Volume 1 – Arco 1

Prólogo

Após entrar em uma cafeteria, dirigi-me à uma sala especial, onde tinha uma pessoa muito especial para mim. Antes, esta pessoa era a que eu mais odiava, mas agora, é a que eu mais amo.

Após um tempo,à minha frente, havia uma mesa que me separava de um garoto do outro lado e, na mesma, haviam duas cartas posicionadas à frente do meu corpo.

Ele, de cabelos prateados, segurava uma carta em uma das mãos enquanto olhava para as duas à minha frente, com seu par de olhos carmesim, com uma expressão de nervosismo no rosto.

Para mim, pelo seu olhar, sou capaz de dizer: ele está tentando ver através das cartas.

Já o vi fazendo este truque diversas vezes, mas desta vez, não funcionará contra mim.

Então, ao puxar uma das cartas, ele olhou para ela, surpreso, mas este momento durou pouco. Um largo formava-se em seu rosto, que tinha um olhar malicioso consigo.

Em instantes, com uma leve olhada em seu rosto e, por uma rápida análise, em curto prazo, fui capaz de entender suas intenções.

Ele pode ter deixado a manipulação para trás, contudo, quando se é contra mim, sua mentalidade torna-se a de um verdadeiro apostador e, resume-se à uma só frase: “Tudo ou nada”

Então não me surpreendo com suas intenções e jogadas nesta aposta.

Olhei para a única carta à minha frente e depois para o garoto.

Coloquei o cotovelo sobre a mesa e, apoiei minha cabeça sob minha mão, cerrei meus olhos enquanto o analisava, deixando meus lábios fazerem um beicinho.

— Yuki Ren Hikari, por acaso você não está blefando, me fazendo acreditar que eu continuo com o coringa, quando na verdade, foi você quem pegou o coringa, certo? Porque se for o caso…

Virei a carta com tudo sob a mesa: Você perde…

Arregalei os olhos.

— Não, Yuki Misaki Yuna. — Ele revelou suas cartas e apontou para mim — Você perdeu!

Ao olhar para ele, Ren exibia para mim seu enorme sorriso.

— Como eu perdi?!

Hahah! Eu sei bem o que é um “coringa”, Misaki! Você não pode me ganhar! — disse Ren.

De repente, ouvi a maçaneta da porta ao lado do balcão abrir; do outro lado, havia um senhor de cabelo curto branco e olhos quase cinzas, nos olhando com um sorriso em seu rosto.

— Vejo que estão se divertindo e que Ren ganhou.

— Não foi tão difícil assim — Ele colocou as cartas na mesa.

Apontei para ele: Você estava tentando ver através das cartas, não estava?! Tenho certeza que usou algum tipo de truque ou trapaça, mesmo quando combinamos de não usar quaisquer delas!

Suas sobrancelhas levantaram; ele rapidamente olhou para o lado.

— Viu só, Yakou?! — disse.

— Ren, você utilizou de tais métodos para ganhar? — perguntou Yakou.

Ele olhou para mim: B-Bom, digamos que este truque não funcionou desta vez.

— Eu sabia! — gritei.

Yakou, com delicadeza em seus movimentos, juntava as cartas da mesa, formando um maço novamente.

— Foi um ótimo jogo.

Ah! — suspirou ele — Se eu tivesse uma ameixa em conserva, seria mais divertido. Mas mesmo assim…

Ele inclinou-se para frente, colocando ambos os cotovelos na mesa e juntou as mãos, apoiando seu queixo sobre elas.

— Uma aposta é uma aposta, não é mesmo, Misaki? — perguntou Ren, com um sorriso simpático em seu rosto.

Cruzei os braços após um suspiro: Tudo bem. Mas você não deixou claro os termos da aposta, Ren.

Hm? Não? — Ele inclinou a cabeça.

— Você me disse que depois revelaria, mas até agora, não me deu nem mesmo uma dica do que poderia ser.

Ah. — Ele olhou para a mesa — É que eu queria que você decidisse o que me daria em troca caso eu ganhasse.

Aquele seu olhar melancólico e o sorriso sem graça em seu rosto, isso era algo tão… triste de ver-se.

