Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10: Um Dia Tranquilo
O goblin bateu com o taco no chão e encarou o coelho. Percebi que as ações dele eram puro blefe; na verdade, ele estava extremamente assustado.
A recompensa o havia motivado, mas o medo ainda era constante. O medo ainda era a peça fundamental que os mantivera vivos, e isso servia para todas as criaturas.
Não temer era não estar vivo. Apenas mortos e pedras não tinham medo.
O coelho, por outro lado, era bem mais corajoso e não se sujeitou ao inimigo. Ele não baixou a cabeça, muito pelo contrário, atacou de primeira.
Ele impulsionou o corpo para frente no seu comumente ataque frontal. O único reflexo do goblin, foi saltar por sua vida.
O sangue jorrou quando uma ferida surgiu no braço do pequeno. Da minha boca quase saíram as palavras “patético”, porém ainda as sublime pois essa não era a conduta de um líder.
Eu não tinha tempo, poder ou influência para agir com tanta arrogância. Ainda precisava daquelas frágeis criaturas, pois, sem eles, eu não era nada.
Ainda assim, eu não era alguém bom o suficiente para permitir fracassados.
— Vamos! — Tomei a decisão de agir como a pessoa que incentiva; uma fachada, é claro. — Você consegue! Eu sei que sim!
O goblin levantou segurando o braço ferido. Minhas palavras parecem tê-lo incentivado. Eram criaturas burras, afinal.
O coelho ainda estava enfurecido e correu para outro ataque, mas desta vez o verdinho estava preparado.
Com o taco em mãos, assim que recebeu o ataque rápido, ele cortou para baixo.
O sangue ainda rojou do seu ombro, onde um buraco profundo estava, mas o corpo do coelho voou em outra direção, chocando-se contra uma árvore.
— Vá! Acabe com ele — gritei.
Machucado, o animal não conseguiu reagir. O goblin acertou-o diversas e diversas vezes, cheio de uma agressividade que até me assustou.
Quando restou apenas ossos, carne e pele em um amontado de carne moída, ele parou de bater.
Apesar da agressividade, ele vez um bom trabalho.
— Bom trabalho — disse ao me aproximar e colocar a mão no ombro dele. — Recolham o corpo e continuem andando.
O dia seria longo.
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No final do dia, tivemos uma boa recompensa. Mais de 30 coelhos foram mortos e uma festa ocorria no primeiro andar.
Eu, por outro lado, atravessei o círculo mágico e me sentei na sala do núcleo. O lobo branco me seguiu lealmente.
Ele deitou no chão e tirou um cochilo. Estava cansado da caça diária e eu também, mas apenas fisicamente. Minha mente ainda trabalhava a mil por hora.
Levantei a mão e olhei minhas estatísticas:
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[Informações]
Nome: Kayn
Raça: Nephelim Superior | Nível 2
Raridade: Único | Grau 1
Classe: Mestre da Masmorra | Emblema Desconhecido
]Estatísticas]
Força: 11 | Velocidade: 11 | Vigor: 11
Destreza: 11 | Inteligência: 17 | Mana: 33
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Cresceu um pouco...
Minhas estatísticas cresceram, mas ainda era muito pouco. Na minha outra vida nunca fui bom em combate. Ficava no topo da masmorra apenas administrando e dando ordens, mas acho que dessa vez isso não vai ser assim.
A minha classe não me deixava ser um combatente poderoso. Contudo, nesta vida, precisava trilhar esse caminho.
Graças as diversas raças que usei ao construir meu corpo, tenho certeza de que tenho talento para magia e combate. Preciso apenas despertá-lo.
Sem um mestre usar magia é impossível.
Eu só sabia usar o arco e flecha por ser a arma inicial dada a todos os jogadores em Vangloria, mas eu não era o melhor do mundo e ela não combinava com meu estilo.
Qual arma me servirá?
Estranhamente também não possuía um limite de nível e de estatísticas. Todas as criaturas tinham esses limitadores que poderiam ser aumentados por crescimento e obtenção de habilidades, aumento de grau ou mudança de classe.
