Volume 1

Capítulo 1: Eu fui Exilado

— Você só pode estar brincando… — Não pude deixar de murmurar isso, enquanto o palácio real se preenchia de risos.

O sumo sacerdote fez o possível para abafar as risadas enquanto repetia o conteúdo do mandado real.

— Por meio da revelação divina, foi decidido que o território a ser governado pelo príncipe Hiel será o… recife de Sheorl!

Depois disso, aplausos, assobios altos e provocações puderam ser ouvidos. Havia também desprezo nas expressões dos espectadores.

Eu sou Hiel...

O 17º príncipe do reino de Sanfaris. E agora, que me tornei um adulto, acabei de ser feito o senhor de uma ilha distante e deserta. No recife de Sheorl.

Sempre tive pouca mana, e não possuía grandes habilidades. E por isso, fui ridicularizado por meu próprio pai e irmãos — no fim, sendo visto como a “vergonha da corte". No entanto, a maior razão por tal desprezo, foi por conta da minha crista¹ — cada ser humano veio a este mundo carregando uma; ela oferecia seu portador certas habilidades físicas e outros dons.

Na família real, podia-se esperar cristas adoráveis como『Deus da Espada』 ou 『Arquimago. E, claro, eles teriam técnicas que fariam jus a esses nomes.

E, enquanto meus irmãos carregavam cristas poderosas, eu tinha recebido a de『Rei da Caverna』— ninguém sabia quais eram seus efeitos.

E assim, minha família me tratava como um tolo. Aparentemente, Deus me odiava muito também.

Além disso, durante essa maldita cerimónia, onde me seria concedido uma terra, príncipes e princesas, estavam presentes, dando risadas.

Ha! num recife? Você ouviu isso? Bem, combina muito com ele.

Um homem magro de cabelo ruivo que estava na casa dos vinte… Valpas, o 11º Príncipe, não conseguia conter as suas risadas. Bem, desde que tinha 5 anos de idade ele zombava de mim.

Por outro lado, a linda garota de cabelos longos e cor de azeitona… Thalia, a 9° Princesa, murmurou interrogativamente.

Oh? Mas não parece ser um lugar interessante? Recife de Sheorl? Eu me pergunto aonde será que fica...”

Enquanto ela estava imersa em sua ignorância, havia outros que se manifestaram mais alto ao declarar que não conheciam tal lugar abandonado por Deus.

Recife de Sheorl; não era de se admirar que poucas pessoas soubessem dele. E para chegar até lá, uma viagem que duraria 10 dias de navio até o Sul da capital real era preciso.

Tal local ficava no centro do grande mar. E era uma rota pela qual nenhum navio mercante passaria. Mesmo os piratas não se aproximariam — não havia costa visível para os navios atracarem ou plantas, era apenas uma rocha gigante.

Um velho homem com uma grande barba branca… o meu pai, Rui. O rei de Sanfaris, levantou-se do seu trono.

— Meu filho… Hiel, 17º príncipe. Eu ordeno-te. Assuma o teu posto no recife de Sheorl, e o governe!”

E assim, deixei o palácio em que morei por quinze anos. Para me tornar o senhor de uma ilha desolada...

Eu agora estava indo para o recife de Sheorl sozinho — enquanto as ondas furiosas me cercavam, remei meu barco para frente. Em direção ao meu posto...

Bem, isso na verdade parecia mais uma forma de exílio. Até o navio que me trouxe para o mar já havia dado meia-volta e estava voltando para a capital. Eles nem sequer iam ver se eu tinha aterrado em segurança.

Dito isso, eu estava a caminho de uma rocha estéril, e mais cedo ou mais tarde, estaria morto. Essa era a maneira óbvia de ver as coisas.

Claro, eu não queria morrer, e por isso, apesar da vergonha, tinha até implorado ao meu pai e irmãos que me deixassem ficar. Afinal, receber uma terra não significava necessariamente que tinha que ir morar lá. Você deveria ser capaz de dar algumas ordens vagas e enviar um representante para governar o local.

Entretanto, eles não apenas rejeitaram meu pedido, mas me forçaram a ir morar em minha nova terra o mais rápido possível.

E como minhas habilidades eram fracas, dei o meu melhor para estudar magia e política a fim de cumprir o meu dever como príncipe pelo menos. E tudo o que os meus outros irmãos faziam era exibir suas técnicas com que tinham nascido e satisfazer a sua própria ganância. E apesar disso, eu quem fui enviado para uma ilha deserta.

Ela parecia muito pequena de longe, mas na verdade era muito grande. Se tivesse um terreno plano, você seria capaz de construir várias casas sobre. Mas a realidade não era assim, era quase impossível construir casas ali — seu terreno era como uma pequena montanha rochosa.

Enquanto a água salpicava à minha volta, remei para mais perto da costa.

E lá estava o meu primeiro problema… Eu estava con medo de que as ondas pudessem bater contra o meu barco e eventualmente esmagá-lo contra as rochas.

Tinha um mês de água, comida, e ferramentas dentro do barco. Se eu quisesse sobreviver, não poderia perder nada. Tinha que urgentemente encontrar uma área plana para poder atracar.