Mas consigo entender; alguém como ele, que nunca teve livre arbítrio antes, que nunca foi capaz de escolher algo bom…

Neste momento, estava em dúvida sobre o que queria, incapaz de pensar em uma “recompensa” e, deixou para mim, a “perdedora”, decidir o que dar a ele.

Levantei da cadeira e, fiquei ao seu lado, o olhando de cima.

— Já sei o que vou te dar, mas antes, levante — disse.

Confuso, ele seguiu meu comando e, assim que o fez, abri meus braços e, puxei-o para mim, fechando-os à sua volta enquanto apoiava minha cabeça por cima de seu ombro.

— Misaki?

— O que eu te dou em troca é um abraço, Ren — disse, com um leve sorriso formando-se em meu rosto e, meus olhar tornava-se relaxado.

Ele permaneceu em silêncio, até abraçar-me de volta.

Acho que ele conseguiu entender, pensei.

Finalmente, após longos segundos, o soltei e dei passos para trás; ele tinha uma expressão relaxada em seu rosto.

— Sente-se melhor? — perguntei.

— Sim, obrigado — respondeu ele, com um leve sorriso formando-se no seu rosto.

— Vocês compartilham de uma forte amizade, não é mesmo? — disse Yakou.

— Pode-se dizer assim — disse.

— Aliás, Yakou, como anda a Hiyori? — falou Ren.

— Ela ainda está em seu quarto, recuperando-se dos eventos ocorridos. Contudo, há algo que não entendo, Ren.

Hm?

— Por que você salvou Hiyori daquele local e deixou os demais serem ceifados pelo anjo vestino em um manto negro? — perguntou Ren.

Ah, isso é porque… — Ele abaixou a cabeça — Ela é realmente especial para mim.

De repente, ele olhou para mim.

— Assim como você, Misaki, que é a única pessoa que consegue me entender — declarou Ren.

Essas palavras fizeram meu coração palpitar e logo em seguida, sentir-se “quentinho”, pelo acolhimento de Ren.

Um leve sorriso lentamente escapava de meus lábios.

— Mas isso eu sei, seu bobo — disse.

— Vocês ficarão aqui até que Hiyori esteja totalmente recuperada, certo? — disse Yakou.

— Sim — falei.

Ele olhou para a mesa em silêncio e, segurando o maço de cartas, ele colocou as mãos por trás do corpo.

— Peço que esperem. — Yakou ao virar-se, caminhou em direção à porta e saiu pela mesma, deixando eu e Ren a sós.

Olhamos um para o outro, confusos.

— O que ele foi fazer? — perguntei.

Ren respondeu dando os ombros e colocando a língua para fora.

Ah, entendi. — Voltei para a cadeira em que estava e sentei-me — Aliás, aquele baralho não era seu?

A-Ah, n-não! Eu tinha pegado emprestado do Yakou mesmo — explicou Ren, com um sorriso nervoso no rosto.

Olhei para seus olhos e, após uma rápida análise, cruzei os braços.

— Você furtou, não é?

Ele deu de ombros, colocando a língua para fora.

Suspirei: Vamos espe…

De repente, a porta abriu; Yakou estava com uma bandeja. Ele parou ao lado da mesa e colocou-a sob a mesma.

Havia duas xícaras na bandeja; peguei uma delas enquanto Ren pegava a outra. Ambas tinham café.

Yakou pega sua bandeja e sai da sala, em silêncio.

— Bom… — Dei um gole no café — Agora que tudo acabou, você pretende mudar de vida, assim como eu, certo?

— Sim. Não pretendo seguir a carreira de apostador que meu pai tinha — disse Ren, sorrindo.

— Entendi — sorri de volta.

Nossos desejos são mudar de vida, mas ao tocar neste assunto… meu coração pesou. Uma tristeza caiu sobre ele, que me fez sentir-me angustiada e ansiosa.

— Você acha que existe uma chance de nos encontrarmos no futuro, Ren?

Seu rosto relaxou completamente; ele, após um gole de seu café, olhava para baixo.

— Não sei. Mas se for pelo o que eu desejo… — Ele ergueu a cabeça, com um sorriso em seu rosto.

— É claro que sim — disse ele.

Estas palavras foram o suficiente para livrar meu coração do peso da tristeza; da angústia em imaginar-me sozinha e, da ansiedade sobre o futuro deixar-me insegura.

Foi uma resposta que deixou-me de coração aquecido.

