Livro 8

Capítulo 181: Legado de Paracelsus (1)

Era como se um raio tivesse caído do nada.

O Mestre da Torre Amarela, um dos símbolos do Reino de Meltor, era na verdade um grimório!

No entanto, Paragranum não ficou surpreso por ter sua identidade exposta pelo Gula. Theodore, que foi pego em uma guerra psicológica entre dois grimórios, estava simplesmente surpreso. O fato de ele encontrar outro grimório além do Gula… Essa realidade que estava além de sua imaginação sacudiu sua compostura.

‘O que diabos está acontecendo?’ Ele rangeu os dentes.

Theodore enviou olhares irritados para o grimório em sua mão esquerda e aquele na forma de uma garota.

A presença que era sentida da garota não era grande. O problema era que ele não conseguia adivinhar o que havia dentro. Por que ela se aproximou do Theodore como membro da “Quattro” e por que ela apareceu apesar de estar ciente da presença do Gula?

Além disso, ele não sabia o que o Gula queria dizer com “tabu”. Theodore queria perguntar, mas o Gula estava em um estado mental confuso no momento, algo sem precedentes. Além disso, por que ele mantinha a posição de Mestre da Torre Amarela?

— “Kuhat, que tipo de atmosfera é essa para uma conversa? Eu fui interrompido da última vez por causa da Veronica…” Ao contrário da aparência fofa do rosto da garota, Para sorriu friamente e acenou com os braços. — “É bom ver você, Garoto. Eu sou o Mestre da Torre Amarela Norden e o grimório Paragranum, o último livro deixado pelo grande alquimista Paracelsus. Essa língua é bastante cautelosa, mas esse corpo é 10 vezes mais fraco que o seu, então você não precisa se preocupar com isso.”

— “……”

— “Bem, você seria um idiota se acreditasse em mim logo de cara. Ainda há muito o que conversar.”

Foi uma sugestão indireta para mudar a localização. Esse cruzamento não era um local adequado para compartilhar um segredo, pois era um lugar onde as pessoas costumavam passar frequentemente.

‘Droga, está tudo bem em ser arrastado assim?’

Quando o Theo olhou para a situação calmamente, Norden não parecia ser um inimigo. O sentimento de desconforto do Theodore em relação a ele era um súbito medo de que seu segredo fosse revelado, mas sua percepção sensorial ficou quieta do começo ao fim.

Theodore sabia que era arriscado confiar apenas em seus sentidos, assim como quando ele foi atacado pela Aquilo. No final, sua percepção sensorial era apenas um indicador, como uma bússola. Era confiável, mas também não confiável.

No final, cabia ao próprio Theodore decidir.

Essa era uma situação em que os dois conheciam os segredos um do outro, mas o Theodore estava nervoso em comparação com a atitude descontraída do Mestre da Torre Amarela. A iniciativa da conversa já havia passado para a Para.

— “…Então, onde você pretende continuar essa conversa?” Theodore perguntou enquanto era forçado a recuar um pouco.

— “Se você não se importar, que tal no meu laboratório?” Para riu e apontou para o topo da torre amarela. Era um lugar onde nenhum mago entrou em décadas, talvez séculos. Nesse sentido, o Mestre da Torre Amarela era como uma lenda urbana nesta cidade.

O grimório, Paragranum, se escondeu como humano por mais de 500 anos, pelo menos desde a conclusão das torres mágicas. As duas pessoas começaram a se mover na direção da Torre Amarela.

 

*     *     *

 

‘Gula.’ Enquanto o Theodore subia a torre seguindo o Mestre da Torre Amarela, ele usou o tempo disponível para fazer perguntas ao Gula, ‘Explique a conversa anterior que você teve com o Mestre da Torre Amarela. Qual é o tabu e o que é Paragranum?’

— Hum, entendo.

Será que o Gula achava que eram informações que o Theodore também precisava saber? Gula revelou as informações mais prontamente do que o Theodore esperava.

