Livro 2

Capítulo 44: Eu Peço a Você (1)

A expressão do Theo mudou sutilmente pelas palavras do Randolph.

‘Após voltar para casa em cinco anos, eu preciso ter a identidade checada.’ Theo não conseguia rir ou sentir raiva.

Randolph coçou sua cabeça por ter tirado suas próprias conclusões sobre a expressão do Theo. Ele entendeu que poderia soar bastante rude verificar a identidade de uma pessoa após ela te ajudar. — “Eu não quero ser muito rígido. Mas olhando para a situação, é difícil deixar você passar facilmente sem fazer uma verificação. Será somente uma verificação curta.”

— “Sim, é compreensível.”

Eles estavam lutando com um grupo de mortos-vivos em um vilarejo isolado como a Baronia Miller. Theo não sabia porque os mercenários estavam neste lugar, mas agora não era hora de questionar isso. Theo precisava primeiro ganhar a confiança do Randolph para entrar no vilarejo.

Theo pegou um distintivo de investigador e o certificado que ele recebeu da cerimônia de premiação.

— “Oh, um distintivo de investigador. Faz muito tempo desde que eu vi um desses. E isto é… O dono deste certificado é um barão honorário, Theodore Miller. Há um selo real estampado, então eu tenho certeza… Hã?” Randolph olhou para o certificado cuidadosamente e tocou seu queixo com uma expressão confusa.

Os nomes dos nobres eram diferentes dos nomes das pessoas comuns. Mesmo que os primeiros nomes tivessem um pouco de semelhança, não havia uma única família que usava o mesmo sobrenome de outra família. Para os nobres, seu sobrenome era uma prova de honra recebida do rei e provava o sangue fluindo por suas veias. Que idiota iria querer compartilhar isso com outras pessoas?

No entanto, este nome era o mesmo do senhor da Baronia Miller.

— “…Eu ouvi dizer que o senhor daqui tem um filho.”

— “Meu pai.”

— “Droga, você é o filho do meu empregador.”

Theodore riu, e o Randolph deu uma risada sem graça quando percebeu o motivo do Theo ter feito aquela expressão estranha em seu rosto. O filho do senhor tinha retornado, mas ele precisava provar sua identidade. Era engraçado quando se pensava nisso.

A expressão agradável do Randolph retornou e ele estendeu a mão. — “Bem-vindo à sua casa, Jovem Mestre. Houve uma pequena confusão, mas até agora, não foi grande coisa.”

— “Era um grupo bem grande.”

— “Bem… Vamos entrar e conversar sobre isso.”

Os mortos-vivos não atacavam quando o sol estava brilhando, então o Randolph se virou primeiro. Parecia que a história que ele tinha que contar era bem longa. O Theo e a Sylvia seguiram atrás dele. De certa forma, era definitivamente um retorno surpreendente.

 

*     *     *

 

Quando os dois e o Randolph entraram no vilarejo, os mercenários já estavam todos espalhados descansando. Isso por causa do cansaço por terem ficado acordados a noite toda. Os moradores davam tigelas de mingau quente aos mercenários e enrolavam ataduras ao redor de suas feridas.

Um deles reconheceu o Theo mais cedo do que qualquer outro. — “Hã? Ei, aquele não é o Theodore?”

— “O que? Por que o Jovem Mestre estaria aqui se era para ele estar estudando?”

— “Não, olha lá!”

— “Bem, ele certamente se parece bastante com o Jovem Mestre…”

Tinham se passado cinco anos e o Theo estava vestido elegantemente, então as pessoas hesitavam em chamar seu nome. Ele se parecia com um nobre à primeira vista, então eles não acreditavam que seu Jovem Mestre tinha retornado.

Com alguns cochichos que começaram entre os moradores, um velho deu alguns passos. — “J-Jovem Mestre Theo…?”

Theo quase chorou quando ele ouviu a voz fraca. — “Avô Albert…!”

Desde a infância, quantos pedaços de PÃO ele recebeu dessas mãos? As mãos desse velho eram muito mais fracas do que ele se lembrava, mas o Theo as agarrou sem hesitar. Uma sensação gentil foi transmitida pelas mãos enrugadas do velho, fazendo o Theo abraçá-lo enquanto chorava. Theo finalmente pôde sentir o peso de todos esses anos.

Para o velho que não tinha parentes, Theo era verdadeiramente como seu neto.

— “Ah, nosso Jovem Mestre! Como é que agora você está parecendo tão respeitável…?”

— “Vovô!” Theo não podia falar e só o abraçou forte.

— “Jovem Mestre!”

— “O Jovem Mestre Theo voltou!”

Depois disso, os moradores começaram a se reunir por todos os lados. Uma das pessoas ainda estava segurando uma linha que estava sendo tricotada e outra tinha saído de casa com um pedaço de pão na boca. Todos os moradores do vilarejo saíram correndo, Theodore foi instantaneamente cercado por uma grande multidão.