— Eu desejo o mesmo… — Dei um leve sorriso — Seu bobo.

Mesmo depois dos eventos em nossas vidas, me pergunto onde o Ren vai estar daqui a dois anos.
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Nesse mundo há várias pessoas com dons e talentos especiais.

Ser bom em matemática; ser ótimo nos esportes; ser um gênio nato; ser incrivelmente criativo; e dentre outras coisas.

Não era surpresa para ninguém, mas não me encaixo nessas coisas. Não é por eu não ter nenhum dom ou talento, e sim, porque eu não gosto de me considerar parte dessa categoria privilegiada.

Eu era apenas uma pessoa comum, que vivia uma vida comum, que jogava coisas comuns e fazia coisas comuns, como tomar banho e ir à escola.

Mas algo que realmente me surpreende é a mente humana.

Quando alguém não consegue achar uma explicação, sempre culpam uma força maior. O meu ponto é que cada um tem sua religião, seja Cristão, Crente, Católico, Evangélico, Budismo, Hinduísmo e dentre outros, mas todos acreditam num só ser: Deus.

E bem, eu não acreditava nem em Deus e nem em Lúcifer. Eu sou um completo Ateu de ambos os lados, acreditando puramente na Ciência e nas descobertas humanas.

Meu nome é Alger Reder Pealiceder.
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Era mais um dia comum de aula.

Entrei na minha sala e me sentei no meu lugar: o último ao lado da janela.

Ao olhar pela janela, arregalei os olhos; O céu estava lindo, totalmente azul, sem nuvem alguma.

— Que bonito — murmurei.

— E aí, garoto novo! Você é o tal do “Alger Reder”, não é mesmo? — disse um cara loiro, junto de outras cinco pessoas, sendo todos homens.

Ah, sou sim! — Estendi a mão para ele enquanto sorria — Prazer em lhe conhecer.

— Muito prazer! — Ao apertar minha mão ele puxou-me para perto — Nós somos seus veteranos e viemos aqui explicar a você que nós somos quem comanda esta sala.

? — disse, confuso.

De repente, fui jogado para trás; um barulho alto vindo de minhas costas calou a todos na sala. Após alguns segundos, pisquei os olhos e tudo que eu via era o céu.

Olhei para frente e, todos estavam horrorizados, menos as cinco pessoas atrás daquele cara.

Lentamente, me levantei enquanto sentia algo desgrudar-se de meu cabelo e, dei-me conta de que havia algo escorrendo do meu nariz que passava pelos meus lábios.

Com dúvida, para saná-la, lambi este líquido em meus lábios, sentindo seu gosto metálico em minha língua. Meu nariz estava de fato sangrando.

Olhei para trás e vi que a janela estava quebrada, com cacos de vidros no chão. Coloquei a mão por trás da cabeça e depois à minha frente. De alguma forma, minha cabeça estava livre de feridas.

Passei a mão por baixo do nariz, vendo meu sangue em meus próprios dedos. Meus olhos arregalaram-se ao perceber a situação; caí sentado no chão, encarando o sangue em meus dedos.

Dois dos “amigos” do primeiro cara levantaram-me pelos braços e, seguraram-me.

— Espero que seja resistente a dor — disse um deles.

De cabeça baixa, olhei para um deles.

— N-Na verdade não. Eu detesto a dor — disse, com uma expressão de nervosismo no rosto.

— Parem com isso! Ele não fez nada! — gritou uma pessoa da sala, que parecia correr fervorosamente até mim.

— Parado — disse o primeiro cara.

Os passos imediatamente cessaram no meio no caminho.

— Esqueceram que eu mando em vocês? Ah menos que queiram ser mortos, façam uma fila — disse ele.

Então, ao erguer a cabeça, fui recebido com um soco que, se não fosse pelos os que estão me segurando, eu certamente teria voado para fora da sala.

Mas novamente, outro soco; mal fui capaz de respirar e, novamente, outro. Este foi o terceiro soco e, a cada que eu recebia, os dois que me seguravam deixavam meus braços mais soltos.

Meu coração palpitava sem controle; entre socos, minha respiração encurtava ainda mais; meu corpo tremia; se as coisas continuarem desse jeito, eu vou morrer.

Mas por algum motivo… eu estou gostando disso!

