Volume 1
Capítulo 6: O Carimbo Dourado (1)
— Condições? — Seol indagou.
— Você quer me ouvir ou não?
— Estou ouvindo.
— Primeiro. Você tem que jurar que nunca entrou naquele mundo antes. Aqui e agora.
— Ah, isso é fácil.
— Segundo. Quando eu te der o Convite, quero que me diga como você sabe dessas coisas…
— Não dá. — Seol recusou de imediato. — Por que acha que eu diria?
— E se eu te der o Convite especial?
Convite especial? Essas palavras chamaram a sua atenção, mas ele manteve o foco.
— Não. Se eu confiar um pouco mais em você no futuro, talvez. Mas não agora.
Como não sabia se poderia realmente confiar em Kim Hannah, preferiu deixar o assunto em aberto.
Hannah disfarçou um olhar para cima fitando o céu e, então, deu um longo suspiro.
— A última condição. Você tem que negociar comigo e apenas comigo depois que conseguir entrar no mundo. Deu pra entender?
— E se eu não conseguir?
— Só se você for mais burro do que o esperado. Eu te arrasto daquele mundo se precisar.
Depois de ouvir as efusivas palavras da diretora, Seol pensou um pouco. Parecia que Hannah não iria ceder naquele último ponto. Sem aquela última condição, nem um Contrato parecia possível, muito menos um Convite.
— Parece que esse Convite é mesmo precioso…
Como ela usou a palavra “negociação”, Seol pensou que ela tivesse abandonado a ideia de um contrato de escravidão. Depois de pensar bem, fez a sua decisão.
— Aceito.
— Bom.
Kim Hannah guardou o celular e suspirou antes de colocar a mão no bolso. Pelo tanto que a sua mão tremia, Seol pode ter imaginado o quão relutante ela estava em usar o Convite que tinha.
Quando tirou a mão do bolso, quatro carimbos estavam entre cada um dos seus dedos. Um era vermelho, os outros bronze, prata e, por fim, ouro.
— Você disse que não assinaria o Contrato… — Kim Hannah removeu o carimbo vermelho enquanto falava. — Eu posso usar o de bronze, mesmo que não seja meu. Não preciso nem falar sobre o de prata.
O jeito que ela falava e, coincidentemente, mexia com o dedo do meio irritou um pouco Seol, mas ele se segurou. O carimbo dourado, aquele que sobrou, era o seu tão famoso “Convite precioso”.
Angustiada, ela apertou a mão contra o carimbo dourado. Depois, moveu-se depressa em direção a Seol.
— C-Calma aí!
— O que? Ainda não acabou? Você queria o Convite, não queria?
— O que é esse carimbo dourado?
— É a minha vida, seu burro!
Com um grito frustrado, Kim Hannah alcançou e puxou o braço esquerdo de Seol para si. Então, pressionou o carimbo dourado contra a palma da sua mão, como uma adaga. Uma luz dourada apareceu. Rapidamente essa claridade se moveu para cima e, antes que se dissipasse por completo, tornou-se cinza.
Perplexo, Seol olhou para a palma da sua mão esquerda. Bem no meio, uma pequena marca vermelha estava emitindo uma luz vermelha e dourada. A marca desapareceu em poucos segundos, mas ficou tempo o suficiente para deixá-lo encantado.
Logo após vislumbrar a luz, um envelope bateu no seu peito. Pelo aspecto luxuoso com o qual fora embrulhado, parecia que aquilo era o seu Convite.
— O Portão abrirá às 22:30 desta noite. Você tem duas horas para pegar seus pertences. Se você vai ler ou não a carta, eu não me importo. Além disso, é melhor você sobreviver. Não ligo para o que você faça, então sobreviva e entre naquele mundo. Entendeu!? — perguntou Kim Hannah, de maneira ríspida, enquanto pegava a maleta cheia de dinheiro e olhava para Seol pela última vez.
— Como assim?
— Se você morrer depois disso tudo, veremos o que acontece! Eu prometo que eu vou pegar de volta tudo o que você me deve, mesmo que eu tenha que ir nos confins do mundo atrás de você, entendeu!? — disse a diretora enquanto andava em direção à escuridão.
Seol desabou no chão. Parecia que havia passado por uma tempestade. Ele dançou conforme a música o tempo todo, mas agora que acabou, sentia-se completamente exausto.
