Volume 3
Epílogo: Um Favor por um Favor.
Depois de um dia cheio como aquele, veio a quinta-feira.
Você pode dizer que foi como: — a calma depois da tempestade —. Afinal, as provas avaliativas terminaram. Mas, não era hora do descanso.
Ainda haverá as provas de finais de semestre daqui a uma semana. O repouso será breve até lá...
O importante naquele momento não foi isso.
E sim, as notas.
A média de todas as avaliações sairá no horário de intervalo e, o meu resultado do teste especial ocorrerá mais tarde.
De todo jeito, fiz tudo ao meu alcance. Não havia como voltar atrás. Por causa da punição de não ter me incluído em um clube antes do prazo, realizei o exame em seu maior grau de dificuldade e as provas finais ainda terão acréscimo de dificuldade. Vou precisar dar um jeito de flanquear tais consequências no futuro.
Mas é algo que pensarei depois a respeito.
Tudo o que me importou no momento era saber desses resultados. Fui subjugado por Kumiko e Hiyatetsu? O que vai acontecer?
Ela apareceu naquela hora para propor aquele desafio apenas pela vontade de me provocar, mas não deveria subestimar suas habilidades de jeito nenhum.
Não me abalaria por algo tão barato, mas nem sonho em brincar com o sistema esmagador daquela escola de elite. Nunca podia imaginar que teria tantos problemas com simples avaliações...
Uma coisa que afirmava resoluto, foi que Kumiko tinha muitas cartas na manga e por essa razão pôde se mover com tanta liberdade até aquele momento.
Por esse motivo que preciso pontuar bem a partir dali para qualquer situação que me envolva posteriormente.
As aulas do período matutino demoraram pra passar, mas quando o sinal do intervalo soou, todos se aglomeraram no mural geral. Tive que esperar para visualizar meu resultado e do pessoal:
RESULTADO FINAL DA MÉDIA DE NOTAS INDIVIDUAIS
Yonagi Kaede: 4ª Posição.
Kumiko Horie: 17ª Posição.
Hiyatetsu Bara: 16ª Posição.
Himegi Kyouko: 84ª Posição (Primeiro Ano).
Takahashi Kuroshima: 26ª Posição.
Nana Nishimura: 111ª Posição.
Chinatsu Chitose: 91ª Posição.
Shiina Toshi: 29ª Posição.
Kuroi Hoshida: 72ª Posição (Primeiro Ano).
Teru Yamada: 88ª Posição (Primeiro Ano).
[...]
Shiroyama Hideo: 15ª Posição.
No final, essa foi a conclusão.
A condição de Mitsuhara Kobune foi que eu deveria estar entre os 20 melhores no ranking e; o objetivo do grupo Shiroi Gamen era de que todos escapassem da recuperação.
Claro que, dada a regra, um grupo seleto de pessoas será expulsa devido a esse resultado.
Agora compreendi a verdadeira face daquele lugar, que não subestima nem mesmo uma mera avaliação para eliminar alunos. Foi um autêntico jogo do abate!
E que os alunos transferidos foram apenas uma cola para encobrir um buraco pelas classes. Em relação a isso, era praticamente impossível obter algum status significativo se fosse seguir aquela perspectiva.
Mas eu farei isso acontecer.
Dito isso, consegui escapar da sentença de Mitsuhara Kobune, agora me restou saber o resultado do teste especial. Decidi passar logo na sala dos professores, em que encontrei supervisora com a professora Harashima. Minutos após tomávamos chá sentados no sofá.
— De fato, adorei ver seu resultado nas avaliações, Shiroyama Padawan!
Seu bom humor é aparente. E de onde tirou aquela intimidade? Por acaso, aquela mulher era um Jedi treinando minhas habilidades?
Parece que não consegui controlar o uso dos apelidos que os outros davam a mim...
— Não se incomode, faço isso com todos que acho interessante! — disse a supervisora. — De fato, os transferidos desse ano estão muito dedicados a se manterem por aqui, isso é ótimo! Os outros deveriam aprender muito com vocês!
