Volume 8.5
Extra 1: Livre de Cinzas; Sem Necessidade de Sapatinhos de Cristal
Cinderella soltou um suspiro profundo. A raiz de sua situação eram suas meias-irmãs.
“Hmm, acho que esta realça mais a fofura da Cinderella,” disse uma.
“Sério? Mas os babados não parecem meio infantis?” Argumentou a outra. “Aquele com os cadarços enfatiza muito mais sua beleza, se você me perguntar.”
Cinderella foi transformada em uma boneca de vestir.
Verdade seja dita, ela era bastante indiferente ao divórcio de seus pais. Eles raramente mostravam seus rostos em casa e nunca demonstraram seu amor por ela. Como ela cresceu principalmente sob os cuidados de empregados, Cinderella não tinha comentários a fazer sobre a ausência de sua mãe ou o novo casamento de seu pai. Embora uma parte dela desejasse que ele pelo menos a tivesse consultado antes, ela sabia que, como uma mera filha, não tinha o direito de questionar a vontade do chefe da família.
Com a chegada de sua madrasta, Cinderella não havia previsto que também ganharia meias-irmãs. Foi um choque quando ela se viu com duas meias-irmãs um ou dois anos mais velhas que ela. Logo depois, tanto seu pai quanto sua madrasta começaram a evitar voltar para casa ainda mais do que antes. Seu pai sempre foi um workaholic, e parecia que sua madrasta, talvez devido à sua posição, havia se casado com ele por necessidade e não por escolha. Consequentemente, ambos mergulharam em seus respectivos empregos, deixando as crianças por conta própria.
Assim, a responsável Cinderella foi deixada para cuidar de suas novas duas meias-irmãs. Felizmente, suas meias-irmãs a trataram com gentileza. Além de praticamente abandonar suas crianças, a madrasta de Cinderella era uma pessoa racional e, por sua vez, suas filhas eram sensatas e gostavam de coisas adoráveis — particularmente a linda Cinderella. Elas continuaram a adorá-la muito, até hoje.
“Acho que Cinderella ficaria ótima de rosa,” sugeriu uma meia-irmã.
“Talvez um azul claro em vez disso deixasse um visual mais formal e adequado?” Recomendou a outra.
A meia-irmã de cabelo vermelho e a outra com o cabelo preso em um rabo de cavalo estavam ocupadas mexendo nos vestidos de Cinderella, discutindo qual deles ficaria melhor nela. Por outro lado, Cinderella simplesmente queria começar a fazer as tarefas domésticas.
[Del: Ahaha... Chitose e Ayaka.]
Com seu pai, o chefe da casa, frequentemente ausente devido ao trabalho, e sua madrasta, que deveria ter assumido o papel de dona da casa, também trabalhando ao lado dele, Cinderella ficou sem nenhuma autoridade real em casa. Se ela tivesse recebido o poder de administrar a casa, ela poderia ter providenciado ajuda até certo ponto no lugar de sua madrasta. No entanto, sem essa autoridade, ela era apenas uma jovem com influência limitada. Felizmente, elas receberam fundos adequados para suas despesas de subsistência, então, embora não estivessem em dificuldades financeiras, ainda se encontravam em uma situação em que tinham que cuidar de suas necessidades diárias sozinhas.
“Cinderella~, o que você acha deste vestido?”
[Del: Essa é a de cabelo vermelho falando, certeza.]
“É bem bonito, mas parece impraticável para tarefas como cozinhar e limpar,” Cinderella julgou.
“Qual ééé!”
O vestido que elas estavam sugerindo era um com uma saia grande de baile, que era claramente inadequado para fazer tarefas domésticas.
“Nós cuidamos da limpeza, então. Okay?” uma delas ofereceu.
“Vocês já se esqueceram de como derrubaram um saco de farinha e transformaram o chão em uma bagunça, ou como derrubaram um balde de água, inundando tudo?” Cinderella as lembrou.
“Sinto muito.”
“Por favor, tenham mais cuidado da próxima vez.” Quando Cinderella as aconselhou gentilmente ao mencionar seus contratempos anteriores, elas rapidamente se desculparam.
