Volume 1
Capítulo 6: A sentença do fogo
CAMÉLIA MICHAELSON
Aos poucos, minha consciência emergiu da névoa de dor que me envolvia. Gemi baixinho, sentindo as dores que pareciam queimar em meu corpo. Minhas mãos repousavam à minha frente, mas algo estava errado.
Eu ergui o olhar e, mesmo com a visão embaçada, percebi que minhas extremidades estavam enegrecidas, como se a vida escorresse delas. A visão daquelas mãos desfiguradas fez com que as empregadas que estavam à minha volta arregalassem os olhos, incapazes de conter expressões de horror.
Fui pega em um turbilhão de sofrimento, meu corpo uma prisão de tormento e desespero. Minhas mãos, antes tão delicadas, agora eram como garras de uma criatura sombria.
A dor era tão insuportável que os gemidos escapavam de meus lábios involuntariamente.
Foi então, que uma das empregadas, com olhos repletos de terror, rompeu a paralisia momentânea que havia se abatido sobre elas e saiu apressada do quarto, em busca de ajuda. Eu estava em um sofrimento que jamais imaginara, e elas sabiam que não podiam enfrentar aquilo sozinhas.
Logo, a enfermeira contratada pela família, conhecida por sua competência em situações médicas complexas, chegou com rapidez. Ela se aproximou da minha cama, seu rosto era sério, e eu podia sentir a tensão que envolvia todos que estavam ali.
Os olhos atentos da enfermeira examinaram minha condição crítica, e eu podia sentir a urgência no ar.
A enfermeira, uma mestre nas artes da cura, abriu seu grimório e invocou um feitiço:
Magia de Cura do Fogo: Véu Sagrado de Cura
Uma luz flamejante azulada surgiu, envolvendo-me. Era como se um manto de calor e energia percorresse meu corpo. As dores que pareciam insuportáveis estavam lentamente cedendo espaço à aguardada sensação de alívio.
Minhas mãos desfiguradas foram lentamente retornando à sua forma original, a dor diminuía, e minha respiração se acalmava.
— Sra. Camélia, entenda que o que fiz é apenas uma medida temporária. — A enfermeira falou com um tom calmo, mas também carregado de pesar.
Eu apenas assenti, balançando minha cabeça.
Nesse momento, as empregadas entraram no quarto, segurando um bule com chá fumegante e algumas ervas secas em um prato. Os olhares delas estavam preocupados, e eu pude perceber a incerteza que pairava naquele ambiente.
— Aqui está o chá, minha senhora. O médico recomendou que a senhora o tome para aliviar as dores. — Uma das empregadas explicou, enquanto a outra segurava o bule.
Aceitei a xícara de chá, sentindo o aroma das ervas invadir minhas narinas. Era um odor reconfortante, e eu estava disposta a fazer qualquer coisa que me trouxesse alívio, mesmo que momentaneamente.
O efeito do chá começou a se manifestar gradualmente em meu corpo. Uma sensação de relaxamento percorreu meus membros, como se estivessem sendo envoltos por uma manta quente e aconchegante. Minhas pálpebras começaram a pesar, e uma sonolência suave começou a se infiltrar em minha mente. As vozes e os movimentos ao meu redor se tornaram distantes, como se eu estivesse flutuando em um mar de tranquilidade.
A enfermeira continuou a falar comigo, mas suas palavras se desvaneceram em um zumbido suave. Cada vez mais, minhas percepções ficaram obscurecidas, e eu me afundei mais profundamente na sensação de sonho. Meu olhar vago perdeu o foco, e o mundo ao meu redor se transformou em borrões de cores suaves.
Minha mente oscilava entre a consciência e a sonolência, e eu ouvia fragmentos das conversas à minha volta.
Os murmúrios, quase ininteligíveis, eram como ecos distantes em meus ouvidos. No entanto, minha percepção se aguçou quando percebi que a enfermeira e uma das empregadas estavam discutindo algo relacionado a mim.