Ficou encarando e mexendo na sua palma esquerda e fitou o Convite algumas vezes. Havia uma carta dentro do envelope.
Pegou-se pensando sobre o seu passado enquanto se sentia orgulhoso do que acabara de fazer. Nunca recebera um convite antes, tanto durante a sua vida quanto dentro daquele sonho maluco.
Com cuidado, Seol abriu a carta.
Saudações!
Gostaríamos de agradecê-lo por ter aceitado nosso Convite para o Paraíso Perdido, um mundo diferente conectado ao nosso.
Poucos são selecionados.
Um mundo repleto de aventuras e belezas naturais. Um mundo em que se vive histórias, respira aventuras e enfrenta intensas aventuras!
Este Convite guiará você, honorável candidato, para o Éden e te ajudará a escapar da chatice de todo dia!
*Este Convite é endereçado a apenas um honorável candidato e está sujeito a aprovação pelo carimbo dourado.
*O portão se abrirá no dia 16 de Março de 2017, às 22:30. Recomendamos que o Invocado abra a carta neste horário em um local afastado.
*É imprescindível a apresentação deste Convite durante a confirmação da Marcação, assim como para o recebimento do prêmio de boas vindas. Não perca este documento e, por favor, carregue-o consigo.
*Este Convite permite que o Invocado traga consigo uma outra pessoa para auxiliá-lo.
— Ah, merda.
Seol parou de ler a carta e pegou o seu celular. Já havia passado das 20:00 e não faltava muito para as 21:00.
“Não tenho muito tempo.”
Seol reclamou um pouco, mas logo um sorriso irônico formou-se no seu rosto. Kim Hannah disse para que ele cuidasse dos seus pertences, mas ele não tinha muito o que fazer, afinal a sua família o deserdou e não possuía amigos próximos. Ninguém ligaria se ele sumisse por um ou dois meses.
Eles provavelmente estariam felizes, já que não estaria os atrapalhando.
De qualquer forma, não podia fazer muita coisa com o tempo que sobrou. Não lhe disseram para se preparar antes também.
Foi quando Yoo Seonhwa lhe veio à mente, deixando-o pensativo por um tempo.
Seol enfiou o Convite no bolso e se levantou. Sentiu-se atrasado.
Foi correndo para a sauna. Tomou um banho e cortou o cabelo. Uma hora passou voando.
Antes mesmo de aproveitar a sensação de limpeza que estava faltando em si mesmo há muito tempo, correu para o seu apartamento. Vestiu as roupas mais limpas que tinha, parou em um banco para sacar 2 milhões de wons sul-coreanos, pegou um táxi e foi em direção à Nonhyeon-dong.
Durante todo o caminho, Seol continuava preocupado.
“Será que eu devo ir? Acho que ela não quer me ver nunca mais. Droga, ela mesmo disse isso!”
“Talvez seja melhor só enviar de volta o dinheiro dela pelo banco.”
No entanto, Seol percebeu que ir lá seria muito sádico. Sabia o quanto tinha machucado Yoo Seonhwa. Gostaria de se desculpar, mesmo que acabasse recebendo um tapa bem dado na cara.
À medida que se aproximava da casa dela ficava mais receoso. Quando chegou à porta da frente respirou fundo e tocou a campainha. Esperou por muito tempo, mas ninguém respondeu.
Toc. Toc.
Bateu na porta várias vezes, mas o silêncio permanecia. Seol olhou a hora. Menos de 10 minutos para às 22:00.
“Será que ela ainda está no trabalho?”
Mexeu no celular e decidiu sentar-se na escadaria que dava para o corredor.
“Será que eu estou fazendo a coisa certa?”
Depois de tudo que passou, não podia mais chamar aquele sonho de fantasia. Afinal, quase tudo do sonho de fato aconteceu.
Mesmo tendo mantido a postura quando conversou com Kim Hannah, esteve preocupado o tempo todo. Não adiantava mais chorar pelo leite derramado. Não tinha escolha a não ser encarar de frente os próximos desafios.
Seol começou a tentar ser otimista. Já que foi corajoso o suficiente para tentar se afogar, com certeza tentaria usar essa coragem para conseguir algo grande.