A casa delas, embora tecnicamente classificada como uma mansão, era modesta para a residência de um nobre. O estilo de vida delas quase se assemelhava ao de um plebeu. Consequentemente, elas não precisavam de muita ajuda com as tarefas domésticas, mas se as coisas estivessem excessivamente desorganizadas, tornava-se demais para Cinderella lidar sozinha. Normalmente, ela recorreria ao vizinho para obter ajuda, mas se sentia culpada por depender dele com muita frequência e preferia administrar o máximo possível sozinha.
“Me vestir é desnecessário. Além disso, ainda preciso preparar o almoço para vocês duas,” explicou Cinderella.
“E para o cara da porta ao lado, certo?”
[Del: Heh.]
“Meia-irmã, por favor.” Cinderella a repreendeu, dando-lhe um olhar cortante.
“Desculpe...” A meia-irmã ruiva rapidamente se desculpou com uma reverência de cabeça, ganhando uma risada da outra.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Um dia, enquanto Cinderella estava se dando bem com sua nova e crescente família, um convite chegou em sua casa. Era um convite do palácio, o que as deixou intrigadas no início, mas ao abri-lo, descobriram que era para um baile no castelo.
O convite parecia ser especialmente direcionado a moças em idade de casar, e as três trocaram olhares e deram de ombros.
“Então é essencialmente uma festa para escolher uma parceira para o príncipe herdeiro.” Elas ouviram dizer que o príncipe tinha mais ou menos a idade delas, então parecia provável.
[Del: Peraê, Príncipe?]
“...É baseado na aparência?” Perguntou Cinderella. A ideia de encontrar uma parceira em um baile a fez supor que seria principalmente sobre aparências. No entanto, talvez ela só carregasse essa linha de pensamento devido à sua maneira cínica de pensar. Cinderella não era de forma alguma uma sonhadora ou idealista — ela achava que seria mais prático decidir sobre um noivo desde a infância e educá-lo adequadamente.
“Bem, ter uma parceira com boa aparência pode ser uma ótima maneira de se exibir para outros países, eu suponho,” uma meia-irmã mencionou
“Mas educação, inteligência e caráter não deveriam ser mais importantes para um representante da nação?”
“Talvez eles queiram trabalhar nisso depois do fato? Todas as convidadas são nobres solteiras de uma certa idade, então elas provavelmente já selecionaram as candidatas, certo?”
“Sério? Enviar um convite para uma família nobre menor como a nossa pode sugerir que elas estão apenas tentando lançar uma rede bem ampla.”
Todas as três fizeram especulações enquanto olhavam para o convite. Qualquer nobre normal veria isso como uma grande oportunidade, mas as três não tinham tais desejos e estavam apenas confusas com o convite. Elas até consideraram o convite um incômodo.
Elas sentiram que seria impróprio para todas elas pularem o evento, por mais que quisessem fingir que não tinham sido convidadas. Isso significava que o palácio havia reconhecido especificamente sua casa.
“Hmm, o que devemos fazer?” uma perguntou.
“Não tenho interesse em me tornar Rainha, mas estou interessada na comida da festa.”
“De fato…”
[Del: Kkkkkkkkk, tá né kkkk, isso é razoável.]
Pode parecer ganancioso, mas Cinderella não conseguia deixar de pensar que jantar no palácio real deveria ser uma experiência totalmente diferente de suas refeições cotidianas. Os pratos que ela preparava eram caseiros e comuns, mas no palácio, ela imaginava que haveria muito a aprender, principalmente em termos de técnicas de culinária e temperos, mesmo que os ingredientes fossem os mesmos.
“Se for uma festa organizada pela família real, a comida deve ser maravilhosa, certo? Eu esperava que servisse de referência para minha culinária… Então talvez eu pudesse preparar algo especial para vocês duas como minhas meias-irmãs.”
“Cinderella…!” as meias-irmãs exclamaram, abraçando-a com força. Cinderella gemeu enquanto elas a apertavam, mas elas não lhe deram atenção e carinhosamente esfregaram suas bochechas contra as dela. Ciente da afeição delas, Cinderella aceitou o gesto com um pequeno sorriso irônico. Ela não desgostou da maneira como elas demonstraram seu carinho por ela.