— Se é a própria Consul dizendo isso, quem sou eu pra discordar... — murmurei. Se ela servia no papel de conselheira para os grandes mestres Jedi, então espero que em algum momento desse um jeito no mestre Jedi que lecionava ciências sociais me encarando torto...
Por mais que não conhecesse nenhum dos outros alunos transferidos, fiquei feliz por nenhum ter falhado no teste especial.
— Primeiramente, peço desculpas em ter alterado a data do teste especial tão abruptamente... — Ela curvou a cabeça por alguns instantes. — A organização para o Festival Esportivo já está sendo discutida e precisamos logo dos resultados das avaliações, de todas. Além disso, como é o Conselho Estudantil que está organizando o Interescolar nas férias de verão, tivemos que definir muitas coisas antecipadamente!
Parece que o plano de Kumiko funcionou, pelos superiores terem gostado de suas ideias.
— O Festival irá acontecer em outubro, após as férias de verão... — explicou a professora Harashima. — Teremos tempo a partir do começo do mês que vem para organizar as turmas para as atividades. É bom que se prepare, Shiroyama.
— Me preparar? Por quê?
— Pois daqui pra frente muitas atividades serão realizadas em um curto espaço de tempo. Será que você poderá cuidar de todas elas e ainda fazer os testes especiais?
Grunhi como resposta. Esqueça os testes especiais, só aquelas avaliações já são complicadas o bastante...
— Ao que parece, você vai regressar ao clube de literatura, certo? — Mitsuhara Kobune voltou a falar.
— Ah, sim.
Agora que as pendências entre mim e os membros do clube se esvaíram como requisito do desafio, Yonagi me aceitou de volta.
— A única questão é que você terá de arcar com a punição. Afinal, você entrou em um clube depois do prazo definido.
Acenei com a cabeça, consciente das minhas ações. Por causa disso, o teste especial foi totalmente considerado.
Ao dizer tais palavras, Mitsuhara Kobune me entregou uma folha com o resultado dos alunos transferidos:
SHIROYAMA HIDEO: 85/100 PONTOS.
Aquele foi o meu resultado do teste especial.
— E era isso o que queria te dizer: foi um resultado muito bom! — exclamou a supervisora, satisfeita.
Claro que nunca teria conseguido tirar aquela nota se não fosse as anotações de Senjou Hana, nem da revisão que fiz com o grupo Shiroi Gamen. Acho que isso realmente pode ser chamado de vitória sólida.
— Por isso, como você se saiu bem nas provas e nesse teste, ainda ingressou em um clube, terá apenas 50% de dificuldade aumentada nas provas finais do semestre... — explicou a supervisora. — Foi o que pude pensar em compensar vocês, alunos transferidos.
Desta forma, não precisarei me preocupar tanto com as provas finais, o que é um alívio. Aquele era o último obstáculo para as férias de verão!
— De todo jeito, quero te perguntar uma coisa... — Me direcionei para a coordenadora, que já se levantava do assento.
— Oh? Tudo bem por mim, mas parece que a Harashima quer falar com você primeiro... — expressou ela. — Posso aguardar um pouco do lado de fora, se for o caso...
Eu e a professora Harashima ficamos a sós. Ela pigarreou e tornou a falar:
— Bem... quero te parabenizar pelo feito de ter superado tanta adversidade junta... — Ela me fitou. — Agora... sei que muita coisa pôde ser evitada e escolheu não fazer isso. Porquê?
— Ah... entendo o que quer dizer... — murmurei. — Se refere ao fato de ter feito o teste especial na máxima dificuldade, certo?
Ela assentiu.
— Bom... quando acertamos os termos do desafio de partida, tanto você quanto Yonagi acharam que não me dedico o suficiente. Então, pensei em provar para as duas o contrário... a sua maneira.
