Volume 1 – Arco 1
Capítulo 13: Torne-se meu peão ou morra!
A sociedade impõe limites a nós. Limites que não deveriam ser quebrados.
Mas as pessoas também impõem o medo.
Esse medo, pode mudar completamente alguém, seja psicologicamente, fisicamente ou metaforicamente.
No entanto, uma coisa é absoluta: as pessoas que impõem medo sob as minorias, as fazem serem incapazes de fazer algo contra elas, mesmo que elas sejam capazes.
Ah menos, que haja algum “empurrão”
Como raiva, ódio, vingança, ou algum outro motivo.
Então, até que a minoria não se imponha, ela continuará com medo.
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— Ta de brincadeira comigo, seu merda?!
Fui chutado com força. Bati as costas em uma escada de metal.
— Yoichi Katake, como você, alguém da turma A conseguiu perder para o Alger, um cara de notas medianas da turma D? — perguntou Payman.
Payman, um cara loiro de 17 anos.
Ele foi um dos caras que o Alger espancou no primeiro dia de aula.
— Eu fui pego de surpresa por aquele babaca! — respondi.
— Oh, sim, sim. Claro. Você revela o plano todo e ainda quer que ele não faça nada?! A culpa foi sua! — gritou Payman.
Os outros 3 amigos dele estavam ao lado dele.
Mas também havia duas pessoas que me chamavam a atenção.
A primeira pessoa tinha a silhueta de um cara; cabelo curto. A segunda pessoa tinha a de uma garota; cabelo longo.
Eu não conseguia ver seus rostos.
Eles estavam fazendo aquele clássico clichê de “escondidos nas sombras”, literalmente.
— Makyu, Horikita. Querem entrar em cena? — perguntou Payman.
— Não — respondeu uma voz masculina.
— Quero assistir mais um pouco — respondeu uma voz feminina.
Payman suspira: Some daqui, seu lixo.
Me levantei.
— Mas eu… — Payman estala os dedos.
Seus dois amigos se aproximam de mim.
Coloco um pé para trás; as duas mãos na minha frente, me preparando para lutar contra esses dois.
Posso não ter a mesma força que o Alger ou a Yukari, mas consigo deitar eles na base da porrada.
Ao menos, era isso o que eu pensava.
Quando menos esperava, fechei meus olhos; algo atingiu meu rosto.
Era viscoso, grudento, molhado… isso era cuspe?!
Coloquei minha mão no rosto; enquanto passava a mão no rosto, eu recebia um soco no estômago e um chute no meu quadril.
Caí no chão; abri meus olhos, mas já era tarde.
Esses filhos das putas, eles eram muito rápidos! Como em um cinco versus um, o Alger ganhou?!
Os dois me seguraram pelos braços e botaram suas pernas na frente das minhas.
Agora, era dois palitos para me derrubarem.
Mas eles não fizeram isso, o que aconteceu foi o contrário.
Payman, calmamente, caminhava em minha direção.
— Heh.
— O que é tão engraçado? — disse Payman.
— É engraçado você, o “cabeça do grupo”, precisar desses dois pra bater de frente contra mim — falei.
— Quem disse que eu quero lutar contra você? — disse Payman.
Seu olhar arrogante e confiante, agora era de frieza. Seu semblante sempre fechado, estava calmo.
Era como se ele tivesse virado outra pessoa.
Aquele olhar, parecia o mesmo do Alger.
Um olhar penetrante.
Payman fica na minha frente; me dá dois tapas e uma cotovelada na costela.
— Ghh! — Eu consigo suportar.
Não satisfeito, ele me dá um chute no saco.
— Aaaaahhhh! — Lancei meus gritos aos céus, que eram facilmente abafados pelo teto dessa maldita sala escura.
Porra.
Não sou de brigar, mas consigo tolerar algumas dores. Mas no saco, eu não consigo.
Minhas pernas enquanto trêmulas, estavam fechadas, parecendo um X.
— O que aconteceu? Pra onde foi aquela marra toda? — disse Payman.
— S-Seu… bosta! — disse, com dificuldades.
— Acho que fui claro em dizer que nunca quis lutar contra você. O que eu mais quero agora — Ele puxa algo de seu bolso — É brincar com você!
Ele havia tirado um canivete semi-automático do bolso.
Como um sádico louco, Payman lambia a lâmina exposta do canivete.