Depois de um tempo de abraços, uma meia-irmã, com uma carranca preocupada, disse: “Eu adoraria ir com a Cinderella, mas não podemos levá-la... O príncipe pode ficar de olho nela.”
“É verdade. Se levarmos nossa adorável pequena Cinderella conosco, ela pode ser escolhida. E isso causaria todo tipo de problema.”
“Eu não acho que isso aconteceria, no entanto...” Cinderella falou.
Cinderella estava ciente de sua boa aparência, mas ela não se considerava uma das mulheres mais bonitas que existem. Ela achava que a probabilidade de outras mulheres serem escolhidas em vez dela era muito maior.
Cinderella viu seu convite para o baile como quase apenas uma questão de números. Ela duvidava que o príncipe consideraria se casar com alguém de uma família nobre menor quase sem poder.
Ao contrário da visão um tanto pessimista de Cinderella, suas meias-irmãs usavam expressões sérias em seus rostos. “De jeito nenhum, aconteceria sim! Nossa Cinderella é tão adorável!”
“Exatamente! Precisamos encontrar um bom marido para nossa Cinderella!”
“Só precisamos encontrar parceiros adequados na festa nós mesmas, e estaremos livres!”
Isso pegou Cinderella de surpresa. “Vocês duas não estão pensando em herdar a casa no meu lugar?” ela perguntou. Cinderella não tinha nenhum apego especial à casa e não teria reclamações se qualquer uma de suas meias-irmãs decidisse assumir. Ela sentia que estava mais bem equipada do que suas meias-irmãs para sobreviver no mundo comum, e estava até preparada para fugir de casa se a situação exigisse.
Seu comentário leve foi recebido com seriedade repentina por ambas as meias-irmãs, que voltaram seus olhares silenciosos e intensos para ela. “Cinderella.”
“Sim?”
“Não podemos herdar a casa, pois não compartilhamos o sangue com nosso padrasto. Se alguém além de você herdar, seria completamente como tomar a casa.”
“Que direto da sua parte,” respondeu Cinderella.
Em termos de linhagem, fazia sentido. A linhagem da casa era com seu pai, não com a madrasta. Se suas meias-irmãs fossem filhas biológicas de seu pai, elas teriam o direito de herdar a casa, mas sendo filhas da madrasta, elas não eram originalmente relacionadas à casa. Mesmo tendo sido adotadas pela família, Cinderella continuava sendo a herdeira legítima.
“Nós entendemos nosso lugar nesta casa, não se preocupe,” disse uma meia-irmã.
“Nossa mãe também sabe disso, então ela tenta ficar longe o máximo possível,” acrescentou a outra.
“Huh? Sério?” Respondeu Cinderella. “Eu presumi que ela estava apenas ocupada com o trabalho.”
“Bem, isso é parte disso. Mas também, nós... nós dissemos a ela que queríamos uma irmã, então, hum... Nós te incomodamos?” Ambas olharam para Cinderella, desanimadas.
Apesar de ambas as meias-irmãs serem mais altas que Cinderella, elas pareciam terrivelmente adoráveis para ela. Ela rapidamente balançou a cabeça em negação. “Não, eu também queria ter uma família. Estou feliz que vocês duas decidiram vir.”
““Cinderella...!””
“Vocês estão familiarizadas com a forma como o pai age, certo? Ele não parece muito uma família, então estou feliz por ter vocês duas aqui,” Cinderella disse a elas com um sorriso.
As meias-irmãs trocaram olhares e então sussurraram entre si.
“O padrasto me mandaria para fora de casa se eu desse um tapa nele uma vez?”
“Eu acho que a mãe merece o mesmo tratamento...”
Cinderella teve a sensação de ter ouvido algo bastante arriscado, mas fingiu não ouvir o conteúdo da pequena conversa delas.
Voltando ao tópico original, uma meia-irmã disse: “Você não gosta de lidar com a realeza, não é, Cinderella? Você acha que é um incômodo, certo?”
Tendo sua personalidade lida como um livro, Cinderella desviou o olhar.
“E além disso... você sabe.”
“Certo?”
Elas olharam além do olhar desviado de Cinderella. Ela estava olhando por uma janela. Do outro lado do vidro estava a casa da vizinha — a residência de alguém em quem elas frequentemente confiavam.