— Hm... Certo, alilocalizei um local, mas era estreito. Parecia que meu barco mal caberia.

Para diminuir um pouco a velocidade do meu barco, usei magia de vento para criar uma rajada de ar que me empurrasse para frente. No entanto, o vento que criei era apenas uma brisa suave — sim… essa era a força da minha magia.

A maioria das pessoas teriam sido capazes de criar uma rajada de vento muito mais forte, mas eu, já não possuía uma quantidade de mana decente.

Mesmo assim, continuei desesperadamente a tentar.

— Por favor… por favor… vai!!!

O barco lentamente deslizou para a terra. E então desci e amarrei-o a uma rocha aleatória.

Ufa…~ um problema a menos — não havia ninguém aqui, mas, eu ainda falei sozinho. Bem, servia para distrair...

Enquanto eu era desprezado no reino, ainda trocava uma ou duas palavras com outras pessoas. Além disso, também faria diferença se você pudesse pelo menos ver que havia outras pessoas ao seu redor.

Mas agora, a única coisa que eu podia ver eram rochas. E era tarde demais para tentar voltar. O navio que me tinha transportado estava a desaparecer no horizonte.

“Talvez tivesse sido melhor desobedecer alguma ordem e ser executado... Não! Eu não quero morrer."

Sacudi tal pensamento da minha cabeça e comecei a transportar as minhas "bagagens" para fora do barco.

— Certo, preciso de um lugar seguro agora.

A comida iria apodrecer se a chuva ou as ondas chegassem até ela. Teria também que encontrar um lugar onde pudesse dormir.

— Aquela caverna parece ser um bom lugar — encontrei um lugar seco numa zona elevada, era na verdade o único lugar que consegui encontrar, e assim, peguei num barril e fui para dentro.

No entanto, quando cheguei là e olhei para dentro, uma cena arrepiante me esperava.

Woah!

Era uma pequena caverna onde talvez dez pessoas pudessem dormir. E em seu interior, havia inúmeros esqueletos; não eram apenas de humanos, mas sim de algumas bestas e monstros.

A julgar pelas ferramentas antigas e caixas de madeira espalhadas por lá, todos deviam estar vivendo aqui. Teriam eles sido exilados também? Ou será que vinham à deriva de algum outro lugar?

Ainda assim, devem ter acabado por ficar sem comida e água, no fim morrendo — você terá o mesmo destino — era o que os ossos pareciam me dizer.

Eu não queria ser mesquinho, mas dormir com os mortos não era minha praia. No entanto, não havia realmente nenhum outro lugar para onde ir. No mínimo, eu teria que manter aqui os meus mantimentos.

— Por agora… acho que vou carregar tudo para cá.

Passado algum tempo, consegui terminar de carregar tudo. Apesar de ser uma distância curta, era muito difícil caminhar sobre o terreno irregular.

Tenho que descansar durante algum tempo. Portanto, sentei dentro da caverna e olhei para fora.

O mar daqui era incrivelmente belo.

Ao contrário da capital real, os únicos sons que propagavam eram das ondas do oceano e das gaivotas marinhas.

“Que lugar maravilhoso… não, não, isso não está certo.”

Neste momento, eu tinha que me concentrar na minha sobrevivência. Não vim aqui sem pensar nisso.

Na verdade, o meu objetivo era ser resgatado por um navio que passasse. E depois me esconder e viver num lugar onde o meu pai não me pudesse encontrar. E por isso, obviamente, não podia ser nenhum navio do meu país natal.

Assim, isso significava que eu teria que depender de navios estrangeiros ou piratas. Mas mesmo que me tirassem da ilha, apenas me venderiam como escravo. Isso também era óbvio.

Em primeiro lugar, essa não era a rota de nenhum navio mercante. E era longe demais para os pescadores chegarem perto. Sem contar que, era perigoso chegar perto dos recifes.

Haaa… o que devo fazer…

Só tinha comida e água para um mês. Bem, quanto à água, eu poderia usar o barril para coletar  chuva. Isso se chovesse.

Em caso de emergência, eu poderia coletar a umidade do ar com magia de água. No entanto, com o meu poder atual, tudo o que posso fazer era criar algumas gotas…

Talvez eu pudesse pescar peixes para comer. Eu tinha uma vara de pesca. No entanto, seria difícil pegar algo enquanto a maré estivesse alta.

Quanto a qualquer outra coisa que eu pudesse fazer agora, eu poderia apenas limpar a caverna.

Como havia esqueletos e ferramentas velhas por todo o lado, eu teria que tornar este lugar um pouco mais confortável.

No entanto, eu também não queria faltar ao respeito. Mas, mais uma vez, não podia exatamente oferecer-lhes um enterro adequado aqui.

Peguei uma picareta, que tinha trazido comigo.

— Acho que posso tentar cavar com isso…

Um amador tentando escavar… talvez fosse um desperdício de força…

〘Você possui uma Ferramenta que torna possível a Mineração.〙

Do nada uma voz soou na minha cabeça — O quê!?

E assim, minha vida numa caverna começou.


Nota:

1 Crista” é o mesmo que “Marca“, mas o tradutor gringo usa “Crista” com frequência.



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