— Então, o que eu devo cortar primeiro?! — falou Payman.
Seu rosto calmo estava com um largo sorriso; seus olhos estavam arregalados e sobrancelhas franzidas.
Seu olhar era de um sádico, pronto para torturar sua vítima.
E a vítima aqui, sou eu.
Reuni a saliva da minha boca; cuspi no rosto de Payman.
— Seu doente! — disse.
Payman me encara com um olhar sério, enquanto limpa o meu cuspe do seu rosto.
Gentilmente, ele desabotoa meu uniforme e passa a mão pelo meu abdômen.
— Que merda você está fazendo?! — Quando tentei o chutar, os dois rapidamente me jogaram pra frente.
Praticamente, beijei o chão.
Esses bostas não perdiam tempo.
Tive meus braços agarrados e incapacitados de movimentá-los livremente, por esses dois arrombados.
Agora que eu estava de joelhos, não podia fazer nada.
— Ui, Ui, Ui. Pelo abdômen, assim eu fico até envergonhado — disse Payman — Mas é uma pena que a pele seja muito fraca para suportar cortes.
Merda!
Payman, de baixo pra cima, faz um corte no meu abdômen.
— Não concorda com isso, Yoichi Katake?! Por que a pele humana tem que ser tão frágil, ao tentar resistir contra uma lâmina?!
Um, dois, três, quatro; Ele havia feito cinco cortes no meu abdômen.
Depois, ele me deu um soco no rosto.
Aqueles dois me soltaram; caí no chão.
— Não se esqueça que você, cego por dinheiro, me deu seu endereço — disse Payman.
— H-Hã…? — disse.
O que ele disse é verdade.
Quando ele veio com a proposta de fuder o Alger, eu recusei.
Mas 50.000 Ienes, é uma vez ou nunca que essa oportunidade aparece para você.
— Tente me denunciar que eu mato sua família e você — disse Payman, com um sorriso assustador no rosto.
— Ah, e é melhor você cobrir isso, ou vai desmaiar.
Como se já não bastasse todo esse sofrimento, um gorila do terceiro ano me agarra e me joga para fora daquela bosta de sala escura.
Eu caio no chão; agora eu estava em um terreno baldio, e estava chovendo.
Tudo para melhorar o meu dia.
Com dificuldades, me levantei. Abotoei meu uniforme.
Eu sentia a chuva sendo atirada em mim; minha pele estava fria e meu corpo quente. Meu cabelo tampava minha visão.
Olhos arregalados; sobrancelhas franzidas; queixo caído, trêmulo.
— Preciso sair daqui.
Reuni o restante de energia em mim e como nunca na minha vida, eu disparei.
Agora eu tinha duas escolhas, que dependeria apenas das minhas pernas:
1: Eu não consigo chegar na enfermaria a tempo, perco muito sangue, desmaio e morro.
2: Corro até os músculos das minhas pernas se rasgarem.
Bom, eu escolho a segunda.
Eu empurrava várias portas; subia vários degraus; eu sentia a adrenalina e medo da morte me dominando.
Mal conseguia prestar atenção nas coisas à minha volta à frente.
Tudo era um borrão para mim, até minha visão começar a escurecer nas bordas.
Merda.
Eu já não prestava mais atenção em nada, meu corpo se movia sozinho.
Finalmente!
Conseguia ver as portas roxas da enfermaria!
Mas eu senti uma forte pulsação no meu peito, que ficava lenta a cada passo que eu dava. Eu estendia minha mão, tentando alcançar a porta roxa.
Quase lá!
Um passo, só mais um passo! Eu consi…
Eu não consigo.
Como um saco de batatas, eu caí no chão.
Meu corpo estava leve, eu mal podia senti-lo; enquanto minha visão ficava turva, eu via um par de sapatos brancos se aproximando de mim.
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Eu… morri?
Não consigo sentir meu corpo.
— Yoichi! Yoichi!
Havia alguém me chamando.
A voz estava abafada.
Lentamente, na escuridão, surgiu uma luz.
E como em uma luz no final do túnel, a escuridão começou a ser devorada, até minha visão ficar totalmente clara.
— Yoichi! — Me chamou o doutor.
Seus olhos estavam arregalados, suas sobrancelhas franzidas; seu olhar de preocupação; seu rosto de nervosismo.
