O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Jeff-f


Volume 8.5

Encontro Indesejado

   Sério, por que agora?

   Desde que Mahiru ouviu de Amane que ele conheceu e conversou com o próprio pais dela — Asahi, tais pensamentos estavam girando em sua cabeça, bloqueando todo o resto.

   Para Mahiru, o conceito de pais sempre foi algo ilusório, algo praticamente inexistente em sua vida. Ela reconhecia aqueles dois como provedores de seu DNA, mas não os reconhecia como pessoas responsáveis ​​por criá-la. Desde que ela conseguia se lembrar, era sua governanta e tutora de fato, Koyuki, que lhe dera conhecimento e a guiara como pessoa, não eles.

   Em seus anos mais jovens, ela queria que seus pais a vissem, estar perto deles. Ela tentou o seu melhor para chamar a atenção deles, mas eles nunca retribuíram.

   Não, eles se recusaram a retribuir.

   As pessoas que a deram à luz, então escolheram negligenciá-la sem pensar duas vezes, priorizando seus próprios desejos e suas próprias vidas. Era assim que Mahiru percebia seus pais. No começo, ela queria desesperadamente ser reconhecida e amada por eles, mas eles nem perceberam o desespero que ela sentiu no dia em que percebeu que todos os seus esforços foram em vão. Eles não tinham ideia de quão magoada ela estava, nem queriam.

   Eles também não saberiam que desde então, Mahiru quase não tinha mais sentimentos, exceto grande decepção em relação aos pais, e mesmo assim, ela continuou a se agarrar a uma réstia de esperança por muito tempo. Mas, eventualmente, ela parou de desejar que eles soubessem completamente.

   Ela estava se apegando à possibilidade ridícula de ser amada — uma possibilidade tão improvável quanto encontrar um único pó de ouro em um vasto rio. No entanto, ela estava decepcionada consigo mesma por ser incapaz de desistir. E agora — assim que ela começou a acreditar que não precisava mais do amor parental graças à presença de Amane em sua vida — isso aconteceu.

“Por que agora, depois de todo esse tempo?”

   A voz que escapou de seus lábios era assustadoramente fria. Tão assustadoramente fria, na verdade, que ninguém poderia imaginar isso vindo dela, dada a voz de anjo que ela usava em público ou mesmo a voz que ela usava com Amane.

   A questão era que o pai de Mahiru, tanto em pensamento quanto em presença, havia se tornado nada mais do que um estranho para ela nesse momento. Ela não conseguia entender por que esse homem, que jogou toda a responsabilidade em Koyuki e a negligenciou por mais de uma década, de repente buscaria contato. Ela não queria entender.

     Como se você pudesse vir e agir como um pai agora.

   Esperar ser aceito como pai quando você não fez nada para merecer o papel era absurdo. Mas se alguém fosse oferecer uma defesa modesta para Asahi, seria que ele pelo menos nunca lançou palavras abusivas para Mahiru. Nesse aspecto, ele era melhor do que sua mãe, Sayo. Mas, quando se tratava de negligência, sua distância emocional excedia em muito a de Sayo.

   Sayo pode ter evitado e rejeitado Mahiru, mas ela pelo menos reconheceu sua existência. Asahi, não importa quanta dor Mahiru sentiu, não ofereceu absolutamente nenhum apoio e simplesmente a apagou de sua mente, concentrando-se inteiramente no trabalho e fechando os olhos para qualquer coisa inconveniente para ele.

   Quanto a qual dos dois era melhor, Mahiru não sabia dizer. Mas o que era certo era que Mahiru não pretendia confiar nem aceitar Asahi, que, depois de todo esse tempo, estava apenas tentando estabelecer contato como pai.

     O que exatamente provocou essa sua mudança de coração?

   Era natural ter medo dele de repente agir como um pai. De acordo com Amane, que o conheceu diretamente, Asahi não tinha intenção de machucá-la. Supondo que isso fosse verdade, isso a deixou ainda mais cautelosa, pois suas verdadeiras intenções permaneceram envoltas em mistério.

   Talvez entendendo isso, Asahi optou por não entrar em contato com Mahiru diretamente. Da perspectiva de Mahiru, no entanto, isso só piorou sua impressão dele, dando a ela uma sensação estranha como se ele estivesse espreitando das sombras, espionando-a para propósitos que ela não conseguia entender.

   Felizmente, com base no pouco que ela havia percebido da personalidade de Asahi ao longo dos anos, ela imaginou que ele não forçaria a questão. É por isso que ela acreditava que ele não a machucaria diretamente. Se, no entanto, Asahi fizesse algo que a colocasse em desvantagem, Mahiru tinha a opção de consultar os serviços de bem-estar infantil, com os depoimentos de seu diário, seus professores que sabiam sobre a falta de envolvimento de seus pais e Koyuki, que tinha sido a pessoa mais próxima dela.

   Sobre o diário, ela disse a Amane que o usava para registrar memórias e eventos — o que era verdade — mas, além disso, também servia como evidência. Tudo o que ela havia experimentado até agora havia sido registrado claramente, incluindo as emoções que ela sentiu na época.

   Embora ela não tivesse certeza se o que havia ocorrido até agora se qualificava como negligência infantil, Mahiru suspeitava que se uma investigação fosse realizada e se tornasse de conhecimento público, isso poderia muito bem afetar a posição social de Asahi por nada mais do que a implicação. Para proteger a si mesma e seu sustento, ela não tinha medo de retaliar com força máxima.

     Eu estou esperando que não chegue a isso, no entanto.

