O Meu Caminho Brasileira

Autor(a): Rafael AS

Revisão: Rafael-AS


Volume 1

Capítulo 15: É hora de ir

Hmm...

O sorvete de chocomenta se dissolvia na minha boca, a refrescância da menta perfeitamente complementada pelo doce do chocolate e do leite.

— Esse sorvete é ótimo, não é? — disse uma suave voz feminina madura. Encarei-a; os cabelos marrons que fluíam em curvas de cachos até o peito, os olhos da cor do mel escondidos atrás dos óculos, a tez parda e bem-cuidada. Tão caloroso quanto os olhos que me encaravam com um sorriso era meu coração.

Mhm. Não sabia que o restaurante de vocês também servia essas sobremesas.

Minhas palavras fizeram um homem rir ao meu lado. Sua pele era branca, o cabelo praticamente raspado, de rosto liso sem nenhum indício da longa barba que um dia tivera.

Esses eram meus pais, Rovaldo e Genessa.

— Você tinha que ir nos visitar mais vezes. Por que não passa lá com alguns colegas da faculdade depois? — falou ele.

— Ahhhhh. Vou ver sobre isso depois. — Ri e trouxe outra colher de sorvete aos meus lábios. O gosto era realmente ótimo...

— Amor, deixa ele — disse ela, gesticulando com a colher vazia após comer mais um pouco de sorvete. — A faculdade é muito longe do restaurante. Mas depois você passa lá... com uma namorada... né, Michael?

— Que saco, hein. — Ri e continuei a comer o sorvete, que logo acabou.

Enquanto conversávamos, meu pai suspirou, pegou o controle e ligou a televisão. Navegou por uma plataforma de streaming e escolheu um filme. A tela se escureceu, tornando a sala mais sombria, mas não menos confortável e calorosa.

Espreguicei os braços e não resisti; deitei no colo da minha mãe. Tão confortável... Ficou ainda melhor quando sua mão encontrou minha cabeça e deslizou seus dedos com gentileza e carinho entre os cabelos.

— Que filme é esse? — disse eu, notando o tempo que demorava para iniciar. A tela permanecia preta.

Finalmente, uma animação um tanto quanto realista começou a rodar.

— Não sei também. Um amigo meu me recomendou, disse que há muitas reflexões boas — respondeu-me meu pai.

Assenti e me afundei com folga no colo da minha mãe. Era tão confortável...

— Te amo, mãe. Também te amo, pai...

Minha mãe sorriu e meu pai riu.

— Nós também te amamos — falou ela com afeição.

Meus olhos estavam direcionados ao filme, mas não prestava muita atenção. Tudo que me importava era o calor daquele colo, o carinho dos dedos, o bom-humor do meu pai... Quantos sonhos não tinham? Como será que tem andado o restaurante? Será que conseguiram muitos clientes?...

A despeito de todas essas perguntas, precisava ir no banheiro. Levantei-me do sofá.

— Vou no banheiro. Já volto.

Andei pela sala e ia me dirigindo ao andar de cima, quando percebi que a porta principal da casa estava aberta. Um rapaz de cabelos pretos lisos e pele clara me encarava na frente dela, vestido com roupas formais que pareciam daquelas academias de magia de alguns animes. Ele parecia muito comigo.

— Oi, Michael. — Ele sorriu. — Vamos?

Encarei-o com expressão muda, mas meu coração palpitava no peito. Olhei para trás e observei meus pais ao fundo. Eles estavam tão sossegados... tão tranquilos... Queria estar com eles...

— Não quero ir.

— Mas tem que vir, Michael. Você sabe disso.

Meus pais... Era tão difícil. Meu coração parecia ser esfaqueado com uma dor tão profunda... Tentei me por a caminhar de volta a eles, mas minhas pernas não me obedeceram. Fiquei lá, parado. Não tinha o que fazer; era hora de ir...

...Não há outra escolha. Não pode haver. Encarei Flamel. Ele sorriu. Suspirei e caminhei até a porta aberta, do outro lado havendo apenas uma imensidão branca e vazia. Meus olhos ficaram molhados, mas, dessa vez, não chorei. Apenas...