Espera, eu acordei!
Olho à minha volta; eu estava na enfermaria.
— Graças a Deus que está vivo. — Ele me deu espaço — Quase perdi um aluno no meio do meu serviço.
— O que… aconteceu? — Eu tinha dificuldades para falar, minha voz estava fraca e rouca.
— Alger o encontrou quase morto na frente da enfermaria.
Alger?! Então foi ele quem eu vi se aproximando?!
O que aquele rato quer comigo?!
— Seu sangramento foi estancado. Você ficou sete horas desmaiado, hein? Hahah — O doutor abriu um sorriso no rosto.
Tá vendo o quê de engraçado nisso, porra?
Foda se também.
— O soro está abastecendo seu corpo, então não saia daí até que a bolsinha acabe, tudo bem? — falou o doutor.
Tudo que consegui fazer para responder foi um joinha.
Ele se virou e voltou para sua mesa.
Agora além de ter que ficar calado, o Alger vem como um intruso na situação e me salva.
O que aquele cabeça de vento acha que vai ganhar fazendo isso? Um prêmio de bondade?
Fala sério!
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Depois de ficar uma eternidade deitado naquela cama, aquela bolsa de soro finalmente esvaziou.
Quando saí, o doutor me disse para beber bastante água, sucos e comer alimentos ricos em ferro e Vitamina C.
Eu obedeci suas “ordens médicas”.
Fazer tudo sozinho era difícil, mas valeria a pena.
Felizmente, não moro com meus pais, mas Payman de alguma forma, conseguiu vasculhar minha vida do avesso.
Ele sabe até onde minha vó mora.
Que bosta, deixei a ganância me dominar.
Depois de ter quase morrido, achei que minha vida voltaria a ser a mesma se eu ficasse calado.
Oh, Deus.
Como eu estava errado!
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Outro dia.
Entrei na sala, os olhares de ódios me cercavam.
Isso não era o suficiente para me abalar.
O que me destruiria de verdade ainda estava por vir.
— Dispensados — disse o professor.
Como os demais, saí da sala.
Tudo estava tranquilo.
Todos em seus grupos sociais, comendo e se divertindo.
Eu também era assim antes, até aquele filho da puta me expor para todos.
Que saudades dos velhos tempos.
Aceitar ser comprado com aqueles “cinquenta mil Ienes” foi uma grande furada.
Mas agora já é tarde. Estou pagando pelo preço de minhas ações, essa é a verdade, e não há como fugir dela.
Enquanto andava, eu via Yukari vindo em minha direção, furiosa.
Eu passava por ela, mas Yukari me empurra; caio no chão.
— Finalmente te achei, seu merda! — gritou Yukari.
— H-Hã? — Eu estava confuso.
Suas pálpebras caídas; seu olhar fervente de raiva, como um vulcão prestes a entrar em erupção; seus dentes cerrados; seu rosto de superioridade e fúria.
Que eu me lembrei, não havia feito nada para ela. Então por quê…?
— Você se acha engraçado, não é?! Traindo a minha turma, a do Alger, e ainda por cima! — Yukari me agarra pela gola — Traindo minha confiança que eu tinha em você!
— E o que faz depois?! Se esconde, como um verdadeiro lixo humano ao trair! — gritou Yukari.
As pessoas estavam se reunindo à nossa volta.
— Deixe-me explicar algo para você, para que fique claro de uma vez por todas. — Yukari afunda seu dedo na minha testa — Você não está na merda de um anime!
Sua voz imponente e alta, seu tom intimidador.
Meu corpo tremia.
Yukari me largou; caí sentado no chão.
— Eh? Então você é do tipo que trai e se esconde pra não enfrentar as consequências?
— Mas que pessoa desprezível.
— É mesmo um lixo humano.
— Hahah! Um cachorrinho que se acovarda e some?! Sério?!
Com o pequeno impulso da Yukari, a multidão começou a se manifestar.
— Um cachorrinho que não é leal ao dono e trai, não passa de um inútil — disse alguém da multidão.
Yukari se agacha
— Ouviu isso, Yoichi? Agora, você é o “Cachorro Inútil” da escola — disse Yukari, com seu sorriso malicioso.
Dia após dia, minha fama como “Cachorro Inútil” crescia.
Isso durou por um mês. Esse tempo foi o suficiente para o bullying fazer o psicológico de alguém forte, desmoronar facilmente.