“... O que você está insinuando?”
“Nadinha?”
“Heh heh heh.”
Cinderella sabia o que elas estavam insinuando, mas escolheu não verbalizar. Dizer isso em voz alta significaria reconhecer seus sentimentos, o que ela não estava pronta para fazer. Suas meias-irmãs, no entanto, continuaram a mostrar seus sorrisos e olhares afetuosos e travessos.
“Talvez encontremos o padrasto se formos ao baile?” Uma das meias-irmãs se perguntou.
“Não precisamos ir, então.”
“Wow, você com certeza decidiu rápido.”
“Está tudo bem. As coisas só vão azedar se o virmos.”
O pai delas, embora um workaholic, não era particularmente sedento por poder. Se fosse, provavelmente as teria casado com nobres de alto escalão para seu próprio benefício. Nesse sentido, elas se sentiam aliviados com ele, mas seu caráter era, para dizer o mínimo, deficiente. Sua negligência com suas três filhas por si só era o suficiente para mantê-lo fora de qualquer lista de pais louváveis.
Além disso, se elas encontrassem seu pai agora, Cinderella nem saberia como reagir. Ela provavelmente poderia dizer uma coisa ou duas em ressentimento, mas eles nem tinham um relacionamento que justificasse expressar tais queixas. Era melhor evitá-lo o máximo possível.
“Não somos todos obrigados a ir a este baile, somos?” Cinderella perguntou.
“Acho que não, até onde eu sei,” respondeu uma.
“Então está decidido. Eu ficarei aqui, e somente vocês duas — minhas meias-irmãs — comparecerão,” concluiu Cinderella. Ela as encorajou a aproveitar a comida em seu nome, ao que elas responderam com um sorriso irônico e um aceno de cabeça.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Enquanto Cinderella observava suas meias-irmãs partindo para o baile, ela retornou à sua tarefa habitual de cuidar do jardim, onde soltou um suspiro. Ela não estava particularmente incomodada em perder uma festa casamenteira de fato, mas sentiu uma mistura de solidão por estar separada de suas amadas meias-irmãs e decepção por perder a comida deliciosa. Seu suspiro deve ter sido ouvido, pois ela sentiu alguém parado por perto.
Era alguém cuja presença ela acolheu em vez de ver como uma intrusão. “Mago-san.”
[Del: Comteempleem o Magooooo! | Jeff: Com seus podeeeeres!]
“Qual é o problema? Por que você está suspirando?” ele perguntou levemente.
Virando-se para o lado, ela viu seu vizinho, que ela via quase todos os dias. Ele pertencia a uma família de Magos e frequentemente ajudava em sua casa, considerando que poderia ser difícil para apenas meninas. Ele começou a ajudar já que o pai de Cinderella raramente estava em casa, deixando-a para viver modestamente com apenas uma serva, algo que ele simplesmente não suportava ver. Sua assistência continuou mesmo depois que o servo se aposentou e quando suas meias-irmãs chegaram, sempre estando ao lado dela.
Ela ofereceu-lhe refeições como agradecimento por sua ajuda, mas ele fez tanto por ela que ela sentiu que as refeições sozinhas não seriam suficientes. Cinderella estava dividida entre gratidão e culpa, e agora, depois de ser abordada por ele, ela sentiu uma sensação calorosa agitar seu coração.
“Oh, é que minhas meias-irmãs foram ao baile, e...”
“Oh, certo, isso está sendo realizado hoje, não é? Elas te deixaram para trás, Cinderella?”
“Elas deixaram.”
“…Mas por quê? Elas duas não te adoram?” O Mago, que costumava visitá-la, estava bem ciente da afeição das meias-irmãs por Cinderella e parecia surpreso que elas a deixariam.
“Eles disseram que é para evitar que o príncipe se afeiçoe por mim.”
“Ohhh.” Ele pareceu entender e exalou no que pareceu ser alívio, intrigando Cinderella.
Ele fazia parte de uma família de Magos que estava no país há muito tempo e ocasionalmente interagia com a família real. Dado isso, ele deveria entender que a realeza não consideraria alguém de uma família nobre menor como a de Cinderella. No entanto, sua reação sugeriu outra coisa, o que intrigou Cinderella.
