O Último Eldoriano Brasileira

Autor(a): Gustavo M. P.

Revisão: OUltimoEldorianoOficial


Volume 1

Capítulo 14: O Primeiro Contra Ataque

[Campos Verdejantes, 17 de junho de 812 da Era Mágica] 

 

Havia se passado um dia inteiro de caminhada, e durante o trajeto paramos apenas durante a noite para descansar, pois logo pela manhã já estaríamos novamente na estrada em direção ao nosso destino final. A noite havia sido gentil com todos, pois nenhum problema havia atormentado nossa paz, sem falar que foi o momento perfeito para os soldados se divertirem em volta da enorme fogueira que havia sido feita. Entre canções, danças e histórias sendo contadas, uma refeição boa e farta com muita carne foi servida a todos, para que no dia seguinte estivessem dispostos para o que viria.

Dominic por sua vez ficou isolado em um canto, e de longe percebi que segurava em suas mãos uma espécie de pingente, quase como se fosse algum tipo de amuleto especial para ele. Ao me aproximar e sentar-se ao seu lado, ele me cumprimentou, e então curioso, perguntei sobre o que se tratava aquele item. Ele me explicou que aquilo era um presente de Ursula. Havia sido presenteado com aquele amuleto porque era uma tradição da família da mesma. Ele havia a pedido em casamento, e na cultura do povo da Ursula, a mulher deveria presentear o homem com um amuleto que significasse sua aceitação ao pedido.

Explicou-me também que desde então eles não puderam ficar juntos, nem mesmo se relacionarem de maneira mais afetuosa, já que ela deveria apenas aceitar se deitar com ele após o beijo selador do matrimônio. Dominic disse que teme a possibilidade de que a promessa de ambos acabe antes mesmo de ter seu início, pois ele sabe o tamanho perigo que corre em seu posto. Nossa conversa terminou com uma frase que não saiu mais da minha cabeça durante aquela noite.

“Magnus, faça suas escolhas e não se arrependa nunca delas. Para o bem ou para o mal, você irá aprender algo no final das contas. Não deixe para depois aquilo que você pode fazer hoje, e se você ama alguém de fato, corra atrás dessa pessoa para que não haja possibilidades de futuros arrependimentos.”

Essa fala de Dominic continuava martelando em minha mente mesmo após o dia ter dado seus primeiros raios solares. Eu não conseguia parar de pensar em Miyuki, era como se algo estivesse me interligando a ela, quase como se fosse um pressentimento de que algo muito importante ainda estava por vir. Era como se eu tivesse deixado algo muito importante passar por mim sem perceber. Talvez eu só estivesse preocupado, mas agora mais do que nunca, precisava me concentrar no que estava por vir, pois finalmente havíamos chegado ao destino.

— Magnus! — Dominic me chamou ainda montado em seu cavalo. Ao me aproximar apontou para o horizonte, e logo pude ver aquele terreno com meus próprios olhos. — Olhe, exatamente como eu havia descrito a você.

Estávamos diante de um Feudo completamente dominado por uma névoa densa de cor roxa. Aquele miasma era com certeza uma arma incrivelmente mortal e abjeta em todos os sentidos. Usar esse tipo de arma em campo de batalha era algo desumano e extremamente desonroso, pois matava a vítima com sofrimento num processo lento de dor e agonia.

O horizonte era formado por casas destruídas que um dia compuseram as terras de um senhor feudal. Era uma planície com clima mórbido por causa da névoa. O rio já estava completamente contaminado, e das árvores ao redor só havia restado seus troncos e galhos. As plantações do lugar agora eram apenas um resquício do que havia sido um dia.

Diante das ruas e vielas tinha pequenas pontes de pedras e monumentos esculpidos. No lugar mais alto estava localizado o castelo, de onde todo aquele mal jorrava em forma de névoa em volta daquele lugar. Logo percebi uma movimentação entre as casas, se tratavam das monstruosidades que ali estavam circulando para proteger o local, a mando de algum ser repugnante de mais para ter alguma natureza humana. Eram seres humanoides completamente deformados e decrépitos pela ação demoníaca em seu corpo.