Igual a uma marreta quebrando um vidro frágil.
Várias mensagens de suicídio eram escritas na minha mesa.
Não importava o quanto eu tentasse lutar, sempre vinham em grupos de 5 me espancarem.
Eu estava no fundo do poço, mas não podia falar nada. Minha família, minha vida acadêmica e pessoal estavam em jogo.
Vários pensamentos negativos inundaram a minha mente. Já cheguei a cogitei em me matar.
A minha vida havia acabado.
Mas no meio de tudo isso, surgiu um raio de esperança na minha frente; uma pessoa que mesmo com todos contra mim, nunca se juntou a eles.
Essa era a mesma pessoa que havia me salvado antes, Alger.
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Mais um dia… Eu já não aguentava mais.
Tudo que eu quero é que isso acabe.
Agora, tenho que andar escondido das pessoas.
Enquanto andava pelo pátio vazio, avistei uma pessoa sentada no banco, vidrada em seu celular.
Era o Alger!
Será que me aproximo dele? Ele vai me humilhar também? Me bater? Ele está bravo comigo?
Espera, se ele estivesse bravo, eu estaria morto agora.
Eu só quero alguém pra poder conversar, desabafar. Quero minha vida antiga de volta.
Alger vira seu rosto em minha direção, confuso, mas sem dizer uma palavra.
Bem, é tudo ou nada.
Lentamente, andei até ele.
— O-Oi.
— Hm?
Desviei o olhar; minha chegada já começou ruim, agora é só ladeira abaixo.
— O que aconteceu com você?
— Hã?! — Olhei para ele, com um espanto genuíno.
— Perguntei o que aconteceu com você. Sua pele tá pálida, seu cabelo bagunçado, você está com olheiras grandes e, mais magro que o normal.
— N-Não se finja de bobo, você já sabe — disse.
— Ah, a história do “Cachorro Inútil”?
Acenei com a cabeça em concordância.
— Eles pegaram pesado com você, hein. — Ele suspira — Se bem que, eu posso fazê-los pararem.
Arregalei os olhos; Alger coçava o ouvido após ter falado isso, como se fosse algo normal.
Mas para mim, essa frase teve muito peso!
— V-Você pode?
— Sim — disse Alger.
— E-E… — Como um tiro, uma grande coragem tomou conta de mim — Então por que nunca fez isso?!
— A questão aqui é que você nunca pediu — falou Alger.
— Se eu lhe pedisse para fazê-los parar, você faria isso?! — perguntei.
— Sim.
Meu rosto estava esculpido com uma expressão de total choque.
— E-Então, por favo…
Ele me interrompe: Espera aí! Eu ainda não terminei!
— Hã?
— Te disse que poderia os fazer parar, e realmente posso. Mas com uma condição.
Uma adrenalina que senti quando pensei que morreria corria nas minhas veias.
— Eu aceito todas as condições! — gritei.
Alger coloca seu celular no bolso, se levanta e fica a minha frente, com um largo sorriso em seu rosto.
As íris dele eram pequenas.
Que expressão de vitória é essa?! Ele nunca fez isso antes!
Ele agarrou-me pelo cabelo e aproximou seu rosto do meu.
— Você terá que aceitar o meu acordo! — disse Alger.
— O quê?! — gritei.
— Não se faça de bobo, você me ouviu bem — O sorriso dele fica ainda maior — Se você não aceitar agora, não vou ter problema algum em te negociar com o governo.
— E sabe o que eles vão fazer quando eu te negociar? Eles vão abrir você, estudar você, até que tudo que sobre de você seja o resto da sua carcaça vazia!
Esse cara… ele é louco!
— Tch! Merda! — disse.
O que eu faço agora?
Aceito e entrego meu ser a ele, ou eu recuso e continuo tendo meu psicológico destruído?
— A resposta é bem simples: Se torne meu Peão Absoluto, que em troca, lhe oferecerei proteção, já que eu não quero minha primeira peça sendo facilmente morta — disse Alger.
Esse filho da puta.
Ele planejou tudo isso?!
— Vamos, anda logo, Yoichi. A plateia não quer ficar esperando!
Olhei a nossa volta, as pessoas estavam nas janelas nos observando.
Desde quando eles estavam lá?!
Merda. O único jeito de sair dessa situação… é aceitar.