— Como foi dito, Paragranum foi criado pelo grande alquimista Philipus Paracelsus. Nenhum alquimista o superou na Era da Mitologia, e os vulcanos, os ancestrais dos anões, o consideravam um homem sábio. Até mesmo o grande ferreiro Vulcanus o tratava como um semi-deus.

‘…O criador de um grimório.’

Os anões eram muito superiores aos artesãos humanos se tratando de destreza e sensibilidade estética. Então, e quanto aos ancestrais dos anões? Os elfos superiores herdaram apenas um pouco do sangue de Arv, mas eram capazes de causar fenômenos milagrosos. Então as espécies superiores de sangue puro deviam ser a personificação dos próprios milagres.

No entanto, o alquimista chamado “Paracelsus” era alguém que até as espécies superiores prestavam respeito. Estava claro que ele estava muito além da estrutura de uma existência mortal. Ele era uma presença que podia criar um grimório.

— Paragranum é o grimório criado pelo Paracelsus.

A alquimia continuou se deteriorando desde a Era da Mitologia, por isso não foi estudada seriamente na era atual. No entanto, era a base da construção das torres mágicas de Meltor e ainda estava sendo pesquisada.

O grimório desafiava o senso comum, por isso as palavras do Gula assustaram o Theodore. A razão pela qual Paragranum contribuiu para a fundação de Meltor há aproximadamente 600 anos e a construção das torres mágicas foi para estabelecer uma base de pesquisa.

Claro, o própria Paragranum podia ter um motivo diferente. No entanto, Theodore observou as ações do grimório e descobriu que sua conclusão estava próxima da resposta certa.

‘Então, o que significa quebrar o tabu?’

— Hum.

Essa pergunta parecia um pouco difícil, pois o Gula, que estava derramando explicações como um jato d’água, parou por um momento. No entanto, logo ele abriu a boca novamente.

— Todo grimório tem um “propósito de existência” impresso por seu criador. Eu coleto magia, o Orgulho coleta genes e assim por diante. Todas as nossas ações são destinadas a cumprir esse propósito. Você entendeu até aqui?

‘Sim.’

— Portanto, um grimório segue seus próprios métodos para atingir seu propósito de existência. Por movimento autônomo, ingestão, controle manual… Todos eles têm seus próprios princípios. No caso do Paragranum, é por um tipo de “controle manual” que requer um portador.

Mas atualmente o Paragranum não tem um mestre. Ele criou seu próprio corpo e está fingindo ser humano. Isto é diferente do seu propósito. Ferramentas que desviam do seu propósito não são mais ferramentas.

Elas desviam do próprio “propósito de existência”. Esse é o tabu dos grimórios.

Gula explicou em voz alta.

— Simplesmente mudar seus princípios de ação não é ruim. Mas os livros que violam seu propósito se tornam cada vez mais erráticos e logo se tornam selvagens.

É um pecado uma ferramenta se desviar do seu destino. É um fim miserável para um grimório. Seu ego entrará em colapso e ele desaparecerá sem alcançar o propósito de sua existência.

Como o Theodore viu na luta com o Orgulho e em sua própria experiência com o Gula, os grimórios enfatizavam a inteligência e o propósito acima de tudo. Portanto, este era um resultado inaceitável para eles. Neste momento, Theodore tinha uma pergunta. ‘Eh? Então, por que o Mestre da Torre parece estar bem? Faz 600 anos desde que o tabu foi quebrado.’

— Eu também estou curioso sobre isso.

‘…É perigoso?’

— Há um ditado que diz que você pode acordar de manhã e morrer à noite.

‘Não gostei!’

Enquanto o grimório e seu portador discutiam, a garota chegou ao topo da Torre Amarela e perguntou, — “Você ouviu uma história interessante?”

— “…!” Os olhos do Theodore se arregalaram.

Isso fez a Para rir. — “Você provavelmente perguntou sobre mim. Se você é um mestre, provavelmente liberou pelo menos o 4º Selo. Você já ouviu quase tudo e se perguntou por que eu estou bem depois de quebrar o tabu.”