— Obrigado, pai e mãe... Obrigado...

Tão perto da porta, havia uma estante de vidro com um quadro que exibia nós três e Lucas ao meio. Toquei suavemente as faces dos meus pais... Nosso tempo se findava. Nunca mais jantaria com eles. Ou descansaria no colo da minha mãe. Ou competiria em algum esporte com meu pai. Nunca veria o restaurante ser um sucesso. E nunca levaria uma namorada para conhecer meus pais no restaurante...

Contra o mar de forças que meu peito exibia, uma lágrima escorreu pela face. Limpei-a e tirei alguns instantes para suspirar com os olhos fechados.

— Desculpa deixá-los assim, sem nem me despedir...

— Estamos prontos? — Flamel perguntou-me à porta. Acenei que sim com a cabeça e caminhei para fora. Ao fundo, ainda podia escutar o som do filme rodando, as palavras carinhosas que meus pais trocavam... Tudo foi cortado quando a porta se fechou e escondeu toda a vida que tanto me reconfortou. Os sussurros de amor já estavam longe, distantes, de um mundo que eu não mais pertencia.

— Obrigado — disse Flamel enquanto acariciava meu ombro. Seus olhos também estavam brilhando com lágrimas reprimidas. Encarei-o. Sua face era quase igual à minha... só diferenças muito sutis havia entre nós. Era como se fosse eu em uma dimensão paralela.

— ... — Meu peito doía, mas... — É hora de eu ir.

Ele acenou com a cabeça e, num piscar de olhos, já não estava mais lá. Apenas as portas fechadas faziam-me companhia naquele mundo vazio ao meu redor. Além da casa, nada havia na imensidão branca que me cercava, embora algo invisível servisse como chão.

Suspirei e caminhei. Para bem longe. A cada passo. Mais distante a casa ficava. Até sumir no horizonte. Pequena. Calorosa. Segura...

Em algum momento, talvez depois de minutos ou horas terem se passado, minha visão começou a escurecer. A última coisa que vi daquele mundo foi a pequeníssima casa ao fundo, tão distante, mas que ainda parecia contaminar todo o universo com seu calor...

Abri os olhos e-

Feche os olhos, disse minha mente.

Engoli em seco e os fechei. O que houve? Por quê-

— Diga-lhe que estou em paz. Nada há de se preocupar — Era a voz da... Violette?

— Mas, senhorita... — falou mais alto a voz de um homem mais velho. — Estás com um rapaz a descansar em seu quarto. Espera que-

— Estou bem — sussurrava ela, mas eu ainda conseguia ouvir. — Apenas diga a ele que estou bem.

— Certo. Certo. Mas você costumava a ser mais generosa...

Houve silêncio, até ele ser quebrado com o som de... moedas? Um saco de moedas?

— Isso, isso. Muito bem. Certo. Você está bem. Em paz. Tranquila. Sozinha no quarto. — O homem riu.

— Você é uma escória. Agora anda, sai daqui. — Mesmo que sussurrando, o tom dela era áspero e severo.

— Está bem, está bem... Às suas ordens, madame.

O que se seguiu foi o som da porta sendo fechada e trancada, seguido de... Violette se jogando sobre a cadeira? Veio dela um suspiro tão pesado, que parecia descarregar tormentos inimagináveis. Esse suspiro... Essa dor escondida... Queria poder confortá-la...

Não houve mais som. Minutos se passaram, e tudo que ouvia eram cantos distantes de passarinhos. O quarto estava silencioso.

O que foi aquilo que ouvi? Será que era um criado ou mordomo repassando uma mensagem para o pai da Violette, ou algo do tipo? Se for isso... ele teve que ser subornado para não falar de mim?... Que tipo de relação é essa?

De qualquer forma, acho que agora posso abrir os olhos?...

O fiz e dei de cara com os olhos brilhantes de Violette encarando-me de volta. Meu coração deu um salto e quase pulei da cama junto. Ela riu e jogou os cabelos para trás.

— Há quanto tempo estava acordado?