— Vamos nos organizar para reconhecimento do local. Mande alguns soldados em grupos de três homens observarem a área onde estaremos assentados, para que tenhamos segurança em nossas ações sem que sejamos espionados ou descobertos. Após isso, vamos levantar o acampamento e seguir com o planejamento que foi estabelecido na Toca dos Leões. — Expliquei a Dominic os próximos passou sem tirar meus olhos do que teríamos que enfrentar. Com certeza aquela seria uma batalha difícil por conta do Miasma e da força dos seres demoníacos.

— O que faremos se formos descobertos? — Perguntou ele esperando uma resposta plausível.

— Atacaremos com força total... E assim forçaremos nosso plano acontecer. — Retirei minha espada da bainha, aproximando sua lâmina do meu rosto, observando assim meu reflexo no metal polido. 

[...]

 

Com o passar do dia, o acampamento militar havia sido levantado e finalizado, e a julgar pela posição do sol, poderia facilmente dizer que se tratava de umas três e meia da tarde. Dominic, Bhalasar e Sadreen estavam juntos a mim dentro da tenda maior, havíamos acabado de almoçar e estávamos nos preparando para colocar em prática o plano que havíamos traçado enquanto estávamos na tenda principal do assentamento militar. 

Diante de nós havia uma mesa com um mapa cartográfico do local onde estávamos, e agora era questão de tempo até que déssemos início ao ataque. Os ajustes e revisões do planejamento já haviam sido passados e repassados, só faltava posicionar as tropas e invadir o território inimigo.

— Acredito que estamos prontos para dar início. — Dominic cruzou os braços ao olhar o mapa com cuidado, estudando as marcações e delimitações. — Minha linha de frente será a distração que vocês precisam para invadirem, sem se preocuparem com os excessos dentro daquele lugar.

— É fato que a quantidade de soldados do lado de fora irá chamar a atenção dos inimigos, que irão mobilizar suas tropas a fim de detê-los. Mas o que eles não sabem é que vocês vão agir mediante caráter defensivo, e não irão invadir ou forçar entrada. — Olhei para Dominic ao me apoiar sobre a mesa. — É nesse momento que eu, Sadreen e Bhalasar invadiremos como uma equipe de assalto. Entraremos, faremos o que tiver que ser feito o mais rápido possível, e voltaremos para enfrentar as tropas restantes.

— Lorde Magnus esse plano me parece ter um pequeno furo. — Bhalasar e Sadreen se entreolharam, e então Bhalasar colocou sua atenção em mim.

— Qual seria Bhalasar? — O questionei prestando atenção no que falaria em seguida.

— Eu e Sadreen estávamos especulando a possibilidade de termos um problema ainda maior dentro do castelo. Algo além das forças que esses monstros do lado de fora têm. Afinal, ainda não sabemos quem os controla. — O apontamento de Bhalasar era válido, realmente poderíamos ter uma surpresa e tanto durante a invasão ao castelo.

— Acho que nesse caso, Dominic terá que aguentar as forças inimigas por mais tempo. — Olhei para Dominic que sorriu gargalhando. — Pelo menos até que possamos resolver os possíveis problemas que poderão surgir.

— Essa afirmação é válida também. — Bhalasar ficou pensativo por alguns instantes, até abrir um sorriso e socar a própria palma com confiança. — Bem, lutar um pouco mais além da conta pra mim nunca é problema!

— Você não muda nunca mesmo, né grandão! — Sadreen socou o ombro de Bhalasar mediante a um sorriso.

— Muito bem! Vamos nos preparar! Todos pra fora senhores! — Dei a ordem e todos eles assentiram com a cabeça.

Saímos da tenda e logo Dominic subiu em cima do seu cavalo, chamando a atenção de todos e pedindo para que espalhassem a informação de que haveria uma reunião no centro do acampamento.