Então, eles me soltavam, deixando-me cambalear sozinho enquanto lutava para continuar de pé.

— Bem vindo a turma D, novato!

De repente, ergui a cabeça e, vi o soco vindo; movi-me para o lado e em um curto giro, contra ataquei com um chute em seu peito; ele voou.

Senti algo vindo; rapidamente agachei-me e olhei para cima, os que estavam ao meu lado socaram um ao outro.

Sem perder tempo, saí de baixo deles e virei-me para o da direita; parti para cima e ao encostar em sua cabeça, a bati contra a parede.

Tum! Este foi o som que eu escutei antes do “valentão” que eu golpeei, deslizar-se da parede até o chão, com os olhos fechados.

Olhei para o da esquerda: próximo.

Ele então correu; peguei uma cadeira ao meu lado e a arremessei nas costas dele, que caiu no chão em seguida; corri até ele e, ao pega-lo pelos cabelos, pude ver desespero em seu rosto.

— N-Nã… — Bati seu rosto contra o chão uma vez e logo depois, ele agarrou meu pulso, enterrando suas unhas contra minha pele.

Ugh! — Novamente, bati seu rosto contra o chão e, segui com o mesmo movimento, até seus braços caírem moles no chão.

Ao erguer sua cabeça, vi sangue sendo derramado de seu nariz, que ia de encontro com uma mancha de sangue no chão.

Soltei-o e ao olhar para trás, pude ver um dos cinco partindo pra cima, com um canivete vindo em minha direção; coloquei a mão na frente, deixando o canivete perfurar minha mão.

Mas de alguma forma, o canivete pareceu não ter perfurado totalmente, o que deixou-me confuso; quando me dei conta, o cara bem à minha frente, olhava pra minha mão, assustado.

Parece que ele também não é capaz de explicar ou entender este fenômeno estranho.

Quando ele olhou para mim, o nocauteei com um soco cruzado no queixo; ele caiu. Olhei para o último e, lentamente, caminhei até ele, parando na frente dele.

Ele estava de pé, com a mão em seu peito e, sangue escorrendo de sua boca.

— Que sorriso é esse no seu rosto? Por acaso gosta de brigar? — perguntou ele.

Agora que ele disse, notei que meu coração continuava acelerado e, havia um sorriso em meu rosto.

— Espero que isso sirva como uma resposta. — Fechei o punho e o respondi com um soco no rosto, fazendo-o apagar.

De repente, senti algo perto; olhei para trás e, um dos que eu havia nocauteado, estava se levantando. Em fúria, corri até ele e, com uma voadora em seu peito, joguei-o pela janela.

— Gosto… — Arregalei os olhos e olhei em volta.

Mesas espalhadas; o restante da classe amontoados na lousa, com seus olhares horrorizados; a respiração deles era tensa e, todos pareciam estátuas.
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— Então, Alger Reder, você brutalizou cinco pessoas e é capaz de me dizer isso, de forma calma e sem tremer nenhum músculo do rosto?

— Sim. Eles que começaram, então não me sinto errado em ter feito isso — expliquei, com um sorriso sarcástico e tom de deboche.

— Hmm, entendi. — Ele suspirou — Darei-lhe suspensão por dano a patrimônio público e excesso de violência.

— O quê?! Porquê, Vergher?!

— Você não pagará pelos danos a propriedades da escola, fique tranquilo — disse Vergher.

— E-Então, estou livre agora?

— Detenção. Quero que acalme-se — disse Vergher.

— Então você percebeu, hein?

Ele ajeitou os óculos: Como diretor, preciso atentar-me aos mínimos detalhes.

— E onde fica a detenção? — perguntei.

— Siga reto, vire à direita e será a última sala do corredor — respondeu Vergher.

— Agora, saia — ordenou ele.

Segui seu comando; saí de sua sala e caminhei até a de detenção. Entrei e após reunir algumas mesas, deitei-me sobre elas.

Suspirei: Bem, ao menos provei que consigo me defender e, acho que com isso, eles não virão mais me encher.

Olhei para minha mão esquerda que, após aquela briga, teve que ser enfaixada.

— O diretor não me disse, mas acho que era óbvio que ele queria que eu fosse a enfermaria tirar o canivete lá — suspirei — Espero que minha vida possa ser normal.



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