Volume 1
Capítulo 26: Revelação do Poder Oculto (3)
— Guerreiro?
Seol balançou a cabeça. Assim como havia sido ordenado, a informou sobre a classe logo depois dela ser designada.
— Entendo.
Se fosse para avaliar as diferentes classes, então o “Mago” teria um poder incomparável em relação às outras. Ela não possuía apenas um incrível poder de fogo, mas também tinha uma capacidade de adaptação a qualquer situação muito elevada, além de ser rara de se conseguir. Para que conseguisse ser classificado como tal, o indivíduo deve possuir, no mínimo, o status de Mana classificado como Intermediário (Inferior). Sem contar que o temperamento também devia ser adequado.
Na realidade, a média desse parâmetro entre os sobreviventes que entravam na Zona Neutra era de Baixo (Inferior), o que é normal já que vieram da Terra, um ambiente possuidor de tecnologia avançada. Logo, encontrar tal classe era difícil, porém não é exagero dizer que os Magos, independente de onde vieram, eram tratados como nobreza.
O mesmo vale para os Sacerdotes, que deveriam ter a Mana como Baixa (Intermediária) e Sorte como Intermediária (Inferior). Esses eram considerados importantíssimos devido às habilidades de suporte que possuíam, como cura, desintoxicação, remoção de maldições, entre outras.
“Se pelo menos fosse um Arqueiro…”
Arqueiros também eram muito importantes, pois possuíam as habilidades de localizar, reconhecer e sentir a movimentação dos inimigos.
No entanto, isso não significa que os Guerreiros não são importantes. O problema era a grande oferta, bastava observar a distribuição entre os calouros de Março, 86 pessoas entraram na Zona Neutra no primeiro dia e 78 ainda estavam lá. Entre eles, haviam 4 Sacerdotes, 1 Mago e 22 Arqueiros. O restante eram os Guerreiros.
“De qualquer forma, tudo que eu tenho que fazer é treiná-lo bem.”
Agnes se manteve impassível para não revelar o que pensava. Por fim, o entregou um pedaço de papel.
— Entendo. Vamos começar treinando a sua mana primeiro.
O pergaminho continha uma missão que apareceu no quadro de avisos logo depois que o Despertar aconteceu. Apesar de ter sido a treinadora que o entregou, ele ainda estava um pouco cético com todo o histórico de medo e frustração que adquiriu ao quase morrer.
“Sentir a minha mana, né?”
Uma firme e pesada energia havia se instalado nele, porém ela não parecia mais algo estranho. Não apenas podia a sentir com mais clareza, mas também achou que poderia a fazer fluir por todo o seu corpo caso se concentrasse.
— Partiu. — Mesmo não estando convencido, ele rasgou aquele pedaço de papel no meio e desapareceu.
O espaço no qual fora teletransportado era um local criado artificialmente em que a densidade da mana era maior do que o normal no intuito de ajudá-lo a estimulá-la. Mesmo um Guerreiro poderia sentir aquela energia.
Agnes estava apreensiva, pensava em como deveria guiá-lo depois que aquele tipo de treinamento acabasse. Estava prestes a se virar e ir embora, mas parou no momento em que escutou um ruído atrás de si. Seol já tinha voltado.
— Consegui.
— Já? — perguntou enquanto piscava os olhos, surpresa.
— Sim. Foi mais fácil do que pensei. Logo que cheguei, eu…
— Oi?! — disse, com raiva. — Eu te falei pra não comprar o método de Aplicação das lojas, não falei?
Aquela confusão fazia sentido. Como ela não pôde estar no Despertar, talvez tenha achado que a mana de Seol estivesse próxima de “Baixa (Extremo)” ou “Baixa (Inferior)”.
— Eu não comprei nada! — respondeu, um pouco confuso.
— E o que você não fez?
— Eu nunca fui naquela loja.
— Acho difícil de acreditar. Se tá tão confiante assim, pode me mostrar a sua Janela de Status? Pode ser só as Habilidades de Classe.
— Tá bom.
Caso tivesse comprado a poção de “Aplicação de Mana”, aquele “0” teria mudado para “1”.
— Ah.
— Eu avisei. Não comprei nada. — Ao terminar a frase, deu um sorriso de satisfação. Pela primeira vez em muito tempo, tinha saído na frente.
— Peço perdão. Devo ter me confundido.
— Tá tranquilo. O que a gente faz agora?
Ela balançou a cabeça e estava prestes a pegar outro pergaminho, mas hesitou um pouco.
— Você consegue circular a mana?
— Tipo... aqui?
— Sim.
