Volume 8

Capítulo 2: A aventura só começa de verdade quando você pode escolher o destino você mesmo.

 

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"Feliz Ano Novo." 

"Obrigado... Igualmente para você."

Era o primeiro dia do novo semestre, e eu estava na Sala de Costura nº 2.

Este foi meu primeiro encontro do ano novo com a Hinami.

Nenhum de nós se importava com aparências quando estávamos juntos, mas a Hinami fez sua saudação de Ano Novo de forma adequada. Acho que é esse tipo de coisa que a faz ser a Hinami.

"Então, como foi as férias de inverno?" 

"Ah... bem..."

Quando refleti sobre as últimas semanas, a principal coisa que me veio à mente foi a Kikuchi-san. Fiquei todo aconchegante só de pensar nisso.

"Foi... sabe, normal."

"Seu nariz está crescendo, Pinóquio." 

"Fique quieta."

Ela me desmascarou em um segundo. Será que sou tão transparente assim?

"Posso perceber pela sua atitude que tudo correu bem", ela disse com um tom extremamente entediado. "Estou aliviada em saber que tudo não foi para o inferno porque você estava pensando demais em 'ah não, namoro!'" Suspiro.

"Parece que você queria que isso acontecesse."

Ela até suspirou no final. Pare de desejar coisas ruins para acontecer comigo já.

"De qualquer forma, o que aconteceu ao segurar a mão da Fuka-chan?" 

"Deus, você é horrível..."

Sinceramente, as pessoas comuns perguntam sobre as coisas tão diretamente? Eu sei que é uma missão, mas você pensaria que ela teria um pouco mais de emoção humana.

"É uma mão. Você sabe o que é uma mão, certo?" 

"Eu sei o que é uma mão."

"Então você segurou como deveria? Ou o quê?"

Eu segurei, mas... mas só quando a Izumi e o Nakamura não estavam olhando. E parecia um ato tão secreto que eu quase tive um ataque cardíaco. Até lembrar disso me deixou um pouco tonto.

De forma estranha, enquanto a memória ressurgia, a Hinami parecia estar aproveitando muito todo o espetáculo.

"Você sabe de uma coisa?" 

Ela perguntou. 

"O quê?"

Sua expressão estava insanamente sádica. Seja lá o que ela quisesse dizer, ela não conseguia conter.

Ela me olhou nos olhos.

"Você não precisa ficar tão vermelho por causa de uma pergunta tão boba." 

Foi quando percebi como meu rosto estava quente. 

"Huh?"

Toquei minha pele experimentalmente. Espere um segundo, eu não conseguia controlar meu rubor várias vezes no passado, mas sempre pelo menos sabia que estava acontecendo. Fiquei surpreso comigo mesmo.

"Uh, bem, eu não estou..." 

"Ruborizando?"

"Uh, bem..."

Ela parecia estar olhando diretamente para o meu coração. Ela estava perto o suficiente para eu sentir sua respiração.

"Hmm... então você ficou tão animado? Que adorável." 

"Você pode parar?"

A maneira como ela estava me admirando de sua posição elevada fez meu coração bater ainda mais forte. Não é justo. Ela era boa demais em constranger as pessoas. Ela aproveitava qualquer pequena vulnerabilidade para entregar um combo de zero a morte. Que idiota.

"Você é quem precisa se acalmar. Você está cheio de energia esta manhã."

"Obrigada a você." 

"É mesmo?"

Facilmente ignorando minha resposta, ela riu feliz. Pare de brincar comigo, Hinami.

"Se você está tão animado, tenho certeza de que pode lidar com mais uma missão além daquela com a Kikuchi-san e dar mais alguns passos adiante."

"M-Mais adiante?"

Minha mente estava em um caos total que nem mesmo entendi o que ela queria dizer.

"Não entendeu?" 

"Um..."

Assim que me acalmei um pouco, entendi imediatamente. Com base em nossa conversa da última vez que nos encontramos, deve ser...

"Você quer dizer em direção a ser uma pessoa comum no sentido mais amplo, além do meu relacionamento com a Kikuchi-san?"

Ela assentiu. 

"O novo semestre está começando, então finalmente posso te dar uma tarefa adequada." 