“Mas falando realisticamente, não é impossível para o príncipe se apaixonar por alguém como eu?”
“Na verdade, não. Com o quão atraente você é, não seria estranho se ele se apaixonasse.”
[Del: O Mago é implacável.]
Sentindo suas bochechas esquentarem com o elogio direto, Cinderella mordeu o interior de sua bochecha levemente para evitar mostrar seu crescente constrangimento em seu rosto.
“Eu discordo. Um futuro rei não se casaria com uma garota sem nenhum apoio significativo. Não acho que Sua Majestade permitiria isso e, na melhor das hipóteses, eu poderia ser uma mera concubina.”
“Uma maneira muito realista de pensar... Você não deseja ser admirada?”
“Mesmo se ignorássemos temporariamente as questões de linhagem e origem familiar, eu acabaria sendo criticada por essas mesmas razões no palácio real. O fardo seria muito grande, independentemente de quão elegante o estilo de vida prometesse. Eu definitivamente odiaria,” ela explicou.
Cinderella não ansiava por uma vida luxuosa. A presença de seus pais era um pouco perturbadora, mas ela estava contente com suas gentis meias-irmãs, uma vida livre de preocupações com comida e roupas e o querido Mago da porta ao lado que apreciava suas refeições com um sorriso. Ela estava satisfeita como as coisas estavam atualmente.
“Eu quero viver uma vida estável,” admitiu Cinderella. “Não tenho desejo de me jogar em um ambiente onde minha vida ou mente estariam em jogo.”
“Sim, estou aliviado e preocupado que você esteja tão ancorada na realidade. Está claro que você não gosta da ideia...” ele refletiu.
“E você, Mago-san? Você não quer ser empregado no palácio real?” ela perguntou. Magos eram raros em número, o que os tornava ativos valiosos. Embora ele parecesse usar magia apenas para tarefas diárias e mantivesse sua identidade como Mago escondida, Cinderella acreditava que suas habilidades eram substanciais o suficiente para garantir um convite do palácio. Ele usou ferozmente seus poderes para protegê-la do perigo, provando ser um Mago forte, gentil e justo com vontade de proteger.
“Ah, de jeito nenhum. Com a posição vem uma grande responsabilidade, e o uso imprudente de magia pode eventualmente levar à morte de alguém. Prefiro evitar minha própria ruína ou a queda do país, então viver tranquilamente na cidade é mais feliz para mim,” ele declarou.
“Viu? Você sente o mesmo, Mago-san.”
“…Sim, acho que sim,” ele concordou com a sugestão dela de que eles eram iguais, dando de ombros e sorrindo enquanto bagunçava o cabelo dela. Parecia condescendente, e ela o encarava, mas seu olhar gentil e afetuoso tornava difícil para ela dizer qualquer coisa.
“Hmph.” Fazendo beicinho, ela deu um tapinha em sua mão grande, o repreendendo de brincadeira. Isso só suavizou ainda mais seus olhos de obsidiana, deixando Cinderella sem resposta. “…Ah, a propósito, por que você está aqui?”
Pensando bem, essa não era a hora normal para o Mago aparecer. Embora ele não se declarasse publicamente um Mago, ele era conhecido como farmacêutico, vendendo medicamentos altamente eficazes que eram o assunto da cidade.
Cinderella presumiu que ele estaria em sua loja hoje, então ela perguntou por que não era o caso. Ele pareceu estranhamente evasivo, dizendo, “Ahh, sobre isso, bem…” suas palavras sumiram.
Ela olhou para ele, imaginando se algo estava errado, já que ele não precisava ser tão evasivo se simplesmente fechasse sua farmácia por um dia. Finalmente, como se estivesse se resignando ao seu destino, ele falou: “... Uh, eu vi você de lá, e pensei que você estava chorando. Você estava olhando para baixo e tremendo.”
Ao ouvir o murmúrio tímido do Mago, Cinderella não conseguiu deixar de sorrir. “Entendo. Você estava preocupado comigo.”
“O que, eu não deveria?” Sua voz e comportamento tornaram-se defensivos, um sinal claro de constrangimento. Sabendo disso por sua longa amizade, Cinderella sorriu gentilmente, não querendo provocá-lo.