— “…Você tem alguma habilidade de ler mentes?”

— “Talvez. Alquimia não tem esse tipo de habilidade, mas eu tenho meu próprio estilo.”

Sendo assim, significava que era a intuição temível do Paragranum. Ele foi capaz de inferir sobre a conversa entre o Theodore e o Gula. Não era um adversário que o Theodore podia desafiar com palavras. Enquanto o Theodore se enchia de tensão, Para parou em frente à torre e disse, — “35 litros de água.”

— “Hã?” Theodore proferiu.

Sem responder à pergunta do Theodore, Para continuou, — “20kg de carbono, 4 litros de amônia, 1.5kg de óxido de cálcio, 800g de fósforo, 250g de sal, 100g de nitrato de potássio, 80g de enxofre, 7.5g de flúor, 5g de ferro, 3g de silício…”

Havia algumas coisas nessa lista que o Theodore conhecia, mas outras não. Era um conhecimento da ciência e da civilização que só seria desenvolvido no futuro. Significava que era um monólogo que o Theodore não conseguia entender.

No entanto, Gula era diferente.

— Esse é o composto para um humano adulto comum?

— “Correto.” Para sorriu como se estivesse esperando e tirou a túnica. Theodore já viu mulheres bonitas antes, mas ele ficou impressionado com o corpo da Para, que tinha proporções perfeitas. Para acenou em direção ao seu corpo esbelto e disse, — “Eu usei quantidades menores ao criar essa garota.”

— Então não foi feita de um corpo humano.

— “Eu só posso criar algo do nada. Usar a vida que já existe é o domínio das quimeras.”

Theodore ouviu a conversa entre os grimórios e não conseguiu esconder sua confusão. — “C-Corpo humano? Você criou um corpo humano?”

— “Para ser exato, é um homúnculo. Este corpo é apenas uma imitação humana e durará mais 10 anos antes de morrer. Em outras palavras, é um fracasso.”

— “…Por quê?”

‘Por que Paragranum está tentando criar um humano? Por que criar um homúnculo? Por que um grimório está fazendo isso? Por que viver como o Mestre da Torre Amarela?’

Muitas perguntas surgiram na mente do Theodore. Relutância ética, curiosidade como mago, desagrado como humano, curiosidade sobre a vida que foi criada… Theodore não conseguiu adivinhar os motivos.

No entanto, Paragranum, que viu muitos magos por um longo tempo, sabia todas as perguntas do Theodore. O grimório em forma de uma garota bonita riu estranhamente. — “Porque esse é meu propósito.”

O grande alquimista, Philippus Paracelsus, deixou o propósito de criar um [humano]. O [humano] não podia ser superior ou inferior aos seres humanos.

O propósito do Paragranum era criar um ser humano completo. Não importava se fosse um mendigo ou herói, desde que vida fosse criada. Este foi o destino dado ao Paragranum e era o propósito de sua existência. Esse era o caminho da verdade que o alquimista, que atingiu o pico na Era da Mitologia, seguiu até o fim.

— “Graças a isso, eu pude reescrever meu comportamento para excluir os portadores e ativar a ação individual. Não há nenhuma pesquisa tão eficaz quanto imitar os seres humanos diretamente.”

Uma questão do Theodore foi resolvida, mas outra apareceu. — “Por que o Paracelsus tentou criar um humano?”

— “De acordo com os registros do Criador Paracelsus, os humanos são os aliados da possibilidade e as sementes do caos. Ou seja, uma criatura que não pode ser nada além de caos. Se eu mesmo puder criar essa possibilidade, pode haver uma maneira de alcançar a verdade.”

— “Isso… é uma simples hipótese.”

— “Será mesmo? Não, essa pergunta é inútil. Seja certo ou errado, eu ainda tenho que tentar.”

