Volume 1
Capítulo 14: O Jeito que uma Certa Garota Fera foi Quebrada (2)
“Minaris, e Maris. É verdade que vocês são ambas coelhomens?”
Ela não conseguia compreender as palavras que ela havia acabado de ouvir.
“Eu perguntarei de novo. É verdade que você, mãe e filha, são beastmen?”
As palavras faladas mais uma vez pelo ancião da vila penetrou a cabeça vazia dela.
(Porqueporqueporqueporque!? Eh, por que repentinamente disse isso!?)
O que preencheu a mente rodopiante dela foi uma tempestade de questões. Ela não conseguia processar a informação. Ela não conseguia entender o que estava acontecendo. Com seus pensamentos em desordem, a garota instintivamente se virou para sua mãe como que para pedir por ajuda.
Sua mãe tinha uma expressão sombria. Parecendo como se ela tivesse chegado à algum tipo de decisão, ela liberou a ilusão que estava constantemente conjurada em si mesma.
Os aldeões se partiram simultaneamente, e o olhar em seus olhos mudou em um instante.
Era o mesmo olhar que eles dariam aos muitos corpos de goblins que eles exterminaram.
Aqueles olhares estavam concentrados nelas pelos aldeões que haviam, até ontem, tratado elas intimamente como família.
“M-mãe…”
Ouvindo às palavras que mudavam uma após a outra, a confusão na cabeça dela aumentou em um passo acelerado.
Ela olhou para cima estonteada. Os olhos do chefe da vila tinham um olhar frio que ela nunca havia visto antes até agora, e eles estavam cheios de desprezo.
… Assustador.
Este terror ofuscou o Goblin de Gelo que ela confrontou ontem; aqueles olhos eram assustadores.
“Como vocês podem ver, nós somos coelhomens. Me desculpem por ficar quieta sobre isso.”
Vendo a figura de sua mãe, que havia sido jogada no chão vazio, dizendo isso com sua cabeça abaixada, ela finalmente entendeu que os aldeões estavam direcionando olhares maldosos para ela.
“Então o que Lucia nos contou era verdade…”
“Eh? Lucia contou!? Isso… vocês estão mentindo!!”
Lucia havia prometido ontem. Ela havia dito que ela manteria isso um segredo.
Ela olhou nos arredores, querendo ser dita que isso era uma mentira. Seus amigos de infância estavam entre os 15~16 aldeões.
Contudo, aquela que ela estava procurando não estava ali.
Olhando para cá como se ele estivesse olhando para lixo, estava seu outro amigo de infância, Keril. E então, tentando se abraçar próxima dele, espalhando fofoca sem ser vista pelo garoto, estava a figura de Lucia.
“Por… que…? Você não disse que você manteria isso um segredo!!”
“Eep!! Keril…”
Quando a garota espontaneamente gritou, Lucia se pendurou em Keril enquanto colocava uma fachada assustada.
“Lucia, está tudo bem, então se acalme.”
Dizendo isso, Keril afagou as costas de Lucia gentilmente e então encarou a garota com um olhar ainda mais duro.
“Oy, não atormente mais do que isto a Lucia!! Eu não consegui acreditar nisso quando eu ouvi primeiro, mas você realmente é a pior!! Eu julguei errado você!!”
“O que? Só o que…”
“Não se faça de besta!! Eu ouvi tudo da Lucia!! Você sempre esteve atormentando ela!! Ela chorou, dizendo que você ameaçou ela em silêncio com esse poder de beastman seu.”
“Mah…”
Ela percebeu que suas palavras haviam na verdade cessado, que ela havia ficado sem palavras. Ao invés de sua voz, seus pensamentos haviam parado como se a própria existência de palavras dentro de sua mente havia desaparecido.
“Chefe da vila, eu não ligo com o que aconteça comigo, contudo, por favor… você não por favor poupará esta criança? Ao menos, até que esta criança alcance seu 18º aniversário…”
Durante isso, Maris abraçou sua filha com sua cabeça abaixada. Maris havia decidido fazer isto ontem quando ela ouviu a história de sua filha. Sua filha seria incapaz de fugir da vila enquanto levava ela, no que ela tinha uma constituição fraca. Contudo, ela claramente entendeu que sua filha nunca iria, não importa o que ela dissesse, deixar ela para trás para escapar. Logo, Maris freneticamente curvou sua cabeça pelo bem de sua filha.
“Por favor, de algum modo…”
“Pare de brincar!! Esta fera imunda!!”
O que Maris encarou em resposta foram palavras abusivas e pedras pegas do chão.
“Isso mesmo, pare com as brincadeiras!!”