Ela se levantou e estalou o pescoço, produzindo um som tão alto que me fez arrepiar.

— Como você...

— Sua respiração. Estava bem irregular. — Ela se sentou na cadeira e cruzou as pernas, enquanto eu ri de mim mesmo. Seus olhos fitavam os meus com... ânimo? Interesse? Muito distante da Violette zangada que imaginaria após ser pego ouvindo a conversa...

— Você consegue ouvir minha respiração daí?

— Sim? — Ela se levantou, andou até a cama e sentou-se ao meu lado; seus cabelos caíram um pouco sobre sua face, o que, somado ao sorriso pernicioso nos lábios, pareceu... Ela aproximou o rosto da lateral do meu e sussurrou no meu ouvido. — Ou só consegue ouvir minha respiração assim? — Senti o ar sair de sua boca aquecendo minha orelha, e o som de sua respiração era profunda, suspirante, como se...

Ela riu e se afastou, deixando comigo apenas seu perfume.

— Essa não, Flamel... — Suas sobrancelhas se uniram em uma expressão de preocupação. — Seu rosto está tão vermelho... Você está com febre? — Ela tocou minha bochecha em fogo.

— Ah... N-não. Não é isso, eu estou...

Ela desatou a rir ao ponto de escorrer lágrimas. A risada era tanta que se encolheu sobre seus joelhos, e depois caiu no chão de braços abertos, a barriga tremendo a cada risada, o cabelo sedoso espalhado pelo chão.

Senti meu rosto se queimando ainda mais. Ela brincou comigo assim tão descaradamente! Não sabia se ria, se reclamava, se me escondia, se a xingava...

— Você é horrível!

— Não mais que você, sr. Tomatão.

Ela se levantou e sentou-se na cama de novo, em óbvia tentativa frustrada de conter os risos. Essa garota...

Agora foi eu quem suspirei com toda minha alma. A situação era duplamente horrível porque, em primeiro lugar, ela foi tão descarada. Do nada. E depois ainda fiquei sem saber o que fiz... Aaaaahh, fui tão idiota...

— Mas... minha pergunta maior é por que não notei antes que você estava acordado. Perceber a mana dos outros e suas flutuações é uma das minhas especializações. O que você fez?

— O que fiz?

— Sim. Não senti nenhuma perturbação da sua mana.

Fitei seus olhos sérios em mim. O problema é que não fiz nada? O que eu...

Finja que esconde algo.

— Eu... — Ouvi minha mente logo quando começava a minha fala que iria dizer que não fiz nada. Até faz sentido, mas essas intuições poderiam vir não tão em cima da hora... Além disso, não é a Violette que vive escondendo coisas de mim?...

— Mas e você, Violette? — continuei e encarei os olhos da garota, que brilhavam só com a luz das chamas. — Toda hora me encara com esses olhos brilhando com magia, mas nunca me conta por quê?

Com minhas palavras, ela esquivou o olhar e... deitou nos pés da cama, usando minhas canelas de travesseiro, virada de costas para mim. Ficou um tempo lá sem nada dizer, embora sua respiração estivesse mais pesada.

Foi só a vendo deitada em mim assim que me surpreendi ao não sentir dor. Movi meus dedos dos pés com naturalidade. Toquei meu pescoço e não senti nenhuma dor.

— Meu corpo... está bem? — falei eu em voz alta, quebrando o silêncio que se instaurou no quarto.

Ela se virou para mim com uma expressão meio desanimada que até me fez sentir mal de ter a confrontado antes.

— Sério? As feridas já se cicatrizaram?

— Não sei?

Ela se sentou na cama e prontamente retirou a bandagem do meu pescoço. Senti seus dedos tocando a minha pele com suavidade.

— Está curado... Como?...

Ela tirou a coberta de mim e puxou a barra da calça para cima. Lá estava na minha perna uma grande cicatriz onde o lobo havia me abocanhado repetidas vezes e arrancado carne... Como tudo se recuperou tão bem?

— Isso é incrível... — falou Violette enquanto deslizava os dedos pela cicatriz.

