Volume 1
Capítulo 11: Profissão requisitada
Dois anos se passaram desde que comecei a treinar a Arte da Lança. Parece que foi ontem quando desbrava todo esse mundo novo.
Foi apenas recentemente, depois de dois longos anos de constante esforço, que consegui cortar a maldita tora ao meio em apenas cinco horas de constantes estocadas. Claro, isso ainda é um mundo de distância comparado com o que nosso Elfo taciturno consegue fazer, mas cinco horas é um recorde para mim, então estou satisfeito com esse novo marco.
Sinceramente, eu não teria continuado a atacar a tora se apenas tivesse feito isso. Após um tempo e sem ter muita escapatória, Godam começou a me ensinar vários tipos de golpes, poses e movimentos com a lança.
Em sua antiga vila Élfica, quando jovem, você só conseguiria a permissão para aprender quando conseguisse cortar a tora em um único golpe. Godam deve ter ficado com pena de mim ao perceber que eu jamais conseguiria isso.
Há uma discrepância de força muito grande entre Elfos e Humanos.
Após um ano praticando diariamente, Godam me congratulou afirmando que eu tinha alcançado um nível digno de ser chamado de Lanceiro. Mas não é como significasse muito.
A classe de Lanceiro era algo íntimo dos Elfos, e Godam tem habilidades que possivelmente jamais alcançarei, então não é como se eu pudesse avançar ou alcançar seu nível nem se eu praticasse por uma vida inteira. Entretanto, sinto que pelo menos é o suficiente para me defender de alguns monstros e possíveis humanos ruins.
Infelizmente, não tenho treinado tanto como antigamente por falta de tempo. Agora me vejo aqui, em um escritório abafado com pilhas de pergaminhos e papeis na minha mesa que precisam ser reescritos. O trabalho ocupou uma boa parte da minha vida.
Devido aos problemas com a minha irmã, o nobre não podia mais “esperar’ a recuperação mental dela e disse que procuraria outra pessoa para preencher o lugar. Não é como se fosse uma questão emergencial, visto que há pouquíssimos escribas que estariam dispostos a morar num lugar tão inóspito como Arklum.
Não precisou pensar muito para entender que tal posição deveria ser passada para mim, alguém que também sabia ler e escrever, mesmo que fosse um emprego temporário até que minha irmã se sentisse bem para sair de casa.
Eu não pensei duas vezes em aceitar na época pelo o simples fato de finalmente poder sair de casa.
Minha mãe não gostava da ideia de uma criança de nove anos ir para o centro da cidade, mesmo escoltado todos os dias, para trabalhar no meio de adultos.
— Preciso disso para hoje, Lucy. — uma voz feminina doce com um certo grau de irritação ecoa pelo o minúsculo escritório. — Você não vai querer se atrasar logo na entrega dos relatórios de fim de ano para a superintendência das colônias. — completa a dona da voz opressiva enquanto cataloga alguns documentos para despacha-los.
— Entregarei imediatamente, Perséfone.
Perséfone é uma sacerdotisa da Teocracia de Hombariath que foi transferida — forçadamente — para ajudar no desenvolvimento da vila de Arklum.
Eu não estou por dentro dos detalhes, mas aparentemente é na teocracia que se encontra o maior número pessoas letradas. E essa deficiência crônica de pessoas alfabetizadas faz com que essas elas sejam uma moeda de troca, como profissionais especializados pelo o simples fato de saber ler e escrever.
Por essa razão, Perséfone, uma Sacerdotisa recém formada, foi enviada para esses confins do mundo. Sem sombra de dúvidas fez alguma coisa para ser deslocada aqui. Sem falar que é perceptível que ela odeia essa região.
Apesar de agir num tom superior com todos, ela tem sido útil, pois meus entendimentos acerca do mundo agora são mais profundos devido as nossas conversas. A Teocracia de Hombariath é um dos países mais avançados tecnologicamente e fechados para pessoas de fora. Lá foi palco do pioneirismo nos estudos de magia através dos Elfos e apesar de não possuir muitos territórios — não precisam — são a força mais poderosa conhecida da Pangeia Continental aparentemente.
— Ótimo. — responde Perséfone enquanto utiliza uma das pranchetas para se refrescar do calor. — Como esse lugar é quente.