— “…?!” Sylvia estava parada perto do Theo. Com seus cabelos prateados que pareciam ter saído de um conto de fadas, ela chamava a atenção onde quer que fosse. Ela não estava familiarizada com a atenção das pessoas, então ela ficou mais perto do Theodore, fazendo com que os moradores se animassem com sua reação.

— “Quem é a jovem dama? Jovem Mestre, talvez ela…?”

— “Ah, vamos lá. Por qual outra razão ele traria uma garota tão linda?”

— “Jovem Mestre! Há seda em nossa loja de linho! Será o suficiente para um véu!”

— “Vamos lá, não me faça rir! Será uma sorte se não forem trapos.”

— “O que tem de errado com você?”

A comoção alta fez os mercenários acordarem ou olharem para lá de onde eles estavam comendo. A atmosfera que antes estava meio sombria pelas lutas contra os mortos vivos, agora estava calorosa. Era uma prova do quão precioso o Theo era para eles.

A perturbação logo passou pela mansão da Baronia Miller.

— “Theo, onde está o nosso Theo?”

Um homem de meia-idade, com cabelos finos e vestido com uma túnica humilde se movia sobre a multidão. Felizmente, aqueles que o reconheciam cediam caminho. Todo mundo queria dar boas-vindas ao Theodore, mas esta pessoa tinha mais direito do que qualquer outra.

Dennis Miller, o homem que finalmente chegou ao centro gritou, — “Theo!”

— “…Pai.” Theo nunca esqueceria aquela voz.

Quando o pai do Theo o puxou em um abraço apertado, o cheiro familiar do solo e de pão entrou em seu nariz. O cheiro de sua casa era emitido do corpo de seu pai. Palavras não eram necessárias. Eles se abraçaram por um tempo até que o Dennis soltou primeiro.

Ele agarrou firmemente os ombros do seu filho e disse, — “Bem-vindo à sua casa.”

— “Sim, estou de volta.”

— “Você deve ter muitas coisas para perguntar, certo? Após retornar para casa depois de tanto tempo… Eu peço desculpas por essas coisas que aconteceram.”

— “Não diga isso.” Theo balançou sua cabeça. Pelo que o seu pai tinha que se desculpar? Os moradores e seu pai foram aqueles que sofreram com os mortos-vivos.

Dennis ficou satisfeito com a aparência do seu filho, mas ele notou a poeira na túnica do Theo. Ele também notou a existência tímida da Sylvia.

— “Vocês devem estar cansados? Vamos discutir o resto da história em casa.”

Os dois estavam bem cansados, então assentiram ao mesmo tempo.

 

*     *     *

 

Já fazia um tempo desde que o Theo não vinha para casa, mas não havia mudado nada.

As chaminés e a escadaria ainda estavam desgastadas, e o assoalho rangia toda vez que ele pisava. O som da água podia ser ouvido vindo da cozinha, e a mancha no teto ainda estava lá. Na verdade, Theo podia ver que o número de manchas havia aumentado enquanto ele olhava para sua família sentada ao seu lado.

Seu pai tinha um bigodinho, sua mãe estava um pouco mais magra e seu irmão de três anos de idade estava agarrado à sua mãe.

‘Oh, essa é a primeira vez que eu o vejo pessoalmente.’ O crescimento do seu irmão foi algo que ele não conseguiu ver.

No entanto, a conversa carinhosa entre os membros de sua família ainda era a mesma. Theo priorizava resolver o problema antes de seus sentimentos pessoais. Ele teria tempo suficiente para passar com sua família depois de resolver essa crise imediata.

— “… Então os mortos-vivos começaram a aparecer há cerca de um mês?”

— “Sim, o lenhador foi o primeiro a se encontrar com eles.”

De acordo com o seu pai, os mortos-vivos apareceram há cerca de um mês, e eles só começaram os ataques há uma semana.

Era uma diferença de tempo que o Theo não conseguia entender. O que os mortos-vivos tinham feito durante esses 20 dias? Talvez o mago desaparecido foi tentado pela magia negra, mas seriam necessários mais de dois meses para aprender a criar um Wyvern Ghoul. Até mesmo um espadachim como o Randolph acharia complicado se houvesse mais de um no campo de batalha.

Além disso, Theo tinha mais uma pergunta. — “E os mercenários? Nosso estado não tem o dinheiro para contratar esses tipos de mercenários…”

— “Oh, eu também devo muito a eles.”

‘Deve?’ Theo olhou para o seu pai inquisitivamente.

— “Eles são mercenários que vieram lutar contra os bandidos nos arredores. Não havia nenhuma relação com o nosso território. Mas no mesmo dia em que eles ficaram na nossa aldeia, os monstros vieram.”

