Volume 1
Capítulo 13: Coliseu marítimo
A lua minguante brilhava no céu junto às estrelas. O canto dos grilos para Johnny era como uma irritante serenata. Sam e Johnny andavam na ponta dos pés, se escondiam em meio as paredes, pois o horário dos alunos se recolherem já havia passado. Longe do dormitório, os garotos adentraram uma sala que, à primeira vista pareceu estar vazia. Sobre o chão, uma escada que levava ao subterrâneo.
— Johnny! — Duque gritou ao ver Johnny que desceu as escadas. — Venho me tirar daqui?
Johnny confirmou com a cabeça e destrancou a cela.
— Para onde vocês pensam que vão? — A voz grave do Daniel se fez presente e assustou todos ali.
— Foi ideia do Johnny. — Sam se afastou da cela e retirou toda culpa do seu ser.
— Vamos atrás da Rose — Johnny abriu a cela e deixou Duque sair. — E ele vai conosco!
— Você leu o relatório. — Daniel deu um sorriso vencedor. — Pois bem, peguem suas cruzes douradas, vamos para uma missão não oficial.
— E podemos ir junto? Não tivemos uma aula até agora.
— Mas é claro que podemos, todos estão dormindo. Só vão saber amanhã.
***
Johnny olhou em volta. As poucas pessoas que aguardavam voo naquela cidade estranharam o garoto que anda para lá e para cá à procura de alguém.
— Encontrou ele? — Sam perguntou.
— Nem rastro. Eu falei para ele não se afastar de mim.
A voz do Duque ecoou pelo aeroporto, onde deveria ser a moça que indica aos passageiros os voos que iriam sair dali.
“Atenção, passageiros com destino a casa do caral... Ah, oi Daniel, olha só que legal isso, se chama autofalante!”
O autofalante foi desligado. Na escada rolante, Duque foi visto ao lado do Daniel, que possuía uma expressão nada amigável.
— Tio Daniel! — Sam acenou para ele. — Temos dinheiro para quatro passagens?
— Mas é claro, é só colocarmos no nome da escola e está resolvido. — Daniel olhou para o painel com nome de cada destino.
— O Silver vai te matar. — Sam sentou em um dos bancos, mas assim que ele relaxou sobre o banco, seu voo foi anunciado.
— Você conhece o homem que levou a Rose? — Johnny perguntou a Daniel, enquanto adentrava o avião.
— Conheço! Ele era amigo do seu irmão, estudaram juntos, até o Bruno desertar dos Paladinos.
***
Rose encarou a pintura à sua frente, um símbolo do renascentismo. De longe, ela viu Bruno que conversava com uma mulher. Ele pareceu pedir alguma informação para a moça. Ao olhar uma escultura ao longe, a garota arregalou os olhos e reconheceu Johnny e Daniel. Rapidamente foi até Bruno, puxando-o para fora do museu.
— O que foi, guria?
— Precisamos sair daqui quanto antes, meu tio está aqui, provavelmente me procurando.
— Seu tio, Paladino! — Bruno começou a andar ainda mais rápido. — Não posso me encontrar com Paladinos, andei quebrando as regras nos últimos tempos.
Bruno fez um sinal para um táxi, que parou ao lado da calçada. Rose entrou no carro e sentou-se ao lado de Bruno.
— Tu não queria voltar para casa? É só ir lá e sumir da minha frente.
— Não quero voltar agora. Ser a nova Paladina Azul é muita pressão.
— O quê! Tu é parente do Eliott Helsing? — Bruno disse surpreso. — Eu estou muito ferrado!
Por estarem discutindo, ambos não perceberam que estavam sendo levados por uma rua tão estranha quanto escura. A neblina forte era mais do que perceptível, o que fez Bruno lembrar-se que não disse o destino ao motorista.
— Sai do carro! — Bruno gritou para Rose, mas tarde de mais; um gás foi exalado por todo carro o que fez ele e a garota perderem a consciência.
***
— Não deveríamos estar procurando a Rose? — Sam indagou, ao ver Daniel e Johnny encantados com os quadros do museu. — E o Duque, sumiu de novo, não é?
— Vocês precisam ver isso! — Duque chamou a todos empolgado — Esta ali! Venham ver.
Duque os direcionou até um dos quadros pendurado na parede. O quadro retratava uma linda moça, com longos cabelos loiros e olhos azuis e brilhante. O formato do rosto lembrou Silver. A semelhança assustou os presentes. No entanto, o quadro foi pintado entre 1700, sendo impossível ser Silver.
— “A dama da noite” — Daniel disse ao ler o título do quadro.
— Eu quero esse quadro! — Duque fez menção em retirar a tela da parede, mas foi impedido por Johnny.
— Você não pode fazer isso!
— Na verdade, pode. É só pegar e sair correndo. — Sam tentou encorajar Duque, que olhou para Johnny e percebeu a expressão brava do garoto.
— Esqueceram por que estamos aqui? Não viemos turista. — Daniel tomou a frente — Vamos perguntar para recepcionista sobre o quadro.
Daniel se aproximou da entrada, onde estava localizado o balcão da recepção. Sem ao menos dizer um “Olá” ou “boa noite”, ele perguntou à moça de forma grosseira.
— O quadro “Dama da noite”, quem é o pintor?
Daniel é repreendido por Sam.
— Por que você é tão ríspido com as pessoas? Já ouviu a frase “gentileza gera gentileza”!
— Já! E sempre que sou gentil acontece algo ruim.