Após reunirmos e agruparmos todos os soldados, repassamos a eles o plano e suas devidas funções. Um último discurso corajoso foi proferido por Dominic, e então partimos para nos posicionarmos no campo de batalha. A infantaria se posicionou ao comandos de Dominic no local estipulado, enquanto que a cavalaria rondava a área de combate com atenção e guarda alta. Por fim, os arqueiros já estavam bem posicionados em seus devidos locais a espreita no meio da mata densa. Ao chegar de Dominic com seu cavalo Maximus, a cavalaria tomou uma formação defensiva separada em dois grupos que ficaram posicionados à esquerda e à direita do campo.

— Ótimo! Agora vamos posicionar esses brinquedos aqui. — Olhei para Bhalasar que estava puxando sozinho, duas, das três Manganelas.

— Isso aqui tá uma molezinha! — Exclamou Bhalasar orgulhoso de sua incrível força física.

Após posicionarmos as Manganelas escondidas atrás das moitas e das árvores, havia chegado a hora de nós nos prepararmos para invadir. Logo as tropas inimigas iriam se mobilizar para atacar seus supostos agressores.

— Acho que essa é nossa deixa. — Sadreen girou sua lança cravando-a no chão em seguida.

— De fato, Dominic e seus homens vão ficar ocupados agora. — Assenti a ele com a cabeça. — Vamos! Temos que aproveitar esse momento enquanto a tropas inimigas estão com sua atenção voltada a outro alvo!

— Sim senhor! — Eles gritaram em uníssono, concordando.

Começamos a correr mata adentro seguindo em direção as ruínas das antigas muralhas que um dia cercaram aquele feudo. Estávamos chegando cada vez mais próximo do Miasma, e o ar logo começou a ficar denso e quase inalável, e mesmo com a benção ativa em mim, conseguia sentir o quão pesado era aquela névoa venenosa. Antes de prosseguirmos, parei aqueles dois, afim de não deixá-los entrar em contato com o Miasma.

— Não sei por quanto tempo vou conseguir manter a benção ativa em vocês, então vamos tentar ser o mais breve e rápido possível. — Canalizei a mana dourada em mim, e assim meus olhos tornaram a ficar dourados e intensos. — Fiquem próximos um do outro.

Ambos obedeceram minha ordem, e então estiquei minha mão aberta em direção a eles, deixando com que a mana dourada os envolvesse por completo. Eles ficaram surpresos olhando para si mesmos, enquanto a mana calorosamente circulava por seus corpos. Por fim, uma aura dourada ficou sobre suas silhuetas e uma pequena águia dourada se formou e se dissipou sob suas cabeças.

— Isso vai protegê-los por agora. Acredito que suas capacidades serão levemente melhoradas também. — Conseguia sentir uma ligação com eles devido à mana compartilhada, era como se eu soubesse que eles o estado de saúde deles.

— Vamos botar pra quebrar! — Bhalasar desengatou sua espada do gancho e passou por mim entrando no Miasma. — É possível! Está tudo conforme o planejado! Não tenho dificuldades em respirar!

Realmente eu podia sentir que eles estava falando a verdade devido a ligação que havia sido formada.

— Ótimo. Dito isso, prosseguimos! — Olhei para Sadreen que assentiu com a cabeça, entrando correndo no Miasma junto a mim.

Após ficarmos alguns poucos minutos vagando no Miasma, acabamos por encontrar a ruína da muralha que cercava o feudo, mas aquela em específico ainda estava de pé atrapalhando nosso caminho. Antes mesmo que pudesse falar qualquer coisa, ou pensar em um plano para contorná-la, Bhalasar simplesmente tomou a frente da situação, cravando sua espada no chão, estralando seus dedos em seguida. Com um sorriso confiante no rosto, ele desferiu um poderoso soco que explodiu como uma bala de canhão naval na parede, abrindo um buraco grande suficiente para passarmos por ele e atravessar a muralha. Eu e Sadreen ficamos olhando extremamente atônitos com o que tínhamos visto acontecer na nossa frente, e definitivamente, aquele homem era uma arma de cerco ambulante.

— Que foi? — Ele olhou para nós que estávamos sem reação com o que tínhamos acabado de ver. — Precisávamos de uma passagem, eu arranjei uma, ué!

— Acho que não é bem por isso que estamos surpresos Bhalasar. — Sadreen tentou explicar a ele com um sorriso sem graça.