— Então, quer dizer que fazer o teste em seu grau de dificuldade foi pra me provar que estive errada ao seu respeito?
Devido a minha pretensão, senti que levaria outro esporro dela na cabeça como costuma fazer..., mas em vez disso, ela riu animadamente.
— Que garotinho danado...! Fico contente por ter levado isso tão a sério a ponto de querer provar pra mim.
— Isso quer dizer...
— Sim, estou satisfeita. Assumiu a responsabilidade no peito e mostrou sua garra. Devo dizer que isso é bem atraente e são poucos que conseguem suportar o peso de tanta expectativa, sabe?
Me encolhi, nervoso. Por que sempre que conversávamos ela conseguia me deixar apreensivo?
— Agora que sabe da face deste lugar... espero que continue a nos surpreender. Você realmente é um dos meus alunos mais problemáticos, mas não desgosto exatamente disso...
Ela se aproximou e afagou minha cabeça, sorrindo. Sem jeito, apenas a encarei... meu peito batia intensamente. Me levantei quase de imediato e prestei um cumprimento para sair, antes disso acontecer, ela chamou minha atenção novamente:
— ...e adorei seu desenho. Deve ter surpreendido bastante Yonagi. Continue com isso também, viu.
O que ela quis dizer com isso?
Procurei desvencilhar meu nervosismo ao sair da sala, encontrei a supervisora bebendo um café na máquina de bebidas mais próxima. Me juntei a ela. Nós saímos para o pátio externo, em que o pôr-do-sol nos iluminou com a melancolia do fim de tarde.
— E então? — Ela bebericou seu café de lata. — O que deseja dos meus conselhos como supervisora?
— Quero a sua opinião, entende... — disse. — E dessa vez, espero não receber uma charada.
— Hum? O que é?
— Por mais que seja inesperado, foi a primeira vez que vi quantos alunos transferidos entraram comigo aqui. O que quero entender... são suas intenções de me impor um desafio tão intenso como esse.
O pôr-do-sol condecorou seu rosto, lhe aplicando um filtro mais sereno do que jamais sequer imaginei ver em si. Ela fechou os olhos por um breve momento e os abriu com um sorriso leve:
— Um estudante transferido com um pensamento fora da caixa... e com peculiaridades únicas, também. Afinal, passou-se todo esse tempo desde o início das aulas e até agora ninguém viu o rosto por trás dessa máscara...
— Bem, dizer isso é um pouco...
— Não, você não entendeu... — Ela me cravou profundamente. — Não digo sobre ver sua aparência, pois imagino que já tenha acontecido. Mas o que quero dizer é enxergar seu interior. É justamente o que pretendo trazer pra fora, sabe?
Permanecei imóvel, sem reação. Minha mente estalou como se o valor dessas palavras surgisse logo após.
— Quem... quem é você? — indaguei, alterado.
Ela gargalhou e caminhou pelo pátio como se não tivesse dito nada demais... não compreendi suas ações.
— Ei!
— Não me faça repetir, Shiroyama... — Ela retrucou, de costas. — Há muitas coisas que devem ser ditas no tempo certo... tenha isso em mente, garotinho.
E agora ela assumiu uma postura assustadora... o que está acontecendo nesse lugar? Quem é aquela mulher?
— Como resposta à sua pergunta... — Ela presunçosamente sorriu para mim. — ...deixo para sua imaginação tentar interpretar o que disse. Até uma próxima, garoto.
Assim, ela se afastou em silêncio e não me atrevi a ir atrás. Fiquei imóvel, sem compreender de fato o que aconteceu.
Será que ela...?
Vários pensamentos inundaram minha mente. Será possível? Nunca me passou pela cabeça que não reconheceria todos os profissionais que... o quanto do passado não enxerguei, então?
Não... não posso pensar nisso agora. Ela tinha razão. A questão... é que essa estranha interação mudou completamente meu ponto de vista àquele local!