Ela estava pensando em o ensinar sobre os conceitos fundamentais, mas preferiu ficar quieta. Mesmo que tivesse confirmado a verdade com os próprios olhos, ainda não acreditava. Se aquilo fosse real, queria se certificar de algo antes.
Seol corrigiu a postura e fechou os olhos.
Agita.
A energia dentro dele tremeu e girou. Em seguida, começou a se distribuir pelo corpo de acordo com a vontade dele, desde a cabeça até a ponta do dedão. Começou a gostar daquela sensação e também estava surpreso com o progresso. O Despertar fora há pouco tempo, mas não sentia resistência alguma. Pelo contrário, parecia já estar familiarizado com aquilo tudo. Parecia que aquele poder estava com ele desde que nasceu e quando abriu os olhos, várias mensagens começaram a aparecer.
A Habilidade de Classe “Aplicação de Mana” foi criada.
A sua Habilidade Inata, “Visão Futura”, está respondendo à criação da nova habilidade!
A Habilidade de Classe “Aplicação de mana (Inferior)” evoluiu para “Aplicação de Mana (Intermediário)”
Por favor, confirme pela Janela de Status.
— Ohh?
A empregada estava um pouco em dúvida, mas, assim que viu a reação de Seol, as suspeitas se confirmaram.
— A Aplicação de Mana foi criada?
— Sim.
Ela começou a massagear as têmporas. Pensou que aquela situação não era o caso. Até rezou. Porém, apenas uma coisa explicava aquela situação.
— V-você recusou a classe de Mago, não recusou?
— Bem, não é que eu recusei, sabe…
— Não?
— Os deuses estavam entre Guerreiro e Mago. Eles votaram, e a classe de Guerreiro ganhou. Bem, eu disse que queria usar uma lança…
Ao ouvir aquilo, a feição da treinadora ficou imóvel. Aquelas palavras a fizeram lembrar de uma outra pessoa.
Sung Shihyun. Outro Irregular da Área 1.
“Como podem ser tão parecidos?”
Não queria, mas acabou comparando os dois. O caminho e a direção que ambos seguiam era muito similar. Não, tinham algumas diferenças. Muitos sabiam da famosa lenda de Sung Shihyun recusando ser um Mago e preferindo ser um Guerreiro. Porém, Seol disse que os deuses votaram para escolher a sua classe.
“Isso não é algo que eu possa interferir.”
Desistiu de se preocupar sobre aquilo. No entanto, um ponto era certo — teria que mudar totalmente o plano que tinha em mente. Planejava treinar mana por cerca de uma semana, porém precisaram de apenas 5 minutos. O que fazer agora?
— Começaremos nosso treino específico para classe agora. — Porém, antes disso, ela estabeleceu uma condição. — Só que você não pode usar mana.
***
Analisou os arredores. Apenas duas coisas estavam visíveis no local em que se encontrava — um espantalho com um um alvo pintado e uma lança caída no chão. Ver aquela arma o fez ficar feliz. O seu coração até se acelerou. Ela possuía cerca de 1,5 metros de comprimento. Logo, era classificada como curta, com cuidado, a estudou desde a ponta até o final da haste e tensionou os ombros.
“Aprender a estocar.”
Se moveu para ficar mais próximo do espantalho e segurou a lança com as duas mãos. Então, realizou o movimento. A ponta perfurou o alvo e se afundou.
Por pouco, errou o centro. Se sentiu frustrado, mas continuaria tentando.
Em seguida, segurou a arma apenas com a mão direita e atacou três vezes. Os resultados foram todos ruins. A penetração não foi tão funda e a mira piorou.
“Isso não tá certo.”
Começou a tentar lembrar.
Normalmente, uma pessoa tentaria esquecer de um sonho assim que acordasse, sendo que apenas algumas partes ficariam presas na memória. No entanto, uma cena muito chocante ou repetitiva não seria esquecida. Havia uma razão por ter escolhido a Estocada como primeira missão — ele foi atraído.
O Seol do sonho carregava uma lança. O número de inimigos que caíam com uma simples apunhalada era muito grande para contar. Logo, o seu corpo poderia ser capaz de lembrar.
“Não devo contar só com a força do meu braço, e sim de todo o corpo.”
Mudou a postura, aplicou mais força na mão direita e apertou a parte inferior da lança. A haste da lança ficou na palma da mão esquerda. A ponta parecia um pouco solta, mas decidiu tentar mesmo assim. Focou no alvo.
“Ainda não.”
Algo não estava certo. Olhou para baixo e viu o pé direito um pouco apontado para o lado. Moveu-o um pouco para trás e encarou o espantalho.