*Calafrio*

Depois de ouvir a Para, Theodore entendeu a loucura inerente do grimório. O grimório possuía sabedoria de uma época que os humanos dificilmente podiam imaginar, e podia se comunicar com uma alta inteligência. No entanto, tinha o instinto de perseguir seu propósito, independentemente do sucesso ou fracasso.

Não se desespere. Não desista. Não se comprometa. Não é possível ou impossível. Para falava como um humano, mas sua essência era completamente a de uma ferramenta.

Theodore fechou a boca. Então o Mestre da Torre Amarela se virou e disse, — “Minha história termina aqui, portador do Gula. Você está se perguntando por que eu te trouxe aqui e confidenciei meu segredo?”

O mestre da torre abriu a porta da torre. A escuridão de dentro fluiu suavemente e pareceu devorar o ar fresco do corredor. Isso provocou um medo no Theodore que ele não conseguia entender.

Theodore mal superou a tensão e falou, — “Há algo que você deseja pedir.”

— “Correto.” O Mestre da Torre Amarela Paragranum estendeu a mão esquerda enquanto olhava para ele com uma expressão satisfeita. Então ele encontrou algo na parede e dobrou.

Clack. Um som mecânico abafado foi ouvido na escuridão.

— “Eh!” Os olhos do Theodore tremeram de espanto.

A escuridão se dissipou e uma visão inimaginável apareceu diante dele.

— “Olá, seja bem-vindo ao meu laboratório pela primeira vez.”

Havia algo na forma de um jovem forte. Havia outra coisa na forma de um velho. Então havia outra coisa que parecia um garotinho bonitinho…

E mais outra coisa na forma de uma mulher bonita. Havia pessoas de diferentes formas flutuando em recipientes de vidro transparentes. Não, Theodore sabia. Eles eram todos homúnculos. Conchas humanas que não tinham seu próprio ego.

Theodore mal conseguiu se acalmar enquanto falava com uma voz trêmula, — “Quantas pessoas conhecem esse fato?”

— “Ninguém. Se você não fosse o portador de um grimório — não, você não saberia se não fosse o portador do Gula.”

— “Então, por que você veio até mim?”

Eles entraram na sala, e a Para se sentou em uma cadeira no meio da sala bizarra.

Então, ela olhou para o Theodore, ainda abalado. — “Como você pode ver, eu não posso sair da cidade. Mana-vil pode se virar só com a Veronica, mas eu só posso me afastar a uma curta distância. Então, eu quero fazer negócios com você, que tem habilidades e um segredo compartilhado.”

— “Negócios?” Theodore balançou a cabeça e quase zombou. Ele mostrou seu poder para fazer um acordo? No entanto, Paragranum assentiu e disse com uma expressão séria, — “Você não tem muitos segredos ocultos por causa do Gula? Eu posso ajudá-lo quanto a isso.”

Fazia muito sentido. Theodore conseguiu evitar responder sobre a Grande Floresta, mas ele não podia esconder a existência do Gula para sempre. O fato de ele ter derrotado o Hyde recentemente, uma das Sete Espadas do império, ainda não havia sido revelado ao público.

Theodore foi convencido pelo Mestre da Torre Amarela e assentiu, — “…Continue.”

— “Eu preciso de alguém para se mover em meu nome, e você pode obter benefícios ao compartilhar seus segredos. Não acha que é uma situação onde todos ganham?”

— “Quais são exatamente os benefícios?”

— “Eu estava esperando você perguntar!”

Do ponto de vista do Theodore, ele não podia deixar de perguntar. No entanto, Para puxou algo como se estivesse esperando. Era um mapa. O mapa estava desatualizado, mas o Theo não teve nenhum problema em reconhecer os desenhos. Cobria uma área que coincidia com o deserto de Meuse, fora do Reino de Austen.

Para apontou para um ponto vermelho no mapa e disse, — “Este é o lugar onde o laboratório do meu criador, Paracelsus, está escondido. Se você for lá com meu homúnculo, eu darei a você todo o legado que ele deixou para trás, exceto os materiais de que preciso.”



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