“Não, estou feliz com isso. Sinto muito por fazer você se preocupar. Eu só estava me sentindo um pouco triste por não ter ido ao baile.”
“Então você queria ir, afinal?”
“Bem, não exatamente... promete que não vai rir?”
“Não vou.”
Hesitante em compartilhar seus verdadeiros sentimentos, mas não querendo que ele entendesse mal que era devido a algo severo, ela lentamente revelou seu arrependimento através de sua hesitação. “Eu só queria experimentar a comida deliciosa de lá e obter alguma inspiração,” ela admitiu, sentindo-se um pouco envergonhada em admitir suas razões focadas na comida para querer comparecer.
O Mago, que estava ouvindo atentamente, piscou surpreso. Então, inevitavelmente, sua boca se contraiu enquanto ele tentava suprimir uma risada. Seu corpo tremia levemente, então não deve ter sido sua imaginação.
“Você prometeu que não riria!” ela protestou.
“Eu não estou... rindo,” o Mago alegou enquanto abafava uma risada.
“É isso! Chega de comida minha para você!”
“Sinto muito!” ele riu, mas também correu para se desculpar quando ela declarou revogar seus direitos alimentares.
“Môu!” Cinderella deu um soco brincalhão em seu ombro, que era o mais alto que ela conseguia alcançar em seu corpo alto. Sua constituição chocantemente sólida não se mexeu, e o leve constrangimento dessa percepção a fez continuar seu ataque despreocupado. O Mago apenas riu, agradado por suas ações.
Depois de um tempo, Cinderella parou sua inofensiva barragem e olhou para ele, agora sorrindo diferente. Gentilmente dando um tapinha em seu ombro, ele a tranquilizou, “Você não precisa se inspirar na comida luxuosa do castelo. Sua comida já é deliciosa. Eu como quase todo dia e posso garantir.”
“...Obrigada. Mas ainda assim, você não gostaria de comer uma comida ainda mais deliciosa?”
“Eu? Eu não gosto muito de comida muito chique. Uma refeição luxuosa ocasional é legal, mas para refeições diárias, eu definitivamente prefiro a sua comida.”
“Entendo, entendo...” Cinderella riu, sentindo-se contente com sua afirmação de que ele preferia sua comida. Cinderella sabia que era simples se sentir tão realizada com tal comentário, mas ela não desgostava dessa parte de si mesma. Ser elogiada por alguém importante era o suficiente para enchê-la de alegria. Mesmo sem ir ao castelo, ela se sentia extremamente sortuda por ter esses pequenos momentos de felicidade.
“Você parece bem satisfeita,” disse o Mago.
“Estou, é por isso. Fico feliz em saber que você quer comer minhas refeições todos os dias.”
“...Você normalmente não ficaria irritada com isso? Sabe, ter que cuidar de um aproveitador diariamente.”
“Por quê? Você paga suas refeições além de me ajudar a cuidar da casa. Além disso, eu sei como você nos protege secretamente,” respondeu Cinderella. Enquanto o Mago brincava levemente sobre parasitar, Cinderella sentia que era ela quem estava se beneficiando demais. Ele estava cuidando dela e ajudando-a desde quando ela tinha apenas um servo, muitas vezes vindo para salvar o dia quando a assistência masculina era necessária. Ele a protegeria sempre que homens estranhos tentassem cortejá-la, chegando ao ponto de acompanhá-la até a cidade na próxima vez para ter paz de espírito.
Mas isso não era tudo. Ela também suspeitava que ele estava usando magia ou algo semelhante para proteger sua casa. Ela sempre sentiu uma sensação de proteção ao redor da casa, que nunca enfrentou nenhum perigo, apesar de ser habitada apenas por mulheres. O fato de ele fornecer tal cuidado e apenas pedir refeições em troca a fez se sentir ainda mais grata, acreditando que ela era quem deveria ser mais grata, não ele.
“Por favor, aja como se não tivesse notado nada,” pediu o Mago.
“Oh, eu acertei em cheio?”
“…Simplesmente esqueça. Se eu admitisse, pareceria que estou tentando fazer você me dever um favor,” ele respondeu. Ele sempre foi modesto e não gostava de se gabar, mas Cinderella sempre quis expressar sua gratidão.
