Volume 1

Capítulo 26: A Fala é um Ótimo Instrumento

Depois de sairmos sem o Gyomen, Alger foi para o 5° andar, subindo as escadas enquanto eu e o Yoichi, fomos de elevador.

Ei, Yukari.

Hm? — Olhei pro Yoichi.

— Você sabe quem está com as escutas? — perguntou Yoichi.

— Não. Pode tanto estar com a Horikita quanto com o Makyu, ou, qualquer outra pessoa da minha, sua, do Gyomen ou da turma do Alger — respondi.

O elevador ainda estava subindo.

— Se serve de conselho, a fala é um instrumento que pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal, então… — Apontei pra ele — Controle essa sua língua.

Ele abriu um leve sorriso no rosto.

Heh, certo. Não vou soltar nada de “relevante” enquanto estiver liderando a turma D — falou Yoichi.

— Melhorou.

Um leve sorriso se abriu no meu rosto enquanto um olhar de calma era lançado para Yoichi.

Parando no terceiro andar, a porta do elevador abriu; Yoichi saiu para o andar.

As portas estavam se fechando, até ele colocar sua mão entre as duas portas semi-fechadas; Yoichi me olhou por cima do ombro.

— Boa sorte lidando com o bosta do Makyu — disse Yoichi, sorrindo.

Ah, caso ele tente fazer algo contra mim, eu vou colocá-lo bem no lugar que ele deve ficar — falei, sorrindo de volta.

— Beleza então, falou! — Yoichi saiu andando pelo corredor.

As portas então fecharam.

Apertei outro botão do painel e o elevador voltou a subir.

Honsing, ou melhor, o “Mestre” não parece ter escolhido pessoas pra ficarem com o Gyomen e com o Yoichi.

Alger ficou com a Horikita enquanto eu, com o Makyu.

O elevador parou no último andar; as portas abriram. Saí do elevador e fui para a porta do meu quarto.

Parando em frente ao número do meu quarto, eu gentilmente abro a porta.

O quarto era espaçoso e estava em um estado impecável; haviam quatro camas, com Makyu já ocupava uma delas.

Havia uma porta do outro lado do quarto que tinha aquelas maçanetas de banheiro químico, que diziam “Ocupado” e “Aberto”

Ao lado do banheiro, havia uma enorme varanda que, se você fosse lá, não veria mais nada além de uma linda vista.

Esse hotel não é 10,9 à toa.

Entrei no quarto e fechei a porta. Fui até uma das camas e lá coloquei minha mala; olhei para o Makyu, ele estava deitado com seus sapatos em cima da cama.

Ele nem se importou em ficar com os sapatos, pensei.

Makyu olhou para mim: O que foi?

— Cadê os outros? — falei

Hm? Outros?

— Tem quatro camas aqui, já estamos ocupando duas. Quem vai ocupar as outras? — disse.

— Parece que só tem eu e você nesse quarto.

Ele estava com as costas apoiadas na cabeceira da cama e com as pernas esticadas sob o colchão, todo desarrumado.

— Como assim? — perguntei.

Makyu cruzou os braços.

— Eu fiquei aqui uma hora esperando os outros, mas só você apareceu, Yukari.

— Além de que por mais que este hotel seja “dez estrelas”, a divisão de quartos para o número de pessoas daqui é uma bosta, já que era para ter exatamente quatro pessoas aqui — respondeu Makyu.

Hmm, você tem um ponto.

Abri minha mala; comecei a verificar se estava tudo certo enquanto encarava Makyu pelo canto do olho.

Makyu me encarou de volta com um olhar sério.

Ficamos nos encarando por alguns segundos.

Ele colocou uma perna sob a outra: O que você quer?

— Eu tô tentando entender como você está tão calmo numa situação dessa.

— Apenas aceitei o fato de que o dono deste hotel não sabe matemática básica. Mas desde que eu tenha paz e sossego, eu tô pouco me fudendo pra essa situação — disse Makyu.

— Entendi.

— E quanto ao Alger? — perguntou Makyu.

?

— Você me ouviu, Yukari. Eu perguntei e quanto ao Alger.

— É raro ver você se preocupando com alguém — disse.

— É que dependendo de quem for o colega de quarto dele, não vai demorar muito pro temperamento explosivo dele vir com tudo. Afinal, ele é muito “pavio curto” — disse Makyu.

— “Pavio curto”? — falei.

— Sim. Você não concorda, Yukari?
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Deixei a porta aberta; peguei a minha mala e saí da sala de espera.

— O que estava fazendo aí dentro, Gyomen? — perguntou Honsing.

Ou melhor, perguntou o “MESTRE”

Tch. Isso lá é da sua conta? — falei.

— O Mestre mandou… Gyomen contar a verdade.

Lancei em Honsing um olhar de fúria: A verdade, você quer saber a verdade?! Beleza!

— A verdade é que quando eu volto depois de esfriar a cabeça, não encontro ninguém nessa besta de sala! — gritei.

— O Mestre mandou você falar formalmente e calmamente, do contrário, será expulso deste hotel.