— Quanto tempo ela ainda tem? — a empregada perguntou em um sussurro angustiado.
— Algumas semanas, talvez um mês, não mais que isso. A doença se espalhou com uma velocidade alarmante. Seus sintomas são evidentes. Basta olhar para ela, veias negras correndo por todo o corpo.
Minha mente, ainda confusa pelo efeito do chá e da dor que acometia meu corpo, processou as palavras. Algumas semanas, talvez um mês... Eu mal poderia acreditar no que estava ouvindo. A finitude da minha vida me foi revelada com uma crueza inegável.
Eu não seria capaz de ver meus filhos crescerem, de compartilhar com eles os desafios e alegrias da vida. As lágrimas que inundaram meus olhos arderam com um misto de tristeza e desespero. Meu maior pesar estava na incerteza que pairava sobre o destino de Nathaniel após a minha partida.
Deixar meus filhos órfãos era uma dor que me corroía por dentro. Eles eram tão jovens, e suas vidas estavam prestes a serem viradas de cabeça para baixo. Como poderiam eles, tão pequenos, compreender a magnitude dessa perda? Meu coração de mãe doía com a perspectiva do vazio que minha ausência deixaria em suas vidas.
Era com essa angústia que eu ficava, entre o mundo dos sonhos e da realidade, ciente da proximidade da minha própria morte e da dor que ela causaria aos meus filhos.
Enquanto os murmúrios da conversa entre a enfermeira e a empregada desvaneciam-se em minha consciência, a escuridão do meu quarto tornou-se o cenário de minhas preocupações mais profundas.
Permaneci, naquele estado de semi-consciência, lutando contra a dor, as lágrimas e o medo, enquanto o tempo se desenrolava de forma implacável, como um novelo que nunca mais poderia ser desfeito.
O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, cortesia das pesadas cortinas que filtravam a luz do lado de fora. Fui despertada do meu torpor pelo som da porta se abrindo suavemente.
Era Louis, que entrava no quarto com passos silenciosos.
Ele se aproximou da enfermeira, cuja expressão, iluminada por uma luminária próxima, transmitia uma sombria seriedade. Não era necessário ser um gênio para perceber que a conversa deles seria de natureza delicada, relacionada à minha condição.
Louis, com seu porte imponente, perguntou em um sussurro preocupado sobre o meu estado de saúde. A enfermeira respondeu com uma franqueza que me arrebatou de meus pensamentos nebulosos.
— Ela só piora, Sua Graça. Por mais que tenhamos nos esforçado, a doença parece resistir a tudo. No momento, ela está medicada e descansando.
Fiquei observando a conversa com olhos pesados, tentando entender a troca de palavras. O que eles estavam planejando, afinal?
A dúvida pairava no ar.
Eles conversavam sobre o meu destino, como se eu não estivesse ali, uma mera espectadora das minhas próprias escolhas. E aquelas palavras ecoavam, criando um abismo entre nós.
— Você acha mesmo que a Casa Sanusarca é a melhor opção, Sua Graça? — A enfermeira questionou, seus olhos grudados nos de Louis.
Louis, com o semblante preocupado, respondeu:
— Não é uma decisão que eu tome levianamente. Camélia precisa de atenção constante, e nossa casa, por mais confortável que seja, não oferece os recursos médicos necessários.
As palavras de Louis ecoaram em meus ouvidos, embora fossem pronunciadas num tom baixo.
A enfermeira, ainda relutante, ponderou:
— Mas Sua Graça, aqui, a Sra. Camélia recebe toda a atenção e cuidado necessários. — Depois de um breve momento de silêncio, ela continuou. — Aqui, também tem a presença dos filhos, então, sinceramente, não vejo a necessidade de levá-la para uma casa de repouso.
