O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 39: O Meio

Leifr se aproximou de mim. Ele sorria mostrando todos os dentes.

— Meus parabéns, Kayn — Seu rosto estava solene. Provavelmente não tinha dúvidas de que venceria. Eu também tinha certeza da vitória.

— Foi bem acirrado, sabe... — fingi uma falsa modéstia e caminhei ao seu lado, indo na direção da arquibancada.

Antes de sair da arena, parei ainda para observar Gregórios. Meus olhos seguiram na direção dele e os de Leifr também.

— Não se preocupe com ele. Logo sairá do transe e voltará a ser aquele energúmeno de sempre.

— Não estou preocupado com isso. Estou mais preocupado com a minha recompensa.

— Também não se preocupe com isso. Vou garantir.

— Então está bem.

Deixamos o ainda choroso Gregórios na arena e voltamos para a arquibancada. Desta vez, todos vieram me cumprimentar.

— Parabéns. Você é um grande guerreiro então! — O Troll da montanha foi o primeiro.

— Você fez Zip! Depois Bum! E depois Zap! E slash! E quando vi, já havia acabado — comentou entusiasmada a sereia. 

— Gostaria de saber mais sobre as propriedades dessa sua lanç... — O desert tentou terminar sua frase, porém foi interrompido.

Alina o empurrou para o lado, começou a bater palmas levemente e se aproximou de mim.

— Que belo showzinho. — Chegou mais perto. — Eu tenho uma audição muito boa, até melhor que a do Leifr, então escutei muito bem o que disse ao elfo. Cuidado, Kayn. Ficaria de olho em você a partir de agora.

Sua expressão e fala fria chegaram a arrepiar minha espinha. Ela então tomou distância, ignorando totalmente as brincadeiras de que éramos um casal feitas pela sereia. Sentou com a perna cruzada, fingindo-se de desentendida, porém a sua calda vermelha balançava dum lado ao outro.

Eu não esperava que alguém escutasse o que eu disse, mas pelo menos sabia que Leifr não havia escutado. Era a única coisa que me importava.

Eu então aceitei os cumprimentos e elogios, enquanto esperava a hora de receber minha recompensa.

Gregórios subiu a arena ainda mancando, porém sua expressão arrogante havia retornado.

— Sivir e Natália, venham aqui — disse ele. A elfa negra e a vampira de véu ficaram na minha frente e ele logo atrás. — Pode levar a Sivir. Ela pode ser substituída facilmente e vai servir para um mestre de baixo escalão como você.

Hum? — A elfa negra olhou para trás, encarando seu mestre. — Mas, mestre...

— Calada! Me obedeça. Você é apenas uma ferramenta.

Escutando isso a elfa pôde apenas abaixar a cabeça e se calar. O elfo superior me olhava e estava um pouco nervoso. Eu logo percebi qual era sua intenção.

Na noite anterior, escutei que aquela vampira era um presente para ele dado por Amadeus. Se ele a perdesse, ficaria em maus lençóis. 

Até o momento, ainda tinha um pouco de dúvida entre as duas. Elfas negras eram assassinas ardilosas e tinham a capacidade de investigar a floresta profunda com facilidade. Ela era realmente muito útil.

Porém, eu era eu, um verdadeiro babaca.

— Eu quero a vampira.

Gregórios abriu a boca levemente, seus olhos piscaram três vezes como se não acreditassem e naquele instante tudo se calou. Ele foi ficando vermelho de raiva.

— Seu maldito... 

Antes que pudesse fazer algo, Leifr se colocou no caminho.

— Eu sou a testemunha da aposta. Retire o selo de mestre dela e a entregue para o mestre Kayn.

O elfo estalou a língua e de má vontade prosseguiu. Ele estendeu a mão e de repente um complexo selo que mais parecia um círculo mágico surgiu no peito da vampira. Ele estendeu a mão e um brilho vermelho surgiu, logo em seguida o selo se quebrou em pedaços, como se fosse vidro.

Selo de mestre, não é? Era outra novidade para mim. 

A vampira então andou lentamente até a minha direção enquanto a expressão do Gregórios se escurecia em amargura mais e mais. 

Ao meu lado, ela cumprimentou gentil com a cabeça, abaixando-a com leveza e ficando ao meu lado. Era ótimo que fosse subserviente, assim poderia usar dominação sem temer.

— Mestre Kayn, use seu selo de mestre nela — ele olhou para elfo que estalou a língua — para que não ocorra nenhum “imprevisto”, você sabe...

— Já estou cheio disso! Nunca fui tão humilhado na vida. Sivir, vamos embora. — Ele tomou distância junto da elfa negra, mas não antes de se virar e proclamar: — Kayn e Leifr, não pensem que isso ficará assim por muito tempo. Vocês ainda vão ouvir meu nome ressoar pelos dezesseis impérios! Gregórios Aristeu!