— Como é na Teocracia?
— Você realmente gosta de saber sobre lá, hein. Bom, você nem poderia imaginar. É bem mais frio, mas com uma atmosfera agradável. — explica a mulher, contemplando os seus dias na teocracia enquanto se prepara para voltar ao trabalho. — Antes da queda era meramente uma cidade pequena, mas desde da fundação da igreja se tornou uma metrópole. As muralhas são tão altas que você não conseguiria enxergar alguém lá de cima.
A queda, tal termo é comum e frequentemente usado até mesmo pelo os habitantes da Teocracia. Realmente parece ser um senso comum esse evento da sumonação dos monstros.
— Parece incrível. Espero visitar lá um dia.
— Bom, já sabendo ler e escrever, você conseguiria uma vaga em algum monastério facilmente caso quisesse se converter.
Não está nos meus planos participar de alguma igreja, mas pelo menos é mais uma opção.
— Sério? Isso parece ser ótimo, mas acho que religião é algo que preciso me identificar primeiro.
— Um agnóstico pelo visto. — comenta Perséfone que se vira em direção a saída.
— Você não parece fazer o tipo religiosa também. — replico a altura.
Ela para por alguns instantes, nossos olhos se fintam por alguns instantes e lentamente vem em minha direção.
Perséfone tem um corpo bem avantajado. Alta, de cabelo levemente roseado com as pontas num tom mais escuro, prática comum dos seguidores do Panteão dos Heróis de tingir o cabelo com alguma cor que os represente. Mesmo usando um roupão religioso como uniforme, suas curvas naturais são avantajadas demais para serem escondidas.
Seja lá o que tiver em baixo de suas roupas, deve ser uma obra divina. E sua aproximação é impossível de não ser descrita como imponente e intimidadora.
— Você tem razão. Já fui uma Sacerdotisa mais crente. Entretanto, nunca deixei de acreditar no panteão dos heróis e você deveria fazer o mesmo. — ela para por alguns instantes e continua: — Elas foram a minha única companhia por um bom tempo.
Ela se vira sem dar muitas explicações e vai embora.
Não é difícil concluir que ela passou por momentos difíceis e a igreja foi um local onde ela pôde sobreviver e ser bem alimentada. Mesmo não sendo muito religiosa, ela continua ali por retribuição, talvez? Bom, não preciso me aprofundar tanto assim em sua vida pessoal.
Decido terminar todo meu trabalho pendente e vou para a sacada da janela para respirar um ar mais fresco.
Olhar para a cidade já não é tão mais incrível quanto na primeira vez que pude desbravar toda a vila pelo os meus olhos. Na verdade, quanto mais a observo, mais reparo seus problemas, defeitos e erros.
Minha mente dispara dizendo que está tudo errado. Talvez sejam os avanços tecnológico do futuro, ou práticas atuais que serão descontinuadas algum dia. Não sei dizer o porquê, mas sinto que tudo aqui é atrasado tecnologicamente.
Estando na sacada da Prefeitura, que fica praticamente no centro da cidade, consigo ter uma visão privilegiada. Dos humildes casebres e poucas pessoas caminhando pela as ruas barrentas e fétidas.
Há apenas um pequeno pedaço da sua principal asfaltada, obra que foi realizada ano passado e com as verbas que o vilarejo recebeu para o estímulo de colonização, uma humilde muralha começou ser construída em volta do vilarejo. Nada muito estravagante, não mais do que dois metros e meia de altura.
Para as aranhas do meu aniversário, seria um trabalho ridiculamente fácil para elas ultrapassarem, mas para alguns monstros mais fracos talvez retarde um pouco seu avanço.
Ouço o som da porta se abrindo. — Lucy? Está aí? — uma voz muito conhecida me chama e me viro imediatamente para atende-la.
— Estou aqui, Alexandrina.
Meu treinamento com magia continua com tanto afinco quando meu treino com a lança, mas minha limitação de mana também é um problema recorrente. De fato, melhorou muito comparado a minha primeira vez, mas comparado a Alexandrina, ainda tenho um longo caminho a percorrer.
Parece que estou sempre atrás de todos.
— Já acabou por hoje? Precisamos visitar o Domo Protetor para inspeção.
Finalmente esse dia chegou.