Pela primeira vez, mesmo que eu tivesse uma pequena pausa, ela me deu um descanso por algumas semanas durante o inverno. Fico feliz por ter tido tempo para recarregar, mas era verdade que eu não tinha feito nenhum progresso em direção ao meu novo objetivo de médio prazo.

"Devo criar um grupo de pelo menos quatro pessoas, comigo no centro, certo?"

"Exato." 

Este era meu novo ponto de verificação, destinado a me empurrar para me tornar um "normie" no mesmo nível de Hinami. E eu podia imaginar vagamente como uma vida mais plena estaria esperando do outro lado. O que eu ainda não conseguia imaginar era o caminho que me levaria até lá. Os marcos seriam o treinamento de Hinami.

"Rufem os tambores, por favor."

"Estou pronto."

Bati no meu peito, dando as boas-vindas à minha nova tarefa. Era um ano novo e um novo semestre, e eu estava prestes a receber uma nova tarefa para me guiar em direção ao meu novo objetivo. O mundo todo parecia fresco.

Finalmente, Hinami levantou um dedo no ar e estufou o peito. 

"Sair em um grupo de pelo menos quatro pessoas, com você como o líder."

"... 'Líder'?"

Ela assentiu.

"Básicamente, você decide para onde ir e reúne todos. Você decide onde se encontrar, e se precisar de uma reserva, você faz. Você garante que todos se divirtam. Essa é sua função."

"Entendi isso. É central, com certeza."

E, com certeza, nunca havia feito isso antes na minha vida.

"Obviamente, se você quiser criar um grupo de pelo menos quatro pessoas, precisará saber como ser o líder, certo? A maneira mais eficaz de ganhar experiência nessa área é, é claro, adquirindo alguma experiência básica."

"Parece simples o suficiente. Entendi."

Simples e fácil de aceitar. Agora tudo o que eu tinha que fazer era atacar isso através de tentativa e erro.

"É tão bom quando você entende rápido. Alguma pergunta?"

"Não, estou bem por agora," respondi imediatamente.

As sobrancelhas dela se ergueram. 

"...Bem, você parece bastante relaxado com isso. Você tem certeza de que não está baixando a guarda porque alcançou um grande objetivo?"

"O quê? Não, não é isso, mas..."

Mas agora que ela mencionava, mesmo que eu acabasse de receber uma tarefa com a qual não tinha nenhuma experiência prévia, eu não me sentia muito ansioso. Não tinha uma resposta para a pergunta do que eu realmente precisaria fazer, mas estranhamente estava calmo mesmo assim.

"É como... é a primeira vez, mas sinto que se eu tentar, tudo vai dar certo..."

"Wow." 

Algo próximo à antecipação estava nos olhos dela.

"Agora mesmo, não consigo nem imaginar o que preciso fazer em termos práticos... mas parte de mim sente que consigo lidar com isso..."

Fiquei surpreso com meus sentimentos quando os coloquei em palavras. Mesmo que não tivesse chegado a uma solução concreta ou estratégia de ataque, me sentia confiante sobre o futuro simplesmente porque me sentia como uma pessoa capaz de lidar com isso.

Depois de passar por tanto da vida pensando — uma pessoa como eu não pode fazer isso — ou — um personagem de baixo nível não tem o direito de escolher —, esse era um sentimento novo. 

(N/T: Para quem não entendeu. Basicamente, ele está falando que antes, ele não tinha autoestima para fazer ou concluir algo. Sempre se subestimando. Agora, ele está confiante que dá conta do recado.)

Se eu tivesse conseguido afastar o destruidor de confiança que vivia no meu coração mesmo que um pouco, então—

De repente, olhei para cima. Hinami estava observando, com uma expressão indecifrável no rosto.

"...Você alcançou seu último objetivo de médio prazo, mas..." 

Ela estava falando devagar; o que ela estava prestes a dizer era importante. 

"Acho que você pode ter crescido de uma maneira importante além disso. Parabéns, Tomozaki-kun." 

Ela sorriu audaciosamente.

"Wow... obrigado."

Assenti, aceitando o elogio dela sem protestar.

Agora que eu pensava sobre isso, realmente foi um desenvolvimento importante.

Levei mais de seis meses para alcançar essa pequena mudança mental. Hinami me observou em silêncio por um momento e então assentiu profundamente. 

