Volume 1 – Arco 2
Capítulo 37: Apostando Alto
— Aposta? Eu duvido que tenha algo a te oferecer — disse, sinceramente.
Ele passou o braço pelo meu ombro e agarrou o outro, como se fossemos amigos de longa data. Você não está próximo demais de alguém que acabou de conhecer?, perguntei-me.
— É claro que você tem, mestre Kayn. E é apenas uma brincadeira. Façamos assim. Se eu ganhar você fica me devendo um favor e, se você ganhar, eu te dou 100.000 Moedas do Leilão. Gostou da ideia?
Pensei por um momento. Era realmente uma proposta interessante, mas dever favores era algo complicado. Imaginava coisas loucas, como se ele viesse me pedir que eu lutasse uma guerra ao seu lado.
— Mas é claro, Kayn — Leifr voltou a falar enquanto eu ainda pensava —, não pedirei nada que lhe obrigue a se ferir ou ferir alguém próximo e também nada que esteja aquém das suas capacidades.
— E como funcionaria isso?
— Simples. Está vendo os combates ocorrendo lá embaixo? Você vai me dizer qual dos dois lutadores vai ganhar e perder. Se você acertar, você ganha.
— Você quem vai escolher?
— Obviamente.
Olhei para as arenas abaixo e analisei bem as regras estipuladas. Claramente aquilo era uma forma de teste. Eu abaixei o rosto, escondendo um profundo sorriso. Diferente desses mestres, eu tinha um banco de dados enorme de criaturas: minha cabeça.
— Eu acei... — Antes que eu pudesse terminar, escutei uma voz.
— Leifr Reinante — chamou.
Era uma voz que eu reconhecia. Olhando para trás, vi os longos cabelos dourados e as orelhas longas. Do lado dele, uma vampira de véu e do outro lado uma elfa negra. Era o “bendito” elfo superior.
Aquele cara, ele parecia me perseguir. A conversa da noite anterior e a aura terrível que senti vindo da vampira ainda me assombravam os pesadelos.
A vampira de véu ao lado dele era diferente daquela que o acompanhava na noite anterior. Essa era mais nova e tinha cabelos em um tom arroxeado, além de ter uma aura claramente menor; muito mais fraca que a outra.
— Quem é você? — Leifr se levantou e todos olharam para o elfo.
— Deixe-me apresentar-me, eu sou Gregórios Aristeu. Sou da alta casta dos nobres elfos superiores de Yggdrasil — disse orgulhosamente.
O nome Yggdrasil me era bem familiar. O duende havia comentado sobre logo depois que nasceu, provando que era algo quase que instintivo das espécies élficas cultuar esse lugar.
Então ele realmente existia em algum canto do mundo e não era somente uma fé sem pé e cabeça.
— O que deseja comigo? — Leifr mudou bastante a forma de falar, demonstrando uma seriedade e impaciência que não me mostrou, porém o elfo nem pareceu notar.
Estava mais ocupado olhando para o próprio estômago.
— Sei que é um dragão verdadeiro e, como eu, possui um sobrenome, então é merecedor da minha atenção. Gostaria de convidá-lo para uma conversa.
O elfo parecia estar no mundo da lua enquanto falava, fazendo gestos loucos com a mão e sem notar se aproximando. Quando chegou perto demais, Rio, o Troll, levantou guarda.
Leifr, porém, interrompeu ele com um aceno e abriu um sorriso que achei um tanto quanto sádico.
— Oh! — fingiu ele —, claro, claro. Se aproxime.
O elfo sorriu e passou com desgosto pelo grupo, não dando dois olhares a quase ninguém. Apenas para Alina, que logo virou a face para ele.
Logo, estávamos ali, o elfo, suas duas acompanhantes, o dragão Leifr, Cristal e eu.
Em que tipo de situação eu me meti?
O elfo chegou, ignorando-me por completo. Ele ergueu a mão para um cumprimento, porém Leifr não moveu um músculo, olhando seriamente para o rosto do elfo. Notando que foi ignorado, ele retirou rapidamente a mão.
— Sem cumprimentos, não é. Entendo. —Tentou esconder a vergonha.
— Estou no meio de uma brincadeira com meu novo amigo, aqui. Gostaria de participar? — Leifr apontou para mim e o elfo finalmente pareceu me notar.
— Qual seu nome? — perguntou Gregórios. Pareceu nem lembrar que já nos conhecemos.
— Kayn.
— Kayn de?
— Apenas Kayn.
— Ah...! — Ele fez um som de desgosto e sua expressão instantaneamente mudou, no entanto voltou sua atenção a Leifr. — Gostaria sim de participar.
— Pois então as regras vão mudar um pouco. — Aqueles olhos dourados do dragão estavam assustadores.
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Eu sentava na esquerda, Leifr no meio e o jovem elfo na direita. Atrás da gente, estavam Cristal, a elfa negra e a vampira de véu.
Nota: Não sei porque, mas eu ri dessa cena.
A mudança nas regras foi simples. Leifr escolheria os combates, caso nós dois acertássemos, iria 50.000 Moedas para cada. Caso discordássemos, um dos dois receberia as moedas e o outro ficaria devendo um favor.
O elfo retrucou um pouco e me obrigou a escolher sempre primeiro. Supostamente era para que eu não copiasse suas respostas. Eu apenas aceitei isso de qualquer forma.
E, então, começou.
— Alí, há uma interessante — falou Leifr.
Ele apontou para um canto, onde ocorria a luta entre um goblin e um kobold. Gregórios achou que era brincadeira da parte dele, no entanto o olhar sério do dragão o fez calar-se.
— Qual dos dois você acha que vence, Kayn? — Analisei rapidamente a situação.