Ficou em silêncio enquanto se concentrava. Então, chutou o chão com força. Primeiro com o pé esquerdo e, logo depois, o com o pé direito, acompanhado pela extensão do braço esquerdo. Com isso, foi gerada uma sensação de puxão no outro braço. Por fim, ele realizou a estocada.
Swish!
Um som nítido rasgou o ar.
Logo depois da lança acertar o alvo, o dorso da mão esquerda virada para o chão fez uma meia volta e passou a apontar para o céu. A ponta da arma também girou, atingindo o objetivo bem no meio. Um sentimento de tensão foi passado para o seu corpo, confirmando que o armamento penetrou o espantalho muito mais fundo do que antes.
Habilidade de Classe, “Lanceiro Básico - Estocada [Baixo (Extremo)] foi gerada.
A sua Habilidade Inata “Visão Futura”, está respondendo à criação de uma nova habilidade!
Habilidade de Classe “Lanceiro Básico - Estocada [Baixo (Extremo)] evoluiu para “Lanceiro Básico - Estocada [Intermediário (Alto)]!
Por favor, confirme a Janela de Status.
À medida que as mensagens apareciam, o ambiente mudava. O espantalho desapareceu, assim como a lança.
— An?
“Merda”
Olhou em volta e viu a praça principal da Zona Neutra. Queria sentir um pouco mais daquela satisfação.
“Eu mal fiz nada…”
Abriu e fechou os punhos várias vezes antes de começar a refletir. E se usasse a estocada contra o esqueleto que o atacou pelo ar? Naquele momento, havia escolhido se defender. Não importava quantas vezes pensasse, ele tinha sido muito descuidado. Fora derrubado sem muito esforço.
Balançou a cabeça. Como o monstro estava no meio do ar, não seria possível que conseguisse desviar, mas ainda considerava a possibilidade de que ele poderia errar o alvo. Mesmo que conseguisse um ataque direto com a lança, o que aconteceria se o machado do inimigo acertasse?
“Confiar apenas em uma simples estocada não é o bastante.”
O básico para ser um lanceiro é atacar o inimigo nas aberturas. Caso não estivessem aparentes, deveria desvendá-las ou, melhor ainda, criá-las. Logo, na situação contra o esqueleto, como poderia fazer isso?
A resposta era óbvia. O monstro já tinha mostrado o que deveria fazer.
“Vou fazer a mesma coisa. Primeiro derrubo o machado, depois o ataco.”
Reorganizando os pensamentos, Seol passou os olhos pelo quadro de notícias. Achou o pergaminho que procurava.
Pegou o pergaminho e o rasgou.
***
Mesmo com uma classe, o cotidiano de Seol não havia mudado. Ficou viciado com o novo esquema de treinos.
A rotina da manhã era assim: Logo que acordava bebia uma poção de Competência. Depois do café da manhã corria na pista como um exercício matinal leve. A maioria das vezes corria sozinho, mas alguns dias Yi Seol-Ah aparecia, não conseguindo esconder a surpresa. Ela conseguia ultrapassá-lo com muita facilidade na primeira vez que correram juntos, mas agora ficavam quase que em igualdade. Algumas vezes ele até a ultrapassava.
“I-impossível!”
Já devem ter dado 10 voltas. Não importa o quanto ela forçasse, a distância entre os dois aumentava ao invés de diminuir. Por fim, a garota atingiu o limite.
— H-honorável irmão!! — Ouvindo aquele chamado, Seol logo se virou para encará-la. — A-ainda não tá cansado?
— Hmm. Não sei. Talvez? Se for muito, por que não paramos pra descansar um pouco? — respondeu com uma expressão perplexa enquanto corria para o local que a amiga estava.
Ela mordeu os lábios. Conseguiu terminar as voltas, mas só depois de um bom tempo. Respirou fundo por um tempo antes de perguntá-lo com uma expressão incrédula: — C-como você conseguiu?
— Oi?
— Só se passaram dois meses, mas você já tá mais rápido do que eu…
— Ah, isso?
Contou sobre a Competência. Como sabia que a poção também poderia ser comprada de lojas normais, imaginou que Yi Seol-Ah conseguiria obtê-las. Claro, as normais não eram tão boas quanto as da loja VIP.
Após ouvir a explicação, o rosto da menina ficou impassível. Parecia que ela nem sabia da existência daquele item até agora. Quando ele a recomendou comprar uma, mesmo que ela não quisesse gastar os Pontos de Sobrevivência, ela fechou um pouco os olhos. As bochechas coraram um pouco e, então, ela levantou o punho cerrado para cima e gritou: — Sem doping! Nunca!