"Os caras realmente se tornam egomaníacos quando conseguem uma namorada."

"Você está tentando arruinar o que acabou de dizer?" 

Como sempre, ela não conseguia deixar uma coisa ser boa.

 


 

"E aí, Fumiya, como tá?"

"Tudo na boa."

Era o primeiro dia do terceiro semestre na sala da Classe Dois do segundo ano.

Quando cheguei lá, os outros membros do grupo do Nakamura já estavam reunidos. Fui até ele, Mizusawa e Takei, como de costume.

Imaginei que apenas conversaríamos sobre coisas aleatórias, o que também fazia parte da rotina.

Mas algo inesperado aconteceu. 

"Ei, Tomozaki! Você finalmente apareceu!"

A pessoa que estava falando comigo não era o Nakamura, o Mizusawa ou o Takei... Era o Daichi Matsumoto. Ele é um normie no grupo dos atletas com quem eu tinha falado apenas um pouco no início deste jogo, naquela vez em que fui para casa com a Hinami.

Depois disso, mal tínhamos interagido, pelo menos até o festival da escola. Talvez porque agora estou namorando a Kikuchi-san, ele começasse a ficar cutucando o tempo todo.

... Mas até agora, isso era o máximo da nossa relação. Eu não entendia por que ele estava agindo como se estivesse me esperando. 

Será que fiz algo errado?

"Uh, o que foi?" 

Respondi, confuso.

Matsumoto colocou o braço em volta do Tachibana, que estava parado perto, e os dois caminharam até mim. Por algum motivo, ele parecia muito alegre, enquanto o Tachibana parecia não querer estar perto de mim. Outro cara do grupo deles, Kyoya Hashiguchi, os seguia.

Ainda segurando o Tachibana com o braço direito, Matsumoto passou o braço esquerdo em volta do meu pescoço para me prender.

"Perdi alguma coisa...?" 

Perguntei cautelosamente.

Mas Matsumoto não parecia particularmente hostil. Ele apenas sorriu, mostrando seus dentes brancos.

"Como vão as coisas com a Kikuchi-san?" 

"C-Como vão as coisas?"

Então era sobre isso. Eles queriam perguntar ao cara com a namorada como ele estava se saindo. Eu nunca tinha experimentado esse tipo de curiosidade masculina ou o que quer que seja na vida real, mas já tinha visto muito em jogos e mangás.

"Nada demais para contar. Saímos para comer e fomos ao santuário no Ano Novo—é isso aí..."

"Ouviu isso, Tachibana?" 

"Cala a boca logo."

Quando Matsumoto provocou o Tachibana, percebi o que estava acontecendo.

Seus amigos sabiam disso desde o início ou descobriram em algum momento pelo caminho, eles conheciam os sentimentos dele pela Kikuchi-san. Mas como ela acabou namorando comigo, provavelmente estavam pegando no pé dele por causa disso. Coitado do Tachibana. Bem, é o que você ganha por tentar algo com ela.

"Alguma outra coisa? Esse cara realmente quer saber." 

"Daichi, seu idiota!"

Eles se empurraram. Fico feliz que eles se dêem tão bem.

Posso participar da brincadeira? É um sacrifício necessário.

"Também, nós ficamos de mãos dadas. Desculpe, Tachibana," eu disse triunfantemente. 

Matsumoto e Hashiguchi riram.

"Ha-ha-ha-ha! Ouviu isso, Tachibana?"

"Desculpe, cara," disse, aproveitando minha vantagem com uma não-desculpa.

"Vou te matar," ele murmurou, sorrindo resignado enquanto pegava meu lado.

Eu me defendi do seu ataque — não queria morrer, afinal de contas — mas na verdade, isso foi divertido. Não era tão ruim poder brincar com essa conversa banal de ida e volta. Era cerca de metade da diversão de Atafami, então no geral, estava bom.

"Eu também vou te matar!"

De repente, o Takei decidiu entrar na briga e pegou meu outro lado.

Pare de brincar, cara — isso não tem nada a ver com você! — Ele não sabia controlar sua força, então o dano naturalmente foi muito pior.

"Ai-ai-ai-ai!"

"Ah-ha-ha-ha! Isso é divertido!" 

"Ai! Não para mim! Droga!"

