Volume 4,5
Prólogo: Aquela Sensação que Sempre Retorna
Foi como um sonho.
Penso nisso como um estado de transe que não parece ter fim.
Ainda sinto aquelas emoções e sentimentos transbordando em mim enquanto atravessava ruas e vias em alta velocidade, sem nem olhar para trás e sem saber para onde deveria ir ao certo. Meu peito doía e as pernas ardiam, apesar da chuva torrencial gelada e intensa que descarrega pesadamente sobre meus ombros.
Teve um momento que parei de correr, e não soube calcular por quanto tempo me inclinei tentando recuperar o fôlego. A respiração irregular me causou dormência nos membros, onde apenas ouvia meu coração ressoando como um tambor desgovernado, a leve náusea quase me fez crer que sairia de meu peito a qualquer instante.
Depois disso, não me lembro de muita coisa. Fui socorrido por um rosto conhecido, da qual apenas deixei de vê-lo há poucas horas atrás, Teru me encarou com uma expressão rígida:
— Você está bem?! O que aconteceu?
Porém, a falta de fôlego não me permitiu falar.
Ele me ofereceu o ombro em auxílio e me conduziu quando notou leves mancadas vindas de mim, aparentemente recebi um golpe na lateral do abdômen que tornou a doer. Andamos alguns metros, e chegamos em uma área mais aberta e arborizada — O parque de Yokohama —. Era para ali estar ocorrendo uma festa, mas foi interrompida abruptamente e deu espaço para uma rixa entre punks e policiais. Longa história.
Teru me levou até a van de tio Ikishi, que estava com os outros. Tia Mikoto falou várias coisas para mim, mas não consegui identificar as palavras com clareza e apenas acenei com a cabeça. Ao sentar em um dos assentos do veículo, rapidamente adormeci.
...
Ao acordar, mesmo com a vista embaçada pude reconhecer o teto de madeira acima de mim. Me deitaram em algo macio, um sofá do saguão do ryokan. Ouvi vozes conhecidas:
— Ele está acordando, então vamos terminar logo de arrumar as coisas... — Era a voz de tio Ikishi.
— Não seja apressado! Se ele não estivesse na hora... — soou tia Mikoto, com a voz embargada.
— Eu sei, não precisa chorar... já está tudo sob controle... — Tio Ikishi ofegava. — Mas também estou preocupado com Kae e Kiyoshi! Ela foi diretamente para o hospital logo em seguida sem nos contar direito o que aconteceu...
— De qualquer jeito... tudo aqui está arrumado e pronto. Estou indo para o hospital! — entoou tia Mikoto. — Leve-os para suas casas em segurança, viu?
Em seguida, passos apressados se afastaram. Tentei me levantar mesmo com a tontura, mas uma mão me deteve:
— Não tente se levantar agora! Eu estou cuidando de você!
Kuroi me forçou a deitar novamente, no entanto, o movimento foi o suficiente para meu corpo inteiro doer.
— O... o que foi que...?
— Fica quieto! Você está machucado! — Ela gentilmente colocou algo gelado na lateral do meu abdômen que aliviou minha dor quase que instantaneamente.
A caloura era a única sentada ao meu lado, com compressas de gelo em suas mãos. Tio Ikishi organizava nossas malas e as levava para a van.
— Você nos deu um baita susto, viu? — comentou Kuroi. — Está melhor?
— Estou... um pouco. A exaustão foi maior que a dor... não foi nada demais... — balbuciei, coçando a nuca. — Onde está Teru?
— A caminho de casa. Ele decidiu ir na frente.
— Oh... certo.
— Consegue se levantar agora, moleque? — indagou tio Ikishi, carrancudo. — Está na hora de irmos.
Dessa vez, me ergui sem precisar da ajuda de Kuroi. O ferimento foi apenas um hematoma dolorido, em um ou dois dias estarei curado. Nós dois entramos na van e seguimos o percurso em silêncio até Chiba. Devido a chuva, as estradas e vias que seguem à saída da cidade se congestionaram seriamente. Conferi meu celular e já se passava das 20h sem nem ter saído da divisa com Kawasaki... mandei uma mensagem para minha mãe anunciando meu retorno em segurança.
Senti uma súbita vontade de perguntar sobre Yonagi, Himegi e Kiyoshi, mas me contive. Até mesmo Teru não se encontra ali, não preciso ser um vidente para saber que Kuroi não me contará nada dado nossa distância dentro do veículo largo.
Também não vi tio Ugawa em lugar nenhum, será que ele ficou lá? Oh, é mesmo. Seu filho está ali, então é algo óbvio...
Há muitas dúvidas em minha mente, dais quais caía em melancolia ao ver aquelas cascatas torrenciais decaindo sobre as janelas da van. Memórias enevoadas que vieram à tona... das que presenciei e as que mesmo causei.
Kuroi parecia inerte em seus próprios pensamentos, mas ficou completamente assustada. Apesar de todo o caos, ela ainda me ajudou e cooperou... impressionante.
Logo, após quase três horas de uma viagem que pareceu durar a eternidade, estou na porta de casa. Mesmo que tenha ficado somente cinco dias, a sensação foi de há bastante tempo.
— Moleque... não, garoto. Só quero dizer que... apesar da confusão, conseguiu manter a calma. Você fez muito bem... — Tio Ikishi falou. Foi a primeira vez que disse algo desde que ingressamos na van. — Não tenho palavras para me desculpar apropriadamente quanto ao que aconteceu...
Pela forma como colocou, não soube que fui eu quem se aproximou de Yonagi... bem, que seja. Não fiz nada para receber glórias, mesmo...
— Não se preocupe. Para meus pais, não houve nada... — proferi, apontando para costela ferida. — Essa situação é de vocês, não vejo a necessidade de comentar sobre um assunto que não é da minha conta.
— Que osso duro de roer você é, hein...
— É... muitos me dizem isso...
Tio Ikishi fez um aceno de mão e adentrou no veículo. Ao me virar, notei que Kuroi também se despedia silenciosamente. Retribui o cumprimento e a van avançou pela rua, desaparecendo em meio àquela noite chuvosa.
Estou apreensivo em entrar em casa. Será que Harumi está ali, só aguardando que chegasse a qualquer momento?
Mas, ao entrar lá, conversar com minha mãe durante algum tempo e ao entrar no meu quarto, compreendi claramente.
Minha irmã mais velha não está ali.
Então, porque meu peito continuava tão pesado? Porque essa sensação angustiante não passava?
Enquanto via o teto do meu quarto, minha visão se rendeu ao cansaço e o sono me venceu. Tudo se tornou breu, assim como minhas apreensões, inseguranças e incertezas.
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