O Segredo no Luar Brasileira

Autor(a): Moonlight Valley


Volume 1

Prólogo: Lua Nova

 

Estava escuro, não era possível enxergar muito bem, mas Luna se encontrava nesse ambiente estranho. Era um pequeno quarto com paredes mal rebocadas que apresentavam rachaduras, juntamente com concentrações de mofo e teias de aranha em algumas regiões.

Ela começou a despertar, mas como estava desorientada, caiu novamente no chão frio e sujo. Sua mente estava confusa, não conseguia raciocinar direito, nenhuma imagem se formava, se assemelhava mais a ondas do mar bagunçadas com várias cores.

— Socorro! — Luna gritou em desespero, seguindo seu subconsciente que dizia que algo estava errado.

Com os braços ainda fracos e as pernas bambas, ela tentou se levantar novamente, tendo dificuldades para ficar de pé. Lentamente, conseguindo recobrar a consciência, ela tentava se lembrar do que estava fazendo naquele lugar desconhecido. Porém sua memória estava turva, não se recordava nem do que havia acontecido na manhã do dia anterior.

O sol enfim começou a levantar-se, fazendo com que sua luz penetrasse pela única e pequena janela que se encontrava no topo de uma das paredes, com barras de metal parcialmente enferrujadas. Deixando a sala um pouco iluminada, era possível ver uma porta de ferro no fundo do quarto. Luna então andou em um ritmo devagar até a porta e começou a bater com toda força que possuía naquele momento.

— Socorro! Alguém! — ela gritava, porém, ninguém respondia.

Depois de gritar por meia hora, ela se cansou, e desistiu. Se sentou em um dos cantos do quarto, com a cabeça baixa e segurando os joelhos. Sua farda estava suja e um pouco rasgada. Ela estava começando a ficar com fome, contudo, sua frustração e medo a impedia de sentir qualquer outra coisa.

De repente, ela começou a ouvir vozes vindas de fora, se aproximando do quarto.

— Mas, tem certeza?

— Tenho, confie em mim.

Era possível ouvir o som das chaves destrancando a fechadura. A porta então se abriu com um barulho estridente de metal rangendo. Dois homens, um grande e outro mais magro, entraram no quarto. Eles olharam para Luna com um olhar de psicopatia, o que a deixou mais assustada ainda. Uma intenção assassina cobria o lugar inteiro. Não havia para onde fugir.

— Então, garotinha, chegou sua hora…

— Ei, não a mate ainda. Seria um desperdício, não?

— Verdade, o que faremos com ela então?

Os dois homens começaram a se aproximar. Seus olhos cheios de desejos refletiam no que iria acontecer com Luna. A garota, ainda no chão, tentou se afastar.

— Ah, você não vai não! — disse, agarrando seu braço com força, a machucando e a impedindo de fugir. O outro homem agarrou suas pernas, a puxando.

— Vem cá, gracinha!

— Nã… — Antes que pudesse gritar, o primeiro rapaz tapou sua boca. Pressionou seu braço contra o chão e, com o pé, pressionou o outro, dando brecha para o segundo homem começar a apalpar seus seios.

Os dois sorriam com isso. Em suas mentes, estavam felizes que poderiam se “aliviar”. Porém, para Luna, tudo que ela sentia era medo.

Seu coração se acelerou e sua respiração se ofegou. Ela tentou se soltar, porém, sem sucesso. Era inútil. Não era forte o suficiente, e por isso estava desesperada.

— Caladinha, não vai doer nada…

Lágrimas escorreram de seus olhos, e, em lamento, aceitou seu destino.

No entanto, quando um deles olhou para trás, sua expressão mudou. Tentou chamar a atenção do seu comparsa, mas ele não ligou, até que, subitamente, foi jogado contra a parede lateral com um chute que atingiu a região da costela.

— O que pensam que estão fazendo, seus idiotas! — gritou outro homem que havia acabado de entrar no lugar.

Esse era maior e visivelmente muito mais forte do que os dois. Pelo ar de superioridade que emitia, percebia-se que ele estava em uma posição mais alta.

— N-nós apenas estamos seguindo as ordens do chefe…! — disse o cara mais magro.

O homem então o pegou pelo pescoço e o levantou, como se fosse nada.

— Vocês por acaso têm merda no lugar do cérebro? O chefe falou claramente para deixá-la viva e intocada!

— E-e-eu tentei avisá-lo, senhor, mas ele não me escutou…

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, o outro idiota foi jogado para trás subitamente por um soco na cara, o qual foi tão rápido que, normalmente, não era possível desviar.

— Vocês cometeram um grande erro e quase desobedeceram às ordens do chefe, agora terão que pagar com suas vidas! 

— Perdoe-nos, f-fomos ignorantes… — suplicou um dos subordinados, que agora estava pálido de medo ao ver seu companheiro caído com a cara desfigurada.

Sem esperar mais desculpas, o agressor começou a puxar uma energia concentrada que parecia sair de dentro do seu corpo, começando a queimar as pernas do subordinado suplicante. Suas mãos emitindo chamas que saíram dessa energia mística tornavam o ambiente um espetáculo horrível de agonia. Os gritos ecoavam, o fogo devorava a carne, transformando-a em cinzas. A cena era macabra e aterrorizante, deixando o ar com um cheiro forte de queimado.

Luna, testemunhando aquela brutalidade, não suportou e vomitou no chão já manchado pelo sangue dos homens torturados. Era uma visão traumática e perturbadora, que estaria presente em sua memória.

— F-fique longe… — Luna gaguejou assustada, com as mãos na cabeça em uma tentativa de cobrir seus ouvidos para não escutar os gemidos de dor das vítimas em sua frente.

— Não se preocupe, não a mataremos por agora. O chefe tem outros planos para você. 

O homem então saiu do quarto, puxando consigo o outro subordinado que estava jogado no chão com o rosto inchado. A porta se fechou com um estrondo.

Luna ainda estava em choque. Uma cena horrível acabara de passar diante de seus olhos. Com isso, ela começa a lembrar da época em que era ainda apenas uma garota normal.

Tudo começou após entrar no Ensino Médio em uma nova escola. Ela reencontrou velhos amigos e fez novas amizades, entrou em um clube e se divertiu bastante com seus colegas, até que aquele fatídico incidente ocorreu, fazendo sua vida mudar completamente. Luna teve que manter segredo de seus colegas sobre os perigos que enfrentava, mas, pelo menos, tinha o apoio de amigos próximos que também estavam em meio ao caos.

Com o passar das estações, Luna se encontrava cada vez mais em perigo, ao ponto em que não havia mais lugar algum para se esconder e viver em paz. Seu pai, com a ajuda de pessoas de confiança, tentava ao máximo protegê-la das ameaças. Contudo, o inimigo era forte, e, por causa de um pequeno deslize, ela foi parar nas mãos daquele contra o qual era protegida.

Quanto mais relembrava de sua vida corrida, porém pacífica no passado, mais tristeza e saudade de seus entes queridos ela sentia. Seu peito apertava enquanto suas esperanças iam embora. Luna só podia esperar seu trágico fim: o que quer que o tal ‘chefe’ havia reservado para ela.

Dois dias depois, ainda confinada, a garota já se via sem esperanças. Até que, de repente, a porta pesada de metal enferrujado se abriu mais uma vez…



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