Ela sorriu calorosamente enquanto olhava para o rosto dele, que estava ficando cada vez mais vermelho. “Sou sempre grato por sua ajuda. Obrigada.”
“Da mesma forma, também sou grato,” o Mago respondeu. “Obrigado por aceitar alguém como eu, um pária.”
“Meu Deus, desde quando você se tornou um pária? Você é sempre bem-vindo aqui,” Cinderella o tranquilizou. Tanto ela quanto suas meias-irmãs acolheram o Mago. As meias-irmãs, na verdade, frequentemente encorajavam Cinderella a agir, fazendo-a se perguntar o que ser aceito realmente significava se ele já não fosse. Ele pode não ter autoconfiança, mas para Cinderella, ele era uma figura respeitada e muito amada.
Com os lábios franzidos, o Mago parecia estar escondendo algo. Cinderella estendeu a mão e seus olhos se arregalaram de surpresa. “Vamos, minhas meias-irmãs não estão em casa hoje, então podemos relaxar aqui dentro. Por favor, entre,” ela disse.
“N-não, não importa o quão próximas nossas famílias sejam, não é apropriado para uma mulher jovem e solteira ficar sozinha com um homem em sua casa. Suas meias-irmãs também não aprovariam.”
Ele pode ser um Mago com poderes além do senso comum, mas ele era bastante convencional e cauteloso sobre as normas sociais. Ele provavelmente não tinha percebido que essa era uma característica que frequentemente frustrava Cinderella.
“Na verdade, elas realmente me encorajaram.”
“O que elas pensam que estão fazendo…?”
“Elas me disseram para ‘pegar’ você enquanto elas estão fora. Você vai me deixar pegar você?” ela perguntou, sua pergunta quase retórica enquanto ela firmemente pegava sua mão áspera. Ele parecia perplexo, mas logo sorriu resignadamente, suas sobrancelhas caindo como se estivesse preocupado.
Cinderella apreciava esses momentos em que ele mostrava expressões tão inocentes, achando-as especialmente adoráveis.
“Agora você pegou um Mago habilidoso, hein?” ele comentou.
“…Não é como se eu quisesse fazer isso só porque você é um Mago, no entanto?”
“Huh?”
“Vamos começar corrigindo esse mal-entendido,” ela disse, percebendo que ele mesmo ainda não compreendia que era valorizado, não apenas por suas habilidades mágicas. Para Cinderella, ele havia deixado de ser apenas um Mago há muito tempo — ele era seu príncipe encantado.
“Você vai me deixar pegar você?” ela perguntou, esperando que ele finalmente entendesse. Olhando em seus olhos, ela viu seus olhos escuros normalmente escondidos agora misturados com tons de constrangimento e alegria, timidamente abaixados.
Percebendo que o havia ‘pego’ com sucesso, Cinderella não conseguiu deixar de rir, embora se perguntasse se isso a fazia parecer deselegante. No entanto, ela não conseguia esconder seu alto astral e deixar de transparecer sua alegria em seu rosto.
“…Eu acho que você é quem foi pega, se você me perguntar,” ele retrucou.
“Oh? Bem, isso significa que as coisas funcionaram perfeitamente. Vamos passar o dia conversando bastante, para que você entenda melhor,” ela propôs.
“Que garota boba você é.”
“Hehe. Veremos qual de nós é o bobo mais cedo ou mais tarde.”
Nós dois somos bobos à nossa maneira, pensou Cinderella. Ela levou seu príncipe encantado pela mão para dentro de sua modesta casa, desaparecendo juntos do mundo exterior.
Comentários do Tradutor e do Revisor:
-DelValle: Eu também sou todo bobo quando leio, seus flertadores! Mesmo em mundos diferentes, com nomes diferentes eles ainda são eles, fofos do mesmo jeito. Mas na moral kkkkkk, não tankei o Amane ser chamado de mago, toda hora me vinha umas imagens mó insanas dele ou do Patolino kkkkkkk. É isso por agora, mas saibam que o Amane é implacável!
-Jeff: Realmente, bem interessante esse capítulo, sair um pouco do comum. Cheguei a imaginar Amane naquela pose do Patolino segurando o cajado kkkkk
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