“Você esteve nos enganando este tempo todo, que nojento!!”
“Um animal não deveria estar imitando outras pessoas!!”
Assim que a primeira pessoa começou, insultos cortantes e pedrinhas continuaram a chover incessantemente nas duas.
“Por favor, apenas esta criança…!?”
“Mãe!!”
Uma rocha grande até misturada com as pedrinhas que vieram voando atingiu Maris na testa, fazendo ela sangrar.
A garota reflexivamente cobriu sua mãe como que para protegê-la.
A ilusão na garota também foi liberada entre o caos extremo, e sua cauda e orelhas apareceram. Ainda assim, a garota simplesmente continuou a proteger sua mãe.
A mãe da garota foi mais uma vez afetada por uma epidemia e conseguiu se recuperar de algum modo, mas ela perdeu a tenacidade física de um beastman e se tornou uma mera sombra de seu eu passado. Ela estava enfraquecida ao ponto onde ela seria ferida por ter pedras jogadas nela por aldeões comuns sem experiência de treino nenhuma.
“Parem, parem com isso todo mundo, PAAREEEM!!”
O pranto da garota ecoou pela praça da vila, mas ele foi reprimido com uma onda de zombarias.
“Calada, a cria de um monstro devia ficar quieta!!”
“Não fale com as palavras dos humanos, sua besta.”
“Morra, por que você está viva, ande logo e morra de uma vez!!”
Creak, crack. Ela entendeu que uma fissura negra estava se formando em seu coração. Parecia que ela estava sendo atingida com a estaca pontuda de antes.
Por que? Qual a razão? Não, isso dói; o coração dela dói mais que seu corpo.
Quando ela olhou ao redor de sua posição agachada, ela viu Keril jogando pedras em apoio dos aldeões, sem mencionar ainda encarando ela com um olhar intenso. Ela também viu Lucia segurando na manga de Keril enquanto se escondia atrás dele para que ele não pudesse ver o sorriso caçoador, distorcido no rosto dela.
E então sua cabeça, corpo e coração finalmente entenderam.
Ela havia sido traída. Ela havia sido traída, ela havia sido traída, ela havia sido traída, ela havia sido traída!!
“Por que, por que…”
Lágrimas surgiram. As pedras chovendo no corpo dela haviam enfiado uma cunha no coração rachado dela. Logo antes do coração dela ter quebrado completamente, o momento da chuva de pedras parou.
“Sobre o que é esta comoção!?”
Aqueles que apareceram eram os homens da vila.
Os homens pareciam ter retornado de sua expedição mais cedo que o previsto, e apesar de não ter sido muito, eles trouxeram com eles alguma carne de caça.
“Pa… i… sniffle Pai!!”
Apesar de sua visão ter ficado turva com lágrimas, ela ainda viu seu pai entre as pessoas que retornaram.
A garota se sentiu reassegurada; ela seria salva com isto. Seu pai era um homem influente na vila e era esperado de ser o próximo chefe.
Alívio inflou dentro dela quando ela viu ele discutindo algo com os aldeões.
Ah, ela estava certa que seria salva com isto…
“Vocês estão errados!! Eu não tenho nada a ver com isto, eu não sabia!!”
「 」
Quando ela se virou, seu mundo havia ficado de ponta cabeça. Estava distorcido e desmoronado.
“Eu fui enganado por esta mulher!! Maldita seja esta beastman imunda.”
Seus ouvidos ficaram surdos. Seus olhos perderam a visão. O nariz dela era inefetivo. Ela não conseguia sentir nada.
“O que é isto. Eh? O que… é isto…”
Kashan. No fim, ela sentiu como se ela tivesse ouvido o som de algo quebrando.
Então, o mundo da garota desmoronou completamente.
☆
Quando ela voltou a si, a garota estava sendo sacudida pelo vagão de um comerciante de escravos. Em seu mundo escuro, ela levemente recordou ser vendida por uma merreca pelo ser que ela pensava ser seu “Pai”.
A razão pela qual a garota recobrou sua vontade apesar de estar na beira de se tornar uma aleijada era por causa da presença de sua mãe ao seu lado.
Um casal de mãe-e-filha beastmen, elas não esperavam um tratamento decente mesmo como mercadoria.
As refeições que lhes eram dadas era claramente inferior à dos outros escravos. Elas eram chicoteadas e abusadas sem razão ou motivo. Elas eram forçadas à usar a água suja depois que os outros haviam se banhado, ou até chutadas e chamadas de “fedorentas” e “sujas” sem receber uma chance de banhar.
Usando a desculpa delas sendo beastmen, e então tendo a habilidade física superior, elas foram acorrentadas ao vagão se movendo e obrigadas à correrem enquanto eram arrastadas juntas.