Rio, o troll da montanha, levantou-se com o desejo de enforcar aquele elfo, mas Leif segurou seu peito.

— Deixe-o ir. São ameaças vazias de conteúdo. Sinto pena daquela elfa negra por ter esse cara como mestre. — Ele então se virou para mim. — Use o selo de comando, mestre Kayn.

Abri um pequeno sorriso quando levantei a mão e estendi ao peito da vampira.

— Tenho algo muito melhor. Dominação! — proclamei.

A energia vermelha surgiu na minha mão e penetrou no corpo da vampira, mas, de repente, senti que ela entrou em confronto com alguma coisa. Algo enegrecido pelo tempo.

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[Dominação entrou em conflito com A Vontade do Vampiro Primordial]

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Minha energia vermelha começou a atacar o poder obscuro, porém parecia ser inofensivo perante aquela energia primordial. 

De repente, porém, escutei o bater do meu coração. Batidas rítmicas acentuadas potencializavam o poder da dominação em vários graus. E a mensagem começava brotar no canto dos meus olhos.

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[Habilidade Dominação subiu de Nível]

[Habilidade Dominação subiu de Nível]

[Habilidade Dominação subiu de Nível]

[Habilidade Dominação subiu de...]

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Isto continuou até que ela alcançou o nível máximo, porém o meu coração não parava de enviar energia poderosa.

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[Habilidade Dominação evoluiu para A Vontade do Caos]

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Ainda assim, ela não parou. Continuou a subir de nível até que aquela nova habilidade também chegou no máximo e então...!

❂❂❂

[Habilidade A Vontade do Caos evoluiu para A Ambição do Caos]

[A Ambição do Caos devorou Domar

[A Ambição do Caos subjugou A Vontade do Vampiro Primordial]

[Habilidade A Vontade do Vampiro Primordial] Adquirida

[A Ambição do Caos devorou A Vontade do Vampiro Primordial]

[A Ambição do Caos subiu de nível]

[Habilidade Olhos da Ambição] Adquirida

[A Ambição do Caos subordinou A Noiva de Sangue]

[Noiva de Sangue Subordinada]

[Agora é possível ver suas informações sem precisar usar os Olhos da Ambição]

❂❂❂

Quando pisquei os olhos mais uma vez, retornei para a realidade. As mensagens foram desaparecendo pouco a pouco. Ninguém parecia ter notado que, naquele período de meio segundo, eu havia enfrentado uma mudança incrível.

Disfarcei minha surpresa para não alertar ninguém e tomei a decisão de ver tudo quando estivesse no meu quarto particular.

No entanto algo logo me chamou a atenção.

— Querido, o mestre me deixaria chamá-lo de querido? — Olhando para o lado, vi a vampira se agarrando no meu corpo. Seus seios fartos batiam contra a minha cabeça, então lembrei daquela mensagem.

[Noiva de Sangue]

Que merda...

Todos notaram a súbita mudança de personalidade da anterior fria vampira e me encararam com expressões vazias.

— A mestra Celine saberá disso — falou Alina com desgosto estampado no rosto.

— Não sabia que esse tipo de Habilidade existia — comentou Leifr e complementou: — Gostaria que me ensinasse, Mestre Kayn. 

— Ei, não é nada disso. — Me afastei da noiva de sangue. — Não sei o que aconteceu. Eu juro. 

— Querido, esses são seus amigos? — A noiva vampira fez beicinho e me agarrou de novo. Ela estava apenas complicando mais as coisas para o meu lado.

— Bem, Kayn, foi um bom combate. Encontre conosco mais tarde. Creio que neste momento precisa aliviar a tensão da batalha?

Leifr bateu no meu ombro com a mão e saiu andando rindo, chamando todos com ele e me deixando naquela situação desconfortável. Cristal abanava o rabo de um lado para o outro como se risse. 

As coisas estão ficando cada vez mais difíceis!

❂❂❂

Retornei ao quarto reservado para mim e encarei a noiva de sangue. 

— Esse é o nosso ninho de amor, querido?~

Ninho de amor? Eu esfreguei minha cara e respirei fundo.

— Leve isso a sério. Quero lhe fazer algumas perguntas.

— Qualquer coisa para o meu querido~

Sentei na cama e fiquei de frente para ela.

— Você lembra de alguma coisa de antes de se tornar minha serva?

A noiva de sangue mexeu a cabeça levemente de um lado ao outro pensativa. Colocou a mão no lábio e disse:

— Apenas algumas imagens manchadas como feixes de luz na minha mente. Lembro de um rosto frio e belo e de uma mão atravessando meu peito. Depois me lembro de ser dada para um jovem loiro, como um presente, mas eu tinha uma ordem...