Porém ainda havia um limite visível, mas onde estavam os meus limites?
Imagine se eu pudesse ficar infinitamente mais forte! Há... Há! Uma brincadeira, certo?
Com essas dúvidas em mente, abri as estatísticas da masmorra.
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Masmorra
Nome: Nenhum | Tipo: Torre
Raridade: Único | Grau: 1
Servos: 11
Andares: 2 | Andares Subsidiários: 0
Pontos: 600
Requisito para próximo Grau: 1000 Pontos | Monstro Incomum | Monstro de Grau: 2
[Bônus]
Monstros Dominados e Domados tem um chance de receber a habilidade Mente Calma
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— Apenas 600... — Minha situação não era das melhores. — Vai ter que dar.
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[Goblin | Raridade: Comum | Pontos: 50]
[Coelho Chifrudo | Raridade: Comum | Pontos: 50]
[Esqueleto | Raridade: Comum | Pontos: 50]
[Lobo | Raridade: Comum | Pontos: 150]
[Hobgoblin | Grau: Incomum | Pontos: 500]
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Terminei de avaliar tudo dessa área, então acessei um painel que havia ignorado até o momento. A minha habilidade — Criação de Masmorra — estava no máximo.
Isto possibilitava diversas coisas. Eu poderia modelar a masmorra da maneira que quisesse, sem restrições. Se eu tivesse pontos o bastante, posso criar qualquer tipo de terreno, incluso montanhas cheias de ouro até vulcões em erupção.
Também possuía a capacidade de me teleportar entre todos os andares. Se eu estivesse no 100° Andar e decidisse descer até o 1° Andar, poderia, desde que eu consiga pisar no círculo mágico.
Outra opção, que não possuía antes, era construir andares acima da Sala do Núcleo. Normalmente, em masmorras do tipo Torre, este salão precisava por obrigação ser o último andar.
No entanto, com o nível máximo da habilidade, eu poderia torná-lo um andar qualquer. O núcleo também poderia ser movido comigo.
Apesar de que não adiantaria escondê-lo. Ele vaza tanta mana, que qualquer mago a alguns quilômetros de distância conseguiria localizá-lo
Suspirei com isso, mas continuei investigando. Eu possuía 0 emblemas e usos do caldeirão. Não parecia haver outro métodos.
A floresta ao meu redor parecia ser bem isolada. Isto me daria tempo para agir e me fortalecer. Apesar de ser parecido com Vangloria, não conheço metade dos perigosos que assombram esse mundo.
Além disso, havia coisas em Vangloria que poderiam me destruir em questão de segundos. Seres poderosos e assustadores.
Com isto em mente, tomei a decisão de começar a me fortalecer também. Contudo, antes, precisava descansar.
Pela primeira vez desde que renasci, cai no sono.
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Acordei cedo. Na verdade, eu não sabia que horas eram, mas acreditava que era cedo.
— Lobo, venha — chamei o lobo que ainda dormia no chão.
Ele despertou, espreguiçou-se, soltou um uivo baixo e caminhou ao meu lado. Andamos na direção do primeiro andar.
Descemos no meio da clareira. O lugar estava bem diferente do primeiro dia que viemos. Alguns goblins trabalhavam em diversas coisas.
A pele de alguns coelhos estava sendo usada para se criar alguma coisa. Eles também montavam algumas cabanas em meio à mata e recolhiam madeira.
Assim que apareci, os trabalhadores pararam para me cumprimentar e voltaram ao trabalho. Ao longe, vi um animado Gleen correndo na minha direção.
— Mestre Kayn, quero lhe mostrar algo! — exclamou com um sorriso que ia de orelha a orelha.
— Se acalme. O que foi?
— Veja isso! — Ele chamou um outro goblin que, quando chegou próximo se ajoelhou.
— O-olá, m-mestre — gaguejou o goblin com dificuldade.
— Oh! — Estava realmente surpreso. Em Vangloria isso nunca ocorreu. — Como você o ensinou?
— Ele só consegue falar essas duas coisas, mas acredito que em breve vou conseguir mais!