No momento em que havia decidido sobre esse novo pensamento, o relógio mostrou aqueles números. 22:30.
Olhou à sua volta e não havia ninguém por perto.
Apito!
Quase que na mesma hora, ouviu um som vindo do elevador. O painel indicava o número 1. Alguém estava subindo.
Antes que perdesse a chance, pegou o envelope com os 2 milhões de wons sul-coreanos. Ajoelhou-se e enfiou todo dinheiro na entrada para cartas da porta.
Segundos depois, uma luz apareceu em cima de Seol. A misteriosa claridade o engoliu. Tudo aconteceu em um piscar de olhos.
O elevador parou e uma mulher saiu. Com um olhar exausto, Yoo Seonhwa abriu a porta da sua casa.
No primeiro passo dentro do seu lar pisou em algo.
— Hm?
Os seus olhos se arregalaram logo após ver o envelope. Depois de abri-lo, olhou em volta em estado de choque.
No entanto, enxergou apenas a silenciosa escuridão de um corredor vazio.
***
Seol sentiu frio, talvez porque uma leve brisa gelada tocava o seu pé. Sem pensar muito, procurou um cobertor, mas a única coisa que encontrou foi um travesseiro.
Abraçou-o com força, mas o frio continuou. Com a consciência retomada, não conseguiu voltar a dormir. E, é bom destacar, com uma enxaqueca insistente.
Por fim, abriu os olhos.
Sentido-se um pouco grogue, olhou à sua volta. Aquilo continuava sendo o seu apartamento alugado.
Assustado, rapidamente olhou a palma da sua mão esquerda. Nada. Fitou-a com cuidado, mas não havia nenhum sinal de marca alguma.
— Ha. Hahaha…
Deu um sorriso amarelo.
— Foi tudo um sonho? — disse rindo desesperadamente para si mesmo antes de deitar-se no chão.
— Claro. Por que alguém como eu teria a chance de... Merda! Tá de gracinha comigo…?
Como se tivesse perdido a razão, ficou um bom tempo encarando o teto antes de ligar a televisão.
— Mais cedo, a temperatura havia chegado a 0 graus Celsius, mas neste momento a temperatura em Seoul está em torno de 2,4 graus. Maior do que ontem nesse horário…
Decidiu trocar de canal. Agora a clara voz de uma garota do tempo chegou aos seus ouvidos. Decidiu pegar um pacote de cigarros e logo o sacudiu. Apenas dois sobrando. Colocou um dos cigarros nos lábios e mudou de canal.
— De acordo com a farmacêutica Sinyoung, a empresa desenvolveu um novo tipo de medicamento…
Seol passou a ignorar a fumaça cinza que saia da sua boca e voltou a sua atenção à televisão.
Nos últimos dias, os canais de televisão estavam anunciando histórias de um novo medicamento. Como o seu “sonho” foi tão vívido, acabou prestando atenção nesse pedaço da notícia.
— Localizada em Seoul, a Sinyoung é uma empresa criada há quatro anos e que busca desenvolver novos tipos de tratamento. Como esses, mais uma vez, demonstraram eficácia nos testes, as expectativas cresceram.
A imagem na tela mudou, e um homem vestindo um jaleco amarrotado apareceu.
— A medicação é capaz de aumentar o nível de testosterona circulante no sangue, assim como o caráter antioxidante, suprimindo a origem da inflamação.
A tontura de Seol aumentou. Arrastou-se em direção à janela. Sentia-se melhor quando o vento gelado soprava no seu rosto.
Apoiou-se contra a parede e, aos poucos, escorregou até ficar agachado. Os seus pensamentos estavam longe. Olhou um pouco a televisão que cuspia informações inúteis e, naturalmente, colocou a mão no bolso.
— O que é isso!?
Tomou um susto. A sua mão parou. Parecia que o seu corpo havia despertado. Devagar, puxou o objeto. Viu aquele conhecido envelope.
Era o Convite.
Segundos depois, o seu telefone tocou. Quase que instantaneamente levantou a cabeça.
A mensagem do Guia chegou. Pedimos que todos os Contratados e Invocados confirmem de imediato.
Seol levantou-se assim que aquele anúncio chegou aos seus ouvidos. Correu e olhou pela janela. O seu queixo caiu.
— Mas o que…?