Fitei o sol alaranjado, que tão logo assumia um leve tom de anil em seu entorno. Acalme-se... acalme-se. Ainda há outras coisas a serem feitas... preciso estar com a mente sã para tal!
— Essa mulher... não perderei a próxima oportunidade, seja ela quem for.
Decidido, fitei o prédio especial e resolvi ir até lá.
Durante o caminho, porém, me deparei com alguém inesperado. Hiyatetsu se encontrou sentado na escadaria do primeiro andar, desolado. Ao me ver, demonstrou surpresa. Não me surpreende o quão amargurado ficou pelo resultado final das avaliações.
— Shiroyama...
— Por acaso, você viu a Higusa Amari? — indaguei a ele. — Não a vi desde o início da semana...
— Ela foi embora a poucos instantes... parece que o que discutimos mais cedo a deixou desorientada...
Não tive como saber dessa informação devido às circunstâncias, mas achei ótimo em saber pelo próprio Hiyatetsu. Na verdade, preferia ter passado por ele sem ter dito nada, mas ao mesmo tempo tive a sensação que falar algo fosse bom.
A julgar pelo rosto cabisbaixo, imaginei o curso que seguiu aquela conversa. Não gostaria de ter chegado ali há momentos atrás... ainda bem que ando no próprio ritmo!
— Você... tem um momento pra conversar?
O fitei e, em silêncio me sentei ao seu lado na escadaria.
— Estou ouvindo.
Ele suspirou profundamente e disse:
— Higusa me enganou. Achei que estivesse apaixonada por mim..., mas foi tudo uma mentira. Pelo visto... extrapolei o cargo do Conselho Estudantil além da conta e fui penalizado seriamente.
— É mesmo? E como foi?
— Não sou mais o 1°secretário... fui expurgado. Não tenho direito de dizer mais nada a ninguém...
— Nunca teve, na verdade... — intervi, indiferente. — Entenda... atuar no Conselho é meramente deter recomendações melhores para o futuro. Claro que é importante..., mas, não é questão de ser levado ao pé da letra dessa forma.
— Você... parece que entende bastante do assunto...
— Fui representante de sala durante o fundamental, apenas porque mais ninguém quis ser... — disse, levianamente. — E os representantes têm várias reuniões com os membros do Conselho, certo? Pude ver de perto as verdadeiras figuras que atuam nele.
— De qualquer jeito, fui um completo idiota e peço desculpas por isso! — Ele curvou a cabeça, emotivo. — Não ligo que ria de mim pelos meus descuidos, eu mereço!
— Não vou rir de você, não teve nada de engraçado nessa história toda... — suspirei. — Estive lidando com esse tipo de problema desde que entrei aqui. Agora entende o que quis dizer em relação a Kumiko?
— Ah... entendi, sim. Higusa e Kumiko armaram tudo isso, não é? E na verdade... — Ele coçava a nuca. — ...meu objetivo era me aproximar de Kumiko pela Higusa, mas foi tudo em vão.
Hein? Esse cara falou sério? O quão estúpido alguém pode ser?!
Por mais que o encare enojado, achei melhor não demonstrar. Não quero complicar ainda mais esse clima estranho...
— Além disso, mesmo exposto a todos esses problemas... você conseguiu ser melhor que nós dois no ranking de avaliação, meus parabéns. Admito minha derrota, Shiroyama.
— Bom... recebi muita ajuda, também. O crédito não foi apenas meu, mas... o que fará a partir de agora?
— Não faço mais parte do Conselho... sou apenas alguém comum. Só não sei o que faço com toda essa angústia em meu peito por ter sido usado dessa forma!
— Tenho uma sugestão, mas isso entrará como meu prêmio por ter vencido... — proferi.
— Você vai colocar Chinatsu no Conselho, certo? — interviu ele. — Sei que os dois são bem amigos, não me surpreende que me peça para ajudá-lo com isso.
— É até tentador, mas não farei isso.
— Hum? Não vai?