O goblin era o mais comum possível. Ele lutava com um punhal e já havia ferido o braço do pequeno kobold, porém a resposta era óbvia para mim.
— O Kobold vai vencer.
— Impossível! — Instantaneamente o elfo gritou. — Aposto no goblin.
— Resposta final? — perguntou Leifr. Ambos acenamos que sim. — Está certo.
Alguns segundos depois, tivemos a resposta. O goblin que ganhou confiança pulou para atacar o kobold que usava uma lança curta. Com o salto, o lagarto apenas perfurou com sua lança para cima e o pequeno verde caiu sangrando no chão.
— Parabéns, Kayn. — Com um aceno de mão do Leifr, uma mensagem soou.
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[Moedas do Leilão: 100.000] Adquirido
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— Sorte de principiante. Escolha o próximo.
Prosseguimos para o próximo. Desta o conflito era entre duas criaturas muito mais poderosas que simples goblins e kobolds.
Havia uma grande Harpia no céu rasgando as costas de um Cobra Escarlate. A gigantesca ave com corpo de mulher e garras de águia cortava profundamente o corpo da cobra.
— E esses, Kayn, quem venceu?
Analisei rapidamente a situação. A cobra se debatendo, uma pequena ferida na perna da Harpia e o sangue vazando das costas da cobra.
— Nenhum dois, ou melhor, os dois.
— Hm. E você?
Desta vez o elfo parou para analisar a situação também. Ele pareceu notar o ferimento na pata da Harpia e declarou:
— A cobra vai vencer.
— Resposta final? — Concordamos com a cabeça.
A luta entre as duas criaturas prosseguiu até que o bater das asas da Harpia começou a tardar. A cabeça e os olhos reviraram e ela caiu no chão.
— Eu venci! — O elfo instantaneamente pulou da cadeira, vangloriando-se, porém...
— Espere e observe, há algo acontecendo — Leifr apontou outra vez para o que ocorria abaixo.
Poucos segundos depois da Harpia cair paralisada, a cobra não se aguentou mais e também despencou pesado devido aos ferimentos.
— Empate, eu venci — proclamei.
Leifr soltou uma risada leve e acenou com a mão.
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[Moedas do Leilão: 100.000] Adquirido
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— Droga! Eu quero mais uma. Ele deve estar trapaceando.
— Bem, Gregory, não é? — Leifr começou a falar.
— É Gregórios...
— Claro, claro... Não me importo — continuou — apenas mais duas.
Leifr então escolheu o próximo combate. Quando seus olhos encontraram a arena, eu travei. Que monstros são esses?
— Claramente o Espectro vai vencer — gritou o elfo arrogante.
Espectro, né?
Na arena, havia um ser flutuando semi-transparente. Os cabelos encobriam a face e havia algemas presas nos braços e pernas.
Doutro lado, estava um goblin. Ele tinha uma espada longa nas mãos e um porte físico até que bom. Talvez fosse um lutador, espadachim ou de elite. Supus.
— Vou no espectro também.
Gregórios olhou para mim com raiva, porém deixou andar. A luta entre os dois durou um instante. O goblin de uma distância segura ergueu a espada e levemente brandiu para baixo. Um feixe de luz voou e dizimou o espectro como se nunca existisse.
— O quê?! Que tipo de goblin é esse? — exclamou o elfo.
Até eu esperava uma resposta.
— Ele é um Goblin Grande Herói. O único da raça dele. Seu nome é Ruís. Gostaram da suas capacidades? — Ele riu alto enquanto falava do goblin. Logo percebi que pertencia a ele. — Vamos ao último? E Kayn... — Olhei seu rosto. — Agora você me deve um favor.
Ignorando a raiva do elfo, ele escolheu o último combate. Era um zumbi contra um leopardo relâmpago. Eu escolhi o zumbi e o elfo foi no leopardo. Obviamente, venci de novo.
— Não pode ser. Isso é trapaça! — Gregórios bateu na cadeira.
— Gregory, já acabou. Não tenho mais tempo para brincadeiras. Foi bom conhecê-lo
— É-é... Gregórios...
Leifr levantou-se, passou pelo elfo que estava vermelho de raiva, mas de repente ele virou e falou:
— Venha, Kayn. Ainda quero conversar mais contigo.
Eu me levantei para segui-lo, passando pelo elfo ainda parado. No entanto isto aparentemente foi o estopim da fúria do arrogante elfo superior. Gregórios bateu o pé no chão.
— Você, a culpa é sua. Eu te desafio para um duelo — disse apontando para minha cara.
Esse cara só pode estar de brincadeira? Ele é uma criança de 5 anos?
— Desculpa, mas eu não...
— Você é um covarde inferior que ficou no meu caminho. Eu sou Gregórios Aristeu, um futuro Rei Celestial. Eu tenho o raríssimo emblema das sombras e faço parte da Alta Casta de Yggdrasil! Você não vai me querer como inimigo!
Eu encarei ele olho no olho. Cristal já rosnava e tinha as garras para fora logo atrás dele. E ele mantinha aquele cara arrogante. Tipos como ele me irritavam muito.
— Se você quer um duelo, eu aceito, mas eu quero algo em troca se eu ganhar — disse friamente, deixando minha aura vazar.
— Você não vai ganhar, então pode escolher qualquer coisa, mas, quando eu ganhar, você nunca mais fala comigo ou com Leifr.
— Quando eu ganhar, eu quero uma delas — Apontei.
Leifr e Gregórios seguiram a ponta do meu dedo. Um sorriso enorme brotou no rosto do dragão e uma cara de quem pisou na merda surgiu no rosto do elfo.
Eu apontava para a vampira de véu e para a elfa negra.