O Takei era um idiota — o ataque dele não era brincadeira, doía seriamente.

Obrigado por estragar a diversão, Takei. Isso é horrível, cara.

 


 

A aula da manhã chegou.

"Ok, então o prazo para devolver isso...," nossa professora, Kawamura-sensei, estava dizendo.

Ela acabara de nos entregar uma pesquisa sobre nossos planos de pós-graduação. Havia colunas estreitas perguntando se planejávamos ir para a universidade ou não, quais eram nossas três principais escolhas, se sim, e o que planejávamos fazer caso contrário. 

Como agora estávamos na reta final do segundo ano, a escola estava verificando nossos planos pela última vez.

Dito isso, a Sekitomo High é uma das principais escolas preparatórias para faculdade em Saitama, então essa pesquisa era meio que uma farsa. Normalmente, cerca de 80 ou 90 por cento dos alunos vão para a universidade. Até mesmo o pedaço de papel com a pesquisa era pequeno, como se não esperassem que ninguém escrevesse um longo ensaio sobre fazer qualquer coisa que não fosse mais escola.

Bem, é assim que são as escolas preparatórias para a faculdade. Sinto que já tive esse pensamento antes. Kawamura-sensei terminou a sua explicação, e o período de orientação acabou. Tivemos um breve intervalo antes da primeira aula.

"O que você escreveu?" 

De repente, Izumi estava falando comigo. Sem aviso prévio, ela estava no meu espaço pessoal. Típico da Izumi.

 "Ainda não preenchi. Provavelmente vou dizer que vou para a universidade..."

"É mesmo?" 

Conversa fiada sem sentido. De qualquer forma, mesmo que a maioria dos alunos da nossa escola provavelmente fosse para a universidade, aposto que não muitos tinham um motivo específico para isso.

"E você?" 

"Eu também escrevi universidade! Ouvi dizer que a China-chan modelo foi para Aoyama Gakuin, então eu também quero ir para lá!"

"Hum... então você já decidiu para onde quer ir?" 

Nunca ouvi falar da China-chan, mas enfim.

"Sim," Izumi disse casualmente. "E você?" 

"Não. Para ser sincero, nunca realmente pensei sobre o que quero fazer no futuro..."

Claro, as pesquisas que preenchi no passado sempre tinham uma coluna para escrever qual escola eu queria frequentar, mas nunca dei muita importância e apenas coloquei algumas escolas que conseguiria entrar com minhas notas.

"Parece que você já pensou, né?" 

Perguntei a ela. 

"Sim, mas meu motivo é realmente idiota!" 

Ela riu.

"Haha, entendi. Mas você ainda está melhor que eu, já que tudo o que tenho é uma vaga ideia de que provavelmente quero ir."

"É mesmo? Ganho uma estrela dourada?" 

"Claro. Você merece uma."

Continuei em sintonia com ela enquanto a conversa rolava. Izumi gosta de temperar suas conversas com piadas muito amigáveis, então tenho que manter minha guarda para garantir que não interpreto nada errado. 

Se você não a conhecesse muito bem, provavelmente pensaria que ela gostava de você e então lembraria tarde demais que ela é namorada do Nakamura.

De qualquer forma, o ponto é que o motivo dela pode ser idiota, mas ela ainda pensou em qual escola quer ir. Você poderia dizer que eu tinha evitado a pergunta por um pouco tempo demais, mas por outro lado, acho que é normal para um aluno do segundo ano se preparar para os exames de admissão. Queria perguntar para mais algumas pessoas sobre isso.

Olhando ao redor, meus olhos encontraram os de Nakamura, que estava sentado a três lugares de distância. Não sei por que ele aconteceu de estar me olhando naquele momento, mas por que não perguntar a ele? Nunca realmente fiz nada assim antes, mas meu terror dele estava diminuindo ultimamente.

Me aproximei dele e olhei para a pesquisa em sua mesa. 

"Então, Nakamura..."

"Sim?" 

Talvez porque tivéssemos feito contato visual antes de eu me aproximar, ele me respondeu sem suspeitar de nada.

"Você preencheu a pesquisa?" 

"Sim. Coloquei universidade."

"Ah sim?"

Enquanto tínhamos essa conversa casual, Mizusawa e Takei se aproximaram. 