— Você vai concordar comigo. Aquela garota se dedica demais pra qualquer coisa que faça... e seria muito fácil apenas recuperar sua posição onde gostaria de estar. Ela conquistará esse objetivo por conta própria, sem que interfiram no resultado.
Sem contar que ela poderia interpretar aquela ideia como se não tivesse condições em fazê-lo por si. É dessa forma que enxergo Chinatsu Chitose à minha maneira.
— Incrível... parece que você realmente valoriza trabalho duro... —Hiyatetsu me afixou, surpreso.
— Pode não parecer, mas até mesmo eu me dedico. E é aí que entra o que desejo de você.
— Diga. O que vai querer de mim?
Diante de uma situação daquelas, poderia pedir todos os tipos de informações necessárias de um ex-membro do Conselho Estudantil. Porém, assim como Chinatsu detinha de um orgulho cintilante, também carregava um senso próprio:
— Aguarde até o Festival Esportivo. Pode ser que precise do seu conhecimento sobre as outras classes pra quando for necessário.
Ele me agravou, incrédulo. No entanto, não demonstrou objeção ao pedido.
— ...aliás, controle suas emoções. Isso fica como dica pessoal: não seja manipulado pelos outros por meras promessas. Seja procurado pela sua índole, não pelo que possui.
— Eu... me enganei sobre você, Shiroyama. De verdade... — Sua voz ficou embargada. — Pode deixar. Vou melhorar meu comportamento!
— Então, é isso... — Me levantei. — Ainda há algo que preciso fazer agora. Conto com você a partir de hoje, Hiyatetsu.
— Digo o mesmo! — Nós apertamos as mãos, da qual me encarou determinado. Os raios luminosos daquele fim de tarde tornaram aquele clima mais melancólico do que deveria, mas que seja.
Realmente cheguei a pensar que tinha desbloqueado outro inimigo, mas pra variar o jogo virou e obtive um aliado. Quando Hiyatetsu foi embora, tomei meu rumo.
Fui até a sala de artes, ainda aberta por causa da exposição dos desenhos. Chinatsu me explicou que durará até o fim do mês, tanto por causa dos seus afazeres quanto da decisão do Conselho de retirá-la de seu cargo.
Apesar disso, foram compreensivos de manter a apresentação dos desenhos ativa. Por não sermos atingidos pelas regras rigorosas da escola considerei como uma troca justa.
Decidi ir até lá para observar o meu quadro presente. Foram vários sentimentos que transbordaram de mim ao fazê-lo, mas nenhum deles explicava o que senti naquele momento ao observar alguém conhecido fazendo o mesmo.
— Kumiko?
A garota me injuriou com olhos misteriosos. Sua expressão neutra a deixou impossível de ser compreendida. O que estaria passando em sua mente?
— Vejo que conseguiu passar por todos os obstáculos... — Ela aplaudiu. — Como esperado do verme que é.
Soltei um suspiro.
— Curiosa com a exposição?
— Não. Só quis entender por que quis pintar o rosto de Yonagi, que só não é tão expressiva quanto você e seu rosto morto atrás dessa máscara.
— Cuide da sua vida, folgada... — retruquei, nervoso. — E eu não quis fazer o rosto dela, apenas foi um acaso que ficou parecido.
— Quem seria idiota de acreditar em algo assim? — questionou a garota, com um sorriso provocante.
— Eu também não preciso explicar nada a você e nem quero, então não me pergunte.
— Vai me dizer que não há segundas intenções, hein? — debochou Kumiko.
— Não diga bobeiras. Eu ganhei e quero reivindicar meu prêmio — intervi, cortando aquele assunto sórdido.
— Ah, a aposta... — murmurou ela, mudando o temperamento. — Não importa o que seja, você ganhou na média de ranking geral. Qual é a vantagem que deseja?
De acordo com o que apostamos, teríamos que escolher alguém para nos representar durante o Festival Esportivo.
— Certo... o meu critério é que vamos escolher alguém da própria classe. Quem eu escolho da minha é Takahashi.