Respirei fundo: Eu voltei aqui depois de me acalmar e, eu achei que a forma como falei com eles e agi foi errada. Mas quando voltei, não havia mais ninguém lá dentro.

Fechei a porta.

— Só isso, Gyomen?

— Sim — falei.

— O Mestre mandou você ir para o seu quarto.

Saí carregando a mala, sem questionar suas ordens.
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Peguei meu celular; são 11:30. Guardei o celular no bolso.

Olhei pra Horikita: , Horikita. Sabe que horas eles servem o almoço?

— Está escrito no cartão de visitas, Alger — disse Horikita.

Peguei o meu cartão e, dizia que o almoço era servido às 13:30.

Suspirei: Ainda são onze e meia…

Guardei o cartão no bolso.

Abri a minha mala e comecei a procurar algo. Olhei pro Payman, que estava deitado na sua cama, de costas para mim.

— O Payman ainda está vivo?

— Sim, só dormindo mesmo. — Horikita sorri gentilmente — Aproveitando que ele está dormindo, queria te perguntar algo.

— Fala — disse enquanto revirava a minha mala.

De repente, seu sorriso gentil muda para um rosto sério: Por que você e o Gyomen brigaram?

Olhei para ela; meus olhos se arregalaram; minhas sobrancelhas levantaram e minha boca ficou aberta.

— C-Como…?

— Eu estava passando pelo corredor te procurando e ouvi vocês brigando dentro da sala de espera — disse Horikita.

Fiquei em silêncio a encarando.

Hahah! Que foi, Alger? Parece até que você viu um fantasma! — disse Horikita, com um sorriso malicioso no rosto.

De repente, meu celular começou a vibrar. O tirei do bolso e, era uma ligação.

Atendi a ligação: Alô?

— Alô — disse a pessoa do outro lado da linha.

A mesma pessoa começou a falar comigo.

Hm. Tudo bem. — Desliguei e guardei o celular no bolso.

Respirei fundo e suspirei.

— Entendi.

— Era quem? — perguntou Horikita.

— Nada não, só me avisaram que esqueci a minha marmita e a mochila preta lá embaixo — respondi.

Horikita fez uma micro-expressão confusa: Mochila preta?

— Sim.

De repente, duas batidas vieram da porta.

Levantei da cama e ao abrir a porta, quem estava do outro lado era o Gyomen, segurando uma mochila preta.

Ele estendeu a mochila pra mim: Aqui.

Peguei a mochila e a abri, havia um pano e uma marmita dentro. Olhei pro Gyomen, sorrindo.

— Valeu cara, salvou meu dia.

— Por nada, tamo junto. — Ele sorriu — Agora, estou voltando pro meu quarto. Até.

— Até. — Fechei a porta e rapidamente me virei para trás.

Os olhos de Horikita e Payman estavam arregalados; suas sobrancelhas quase atingiam a testa deles.

— Quê que foi, gente? Parece… — Um sorriso de superioridade se abriu no meu rosto — Parece até que vocês viram um fantasma! Hahahah!

Eles continuaram em choque.

— Aliás, Payman. Não era pra você estar dormindo? — Franzi as sobrancelhas enquanto sorria.

Ele franziu a testa: Tch. Com alguém batendo na porta, não tem como dormir.

Horikita cruzou as pernas e os braços: Concordo.

Fui até a minha cama, sentei nela.

Coloquei a mochila preta ao meu lado e tirei a marmita de dentro, mas rapidamente a joguei de volta para dentro da mochila.

— Quente!

— “Quente”? — Payman olhou para mim.

— Sim. O pano também tá meio quente, mas pelo menos dá pra segurar. — Coloquei a mão dentro da mochila e tirei um pano dobrado com a marmita por cima.

Segurei a marmita por baixo do pano. Dobrado, ele tinha aproximadamente 5cm de altura.

Eu gentilmente removi a “tampa” da marmita.

Havia arroz; batata frita; molho de alho; um pedaço de frango e um garfo de plástico dentro de uma embalagem plástica transparente.

Tirei o garfo de dentro da embalagem e dei uma garfada na marmita.

— Até que tá bom.
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Não posso mentir, a marmita estava deliciosa.

— Com esse lanchinho, consigo esperar até o almoço.

— “Lanchinho”?! Você devorou uma marmita quase do tamanho da sua cabeça! — disse Horikita.

— Sim, e daí? — Coloquei a embalagem vazia dentro da mochila e sacudi o pano.

— Está oleoso.

Por baixo do primeiro, havia um segundo pano, mas todas as suas pontas estavam sendo seguradas por mim e havia algo dentro.

— Você é um monstro… — falou Payman.

— Nada, é só fase de crescimento abdominal mesmo. — Tirei algumas roupas da mala e me levantei da cama.

Coloquei as roupas por cima do ombro: Aliás, vocês vão usar o banheiro?

Eles olharam um para o outro e depois para mim: Não.

Andei até a porta do banheiro e a abri: Eu vou tomar um banho então.