Curioso, puxei a manga do braço e notei que era a mesma situação: bem-recuperado, sem dor alguma. Não pude deixar de sorrir.

— Suas poções fizeram milagre, hein?

— Não. Não. — Sua voz fez-se assustada e insegura. Ela rapidamente se aproximou do meu rosto e apalpou minha testa, depois puxou as pálpebras dos meus olhos e os examinou.

— N-não tem nada de errado...

— O que foi?

— Isso é... impossível...

Ela se levantou às pressas, retirou um livro gigante do armário, derrubou-o na mesa com um estrondo e começou a folheá-lo com grande velocidade. Ela está tão desesperada... Será que está tudo bem comigo?

Diga-lhe que a mana da Guinevere permanece em você.

...De onde estão vindo essas ideias mirabolantes?

Engoli em seco. Sentia-me como um fantoche dessas sugestões extravagantes da minha mente, mas algo me fazia sentir que isso era tão certo, que era o melhor...

— Acho que a mana da Guinevere continua em mim...

O som das folhas sendo viradas com urgência se cessou. Violette se paralisou. Seus olhos estavam fixados em uma página, mas sem a ler. Até que-

Ah... — suspirou ela. — Isso explica bem as coisas.

Depois disso, a conversa morreu. Cansada, ela deixou as costas caírem contra o encosto da cadeira e deu um longo suspiro. Fiquei em silêncio também, recapitulando toda a conversa e refletindo sobre a garota diante meus olhos, que parecia mais e mais misteriosa e repleta de segredos quanto mais a conhecia.

Ela parece ter relações bem complicadas. A julgar, também, pelo que me falou no refeitório, de forma triste e angustiada, sobre não ser exceção quando se trata de a nobreza ser ruim...

Pus-me de pé, tentando ignorar a estranha sensação de usar meus músculos depois de tanto tempo deitado, e fui até ela. Parei ao seu lado, coloquei a mão na cabeça dela e acariciei seus cabelos... De alguma forma, isso me dava um vislumbre do sonho mais cedo, e me fez me sentir conectado a alguma coisa especial...

Ela olhou nos meus olhos. Sorri gentilmente e me curvei para aproximar meus lábios do ouvido dela.

— Obrigado por ter cuidado de mim tanto, Violette. E... sobre a conversa que ouvi mais cedo... Se tiver algo que posso te ajudar... Ou só te ouvir... Eu ficaria muito feliz. — Segurei sua mão e sorri. Sentei-me de volta na cama e a observei, apenas para ver que...

Seu rosto estava vermelho, seus lábios boquiabertos de jeito meio bobo. Seus olhos me fitavam incrédula.

— Eu... — gaguejou ela.

Ela se virou e pegou uma caneta; balançou-a de um lado para o outro; fitou-me com um sorriso, desviou a atenção para o livro aberto na frente dela, encarou-me de novo; ajustou uma mecha de cabelo atrás da orelha e tossiu seco, a mão tampando os lábios abertos.

Erm. Muito obrigada...

Encarei seu rosto subitamente tímido. Mais cedo, ela me deixou tão constrangido... Aproximei-me e beijei a bochecha dela, sentindo sua pele quente e macia.

Ei! — Ela riu e me encarou com um sorrisinho, a cabeça caída de lado sobre a mão, cujo cotovelo estava apoiado na mesa. — Atrevido!

Ri também e me joguei na cama dela.

— Essa foi minha pequena vingança por mais cedo!

— Ah é?!

Ela se levantou e pulou sobre mim; pego de surpresa pela agilidade dela, caí na cama rindo. Violette se ajeitou com os joelhos do lado dos meus quadris e segurou as golas da minha camisa. Aproximou seu rosto do meu, trazendo consigo o perfume doce e seus olhos violetas que mais pareciam com um par de ametistas cintilantes. As risadas cessaram. Encaramos um ao outro em silêncio, perto o suficiente para sentir a respiração de um no rosto do outro.

Meu coração estremeceu, pego desprevenido por tudo que acontecia. Os olhos dela se mostravam tão confusos e hesitantes quanto os meus.

