, como indicava a ameaça final de “qualquer um que ficar no meu caminho”.

Em meio ao ambiente impregnado de mistério, um jovem emergiu na presença de Miguel. Era um dos que estavam ao lado da mesa dos guardiões durante o ataque contra Gael, quando ele invocou o verdadeiro nome do fogo e enviou Eduardo para longe.

O jovem tinha uma aparência intrigante, com uma barba por fazer, pele morena e cabelos penteados para cima. Seu único olho dourado fixava-se em Miguel, aguardando os próximos comandos de seu mestre. A situação parecia tão instável quanto um castelo de cartas prestes a desabar.

— A morte de Rick, as sombras se movendo… só há uma pessoa que pode ter tamanho poder, mas até controlar as sombras é um feito impressionante para ele, Daniel Smith — Disse Miguel, encarando a mesa.

Daniel sabia que seu mestre estava certo. As sombras eram seres incontroláveis; mesmo quando os mundos eram um só, elas nunca cooperavam entre si. Mas por que agora, de repente, elas se aliaram? O que esse indivíduo tinha a oferecer que nenhum outro ser que se levantara contra os guardiões e os bem-aventurados conseguiu?

— E o que faremos com o garoto? Ele recebeu o maior poder entre nós! — Indagou Daniel a Miguel, ponderando sobre o destino de Gael a partir daquele momento. O futuro se desenrolava em meio a enigmas e incertezas, enquanto os acontecimentos pareciam moldar-se como peças de um intricado jogo elemental.

— A guerra contra as sombras já foi declarada com a morte de Rick, não podemos fazer nada contra a escolha que seu bestoj fez, agora temos que trabalhar para que esse poder fique do nosso lado — Disse Miguel, enquanto o cenário ao redor parecia imbuir-se de um clima denso, ecoando a seriedade da situação. A mesa, ornamentada com símbolos ancestrais, testemunhava a inquietação de Miguel, que tremia a perna, passando para Daniel a ansiedade que o assunto lhe causava. Em meio a esse contexto, Miguel buscava um caminho para os próximos passos a serem tomados — Mande uma mensagem a todos para ficarem atentos às pequenas sombras. Não permita que elas escapem para outras dimensões, pois sabemos que aquele que as manipula possui o poder de ligar as passagens — Prosseguiu Miguel, com um olhar firme, consciente da importância das ações que precisavam ser tomadas.

— Sim, mestre. Existe mais alguma coisa que você gostaria que eu fizesse? — Questionou Daniel, já ciente da resposta, mas aberto a qualquer outra orientação.

— Fique de olho no que Karumo está fazendo — Ordenou Miguel, transmitindo seus próximos comandos para Daniel sem desviar os olhos da mesa, como se cada símbolo ali gravado pudesse revelar segredos do futuro — Qualquer sinal de traição aos guardiões, qualquer indício do discípulo de Rick junto a ele ou se aproximando das sombras, me comunique imediatamente. Todos os guardiões serão convocados.

Daniel acenou com a cabeça em concordância, e, assim que Miguel criou um portal para o jovem, ele saiu do recinto. Além de enfrentar a guerra contra as sombras, os guardiões agora lidariam com uma colisão que poderia desencadear a destruição dos sete universos.

Enquanto isso, em um ambiente distante, Gael surgiu de repente, caindo do teto de seu quarto e aterrissando em sua cama. Por um triz, o móvel escapou de virar sucata com o impacto. Luis e Daniella observaram, atônitos, o garoto diante deles.

— Para onde você foi — Perguntaram ambos em uníssono, com olhares curiosos — Você caiu em direção ao chão e veio do teto quase no mesmo instante. O que aconteceu? — Indagou Daniella, buscando entender o fenômeno intrigante.

— Então o tempo lá passa diferente do que aqui! — Disse Gael, refletindo em voz alta, chegando a uma conclusão a partir das palavras de Daniella. O cenário à sua volta, com suas cores e detalhes, parecia envolver-se em mistério, como se escondesse respostas para os enigmas que se desenrolavam na história.

Era a opção mais lógica, pois a fala da garota remetia a isso. No entanto, o garoto teve a sensação de que havia passado horas naquele lugar misterioso, imerso naquela paisagem encantadora, onde o cenário se desdobrava em cores e detalhes deslumbrantes. Quando finalmente retornou ao seu quarto, o tempo parecia não ter passado, como se um fluxo temporal distinto envolvesse aquela experiência. Seus amigos, Luís e Daniella, mantinham a mesma expressão de espanto, exatamente como quando ele havia sido sugado pelo portal criado por Miguel.

— O que está acontecendo aqui, Gael? Para onde você foi? — Perguntou Luís, demonstrando certo receio diante do que testemunhara.

— Fui buscar a prova que vocês tanto queriam para acreditarem em mim — Disse Gael, respondendo seus amigos com confiança, enquanto estalava os dedos, criando uma chama que dançava delicadamente na palma de sua mão. O fogo parecia irradiar uma aura de mistério e magia, deixando Luís e Daniella ainda mais espantados com o espetáculo diante deles. O cenário ao redor refletia a luz das chamas, criando um ambiente único e encantador, como se as forças sobrenaturais estivessem dançando em harmonia com a vontade do jovem guardião.

Fim do capítulo

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