— Mesmo depois de comer? Você é idiota? — falou Payman.

— Não. Esse é apenas um costume meu mesmo. — Tranquei a porta após entrar no banheiro.

Respirei fundo; havia um chuveiro e uma banheira. Liguei o chuveiro.

Aquela marmita não estava tão quente assim, mas isso me ajudou a dar um “passo adiante”

O som do chuveiro e da água caindo na banheira dominaram o banheiro. Coloquei os panos na tampa da privada e a roupa em cima do suporte de toalhas.

Abri a boca; coloquei a língua no céu da boca.

Tirei uma pequena caixa de metal de baixo da língua e com cuidado, a abri pelas laterais. Dentro dela, havia um chip de celular.

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— Anda, já deu uma e meia.

Deitado na cama, olhei por cima do ombro: Hm…?

— Você ouviu, Alger. São uma e meia agora — disse Horikita.

— Ah, o almoço. — Me espreguicei na cama — Podem ir sem mim, o meu lanchinho ainda está sendo digerido.

— Sério? — falou Payman.

— Sim — bocejei.

Horikita soltou um longo suspiro: Você não tem jeito mesmo, hein?

Payman abriu a porta: Vamos logo sem ele, estou morrendo de fome. Fora que ele aguenta um tempinho sem comer também.

Horikita olhou para Payman depois para mim.

Hmm. Se precisar de algo me procura, Alger — disse Horikita.

— Beleza.

— Tchau! — Ela andava até a porta acenando para mim.

Acenei de volta, sorrindo: Tchau.

Eles então saíram.

Peguei a minha mala e comecei a revistá-la. Eu não encontrava nada mais do que minhas roupas e produtos de higiene pessoais. Deixei a mala embaixo da cama e me levantei da cama. Saí pela porta.

Enquanto eu estava andando pelos corredores, vi uma empregada andando pelo corredor. Ela olhou para mim e veio em minha direção.

Ela parou na minha frente: Uhh, com licença, sei que isso não é da minha conta, mas por que você não está no salão principal almoçando com todos agora? Nossa comida é deliciosa, te garanto!

Ela estava com um sorriso no rosto.

— Não, não! Não é isso! Eu não duvido da habilidade de vocês na cozinha, é só que… — Virei o rosto fazendo biquinho — Eu queria conversar com a Hiyori a sós.

Olhei para a empregada diretamente: M-Mas não é nada do que você está pensando! Eu só quero conversar mesmo!

Hahah! Está tudo bem, sério. — Ela se recompôs — Mas a Senhorita Hiyori está no salão principal também.

Hmm. Pode me falar o quarto dela então? Quero aproveitar pra deixar um presente — disse, com um sorriso bobo no rosto.

— Presente? Qual?

— É pessoal! — Cruzei os braços e fiz biquinho.

— Sinto muito, mas sem um motivo válido, não falarei — disse a empregada, com um olhar sério.

Abaixei a cabeça, olhei para o lado e depois para ela.

H-Hmn… Tá bom… mas prometa que isso vai ficar só entre nós dois, tudo bem? — disse, em tom de preocupação.

— Tudo bem, eu prometo que isso ficará só entre nós dois.

Abaixei a cabeça e respirei fundo: Tudo bem então… lá vai…!

— É que… — Ergui a cabeça e a encarei nos olhos — Eu acho que estou apaixonado pela Hiyori!

Um sorriso se abriu no seu rosto e sua expressão séria lentamente sumia: Hahahah! Eu estava brincando, mas não esperava que você realmente fosse falar. Hahahah!

Olhei pro lado, envergonhado: Eu só fui honesto, caramba…

Hahah! Ai, ai. Vocês jovens de hoje em dia, hein? — Ela olha para mim, ainda sorrindo — O quarto dela é o trezentos e cinquenta.

Sorri de volta: Valeu!

Saí andando, com um sorriso simpatizante no rosto. Ao invés de usar o elevador, desci pelas escadas, onde esse mesmo sorriso desapareceu.

Enquanto descia as escadas, tirei o celular do bolso e enviei uma mensagem para três pessoas. Guardei o celular e olhei em volta; não parece ter nenhum tipo de câmera por perto.

Parei em um dos degraus da escada, sentei e bocejei.
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Finalmente, no salão principal.

O local era enorme; havia várias mesas recheadas dos tipos mais variados de comidas e bebidas; todos estavam com largos sorrisos em seus rostos.

Tudo que eu conseguia ouvir eram as falas e risadas.

Senti um par de olhos me encarando, olhei para o lado; Horikita rapidamente desviou o olhar.

Fui andando até uma mesa com camarão. Peguei um e mandei pra dentro.

— Isso tá bom, não tá não? — disse uma voz familiar.

— Muito! — falei.

Rapidamente, eu e a pessoa olhamos um para o outro; era o Gyomen.

Fechamos nossos rostos e saímos de perto um do outro. Olhei de canto de olho para Horikita e novamente, ela rapidamente desviou o olhar.

Suspirei.



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