— Me desculpa, eu... — ela falou depois de morder o lábio e se distanciou de mim, pondo-se de pé. Pensei em impedi-la de ir, em segurar sua nuca e tentar beijá-la, mas acabei de a conhecer para tentar qualquer coisa... Ainda há tantos mistérios... Não sei nada sobre ela.

Mas simplesmente deixá-la ir assim seria constrangedor demais. Ou talvez fosse outra razão. Só... não podia ser assim. Sentei-me na cama com rapidez e agarrei seu pulso antes que se distanciasse mais. Ela se virou para mim.

— O que foi?-

Puxei-a para perto e a abracei, meus braços envolvidos em sua cintura. Apoiando meu queixo em seu ombro, sussurrei:

— Obrigado não só por hoje... mas por sempre estar comigo, incluindo no dia com o Cyle...

Aquele dia eu quis morrer depois do que ela me fez passar. Mas, agora, me parecia que ela só queria ajudar...

Os braços dela, que estavam relutantes, finalmente me envolveram de volta. Compartilhamos o calor de um do outro no quarto silencioso. Minhas mãos acariciavam-na suavemente através do tecido das roupas.

 — Obrigada por não duvidar de mim mesmo relutando em te explicar tanta coisa... — sussurrou em meu ouvido com aquela voz encorpada dela, embora doce e suave.

Relaxei em seus braços assim que ela retribuiu o carinho nas costas, e não a soltei por nada. Era... Era um abraço, um toque que fazia tanta falta para meu coração...

— Todos transparecemos nossa essência em algum momento, seja nos gestos espontâneos, nas piadas... Nunca me senti mal ou tive uma impressão ruim em relação a você, Violette. Confio em você — disse em sussurros no ouvido dela.

— ...Você vai se arrepender se me conhecer melhor...

Era uma possibilidade real. Sabia muito pouco sobre ela, mas... Não sinto que uma pessoa que se julga, que fala que é ruim com frustração, realmente seja... Talvez só perdida...

— Não vou. — disse-lhe com confiança.

— ...Está avisado... — Ela se calou e aproveitou nosso abraço em silêncio por um tempo. — Aliás... A gente perdeu a primeira aula da manhã, mas ainda dá tempo de pegarmos a segunda...

— E meu uniforme?

— Devem ter colocado um novo no seu quarto depois do incidente.

— Não me sinto bem no meu quarto. Algo parece tão errado lá... Será que...

— Posso passar lá com você.

— Sério?!

— Sim. Ainda temos tempo antes da aula.

— Perfeito!

Finalmente a deixei ir do abraço e sorri para ela.

— Tá vendo? Não tem nada para me arrepender com você. Você é maravilhosa.

Violette riu e me ofereceu a mão. Aceitei com firmeza e, em pouco tempo, estávamos andando pelo corredor, conversando sobre como as instalações da Academia eram incríveis e super complexas.

A despeito de todo meu ânimo e vigor, talvez por tudo ser novo para mim, ela estava mais moderada e séria. Era um lado novo. Qual será que é sua essência? Só hoje ela me mostrou tantas facetas diferentes, mas que pareciam verdadeiras também...

Havia apenas uma grande conclusão que tudo me proporcionou: a Violette é um grande enigma para mim.

Falando em enigma... O sonho de mais cedo ainda era vívido e nítido na minha mente, e roubava minha atenção junto à conversa com a Violette. Pai... Mãe... Espero que vocês estejam bem. E que tudo esteja dando certo... Doía muito o peito, mas, tal como no sonho... talvez seja hora de avançar... É hora de ir. De seguir em frente, mesmo que hesitando.

Meus devaneios se cessaram ao chegar na porta do meu quarto. Abri-a e encarei aquele local escuro. As janelas estavam fechadas, diferente de como deixei antes de sair para a floresta. Alguém esteve aqui, e não foi antes da minha estadia na enfermaria...

Senti um arrepio na coluna e encarei a Violette, a qual estava com os olhos brilhando com uma mana violeta, e sua expressão azedava mais a cada instante.

Dessa forma, adentramos no quarto que, embora fosse tão usual para mim, já não tinha mais nada de familiar...

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