— “…Então eles têm protegido este lugar por uma semana?”

— “Sim. Quando eles saírem, não poderei sentir pesar… Só poderei dizer obrigado.”

Era difícil de acreditar. Mercenários eram pessoas que fariam qualquer coisa por dinheiro. Alguns raros eram justos e fiéis, mas muitos se tornavam mercenários porque eles queriam ser capazes de matar pessoas legalmente. Aquelas pessoas precisavam ser filtradas. No entanto, eles nunca eram do tipo que se voluntariavam para fazer um trabalho.

‘A menos que haja algum tesouro oculto neste vilarejo, mas isso não é possível.’

Parece que ele teria que falar diretamente com o Randolph.

Depois de pensar nisso, Theodore não falou mais e comeu silenciosamente a sopa que sua mãe tinha preparado. A sopa rala com alguns ingredientes caiu em sua garganta. Havia muitas sopas deliciosas na Academia Bergen, como também na Capital Mana-vil. No entanto, ele queria comer esta sopa.

Sylvia não parecia ser exigente quanto à comida, já que ela também mastigava o pão duro. Theo fingiu não ter conhecimento do rosto feliz de sua mãe e levantou sua colher novamente.

No entanto, ainda havia uma pilha de problemas para se preocupar. A calmaria temporária continuou como se apenas o som dos talheres em movimento pudesse ser ouvido.

— “Então eu vejo você mais tarde.”

— “…Sim.”

Após terminar a refeição, a Sylvia e o Theo foram na direção de seus quartos. Eles tinham viajado desajeitadamente juntos por cinco dias, vindo de Mana-vil, mas um homem e uma mulher absolutamente não podia ficar no mesmo quarto. A Sylvia seguiu a mãe do Theo nervosamente.

Em seguida, Theo entrou no seu quarto com passos familiares.

*Barulho*

Seu quarto, que ele não via há cinco anos, não parecia diferente de quando o Theo havia saído. Até mesmo a ordem dos livros nas prateleiras era a mesma. A cama que ele caiu em cima ainda era fraca, e o papel de parede rasgado não mostrava sinais de reparo.

— “Hahh…” Theo respirou fundo algumas vezes e disse, — “Ei, você poderia acordar agora?”

Ele estava falando com o Gula, que dormia tranquilamente.

Era algo que o Theo tinha começado a compreender após a última pergunta e resposta. Há pouco tempo, ele começou a ser capaz de detectar a condição do ser vivo em sua mão esquerda. Ele podia sentir quando ele estava com fome ou quando ele estava se sentindo bem ou mal. Graças a isso, ele podia dar os livros como alimento sem se preocupar com a Sylvia, mas ele achava que era possível chamar o Gula diretamente agora.

Sem surpresa, Gula respondeu ao seu chamado.

— …Você compreendeu. Você é mais sensível do que eu pensei que seria.

Uma voz sombria emergiu do buraco em sua mão esquerda. A voz tinha uma sonolência distinta, ou seja, ele ainda estava com um pouco de sono. Theo percebeu que a sua consciência estava começando a aumentar lentamente.

— “Palavras longas não são necessários. Quantos livros você precisa hoje?”

— Dois ou três.

— “Certo. Então eu vou te dar dois livros.”

Ele agarrou os dois livros que ele tinha preparado antecipadamente com a mão esquerda.

Gulp. A língua engoliu os dois livros.

 


[‘Barreira Mágica’ foi consumido. Sua compreensão é muito alta.]  

[A proficiência com a magia do 4º Círculo ‘Parede de Pedra’ aumentou.]  

[‘Explosão é Uma Arte’ foi consumido. Sua compreensão é muito alta.]  

[A magia ‘Explosão’ do 4º Círculo foi aprendida.]


 

Ele recebeu a compreensão de duas magias do 4º Círculo de uma vez, mas por sorte, ele já tinha aprendido uma delas. Graças a isso, a dor de cabeça foi menor.

Parede de Pedra era a versão superior da magia Parede de Terra. Era uma magia persistente que construía uma parede com rocha sólida. Quanto à magia Explosão, Theodore usou o seu conhecimento e rapidamente pôde organizar as informações em sua mente.

Este era um feitiço que certamente seria capaz de lidar com um monte de mortos-vivos.

— “…Certo, está feito.”

Após as ondas de sabedoria que passaram por ele, Theo olhou para sua mão esquerda com olhos penetrantes. Ele podia alimentá-lo com três livros, mas ele escolheu dois para que ele pudesse fazer uma pergunta. Era mais importante ter algumas informações extras do que ter mais uma magia.

Theo tinha que descobrir uma forma de parar este desastre.

— “Então eu vou perguntar.”

O grimório deve saber a resposta certa.



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