— Vamos continuar, não podemos perder mais tempo! — Dei a ordem aos dois passando na frente e transpondo a muralha que cercava o local.

Seguimos cautelosamente envoltos pela névoa, passando por vielas e ruas entre as ruínas das antigas casas. Toda aquela névoa densa estava dificultando a nossa visibilidade sobre o local, o que deixava meu sentido de perigo em alerta, pois ruídos agressivos não faltavam ali dentro.

Com toda certeza, ainda existiam infectados dentro daquela área tomada pela névoa, e não demoraria muito para perceberem a nossa presença. Continuamos a caminhar pelas ruas sempre olhando para todos os lados e cobrindo nossas guardas falhas, até que em certo momento, nos vimos diante do que parecia ser uma fonte ornamentada de água, localizada no centro do vilarejo do feudo.

Faltava pouco para chegarmos ao castelo, então pouco a pouco íamos saindo da névoa e de trás das construções. As aberrações demoníacas começaram a aparecer com seus altos grunhidos e olhos vermelhos brilhantes.

— Parece que teremos companhia. — Comentou Sadreen ao aproximar suas costas nas minhas. — Algum plano Lorde Magnus?

— Acho que não morrer já é um ótimo plano! — Comentei por cima de sua pergunta em uma resposta sarcástica. Estávamos cercados e logo foi à vez de Bhalasar encostar suas costas nas nossas. — Escutem. Eles já não são mais humanos, já não existe mais consciência, são apenas seres que não puderam descansar em paz como deveriam. Coloquem isso em mente e façam o melhor que puderem para colocá-los em seus devidos lugares... No chão.

— Tá valendo cortar a cabeça? — Bhalasar sorriu maldosamente mostrando seus poderosos caninos. — Façam como acharem melhor. — Saquei minha espada que logo começou a brilhar sua lâmina.

— Entendido... — Bhalasar desengatou sua Zweihänder das costas segurando-a com as duas mãos.

Sadreen por suas vez girou sua lança deixando-a apontada para seus oponentes que não paravam de se aproximar. O clima ficou denso e pesado naquele lugar, respirávamos de forma controlada, mas dava para perceber certo nervosismo devido à complexidade da situação. Até para Bhalasar eram muitos inimigos de nível complicado para se enfrentar sozinho. Querendo ou não, a magia demoníaca era algo extremamente perigoso, e minha última lembrança, quanto a isso, não era nada agradável. As expressões das aberrações ficaram cada vez mais raivosas, até que finalmente um dos monstros pulou para cima de Sadreen, que rapidamente o empalou em sua lança, o jogando para longe de nós.

Esse foi o gatilho que precisavam para atacar, fazendo com que os monstros viessem com ferocidade pra cima de nós. Bhalasar não hesitou nem por um segundo e logo brandiu sua espada na horizontal, acertando cinco deles que foram mandados para longe de nós. Três daqueles monstros tentaram me atacar, mas consegui me esquivar de suas investidas rolando para trás de um deles que teve sua cabeça perfurada por minha espada.

Rapidamente coloquei meu pé sobe as cotas do ser demoníaco puxando minha espada que estava cravada em seu crânio, e em seguida, efetuei um ataque contra o segundo que teve sua cabeça decapitada. O Terceiro teve seu peito atravessado pela lança de Sadreen, e logo foi mandado para longe acertando outras quatro aberrações que estavam vindo em nossa direção nos atacar.

— Eles são muitos! — Gritou Sadreen ao girar sua lança, decepando a cabeça de outro monstro. — Precisamos ganhar vantagem! Não vamos conseguir ganhar aqui, mesmo que lutemos o máximo que conseguirmos!

— Sadreen tem razão! Precisamos usar a cabeça! — Bhalasar gritou com toda sua fúria cravando sua espada no chão, criando uma onda de choque que derrubou nossos inimigos ao redor. — Nem acredito que sou eu falando isso!

— Esperem. — Observei ao redor e percebi que poderíamos tentar nos afastar deles se conseguíssemos correr para dentro do castelo. Mas para isso precisaríamos que algo abrisse caminho para nós. — Eu tive uma ideia! Mas vamos precisar de algo grande pra abrir caminho!