Louis soltou um suspiro profundo e acrescentou:
— Eu tive uma conversa com o médico, e ele concorda que essa seja a decisão mais sensata a ser tomada no momento.
As palavras deles se tornaram quase inaudíveis, e um zumbido constante enchia meus ouvidos. A dúvida sobre o meu futuro e a angústia do que estava por vir pesavam sobre o meu peito, tornando a respiração um desafio constante.
Mas, de alguma forma, consegui reunir minhas forças para interromper a conversa.
— Louis…
A enfermeira, com sua simpatia de costume, fez uma breve reverência antes de deixar o quarto.
Com a saída da enfermeira, Louis se aproximou do meu leito. Ele olhou fundo nos meus olhos, como se buscasse encontrar algo que nem mesmo eu sabia onde estava.
— Como você está se sentindo? — Ele falou com ternura.
Minha voz estava fraca, mas consegui responder com sinceridade:
— Já tive dias melhores.
Ele segurou a minha mão, e senti o calor reconfortante de sua presença. Nossos olhares se encontraram, e um abismo de sentimentos inexprimíveis se revelou naquele momento.
Minha voz trazia desconfiança e inquietação enquanto o questionava:
— Louis, por que você quer me levar para a Casa Sanusarca? Você já quer se livrar de mim?
Sua hesitação foi perceptível, seus olhos refletiam um conflito de palavras não ditas enquanto ele escolhia cuidadosamente o que dizer:
— Camélia, não é sobre me livrar de você. É sobre o que é melhor para você. Você precisa de cuidados contínuos, e na Sanusarca, eles têm os recursos para fornecer o tratamento adequado.
Franzei a testa, claramente insatisfeita com sua resposta.
— Melhor para mim? — Indaguei, com um toque de sarcasmo. — Acho que a pergunta certa seria se é melhor para você, não é? Você já está cansado de cuidar de uma esposa doente?
Louis desviou o olhar, e o desconforto no quarto era quase palpável.
— Não é isso, Camélia. Eu me preocupo com você, com sua saúde.
Minha insatisfação persistia, e continuei pressionando:
— E o que você faria sem mim? Quer se livrar de mim para que possa ficar com o Miguel, não é?!
Louis, agora visivelmente irritado, retrucou de forma veemente:
— Não é sobre o Miguel! Não é sobre a sucessão! Não se trata de herdar nada! Você está colocando palavras na minha boca.
Contemplei-o com um olhar afiado e, em seguida, um sorriso de desdém surgiu em meus lábios.
— Louis, você acha que sou tola? — Ri amargamente. — Você tem me atormentado há semanas com esse assunto da sucessão, e agora, de repente, aparece com a ideia da Casa Sanusarca. Você está tentando me afastar.
Ele suspirou, e uma expressão de tristeza tomou conta de seu rosto.
— Camélia, você sabe que eu te amo. Minhas preocupações sobre a sucessão não significam que eu queira me livrar de você. A linhagem antiga da sua família é fascinante, mas eu me casei com você porque a amo, não por causa de um Espírito Mágico. Por favor, entenda.
Apesar de minha fraqueza, reuni forças para encará-lo. Nosso olhar se cruzou por um momento.
— O Grande Espírito do Fogo está na minha família há gerações, Louis. — Eu falava com um fio de voz, meu corpo ainda debilitado pelas dores. — Chegou a hora de passá-lo para a próxima geração, mas nenhum dos nossos filhos é apto para esse legado. — Suspirei com tristeza. — A escolha lógica seria você, mas você não é merecedor.
Louis ouviu minhas palavras em silêncio, mas sua expressão denunciava uma inquietação crescente.
— Camélia... — Ele começou, mas o interrompi.
— Não tente negar, Louis. Você está tentando me fazer o mesmo que fez com Nathaniel. Agora que não sou mais útil, você está tentando se livrar de mim. — Minha voz estava cheia de resignação. — Eu entendo a situação, mesmo que você tente mascará-la.
