O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 22: Assalto

Ragnar e seus amigos adentraram em um quarto vazio no terceiro andar da Fortaleza Toca dos Lobos. Lá dentro, Skiff sentou-se no chão, retirou do inventário duas peças de couro de megalotauro e, em seguida, as juntou costurando-as com uma agulha grossa.

O fio marrom deslizou pela superfície seguindo o padrão indicado pela ferramenta auxiliar de criação. Quando terminou, pousou a agulha sobre o kit de confecção e admirou o resultado: a peça serviria de base para a primeira Bolsa de Megalotauro.

Enquanto ele trabalha arduamente, Artic e Niki estavam recostados na parede de pedra do quarto, conversando em voz baixa, enquanto Ragnar espionava da janela o movimento do lado de fora da fortaleza.

Yes! Consegui — comemorou Skiff, exibindo a grande bolsa vermelha que acabara de confeccionar.

Artic balançou a cabeça em aprovação.

— Ótimo trabalho — disse Niki, dando uma piscadela capciosa.

Apesar da reação positiva dos amigos, Ragnar era atormentado por preocupação, pois o amigo demorou mais de dez minutos para fabricar a peça. Se ele não melhorasse, o grupo precisaria esperar mais de uma hora para as sete bolsas restantes ficarem prontas.

Ragnar ficou em silêncio, aguardando a criação da segunda bolsa.

Skiff utilizou mais uma vez a ferramenta auxiliar para decorar os pontos de costura. A melhora foi aparente, não houveram tantas hesitações no manuseio da agulha, mas ainda não era o bastante, levou oito minutos e meio para confeccionar a bolsa.

O druida ia pedir ao amigo que acelerasse o processo, mas calou-se quando o viu desativar a ferramenta auxiliar e conseguir finalizar a terceira em seis minutos, enquanto o resto, em menos de cinco.

Satisfeito com a melhora, Ragnar espiou o pátio da fortaleza. As únicas forças presentes eram os guardas na entrada da construção principal, os dois em frente à muralha, as duas sentinelas rondando a muralha e um pequeno grupo de jogadores distraídos.

Confiante com o que acabara de ver, transformou-se em urso de ferro. Sua forma animal aprimorada ocupou boa parte do cômodo em que se encontravam.

Sua altura avantajada dificultou o trabalho dos amigos quando tentaram encaixar nele o suporte onde seriam encaixadas as oito bolsas.

Mas para a felicidade do grupo, toda essa etapa transcorreu sem imprevistos. Em poucos minutos as bolsas foram colocadas, quatro em cada lado. Entre as duas primeiras e as duas últimas foi deixado um vão para que eles pudessem subir.

A primeira parte do plano foi um sucesso, mas a brincadeira ainda estava para começar.

Ragnar voltou à forma humana e acessou a janela de informações. As oito bolsas constavam como equipamentos exclusivos da forma animal, portanto, os incrementos de limite de peso fornecido por elas não funcionavam em sua forma humana.

Ragnar olhou para cada um dos três ao seu redor.

— Prontos? — perguntou.

Eles confirmaram, e então desceram para o Salão do Tesouro.

— Lembrem-se — disse ele, no meio do caminho. — Carreguem o máximo de ferro que puderem. Desçam apenas quando todos estiverem prontos. Eu não posso ficar aqui dentro porque a forma de urso é grande demais para passar pelos corredores mais estreitos.

Os três assentiram e adentraram na sala onde o ferro da guilda estava guardado.

Ragnar caminhou pelos corredores, desceu a escadaria e saiu da construção principal pela porta dos fundos. Do lado de fora, contemplou o espaço vazio que o distanciava da muralha.

Havia apenas uma sentinela fazendo a vigília, assobiando conforme caminhava pelas ameias. Quando ele saiu de vista, Artic, Niki e Skiff apareceram.

Ragnar espiou os arredores antes de se transformar em urso de ferro. Os três colegas abriram o inventário e transferiram o ferro para as bolsas em suas laterais. Assim que acabaram, retornaram ao Salão do Tesouro enquanto o druida voltou à forma humana para não levantar suspeitas.

Hora de ficar parado, relaxando na maior tranquilidade, pensou, pois, todo o ferro transferido acabou ultrapassando o dobro do limite de peso de sua forma humana.

Em Nova Avalon Online, o limite de peso define o quanto um avatar consegue carregar sem ser penalizado.

O limite verdadeiro é equivalente ao dobro do limite de peso, tentar carregar mais do que isso o impede de fazer qualquer outra coisa, o avatar fica plantado no chão até liberar peso suficiente.

Porém, alguém que esteja carregando mais que o limite, porém menos do que o máximo verdadeiro, sofre uma penalidade que diminui sua velocidade e aumenta o consumo de energia de qualquer ação. A penalidade é mais severa dependendo de quão acima do limite você está.

Ragnar estava parado próximo à parede da construção quando o vigia na muralha retornou. Ele olhou em sua direção, e o cumprimentou:

— Mas que bela tarde, não é mesmo?

— Belíssima — Ragnar acenou.

Por sorte aquele era um dos poucos soldados controlado pelo sistema, então logo voltou a sua rotina de patrulha.

Os três cúmplices apareceram mais uma vez com o inventário lotado de ferro. Sem perder tempo eles se aproximaram do urso e depositaram a carga nas bolsas.

Pouco a pouco as toneladas de minério no salão foram desaparecendo.

Em menos de uma hora tudo fora movido para o inventário de Ragnar, que agora estava em sua forma de urso de ferro, pronto para iniciar a fase mais difícil do plano, a fuga.