Os inimigos começaram a se levantar, e olhando para cada um deles cuidadosamente, percebi que somente aqueles com a cabeça decepada não haviam levantado, foi então que uma rápida memória veio a minha mente, quando Miyuki cortou a cabeça do líder daquele primeiro grupo demoníaco que havíamos enfrentado.

— Bhalasar! Sadreen! Eles não podem regenerar se cortarem a cabeça! — Eles se entre olharam e então assentiram com a cabeça entendendo o que havia dito. — Continuem cortando as cabeças deles! Eles vão morrer na hora se fizermos assim!

— Entendido!!! — Gritaram eles ao avançar para cima de alguns monstros, sempre focando na altura de seus pescoços com brutalidade.

“Ótimo, agora eu posso focar no plano”

Corri em direção aos meus inimigos deixando minha benção tomar conta da lâmina, que brilhou intensamente ao brandir de minha espada, cortando a cabeça de todos os meus inimigos que tentaram me atacar. Entre esquivas, giros e cortes, eu finalmente havia derrubado os inimigos que eram da minha responsabilidade. Descido do correr até uma das casas próxima a nós que ainda tinha a sua porta intacta arrombando-a com um chute forte.

— Ah... Isso vai ter que servir! — Olhei para Bhalasar que havia agarrado a cabeça de uma das aberrações, explodindo-a ao jogá-lo no chão com toda sua força. De fato aquilo havia sido extremamente brutal, e o sorriso em seu rosto só deixava aquela cena ainda mais questionável — Bhalasar!!! Aqui!!!

— A caminho!!!! — Ele olhou para mim e de forma imediata correu até onde eu estava empurrando e atropelando qualquer um que estivesse na sua frente. Nesse momento eu me perguntei qual iria ser a utilidade da porta já que o próprio Bhalasar estava ali.

— Aqui! Peguei essa porta! Vamos usá-la como escudo. — Iniciei minha explicação para ele. — No momento em que formos invadir o castelo mantenha ela na nossa frente e na horizontal! Vamos correr o mais rápido que pudermos para empurrar quem quer que esteja na nossa frente. Vamos conseguir abrir caminho assim!

— Saquei... — Ele pegou a porta a colocando-a sobre o ombro. — Vamos colocar o plano em prática então!

Mais uma vez corremos para encontrar com Sadreen, que estava realmente muito empenhado em seus abates. Entre giros, acrobacias e empalamentos, sua lança parecia extremamente letal sob o controle de suas hábeis mãos.

— Consegui ganhar mais algum tempo para nós! O que? Vocês encontra... Uma porta?! — Eu e Bhalasar nos entre olhamos sorrindo ao ouvir o tom de surpresa de Sadreen.

Puxei minha faca da cintura cravando-a com força na superfície de madeira daquela porta, e em seguida Bhalasar fez o mesmo com sua faca. Dessa forma eu e Sadreen conseguimos erguer a porta pelas empunhaduras das facas, e por sua vez, Bhalasar posicionou suas mãos na madeira. Enquanto eu e Sadreen íamos sustentar a porta, Bhalasar ia usar sua força para empurrar para frente nosso escudo improvisado.

— Prontos!? — Gritei posicionando minhas pernas para começar a correr.

— Vamos derrubá-los! — Gritou Bhalasar ao me mostrar seu polegar.

— As suas ordens meu Lorde! — Sadreen segurava com firmeza a empunhadura.

— Ao meu sinal!!! — Os alertei deixando-os prontos para começar a correr. — Eles fixaram seus olhos no trajeto, que já estava se enchendo de mais infectados demoníacos. — 1... 2... 3... AGORA!!!