Sacudi a cabeça um pouco e coloquei a mão no rosto, ligando os fatos ocorridos. O rosto belo e frio só poderia ser de Amadeus e o jovem loiro era Gregórios. A mão que atravessava o peito era o poder da Vontade do Vampiro Primordial.

Mas o que é a ordem?

— Continue. Qual é a ordem?

— “No caso de descumprimento do contrato, corte sua cabeça.” Foi isso que me foi ordenado. 

— Que contrato? — interroguei, próximo de chegar à uma grande descoberta, porém...

— Não me lembro, ou melhor, não sei. Essa parte sumiu como fumaça ao vento, querido.

Suspirei. Pelo menos agora tinha um quebra-cabeças e só precisava terminar de montá-lo. 

Ergui a mão e direcionei à ela. Estava na hora de analisar o que havia de novo. Abri sua tela de status.

[Informações]

Nome: Natália

Raça: Noiva de Sangue | Nível 10/30

Raridade: Especial | Grau: 3

Emblema: Vampiro | Sombras

[Estatísticas]

Força: 35/1120 Velocidade 40/132 | Vigor 40/135

Destreza: 45/135 | Inteligência 55/125 | Mana 50/140

Oh! — Ela era sem sombra de dúvidas o melhor monstro que eu tinha. As chances de eu perder em um combate contra ela eram altíssimas.

Teria que instantemente ativar a Força Monstruosa para não lhe dar a chance de me matar num único golpe.

Em seguida, olhei suas habilidades —apenas as mais importantes e as que eu não conhecia.

[Habilidades]

[Ativas]

 Vampirismo | Casamento de Sangue | Transformação Vampírica |  Criação de Familiar

[Passiva]

 Inteligência Harmônica | Destreza Harmônica | Mana Aprimorada | Regeneração Aprimorada

[Especial]

 Talento Mágico Maior 

[Magia]

Magia das Sombras 

Invocação das Sombras

Flecha de Sombra

Camuflagem nas Sombras

Já sabia dos efeitos do vampirismo. Criação de familiar era a capacidade de criar outros vampiros menores, transformação vampírica era a capacidade de se tornar animais como morcegos, lobos e até insetos. 

Casamento de Sangue era a habilidade ativa mais interessante. Ela tinha o único efeito de buff. Quando em combate, ela poderia conceder estatísticas e até vitalidade ao seu noivo. Era uma habilidade que fazia jus ao nome da sua raça: noiva de sangue.

Inteligência harmônica e destreza harmônica eram evoluções das habilidades inteligência aprimorada e destreza aprimorada. Ambas eram habilidades especiais.

Mana aprimorada e regeneração aprimorada eram novas adições. As duas eram habilidades raras. Uma aumentava a mana do corpo a e a outra aprimorava a capacidade de recuperação natural.

A habilidade especial não era nada demais. Apenas um talento mágico maior, porém ainda era de muita serventia e finalmente havia as magias. 

[Habilidade]

Nome: Magia das Sombras

Tipo: Especial

Raridade: Raro | Nível 3

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A raridade é menor que a minha.

Além da raridade ser menor, toda a descrição da habilidade era mais curta. Ela poderia apenas controlar as sombras. Nada de modificar, ou armazenar sombras.

Era em momentos como esses que eu gostaria de ter estudado mais magia, porém meu eu anterior estava mais interessado em como se criava um goblin venenoso.

— Hm... Querido — levantei a cabeça ao escutar a vampira me chamar —, por você eu deixaria qualquer coisa, mas sabe... estou ficando constrangida.

Notei de repente que minha mão estava descansando em cima dos seus seios. Rapidamente afastei a palma e me desculpei. Ela abaixou a cabeça.

Hm... Então era tudo fachada.

Apesar de demonstrar por fora ser uma menina ousada, ela era na verdade bem tímida. Antes não estava muito atraído por aquela personalidade, mas agora as coisas mudaram um pouco de figura.

Abri um sorrisinho e mexi a mão...

— Woof! — latiu Cristal atrás de mim. Havia me esquecido completamente dela.

— Cof... Cof... — tossi disfarçadamente. — Bem, Natália, eu sou Kayn e serei seu mestre a partir de agora. Não sou um tronchu de merda como seu antigo mestre, porém também não a gentileza em pessoa...

Comecei o bom e velho discurso sobre obediência, liberdade, aquele velho discurso que ditadores usavam para vender sonhos ao seu povo. Coisas como trabalho duro e união, patriotismo e paz, e qualquer outra baboseira inspiradora.

— Então, enquanto não faltar vontade, não lhe faltará nada — concluí.

Ela assentiu com a cabeça no final e colocou a mão no peito.

— Servirei o que... o mestre com tudo o que eu puder até o dia da minha morte. 

Acenei satisfeito. Era um problema a menos. O próximo passo era olhar meus status.

 



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