A sensação de não querer virar um peso para sua enfraquecida mãe era a única coisa que sustentava o espírito esmagado da garota.
Contudo, não importa o quanto a garota tentasse evitar incomodar sua mãe, não era nada mais do que jogar água em uma pedra quente. A mãe da bela garota ficou desgastada como se tivesse sido preenchida com uma raspa.
O comerciante de escravos escolheu a mãe da garota como um sacrifício.
Dizendo, “as beastmen estão sendo atormentadas“, e “elas recebem tratamento pior que vocês“, ele fez uma demonstração delas para deixar os outros escravos desabafarem.
Assim como o comerciante de escravos esperava, os outros escravos riram quando eles viram elas.
Eles assistiram a garota sendo chicoteada, assistiram a mãe sendo erguida pelo seu cabelo, e assistiram as duas sendo arremessadas com um chute nas costas. Eles riram, como se eles estivessem assistindo uma peça interessante.
Foi meio ano após a garota ter sido comprada pelo comerciante de escravos; quando elas estavam no meio do caminho para a capital real, a mãe da garota se tornou incapaz de se mover.
O mundo da garota se tornou vazio mais uma vez, e ela caiu neste mundo vago.
Ela parou de ligar sobre lama ser misturada à sua comida. Ela se tornou indiferente para as chibatadas e abuso. Ela também perdeu a motivação para resistir quando eles cobriam ela com lama e chamavam isso de banho.
“Tch, então ela quebrou. Frágil apesar de ser uma beastman, nossa. Há nobres que gostam deste tipo de coisa, então não há esperança para o futuro dela, sério.”
A garota simplesmente olhou para a visão do comerciante de escravos com olhos vagos.
“De qualquer jeito, sua mãe foi e morreu por vontade própria. Por que eu tenho que perder o dinheiro de compra por vocês beastman, droga.”
Com um choque, os fragmentos quebrados reagiram às palavras do comerciante de escravos.
(Por que…?)
A questão subiu, como veneno gradualmente surgindo.
(Por que? O que eu fiz de errado? Desde quando eu estive errada? O que eu devo fazer para tornar isso melhor?)
As questões que começaram a transbordar de uma vez como se jorrando fizeram o entulho que perdeu sua luz mudar para um magma gosmento.
(De quem é a culpa? Por que eu estou aqui? Quem sou eu? O que eu estou tenho que fazer aqui? O que é esta sensação?)
Os fragmentos que restaram todos viraram magma.
Magma que se tornou uma forma deturpada, deformada, grotesca, como que se revirando, como que se torcendo ao redor, como que sacudindo.
E então o coração reformado só tinha uma emoção genuína.
“Ah, eu… quero quebrá-los.”
Assim que ela reconheceu as palavras que ela inconscientemente soltou, a emoção congelada veio jorrando adiante.
Era ódio.
Ódio, ódio, ódio, ódio, ódio, ódio, ódio, ódio, ódio. Apenas ódio.
Eu odeio Lucia, eu odeio Keril, eu odeio aquele que era meu pai, eu odeio o chefe da vila, eu odeio os aldeões.
Eu odeio o comerciante de escravos que fez uma piada de mim e minha mãe, eu odeio os escravos que riram de nós quando nós estávamos sendo ridicularizadas pelo comerciante de escravos.
Eu gostaria de torturar, eu gostaria de machucar, eu não perdoarei eles, eu gostaria de quebrar, eu gostaria de torcer, eu gostaria de arrancar, eu gostaria de tirar fora, eu gostaria de pulverizar, eu gostaria de moer, eu gostaria de esmagar, eu gostaria de cortar, eu gostaria de fazê-los engasgar, eu gostaria de queimar, eu gostaria de arrancar a pele, eu gostaria de espetar, eu gostaria de rasgar, eu gostaria de matar, eu gostaria de matar, eu gostaria de matar, eu gostaria de matar, MATAR MATAR MATAR MATAR MATAR!!
O interior do coração dela estava simplesmente preenchido até a boca com apenas isso.
Depois disso, ela parou de ouvir à coisa alguma que o comerciante de escravos disse. Cada vez que ela mostrava uma atitude rebelada, ela era punida através de vários meios, mas ainda a febre que queimava dentro dela não os perdoaria.
Mesmo se ela fosse torturada e punida ao ponto onde ela não conseguia se mover, mesmo se ela estivesse na beira da morte, essa febre era a única coisa que não desapareceria.
Chegando na capital real, sua hostilidade gritante não acalmou apesar da dor sendo transmitida através da marca de escravo.