— Ah por favor né! Você tem quase trinta anos, já passou da época de acreditar nessas besteiras.
— Querem parar! — Johnny disse e dirigiu-se a recepção. — Boa noite! Poderia responder à pergunta sobre o quadro?
— O quadro “Dama da noite” possui o autor desconhecido. — A moça pegou um cartão de visitas que estava sobre o balcão. — Ele foi encontrado junto a outros dois quadros “Última dança” e “Fúria do céu”.
— E os outros dois? — Duque perguntou.
— Foram leiloados.
Johnny agradeceu a moça.
— Satisfeitos? — Daniel perguntou e dirigiu-se até a saída. — Agora vamos logo! — Daniel sinalizou para um táxi que parou ao lado dele. — Entrem!
Daniel sentou ao lado do motorista, ele pegou o celular e procurou o destino.
— Nos leve para...
Antes de terminar a frase, Daniel desmaiou, assim como os três no banco traseiro.
***
Johnny abriu os olhos, a escuridão o assustou e o faz gritar.
— Pessoal!
— O que aconteceu? E o Sam? O Duque?
Johnny tocou nas paredes de madeiras, o local pareceu pequeno, ele bateu na madeira e fez o som retumbar do outro lado.
— Acho que fomos drogados e trazidos para cá — A voz do Bruno ecoou do lado esquerdo do Johnny. — Tu acordou, guria? Parece que temos vizinhos.
— Quem esta aí? — Johnny encostou a orelha na madeira.
A única resposta que Johnny recebeu, não foi direcionada a ele, e sim a Rose que estava do outro lado, junto a Bruno.
— Não vomita aqui, não! — Bruno disse ao ver Rose enjoar.
— Estamos em um navio? Eu sempre fico enjoado antes de zarpar.
Ao ouvir a voz da garota, Johnny bateu na madeira e pediu uma confirmação de que era realmente ela.
— Rose, é você?
— Johnny! — Ela disse feliz, e aproximou-se da parede de madeira. — Quem mais está com você?
— Seu tio, Sam e o Duque.
— Sério?
— “Sério” — Daniel imitou o tom de voz da garota. — Você está muito ferrada. Você fugiu, pôs fogo em um pub, perdeu a cerimônia dos Paladinos e atravessou o mundo sabe-se lá como.
— Xiu! — Rose disse a Daniel.
— “Xiu” é o casete, garota! Escuta aqui...
— Por que o Sam não falou nada até agora? — Rose interrompeu Daniel, preocupada com o irmão.
— Foram a primeira dupla a acordar, e foram levados. — Bruno disse. — Não tenho certeza, mas acho que já estive em um lugar como esse. É tipo um Coliseu, eles colocam dois humanos para lutar contra um vampiro, depois se banqueteiam com os restos dos humanos.
Rose vomitou sobre o chão e deixou Bruno bravo.
— Agora vou ter que ficar aqui, com teu vômito!
— Se ganharmos, eles nos deixam ir? — Johnny disse e tentou abrir o cadeado da caixa. — Você já esteve em um lugar como esse e sobreviveu.
— Eu disse que já estive, não que lutei. É diferente.
— Então esse aí é o falso Bruno? — Daniel disse e cruzou os braços. — Vou arrebentar sua cara por roubar a identidade do Bruno, “guri”. O Bruno não tinha a porra desse sotaque! — Daniel bateu na madeira e assustou Bruno do outro lado.
Bruno olhou para Rose com medo no olhar. A garota negou com a cabeça indicou que não deixaria fazer mal a ele.
Enquanto o grupo divergiu, presos nas caixas, Duque, junto a Sam, andaram ao lado de uma linda mulher de vermelho. Duque havia retirado o colar que o deixava com aparência de humano e retornou a sua forma demoníaca.
— O que um vampiro de classe especial está fazendo junto aos humanos?— A mulher perguntou e fez menção para que ambos adentrassem uma sala.
— Eu só estava me divertindo. Os humanos são engraçados.
Sobre a parede da sala, havia dois quadros que chamaram a atenção de Duque. São eles: “A última dança” e “Fúria do céu”. No quadro “A última dança”, retratava um jovem com uma moça nos braços. O que impressionou foi a arquitetura antiga em volta deles, retratada totalmente destruída. Ao olhar para “Fúria do céu”, Duque percebeu a mesma arquitetura. O que diferenciava era uma criatura humanoide que descia do céu negro, diretamente para o chão.
— Seu nome? — A mulher disse e retirou Duque de seu transe.
— Duque!
— Prazer, Carmila. — Ela olhou para Sam e sentiu algo familiar. — E esse humano?
— Ele...Ele... — Duque olhou para Sam, que confirmou discretamente com a cabeça. — É minha presa.
— Por um momento, achei que preferisse esses humanos imundos à sua própria raça. — Carmila olhou para o relógio sobre a parede. — Venha, junte-se a mim. A luta já vai começar. Enquanto isso, te contarei a história de como eu, a grandiosa Carmila foi criada.
— Você lembra? — Duque perguntou curioso.
— Jamais esquecerei do meu passado. Uso isso para direcionar meu ódio para essa raça. — Carmila passou as unhas sobre o rosto de Sam e o machucou o que fez o sangue vermelho do garoto escorrer. — Aquela mulher me transformou no que sou hoje.
— Que mulher? — Duque perguntou curioso, mas antes que Carmila respondesse a primeira luta foi anunciada.
— Vamos! Cuide de sua presa. Não asseguro a segurança dele.