A animação dele era incrível. Coloquei minha mão no ombro dele, quase tendo que ficar nas pontas dos pés, porque ele era bem mais alto que eu, e o confortei por um bom trabalho.
— Continue assim.
Fiz uma leve despedida, acenei com a cabeça e continuei vagando pela clareira até que vi algo.
Havia um pequeno goblin no canto mexendo nas peles. O problema era que ele estava com um caroço na barriga.
— Gleen, ele está doente? — perguntei.
— Ela...? Não, está só grávida, mestre Kayn.
— Hã. Está só grávida. Entendo.
Rapidinho, espera um pouco...
— Grávida?!
Fiquei boquiaberto com a situação. Em Vangloria isso também era comum, mas não tão rápido assim. Ela provavelmente engravidou no dia em que foi criada.
— Sabe quem é o pai, Gleen?
— Não faço a mínima ideia.
Encarei aquela cena por um tempo; um pouco perplexo, não minto. Até que algo me passou pela cabeça.
Gleen talvez seja o pai?
Eu olhei para o rapaz e para a criatura por um instante, enojado, é claro. Bem, ele também era um goblin até ontem. Gosto não se discute.
A reprodução dessas criaturas era acelerada, então, em cerca de 15 dias, nasceriam os bebês goblins. Em mais 15 dias, eles seriam jovens goblins preparados para o combate.
Quando goblins acasalavam com outros da mesma raça, cerca de 5 a 6 nasciam por ninhada. Com outras espécies, o número crescia para 7 a 10.
— Existem outras fêmeas? — interroguei-o.
— Apenas mais duas. O traidor que o mestre eliminou também era uma.
— Era? Hm. Entendo.
— Alguma outra está grávida?
— Eu acho que não, mas se continuar neste ritmo, vai ficar em breve. O mestre deseja que eu impeça?
— Não é necessário, mas controle a taxa de natalidade, certifique-se de que as fêmeas tenham uma boa alimentação e evite consanguinidade.
— Sim, mestre Kayn!
Resolvido este problema, continuei andando pelo lugar. Passei da clareira e fui em direção à mata. De repente, o lobo sentiu um cheiro.
— O que foi?
Ele fungou um pouco e pulou atrás de uma moita e lá estava o Coelho Chifrudo. Suspirei aliviado. O pequeno parecia curado das feridas e apenas pastava quieto.
Meu ódio por ele havia passado, então ignorei e segui em frente. Andei por todo o lugar. Não vi nada de relevante e voltei à clareira.
Ajudei os goblins, comi um pouco de coelho e voltei a Sala do Núcleo. O lobo saiu para caçar.
Dentro da sala, busquei por itens úteis.
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[Item]
Nome: Machado de Cobre
Tipo: Machado
Raridade: Comum
Durabilidade: 100/100
Habilidade: Nenhuma
Descrição: Machado forjado de ferro e bronze. Ótimo para cortar árvores e cabeças
Custo: 100 pontos
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Acho que comprarei alguns para os goblins quando tiver mais pontos.
Continuei vasculhando, mas não achei nada de muito relevante. Muitos itens estavam trancados, outros eram simplesmente inúteis.
Já sem muita coisa para fazer, peguei um pedaço de madeira longo que os goblins acharam no primeiro andar e comecei a treinar meu corpo.
Eu só conseguia balançar o graveto de um lado a outro, como uma criança brincando com um cabo de vassoura, mas não tinha problema.
Se o sistema desse mundo fosse similar ao de Vangloria, apenas balançar essa coisa por algumas horas me serviria bem.
Continuei naquele processo por horas até que o lobo retornou todo sujo de sangue. Eu também estava suado, então decidi tomar um banho.
Utilizei meus poderes para remodelar a sala e criei uma nascente com uma pequena piscina. Aquilo me custou apenas alguns pontos.
Estava sentado na minha pequena piscina de água natural enquanto o lobo nadava de um lado a outro.
— Até que essa vida está sendo divertida.
Assim, mais um dia se passou. Para minha sorte, foi bem tranquilo.