— Ei! O que vocês estão fazendo? — gritou o vigia no alto da muralha.

— Ferrou — Ragnar sussurrou para os amigos, então se dirigiu ao soldado: — Estamos cumprindo uma ordem direta da tenente Havoc.

O soldado apressou-se descendo as escadas.

— E agora? — perguntou Niki, nervosa.

— Corram quando eu der o sinal.

— O quê?

O soldado brandiu sua alabarda e avançou em direção ao grupo.

— Devolvam o… — Mas antes que ele pudesse terminar a frase, Ragnar saltou em sua direção e desferiu uma Patada Atordoando em seu peito.

O soldado caiu de costas no chão.

— Corram! — rugiu para seus amigos.

Os três equiparam suas armas e correram em direção ao único portão da fortaleza. No meio do caminho, o grupo formado por três membros da guilda os surpreendeu.

— Parados, ladrõezinhos! — berrou um guerreiro brandindo um martelo com as duas mãos. Seu semblante feroz indicava já estar ciente do que estava acontecendo. — Peguem eles!

Os oponentes atacaram. O guerreiro liderou a formação. O ladrão vinha logo atrás, mirando sua balestra contra a face do urso, enquanto um conjurador preparava a invocação de uma criatura aliada.

Ragnar soltou um rugido poderoso, forte o bastante para fazê-los hesitar por um segundo, cancelando o feitiço do conjurador e atrapalhando a mira do ladrão. E, quando eles se recuperaram, o urso de ferro os atropelou com seu corpo massivo.

O guerreiro foi o único a permanecer em pé, mas a força do impacto derrubou seu martelo.

— Não, não! — ele gritou. — Não deixem eles fugirem.

O ladrão se levantou, olhou para a sentinela no alto do portão, e gritou a plenos pulmões:

— Feche o portão! Feche, agora!

O soldado ouviu seu comando, mas quando alcançou a alavanca que fecharia a passagem, era tarde demais.

Ragnar e amigos já estavam do lado de fora da muralha.

Eles não perderam tempo e dispararam para a cidade de Salem. Os dois guardas em frente à muralha correram para interceptá-los, mas ficaram para trás e logo pararam depois para tomar um ar. Eles arfavam como se tivessem acabado de correr uma maratona.

Contrataram os guardas mais baratos e vagabundos, Ragnar concluiu em pensamentos.

Enquanto desciam o morro, ouviram os xingamentos proferidos dentro da muralha. Artic, Niki e Skiff corriam ao seu lado.

Mas quando chegaram ao pé da elevação, uma espadachim montada em um cavalo os aguardava com uma feição decepcionada.

— Você me traiu, Ragnar — ela falou desembainhando a Lâmina de Salazar. — Devolva tudo que nos roubou.

Ele já imaginava que o alerta se espalhara pela guilda. Àquela altura, a maioria dos integrantes da Pata Negra já sabiam do ocorrido, e deveriam estar se apressando para ajudar na capturara aos ladrões. Então poderia ser questão de minutos até Zed e companhia aparecer.

— A gente dá conta dela — disse Niki, com uma mão apoiada na armadura de Artic.

— Ficaremos aqui para que ninguém persiga vocês — disse o cavaleiro.

— Obrigado — disse Ragnar, então virou-se para Skiff. — Suba em minhas costas, eu carregarei você até a cidade.

O caçador se impulsionou e se lançou contra o corpo do grande urso negro, mas como não havia algo em que pudesse se apoiar para subir, utilizou as próprias bolsas de megalotauro como pontos de apoio.

Enquanto isso, Havoc puxou as rédeas de seu cavalo, fazendo-o avançar contra os ladrões. Quando ganhou velocidade, virou a lâmina da espada visando um corte na cabeça do urso de ferro.

Ragnar fixou o olhar na espadachim se aproximando. O cavalo avançava a toda velocidade. A espada refletia a luz do sol. Ela chegou perto, muito perto. E ele ouviu alguém implorar:

— Faça alguma coisa.

E ele fez. Ergueu-se nas duas patas traseiras, o corte de espada foi bloqueado pelas patas cobertas por camadas de ferro. O golpe fora bloqueado, então poucos pontos de vida foram deduzidos da vida do druida, que jogou todo seu peso contra ela e o cavalo.

O equino relinchou em dor e desespero. Ragnar esperava encontrar Havoc caída no chão, mas foi surpreendido ao vê-la rolar no chão, mitigando o dano da queda e evitando o atordoamento que acabaria sofrendo.

Ela grunhiu enfurecida ao se reerguer, sua armadura leve estava manchada de terra e grama, mas ela ignorou, pois precisava lidar primeiro com os ladrões. Então, quando vislumbrou o horizonte, sua face corou em raiva.

O grande urso negro corria para longe e, montado em cima dele, um caçador balançava seu arco enquanto fazia caretas para ela.

Distraída pela provocação, Havoc foi surpreendida por um estouro de tremer o chão. Artic havia saltado e desferido o mangual no chão, causando o tremor que a derrubou.

Niki apareceu em seguida, erguendo as adagas e as desferindo contra o peito da adversária. Porém, Havoc levantou a espada, a lâmina cravou no antebraço da assassina, que a xingou sem pudores.

A espadachim se ergueu e recuou antes de Artic reagir.

— Mandar mensagem para todos os membros da guilda — ela acionou o comando exclusivo dos membros de alta patente. — Ragnar, o druida, roubou nosso tesouro. É muito provável que ele esteja fugindo para a cidade de Salem, então, todos que estiverem próximos da cidade, matem-no.


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