Começamos a correr com um poderoso grito em uníssono, acelerando nossas passadas a cada segundo que se passava. Bhalasar empurrou a porta com tanta força que chegou a envergar no meio entre as duas extremidades. Logo acertamos o primeiro monstro que foi empurrado sem qualquer chance de agir com o impacto de pressão da porta. E assim permanecemos até atingir o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto. E rapidamente já havia um monte deles sendo empurrados por nós. Bhalasar usou toda a força que podia em seus braços, e logo que passamos pela ponte de pedra que cruzava o rio, ele ergueu a porta jogando todas aquelas aberrações para dentro da água. Arrancamos nossas facas da porta e então as guardamos em suas bainhas. Todos nós estávamos ofegantes com o que havia acabado de acontecer. Sadreen se apoiou na mureta de proteção da ponte, que levava ao ponto mais elevado daquele lugar onde o castelo estava construído. Bhalasar por sua vez cravou a sua enorme espada no chão, se apoiando na mesma para descansar.

— Não vamos ter muito mais tempo aqui. Mais deles logo vão aparecer. — Ouvindo-o me sentei no chão com a mão sobre meu ombro que havia ficando um tanto lesionado. — Temos que seguir, nossos companheiros podem não suportar por tanto tempo contra essas coisas no campo de batalha.

— Minhas expectativas estão baixas. Não estou preparado para isso. Vou levar esse erro como aprendizado. — Comentou Sadreen ao sair de perto da mureta e se aproximar de mim, estendendo sua mão para que eu me levantasse.

— De fato. É um belo aprendizado. — Peguei em sua mão, e no mesmo instante, ele me puxou para cima fazendo com que ficasse de pé.

— Agora só precisamos invadir o castelo e dar um fim nisso! — Bhalasar engatou sua espada no gancho nas suas costas para guardá-la.

Guardei minha espada na bainha observando o caminho que levava até o castelo de onde todo aquele mal tinha sua origem. Era o momento final de nosso plano de assalto, tínhamos que chegar até o topo daquele castelo antes que nossos companheiros morressem.

O castelo era todo erguido com grandes blocos de pedra que estavam desgastados pelo tempo. Havia grandes torres ao redor de suas extremidades onde seus paredões eram cheios de Ameias e Merlões. Os Mata-cães estavam estrategicamente posicionados em seus devidos lugares acima dos enormes portões, mas estavam inúteis já que não havia ninguém para utilizá-los. A Torre de Menagem do castelo estava posicionada em sua parte central, e lá era o nosso grande objetivo final de todo aquele plano de invasão. Estávamos diante de uma verdadeira fortaleza militar abandonada pelo tempo, mas mesmo após tanto tempo a mercê e sem manutenções, era uma verdadeira e fortificada fonte de defesa e proteção para quem quer que esteja lá dentro.

As bandeiras, que antes existiam balançando nos topos das torres, agora estavam rasgadas, queimadas e destruídas, deixando apenas a imagem macabra de um local abandonado. A região em volta estava mórbida, com sua fauna e flora completamente afetada por aquele Miasma, e olhando mais atentamente para o castelo enquanto nos aproximávamos, percebi que ele havia sido construído em um local a beira de um precipício que dava para o enorme oceano ao fundo. O Fosso do castelo era o próprio local onde havia sido construído, e o único jeito de acessá-lo, era passando pela ponte que interligava o local onde estávamos a ele.

— Bem que eu tinha achado esquisito não haver qualquer Barbacã por aqui. — Comentei observando aquela estrutura de longe. — Eles não precisam. E agora entendo o porquê de terem escolhido justamente esse lugar.

— Eles foram espertos! Vai ser difícil sair daquele lugar! — Bhalasar pisou em uma pedra, e logo apoiou seu braço sobre seu joelho, enquanto observava o horizonte com aquele castelo ao fundo.

— Os Algardianos continuam jogando sujo, mesmo de forma indireta. Tem alguma ideia sobre o que poderemos fazer Lorde Magnus? Acredito que podemos sair por onde entramos, mas precisaremos ser bem mais rápidos do que estávamos planejando ser. — Sadreen cravou sua lança no gramado morto e então cruzou os braços.

— Quando olhei esse castelo pela primeira vez no horizonte pensei ser apenas uma fortaleza mal construída em cima da colina. Mas a verdade é que estava sendo enganado por uma ilusão de ótica, seguido do que ainda não havia conseguido enxergar. – Peguei o mapa cartográfico da região em que estávamos de dentro de uma das minhas bolsas táticas. O observei atentamente, mas percebi que de fato, estava faltando essa parte da região em específico. — Muito provavelmente, ninguém conseguiu ir tão longe quanto nós para poder registrar essa informação no mapa. Vamos ter que nos virar do jeito que conseguirmos.