"Falando sobre a pesquisa?" 

Mizusawa perguntou em um tom descontraído. Ele estava olhando de um lado para o outro entre nós, então também perguntei a ele.

"Sim. Você disse que queria ser estilista ou algo assim, certo?" 

Por algum motivo, ele sorriu.

"Ah, isso? Infelizmente, estou indo para a universidade como todo mundo."

"Você está?" Pensei que ele tivesse falado sobre a escola de beleza algumas vezes antes. "Mudou de ideia ou algo assim?"

Ele balançou a cabeça, ainda sorrindo de maneira sarcástica como sempre.

"Não, muitos jovens saem da nossa escola para serem cabeleireiros. Meu irmão costumava ser um, então tenho algum interesse, mas realisticamente, acho que vou para a universidade, e se ainda estiver interessado, então vou reconsiderar."

"Ah, entendi." 

Isso fazia sentido. Se ele realmente estivesse sério sobre isso, provavelmente teria ido para uma escola técnica logo após o ensino fundamental. É raro as pessoas irem de uma escola preparatória para a faculdade para uma escola de beleza, e acho que ele estava meio que dizendo isso para criar um personagem para si mesmo. Eu conseguia ver ele fazendo isso. Quero dizer, essa imagem estava super enraizada.

"De qualquer forma, estou pensando em experimentar um monte de empregos de meio período enquanto estou na escola e descobrir o que quero fazer dessa forma. Provavelmente vou encontrar algo, certo? Estamos falando de mim, afinal de contas."

"Haha, você com certeza é confiante."

Fazer coisas assim parecerem convincentes era uma de suas habilidades. E um de seus pontos irritantes. 

"E você, Fumiya?"

“Eu... não pensei muito sobre isso. Parece que é faculdade para mim, eu acho.” 

“Huh...” 

Parecia um pouco surpreso e me olhou intensamente. 

"O-O quê?"

"Ah, eu estava pensando que você faria algo estranho."

"Uh, qual é exatamente a sua imagem de mim?", retorqui, mas eu entendia o que ele queria dizer. 

Quer dizer, Nanashi ignorou todas as regras e fez o que quis até agora. Se esse fosse meu estilo de jogo, fazia sentido que eu fizesse o mesmo no jogo da vida.

Mizusawa ignorou meu comentário e perguntou casualmente, "Então você vai para a faculdade, e depois?"

"E depois? Uh..." Eu não tinha uma resposta. "Sem ideia, para ser honesto."

Mizusawa arregalou os olhos. 

"Isso é uma surpresa. Pensei que você teria uma visão para uns dez anos no futuro."

"Sério, qual é exatamente a sua imagem de mim?"

De vez em quando, Mizusawa tinha essas estranhas concepções sobre mim. Geralmente de uma forma boa, porém, então eu senti que estava decepcionando-o quando admiti a verdade.

"E você, Takei?"

A conversa desviou casualmente de mim, e imediatamente depois eu também decepcionei Mizusawa. Isso só fez minha culpa misteriosa piorar.

"Não pensei muito sobre isso", disse Takei sombriamente. 

"Figura."

"O quê, você não fica surpreso se for comigo?!", ele retrucou, mas tenho certeza de que qualquer um teria pensado o mesmo. 

Eu nem conseguia imaginar ele pensando sobre o futuro. Se pensasse sobre isso, aposto que o jantar de hoje à noite era o máximo que ele alcançava. O café da manhã de amanhã provavelmente estava além dele.

"E você, Shuji? Pensamentos sobre depois da faculdade?"

"Eu? Meu pai tem um amigo que é um grande empresário, e ele disse que me ajudaria, mas eu tenho que pelo menos entrar na Waseda ou na Keidai. Essa é minha principal preocupação agora."

"Isso é meio obscuro, cara."

Takei e eu ouvimos a conversa deles com inveja. Eles afirmavam ter apenas uma ideia vaga sobre a universidade, mas a visão deles parecia super clara. 

Huh... então ambos haviam pensado nisso.

Sentindo um senso de crise iminente, me virei para Takei. Ele tinha uma expressão igualmente preocupada.

"A-Ambos realmente planejaram isso, né...?", ele perguntou, como se estivesse esperando que eu o salvasse.

"Danado."