Ele ficou em silêncio por minuto, e então disse:
— Você está cansada, depois conversamos sobre isso.
Louis se afastou de mim, sua capa esvoaçou quando ele se virou para ir embora, ele caminhou até a porta com passos pesados, assim que saiu, eu permaneci ali, deitada naquela cama, com o olhar perdido no teto, as lágrimas turvando minha visão.
A ideia de passar meus últimos momentos em um lugar desconhecido, distante de minha família, era angustiante. A agonia e a dor que tomavam conta de meu corpo eram quase insuportáveis.
Naquele instante, a única saída que conseguia enxergar era uma solução drástica. Respirei fundo, reuni todas as forças que possuía, e me levantei da cama.
Caminhei até uma mesa no canto do quarto, onde repousava meu grimório. Sua capa de couro vermelho-alaranjado ostentava ornamentos dourados, entalhados de forma a lembrar chamas dançantes.
A noite estava escura, e apenas a luz da lua que espreitava pela janela iluminava o livro. Era como se as estrelas sussurrassem seus segredos, esperando para serem libertadas.
Firmei minha força de vontade e me virei para a porta do quarto.
Ao iniciar minha descida pelas escadas, meu caminho cruzou-se com uma das empregadas, que ergueu o olhar surpresa ao me ver. Era como se os minutos que se passaram desde que eu decidi sair daquele quarto tivessem sido uma eternidade. A expressão dela, era uma mistura de preocupação e surpresa.
— Sua Graça, o que está fazendo? Deveria estar repousando.
No entanto, naquela noite sombria, eu não permitiria que palavras bem-intencionadas me impedissem. Com brutalidade, empurrei a empregada para o lado.
— Preciso ir a um lugar — esclareci.
Ao alcançar a majestosa porta principal da mansão, a empregada que eu havia empurrado saiu correndo pelos corredores, clamando por Louis.
A noite estava serena, mas a tensão crescia com a cena que se formava.
Assim que cruzei a porta, os guardas notaram minha saída solitária, em plena noite, e naquele estado debilitado. Eles se aproximaram, preocupados.
— Sra. Camélia, precisa de ajuda?
Balbuciei algumas palavras, mas minha resposta não foi clara.
— CAMÉLIA.
O grito de Louis ecoou na noite, quando ele me viu.
Percebendo a situação fugir de controle, apressei meus passos. Sabia que meu tempo era limitado, e minha força se esgotaria a qualquer momento.
Sem perder tempo, abri meu grimório e comecei a entoar o feitiço que mantivera em segredo por tanto tempo:
Magia de Criação do Fogo: Dirigentes Stella
No céu noturno, centenas de estrelas flamejantes surgiram como uma chuva de faíscas incandescentes. O brilho intenso iluminou o jardim como se fosse dia.
Minha mão trêmula direcionou as estrelas flamejantes em direção aos guardas e a Louis, que seguia atrás deles. As estrelas seguiram meu comando, explodindo em uma sequência de projéteis mágicos que atingiram os alvos com uma força avassaladora.
O jardim foi inundado por explosões, criando um espetáculo mágico e caótico. O estrondo ensurdecedor preencheu o ar, enquanto os guardas eram arremessados ao chão sob o impacto, enquanto Louis buscava proteção contra o ataque mágico.
Cambaleando e enfraquecida, me virei e comecei a me afastar, focando apenas em minha liberdade. O portão principal da mansão bloqueava meu caminho, e eu sabia que não tinha muito tempo. Sem hesitar, direcionei outro feitiço poderoso para o portão:
Magia de Fogo: Fúria Carmesim de Ignis
Uma espiral flamejante, intensamente vermelha como brasas ardentes, surgiu da minha mão direita. Com um gesto ousado, a dirigi para o portão maciço, que se transformou em cinzas e destroços em questão de segundos. Alguns guardas próximos foram arremessados para longe com a explosão.