Diante de nós, estava a extensa ponte que levava ao castelo onde a fonte de todo aquele mal estava. Não tínhamos escolha, afinal de contas, já havíamos chegado muito longe, para agora, simplesmente desistir.

— Vamos fazer isso. — Guardei o mapa novamente enquanto olhava fixamente para nosso alvo.

— Pensou em alguma coisa Lorde Magnus? — Bhalasar olhou de canto de olho para mim enquanto abria um pequeno sorriso lateral.

— Sim. Vamos entrar, fazer o que temos que fazer e dar o fora daqui! — A verdade era que eu estava preocupado, pois não sabia por mais quanto tempo poderia manter a benção neles, e não poderia deixar a coragem deles ser abalada. E por esse motivo o tempo que permaneceríamos naquele local deveria ser o mais breve possível.

— É desse jeito que eu gosto. — Bhalasar olhou para Sadreen mostrando seus caninos anormais, que retribuiu assentindo a cabeça.

Logo nos colocamos a correr por aquela ponte em direção a porta principal do castelo, pois não teríamos outra escolha além de entrar da maneira mais convencional. Fazendo um pequeno “Toc, Toc” na porta da frente. Assim que chegamos diante as enormes portas duplas, Bhalasar assumiu a frente enquanto olhava para elas minuciosamente.

— Aaaaoooh de casa!!! Tô entrando!!! — Usando de sua poderosa força bruta, Bhalasar ergueu suas greva em um poderoso chute frontal que arrombou por completo aquela porta dupla. — Com sua licença! O Draconiano chegou!!!

Entramos prontos para sermos recebidos por alguns inimigos, mas pra nossa surpresa, isso não aconteceu. O clima estava pesado, pois tudo era muito sombrio e escuro ali dentro, e mesmo em meio aquele vazio, algo estava me deixando com uma péssima sensação de que não estávamos sozinhos. Algo parecia estar nos observando das sombras, ouvindo nossos passos e nos seguindo com os olhos.

— Mantenham a guarda alta. Isso não está me cheirando muito bem. — Os alertei enquanto seguíamos a diante naquele enorme saguão.

— Se pra você não tá cheirando bem. Imagina para mim, com meu olfato de dragão? Tem algo realmente podre aqui dentro! — Exclamou Bhalasar cobrindo parcialmente seu nariz. — Nunca tinha sentido um cheiro tão desconfortável assim antes!

Um ruído alto foi ouvido naquela sala, como se alguém tivesse chutado um pedra solta. Rapidamente nos juntamos cobrindo as costas uns dos outros em alerta quanto aos próximos acontecimentos ali dentro.

— Pelo jeito não somos os únicos aqui dentro. — Comentou Sadreen logo atrás de mim.

— Mantenham seus olhos abertos! Não sabemos com qual tipo de demônio poderemos estar enfrentando aqui!

Os ruídos continuaram com mais intensidade, até que finalmente uma macabra risada feminina ecoou pelas paredes daquele salão principal. Aquele ser misterioso parecia estar em todos os lugares, pois era impossível dizer com clareza onde estava. As risadas continuaram a serem ouvidas com mais frequência, e aquilo me deixava extremamente arrepiado.

— Por que tanto medo rapazes? Sintam-se em casa. Eu vou fazer algo bem marcante pra vocês. — Havia malícia naquelas frases, e claramente uma intenção assassina ecoou por toda a extensão daquele castelo. — Eu prometo que vou fazer vocês se sentirem em casa.

— Belas palavras para alguém que se esconde nas sombras! – Gritou Sadreen empunhando sua lança. — Não terá nossa misericórdia criatura vil!

— Aii! Mas que garotinho maldoso. Eu sei que sou uma menina muito má. Se você me pegar eu deixo você me punir a vontade. — Suas falas continuaram intensas e maliciosas, em uma clara tentativa de seduzir qualquer um de nós. Suas risadas provocativas continuavam uma após a outra em meio à escuridão.