Antes de tarde, os dias de simplesmente estar acorrentada à parede sem comida suficiente, roupas ou banho começaram. Os dias onde ela apenas se enganava, fantasiando sobre alcançar vingança com a maior crueldade em suas fantasias. Ela parou de ser dada até uma única refeição por dia, como se eles pensassem que ela não fosse necessária se ela fosse ser eliminada quando aqueles dias logo chegarem à um fim.
Ela pode morrer assim. Não, ela certamente ia morrer.
A febre que não desapareceu mesmo quando ela estava na beira de ser capaz de sentir a morte se retorceu dentro de seu corpo.
Não importa quão tenaz um beastman, se eles não terem a quantidade mínima de comida ao menos, ele não duraria muito. Já com sua consciência ficando ofuscada, e ela podia sentir nada além do calor dentro do seu corpo febril.
“É, como eu pensei, você tem olhos lindos.”
No meio disso, uma voz ressonou dentre sua consciência ainda queimando fracamente.
Diante de seus olhos estava uma pessoa estranha; nenhuma habilidade para pensar racionalmente permanecia, e ela só podia concluir que ele era igual aos vários nobres que haviam aparecido quando ela chegou primeiro na capital.
Sem a força para se enfurecer como ela fez lá trás, ela só podia intimidar ele ao encará-lo com hostilidade descarada.
Mas ainda assim, ela sentiu uma gota de algo familiar nas pupilas do homem que atraiu ela por alguma razão.
“Nã…o toque… hu… mano.”
Sua boca, que estava vazia de umidade, se moveu e forçou algumas palavras.
“Gu… aaaAAAaaaah!!”
Então, a dor correu através de seu corpo, fazendo sua já embaçada visão piscar ainda mais.
Parecia como se uma velha ferida estivesse sendo forçadamente arregaçada. Um grito foi forçado como se estivesse sendo torcido de cada parte do corpo dela.
Assim quando ela pensou que as ondas de dor haviam diminuído, uma garrafa desconhecida de líquido foi enfiada em sua boca.
“Nng… Ghhhhh!!”
O líquido que ela foi forçada à engolir sem ter a força para resistir ou cuspir permitiu que seu corpo emaciado se recuperasse de seu estado languido.
Sua magia sempre pareceu insuficiente devido à não ter refeições ou descanso decentes, mas agora ela até conseguiu se recuperar por cerca de metade.
“Com isto, você será capaz de falar por um tempinho.”
A garota não conseguia compreender o significado por trás das palavras do homem. Geralmente falando, com a habilidade cognitiva dela restaurada, ela entendeu que o que ela foi forçada à beber eram poções de HP e MP.
Nenhuma delas eram coisas para se dar à uma garota escrava, apesar de não ser algo além do alcance de alguém, elas eram algo que podiam ser consideradas tendo um alto preço.
“O que…”
Para a garota, isto foi o suficiente para fazê-la ter cautela de algum tipo de armadilha, então ela recebeu um choque quando ela ouviu as palavras que vieram em seguida.
“Quem você quer matar?”
O choque foi similar ao de quando sua mãe morreu, quando ela foi levada pelas palavras do comerciante de escravos, e percebeu que seu coração havia se reconstruído.
“Você, com quem você quer se vingar?”
Aquele homem – aquele jovem garoto não parecia ser diferente dela quando ela olhou em seus olhos; a garota entendeu o porquê dela ter sentido uma sensação de familiaridade e foi atraída para aquelas pupilas.
O que estava lá era algo similar à febre que ela tinha visto queimar dentro dela por um longo tempo.
A familiaridade era natural. Já pelo motivo, era por causa dos olhos que eram iguais aos dela.
É por isso que a garota falou espontaneamente.
“A garota que era minha amiga e… o garoto que também era meu amigo de infância e… pai e… o chefe da vila e… o comerciante de escravos e os escravos.”
“Você só quer matar eles?”
Ela percebeu que era um tom jocoso de voz, e ainda ela sentiu os sinais dele querendo que ela falasse.
Contudo, algo assim era trivial para a garota.
Era um desejo que ela havia repetido em suas desilusões muitas vezes e, antes de tarde, havia sido gravado não na razão dela, mas em seus instintos.
“Não basta só matá-los, não basta à não ser que eu tormente, torture, faça eles gritar, lentamente os impeça de dormir, então quebre, quebre, quebre eles em exaustão. Simplesmente matá-los, isso é um desperdício muito grande.”
Dizendo isso, a garota sorriu pela primeira vez desde que virou uma escrava.
O garoto diante dela também sorriu para as palavras que saíram das profundezas do coração dela.