Atravessei o portão destruído, cambaleando, mas determinada. Minha fuga era marcada pela destruição que deixara em meu rastro, naquela noite estrelada, sob o manto do céu repleto de fogo.
Camélia caminhou por um tempo, adentrando um bosque que parecia retirado de uma pintura. As árvores altas e majestosas se erguiam ao seu redor, seus galhos se entrelaçando como antigos guardiões do segredo da floresta. O chão estava coberto por um tapete de folhas douradas, iluminado pela luz prateada da lua. Era um lugar onde a magia da natureza fluía sem restrições, um refúgio de tranquilidade no meio da noite.
A exaustão finalmente a alcançou, e Camélia caiu de joelhos sobre o chão macio. Lágrimas escorreram de seus olhos, mas ela não tinha mais forças para limpá-las. Suas mãos, mais uma vez, estavam enegrecidas, a manifestação visível de sua misteriosa doença.
Ofegante, tentando recuperar o fôlego, ela olhou para as mãos trêmulas e negras. Tossindo, e com dificuldade para respirar, reuniu as últimas forças que tinha. Com um último suspiro, ela clamou:
— Venha, Miguel.
A sombra de Camélia se esticou pelo chão, ganhando vida e forma. A imagem do Grande Espírito do Fogo, Miguel, emergiu dela de maneira espetacular. Ele se levantou diante de Camélia, uma figura esplêndida que se assemelhava a um anjo em chamas.
Miguel possuía seis asas flamejantes em suas costas, que se moviam com uma graça celestial. Sua pele era pálida, como o brilho da lua, e seus olhos eram um vermelho carmesim intenso. Cabelos alaranjados esvoaçavam em volta de seu rosto. Era uma presença impressionante e majestosa.
Ele falou com uma voz profunda e ressonante:
— Está ciente do que está prestes a fazer, Camélia? Esse ato quebra um contrato de séculos que tenho com o seu clã.
Camélia, com a voz fraca, respondeu:
— Sim, estou ciente das consequências.
Miguel continuou:
— A pequena Emma seria uma escolha mais adequada, dado que ela possui o elemento do fogo como atributo mágico. Entretanto, para estabelecer um novo contrato, ela também precisaria adquirir um grimório.
Camélia tossiu, agora com sangue em seus lábios, mas manteve a determinação em seu olhar.
— Eu sei disso.
Miguel, mais uma vez, alertou:
— Camélia, não aconselho que faça o que está prestes a fazer. — Miguel interrompeu a conversa por um instante, antes de retomar. — Mas, já percebi, que você está decidida a prosseguir. Você é minha mestra, e tenho a obrigação de cumprir suas ordens.
Nesse instante, a voz de Louis rompeu o silêncio da noite, chamando pelo nome de Camélia. Ela sabia que não podia mais esperar.
— Rápido, Miguel. Não temos muito tempo.
Miguel ergueu suas asas flamejantes, e Camélia sentiu o calor mágico dele fluir por seu corpo. Ela ergueu o olhar para a lua cheia, brilhante e inabalável no céu noturno, e fez um último clamor silencioso:
— Por favor, cuide dos meus filhos.
Em um ato de desespero e sacrifício, Camélia abriu seu grimório pela última vez. Ela entoou o feitiço mais poderoso que já aprendera, um segredo ancestral guardado por sua família:
Magia Espiritual do Fogo: Supernova
Uma explosão de chamas deslumbrantes a envolveu, como um casulo ardente. Ela sentiu as chamas consumindo seu corpo, mas em vez de dor, uma sensação de paz profunda e duradoura a envolveu. Naqueles últimos momentos, Camélia Michaelson encontrou a liberdade que ansiara e o descanso que tanto merecia. A lua testemunhou seu último ato de coragem e determinação, e sua memória perduraria no vínculo que ela estabeleceu naquela noite.