— Então é assim que consegue suas vítimas? Que forma nojenta e promíscua de se viver. — A enfrentei sem medo de suas tentativas ávidas.

— Olha só... Você é bem atraente, o que acha de me conhecer melhor? Qual é o seu nome? Não quer falar no meu ouvidinho? — Mais ruídos de pedras e outros utensílios se espalharam por todos os lugares. Ela estava nos cercando, colocando uma pressão psicológica que poucos conseguiriam suportar ali dentro.

— É melhor aparecer! Caso contrário iremos completar nosso objetivo com ou sem você! – Gritou Bhalasar em uma cartada final.

— Ahn! Um homem grande, alto... Forte e musculoso. Eu adoro quando me agarram com força! — Um sorriso seguido por um grande par olhos apareceu em meio a escuridão na nossa frente. A cor de sangue em suas íris fez com que sentisse um tremendo arrepio por toda extensão de meu corpo, enquanto que em seu sorriso maldoso, seus caninos anormais haviam deixado bem claro para todos nós a natureza da criatura que iríamos enfrentar naquele momento. — Sejam bem vindos a minha residência. Como eu posso servi-los?

Após terminar suas falas, todas as velas e tochas daquele lugar se ascenderam, uma seguida da outra em um único estalar de dedos. Tudo então se iluminou em nossa volta, deixando bem claro para nós a situação horrível em que aquele lugar realmente se encontrava. Entre as pilastras do saguão havia pilhas de membros humanos decepados, paredes tingidas com sangue estavam em todos os lugares, além de corpos mortos, deitados no chão ou em cima do que pareciam ser camas médicas.

— Ah merda! Isso explica o mau cheiro!!! — Bhalasar olhou tudo aquilo horrorizado colocando seu antebraço acima do seu nariz. — Não. O mau cheiro que sinto não vem desses corpos. É aquela mulher que exala esse cheiro!

— Obrigada pelo elogio grandalhão! — Estava deitada de forma provocante sobre o que parecia ser um altar. Suas expressões não paravam de transpassar uma eterna frieza e crueldade vinda daquele monstro. Sua pele pálida e cabelos brancos se destacavam em meio aos fortes tons de vermelho do seu vestido. Chifres pontiagudos cresciam sobre sua cabeça, enquanto que asas e uma cauda cresciam em suas costas. Ela então se levantou, sentando-se diante de nós cruzando suas pernas de uma maneira exagerada. — Meu nome é Ignis Scarlet. A demônia caçadora de almas. Meninos... Eu não sei se vocês sabem, mas essa aqui é a propriedade de meu mestre. O senhor Algardia não vai ficar nada feliz com vocês aqui.

— Então você trabalha para aquele ser imundo. — A indaguei colocando minha mão sobre o pomo da minha espada. — Então ele realmente teve coragem de fazer acordo com criaturas malignas como vocês. Realmente vocês se merecem.

— Espere aí. — Ela inclinou sua cabeça colocando sua garra sobre seus lábios. Seus olhos se arregalaram e então um enorme sorriso cresceu em sua boca. De forma assustadora, Ignis pulou de onde estava vindo ficar frente a frente comigo. — Você não é o príncipe Magnus de Eldoria? Ah que surpresa deliciosa!!! Foi um prazer controlar os monstros que destruíram a sua casa sabia?!

— MALDITA!!! — Gritei com raiva ao tentar acertá-la com o saque rápido da minha espada. Porém ela se afastou de forma acrobática para trás. — Você vai cair junto com aquele monstro e seu império amaldiçoado!

— Calma, filhotinho perdido. Não tenho como lutar contra os três mesmo no meu estado atual... — Ela então sorriu ao nos observar de longe enquanto ficávamos em guarda esperando sua próxima ação. — A vitória é de vocês hoje. Não pensei que seria pega desprevenida desse jeito! Mas surpresas acontecem. Até uma próxima vez, Magnus Wingsfield.

As luzes rapidamente se apagaram, e então quando voltaram a ficar acesas a demônia já não estava mais presente.

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