Era extremamente perturbador que Takei e eu tivéssemos exatamente o mesmo pensamento. Eu estava no mesmo nível que ele quando se tratava de perspectivas futuras?

 


 

Estava indo para casa da escola naquele dia.

Como era o primeiro dia do semestre, a escola terminava ao meio-dia, e todos ficavam na sala conversando por alguns minutos, depois iam para casa em grupo. Eu estava acostumado o suficiente com isso agora que mesmo que não desempenhasse um papel principal, pelo menos conseguia me manter sem me sentir muito desconfortável. Então, isso não era um problema, mas...

...Estava nervoso com o que vinha a seguir.

“Nossa, não caminhamos juntos para casa há séculos!”

Estava indo para casa de Kitayono com a Mimimi, que parecia extremamente animada.

Sim, estava com a Mimimi, a mesma garota com quem passei por tanto durante o festival. Havíamos ido para casa juntos uma vez após a cerimônia de encerramento, e falamos sobre querer que as coisas fossem o mais normais possível entre nós... mas isso era mais fácil dizer do que fazer.

"É...", não pude deixar de estar excessivamente consciente de mim mesmo.

A Mimimi não devia estar nervosa, ou talvez apenas escondesse bem. Ela não estava agindo particularmente natural, e como de costume, estava puxando um tópico após o outro animadamente.

“Então, como foi as férias de inverno?!”

Sua voz animada e energética se juntava ao vento frio de janeiro.

Era duas da tarde. Os raios inclinados do sol pareciam apenas tornar o ar mais frio, e enfiei meus dedos dormentes nos bolsos.

“Férias de inverno...”, pensei sobre isso, sem palavras. 

Tudo o que eu conseguia pensar era sobre ir a um café com a Kikuchi-san, ir ao santuário com a Kikuchi-san — cada memória envolvia a Kikuchi-san. 

Até eu sabia que esse não era o momento para ser muito honesto sobre meus pensamentos.

A esperta Mimimi deve ter adivinhado a verdade porque riu brilhantemente para relaxar o clima.

“Oh, desculpe, desculpe! Fuka-chan, certo?!”

"Um...", eu disse.

“Eu te disse! Você deveria agir normalmente e não se preocupar com essas coisas!”

“Oh, certo.”

Acho que não foi confiante o suficiente para ela, porque ela gritou: “Puxe-se junto!” e deu um tapa no meu ombro.

“Ai!”

Ela riu. 

Eu reagi involuntariamente ao seu movimento característico, o Pound, que juro que ela entregou com mais força do que nunca.

“Você bate forte demais!”

Resisti com todas as minhas forças à tirania dela, mas ela apenas riu e se recusou a responder. Que idiota!

“Você teve as férias de inverno para superar isso! Aja normalmente logo! Nem me importo mais!”

“...Você não se importa?” 

Perguntei, olhando para o rosto dela. Ela riu da minha ansiedade. 

“De jeito nenhum!”

Seu sorriso era tão alegre que eu nem conseguia distingui-la da Mimimi pré-drama, e mesmo sabendo que ela estava fazendo isso de propósito, não tive escolha senão acreditar nela.

Mesmo que ela ainda estivesse agarrada a vários sentimentos, ela queria que as coisas fossem normais. O que provavelmente significava que eu deveria tentar o máximo possível ser normal.

“Certo, se você insistir, vou te contar!! Do começo ao fim, em detalhes!!”

“Ah, a propósito, Brain, você decidiu o que vai fazer depois do ensino médio?”

“Mudando de assunto, huh?”

Mimimi riu da minha atuação boba. 

“Sim. Já ouvi o bastante sobre as férias de inverno.”

“Ta brincando…?”

Eu sorri ironicamente. Agora eu estava lembrando como ela sempre fazia as coisas do jeito dela. Embora, agora parecesse dez vezes mais do jeito dela do que antes.

De qualquer forma, planos após o ensino médio. Nossa, ela encontrou meu ponto fraco. 

“Ainda pensando nisso.”

Ela me olhou surpresa. 

“Sério? Você não vai apenas para a faculdade como todo mundo?”

“Ah, sim, provavelmente é o que vai acontecer, mas…” 

“Mas o que?”

Embora sua voz estivesse calma, eu detectei um brilho de interesse ávido nas profundezas de seus olhos.