— O quê?!
A pessoa que escolhi já foi definida há muito tempo em minha mente, preparei aquele terreno antes de fazer aquela aposta. Na verdade, as intenções de Kumiko só me deram mais chance de usar Takahashi contra si, já que pretendia usá-lo de alguma forma no Festival e não sabia ainda como. Me saí bem naquele teste especial, então ele não iria mais me perseguir. Era o único resquício que precisava pra abalar a confiança dos dois em um palco diferente.
— Ele... ele não... ele não concordaria com isso!! — esbravejou Kumiko.
— Tarde demais. Já está feito... — respondi, indiferente.
— Hein?!
Tirei meu celular do bolso e coloquei um áudio da minha conversa com Takahashi.
Kumiko agiu enojada.
— Você é totalmente desprezível!
— Espero que esteja preparada, então... — caminhei em sua direção. — Você mesma disse que estamos em guerra, certo? O seu amigo de hoje pode virar seu inimigo de amanhã.
— Seu...!
Nós dois nos encaramos. Pude sentir sua raiva latente em seus olhos, mas também notei que se contorcia ao me encarar.
— Seu grupinho está cada vez se afundando, então é melhor que preste bastante atenção... — prossegui. — Na próxima, podem realmente acabar todos afogados.
— Higusa se precipitou, é verdade. Mas, diante das circunstâncias ainda estou na vantagem.
— Você está tentando colocar mais aliados dentro do Conselho pra facilitar seu controle... — exalei. — Está mirando nos membros atuais, um por um.
— Apenas recebi a oportunidade de me aproximar de um deles e não há mal nisso. Hiyatetsu se interessou em mim e ficou correndo atrás de Higusa... — Ela retrucou, mexendo nos cabelos. — Os meus interesses e os do Conselho estão alinhados, mesmo assim. Você ainda está no lado dos perdedores!
— Pode me considerar um perdedor se quiser, mas a vantagem virá até mim... — proferi. — Ninguém pode ser considerado descartável ao bel prazer de outro. Não há quem possa definir tal coisa.
— Fala como se tivesse os próprios interesses...
— E tenho. Mas você não precisa saber... — grunhi, encarando-a. — E se continuar insistindo em vir me atrapalhar com essas táticas, uma hora pode complicar pro seu lado.
— Uma hora vai perder a sorte, Shiroyama... — Ela riu. — As avaliações foram apenas o começo.
— Pode ter certeza que irei acabar com você nos próximos testes. Aquele ranking geral vai se tornar sua pior tortura.
— De qualquer jeito... você não terá os melhores resultados! — exclamou a garota. — As avaliações não são os únicos meios que posso usar! Irei te passar e ficar entre as 10 melhores!
Parece que há algo interessante em ficar entre os 10 primeiros, por mais que ainda fosse assustador daquela garota achar aquela rotina das avaliações algo normal...
Mas aquilo poderia perguntar para Yonagi, que detinha uma das posições mais altas. Não era necessário ter pressa.
— Então que vença o melhor, certo? Daqui pra frente, será um esmagando o outro.
— Essa fala é minha, seu maldito!
Ela me provocou com um sorriso deprimente, mas a encarei de maneira intimidante também.
Virei minhas costas e saí da sala. Como todo o corpo discente ficou no lado de Kumiko, suas ideias para as próximas atividades escolares já foram definidas. Não tinha jeito.
Por isso, terei que agir de forma para que ela não me importune mais ou aos outros.
O meu acordo com Takahashi tem data limite: o Festival Esportivo. Eu precisarei ser certeiro de acabar com a amizade dos dois antes que aquele acordo se encerre.
Quando este momento chegar, terei mais liberdade sobre o que farei com ela. Sem apoio, perderá seu status e até mesmo o cargo do Conselho Estudantil.
Usarei o próprio sistema da escola contra ela e a tirarei do meu caminho. Ou seja, farei com que Kumiko seja expulsa.