“Só fico pensando se é certo decidir sem realmente pensar bem antes.”

“Hmm…” 

Ela virou lentamente de mim para a estrada à frente. 

“Isso soa como algo que o Brain diria. Tipo, você não vai cortar caminho. Você vai levar isso a sério.”

“É mesmo? Mas e você?” 

Perguntei casualmente em retorno.

Eu estava ficando cada vez mais acostumado com o fluxo básico da conversa, então eu poderia fazer isso de forma bastante automática agora. Você pratica a mesma combinação repetidamente no modo de treinamento, então a usa em um jogo real.

Depois de um tempo, se torna puro reflexo. Jogadores vão entender. 

“Eu? Só pensei em ser normal e ir para a faculdade.”

“Huh. Só o fato de você ter decidido é incrível. Ainda não tenho certeza do que quero fazer.”

Mesmo suspeitando que acabaria indo para a universidade, escolher um caminho sem motivo ou base para isso ia contra o meu credo de jogador, então eu ainda não tinha tomado uma decisão completamente. Loading… provavelmente era a descrição mais precisa do meu estado atual.

“Interessante…,” Mimimi disse, olhando para o céu com um rosto sério. “Nesse caso, eu sou realmente pior do que você. Já que eu disse que ia para a universidade sem realmente pensar sobre isso.”

Ela franziu os olhos para a luz brilhante.

Honestamente, alguns meses atrás, eu provavelmente teria insistido em elevar ela e me rebaixar, mas…

“Sério? Eu não acho que um seja melhor que o outro.”

...agora eu conseguia medir a distância entre mim e ela e dizer honestamente que ambos tínhamos nossos pontos positivos e negativos. O que me parece uma resposta mais saudável.

“Eu me pergunto.”

“É verdade. Ou pelo menos, eu acho que é.”

Por isso, eu conseguia acreditar em mim o suficiente para defender meu ponto de vista. No jogo da vida, o nível de Mimimi ainda era inquestionavelmente mais alto que o meu, mas do meu jeito, eu era capaz de afirmar minha visão com confiança sem ser servil.

“Bem, deixe-me te perguntar então, no que você não está certo? O que há de errado em ir para a faculdade?”

“Hum, não tenho certeza de como explicar.”

Se eu explicasse meus valores de jogador nesses termos, ela poderia ter dificuldade para entender. Fazer um esforço para alcançar seu objetivo era o princípio básico dos jogos, e, francamente, praticar ou avançar para a próxima fase sem saber o que você quer fazer não era uma boa abordagem. Então como eu coloco isso de uma forma mais simples?

“É como, eu não sei para onde ir até decidir com certeza o que quero.”

Isso pareceu certo. Quando eu queria encontrar uma base para o meu caminho, o que eu queria vinha primeiro.

“O que você quer?” 

“Sim.”

Sendo assim, a razão pela qual eu não conseguia decidir o que fazer depois do ensino médio provavelmente era porque eu ainda não tinha descoberto o que queria fazer na vida a longo prazo.

Ao contrário de jogos normais, metas predefinidas não existem na vida.

O tema geral é decidir uma direção com base no que você mesmo quer fazer.

Essencialmente — o que Hinami chama de meu "grande objetivo".

“...Hmm, o que você quer…” 

Mimimi repetiu as palavras, pensando nelas.

O que eu queria fazer? Que caminho deveria seguir?

Aqui estávamos nós, parados em uma encruzilhada da vida quando nem tínhamos realmente pensado no futuro.

Mas o tempo não pararia para nós. Estávamos sendo engolidos por uma onda imparável.

“Sim, essa é a pergunta. O que eu quero?”

É o inverno do nosso segundo ano do ensino médio. Temos dezessete anos.

Ainda estamos longe da idade adulta, mas também não dá para nos chamar de crianças. Percebo que é preciso ter um pouco de coragem para agir como um especialista em vida — mas isso não vem ao caso — É uma idade enlouquecedora, porque nem temos meios para decidir como será nosso dia a dia.

Mas há pouco tempo para pensar sobre o que está por vir e tomar uma decisão.

“Me pergunto o que estaremos fazendo daqui a dez anos.” 

“…Dez anos, huh?”

O comentário de Mimimi foi ao mesmo tempo repentino e vago, e era difícil não pensar seriamente sobre isso.

Dez anos. 

Nossos vinte estariam chegando ao fim, e nossos esforços começariam a dar frutos.

“Me pergunto que tipo de trabalho estarei fazendo ou se estarei casada até lá.”

“Sim…”

Eu não conseguia imaginar meu próprio futuro, então tentei imaginar o da Mimimi.

“Consigo te imaginar… levando um monte de colegas mais jovens para beber, tipo, ‘Vamos lá, só mais um bar!’”

“Ah-ha-ha, o que é isso? Com certeza pareço solteira!” 

“É possível!”

Nós sorrimos um para o outro.

“Uma garota começa a ficar nervosa se ainda estiver solteira aos vinte e sete! Você é muito rude, sabia?!”

“Ah-ha-ha, desculpe, desculpe.”

Nós sorrimos um para o outro novamente. Sim, nos damos muito bem com essas brincadeiras bobas.

“E quanto ao Brain…?”

Por algum motivo, ela parecia um pouco triste enquanto lambia os lábios pensativamente.

“Aposto que você estará longe. Em algum lugar que nem consigo imaginar,” ela disse. 

“Ha-ha-ha. O que isso quer dizer?”

Eu ri casualmente. A tristeza ainda estava nos olhos de Mimimi, mas ela sorriu junto comigo e assentiu como se entendesse algo. De certa forma, ela estava agindo como se fosse um adeus, e eu estivesse indo embora.

“Eu realmente sinto isso. Você vai ser tipo, ‘Quero fazer isso!’ e sair correndo, e nem vai parar quando as pessoas te chamarem de estranho, e então um dia, você vai fazer algo incrível e vai dizer, ‘Eu avisei!’”

“Uau, pareço incrível!” 

Será que era assim que ela me via?

“Com certeza! Ou talvez você saia correndo e seja um grande fracasso.” 

“Um extremo ou outro, né?”

Ela riu brincalhona. 

“…Mas sério, eu realmente acho que é isso que vai acontecer.”

“…Apenas sair correndo assim?”

Honestamente, eu não podia dizer que ela estava errada. Fui eu quem ficou obcecado em jogar Atafami e acabei como o jogador com a maior taxa de vitórias no Japão, e agora, eu estava tentando descobrir o que queria na vida. Quando eu pensava sobre isso, eu conseguia encontrar meu futuro tão envolvente quanto Atafami.

Quando eu encontrar, tenho certeza de que continuarei focado nisso, não importa o que alguém diga ou quem diga. Está no sangue de nanashi.

“Você pode estar certa.” 

“Certo?!”

Por algum motivo, ela parecia muito feliz por eu ter concordado com ela.

"Quando penso assim, sinto que seremos capazes de viver nossas próprias vidas!" 

Ela continuou.

"Sim, talvez..." 

Viver nossas próprias vidas.

Um pouco triste, mas também realista, e definitivamente não arrependido.

Ambos estávamos caminhando pelas ruas residenciais de Kitayono em direção às nossas próprias casas, em um dia ainda muito frio para chamar o fim do inverno.

"O que eu quero fazer...?"

Era o inverno do meu segundo ano do ensino médio. Eu tinha dezessete anos.

O ensino médio parecia que duraria para sempre, mas já estava mais do que na metade.

Restava apenas um ano e alguns meses.

Eu tinha que escolher uma coisa e deixar para trás as outras possibilidades — e ainda não tinha o motivo ou a motivação necessária para fazer essa escolha.

Será que eu seria capaz de decidir? 

"Essa é a questão."

Quando chegamos no cruzamento onde costumávamos nos separar, Mimimi e eu olhamos em direções opostas.

Finalmente, Mimimi murmurou algumas palavras — tenho certeza de que mais para si mesma do que para mim.

"...Acho que preciso pensar mais sobre isso."

Não fiquei surpreso ao ver o mesmo olhar vagamente triste e solitário em seus olhos.

"Espero que ambos descubramos," eu disse, voltando-me para ela.

Ela se virou para mim e pausou por um segundo, mas então assentiu animadamente.

"Eu também! Bem, até amanhã, Brain!" 

"Ok, até amanhã."

Com isso, cada um seguiu seu próprio caminho.



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