   Mahiru não queria fazer um grande negócio da situação. Ela preferiu manter distância e continuar com sua vida atual sem se envolver — como sempre fez. Ela estava curiosa sobre as intenções de seu pai ao ver sua mudança repentina de comportamento, mas se envolver-se colocaria em risco seu modo de vida atual, então ela preferiria permanecer ignorante.

   Afinal, Mahiru não precisava mais do afeto dos pais.

   Para ser realista, ela pode precisar do apoio financeiro de seus pais. No entanto, ela já tinha fundos suficientes para cobrir suas futuras taxas de faculdade. Graças às grandes somas de dinheiro que eles transferiam para sua conta todo mês — quase como se dissessem que o dinheiro poderia resolver tudo — ela tinha o suficiente para cobrir suas despesas de subsistência até a metade da faculdade. A conta, a caderneta e o selo pessoal estavam totalmente sob seu controle, então não era algo em que seus pais pudessem interferir.

   A quantia de dinheiro que ela possuía era impressionante para uma estudante do ensino médio, mas era semelhante à pensão alimentícia para ela e algo parecido com compensação por negligência.

   Seus pais não eram mais pessoas de quem ela esperava amor. Eles estavam mais próximos de objetos de medo que ameaçavam sua vida.

   Ela não precisava mais deles.

   Mesmo que eles estendessem a mão agora, ela não era ingênua nem desesperada o suficiente para segurar a mão deles. Afinal, Mahiru agora tinha a mão de outra pessoa para segurar.

 

 

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

 

 

   Como sempre, sempre que Mahiru chegava no apartamento ao lado, Amane a cumprimentava com uma expressão calorosa. Mesmo depois do incidente com Asahi outro dia, seu comportamento não mudou. Ou mais precisamente, parecia que ele estava tomando cuidado extra para ser complacente sem deixar transparecer em seu rosto, ou talvez estivesse até mesmo fingindo que nada tinha acontecido.

   A abordagem de Amane — nem tratando-a como um objeto delicado, nem tocando em tópicos sensíveis com insensibilidade — era algo pelo qual Mahiru era grata. Instigada por Amane, ela então entrou na sala de estar, onde uma atmosfera ligeiramente fria a recebeu.

   Sabendo a configuração de temperatura usual, Mahiru estava ciente de que o ar condicionado não devia estar muito alto, mas ela ainda sentia um leve frio no ar. Ela se aninhou mais perto de Amane, que sorriu suavemente e pegou sua mão, e eles se sentaram juntos no sofá. Uma vez sentada ao seu lado, Mahiru olhou para ele — sua expressão era a mesma de sempre, mas ela notou um olhar ligeiramente afetuoso em seus olhos.

“Amane-kun.” Quando ela timidamente pronunciou o nome da pessoa que amava, recebeu um sorriso tão caloroso e suave quanto o sol da primavera.

   Aquele sorriso, caloroso, mas envolvente, poderia até mesmo derreter a neve diante dele, e pareceu limpar momentaneamente a névoa que estava girando profundamente em seu coração. No entanto, o que havia crescido dentro dela pelos eventos do outro dia ainda não havia desaparecido completamente. No centro dessa névoa estava o pesado aglomerado de anos de emoções concentradas, que Mahiru não conseguia esquecer nem tirar da mente, e que só foi trazido ainda mais à luz quando ela foi lembrada disso por eventos recentes.

“Hm? Há algo errado?”

   Os olhos de Mahiru vagaram ao ouvir Amane responder em uma voz tão incrivelmente serena, mas familiar, e ela não sabia o que fazer. Não era que ela quisesse que ele fizesse algo em particular. Ela simplesmente veio até ele querendo estar ao seu lado.

“... Bem, erm... você poderia segurar minha mão, por favor?”

   Depois de pensar um pouco, Mahiru fez aquele pequeno pedido.

   A única mão que ela queria segurar era a de Amane.

   Talvez ela quisesse confirmar isso para si mesma mais uma vez.

   Com uma leve hesitação, Mahiru fez seu pedido. Amane respondeu com um sorriso gentil, então envolveu sua mão com a dele. Foi a primeira coisa que ela quis tocar — uma mão ligeiramente ossuda, um tanto áspera, mas firme. Uma mão gentil que sempre a tocou com o máximo cuidado.

   Só ser segurada e acariciada por aquela mão a fez se sentir tão relaxada que ela quase perdeu as forças.

“Segurar as mãos é tudo o que você quer?” Amane perguntou se isso era o suficiente para ela, sua voz terna, mas tingida de curiosidade brincalhona. Imaginando se era apropriado para ela bajulá-lo mais do que já tinha feito, Mahiru baixou os olhos.

   No final, não houve contato adicional de Asahi. Tudo parecia ter voltado ao normal como se nada tivesse acontecido. Mas Mahiru hesitou e fechou a boca.

     Está tudo bem eu confiar ainda mais em Amane-kun? Estou simplesmente me preocupando com isso sozinha.

   Como se sentisse sua hesitação, Amane apertou sua mão por um momento antes de soltá-la gentilmente.

Ah.” Enquanto ela soltava um pequeno suspiro, um cobertor foi colocado sobre sua cabeça.

“... Você parece mais fria do que o normal hoje, Mahiru. Talvez eu tenha ajustado o ar condicionado muito alto. Aqui, enrole-se neste cobertor.”

   Dizendo isso com um sorriso, Amane envolveu o corpo ainda frio de Mahiru em um cobertor. Ele então deslizou seus braços ao redor de suas costas e na parte de trás de seus joelhos e a levantou sem esforço, deitando-a em seu colo sem um momento de hesitação.

   Quando Mahiru pousou gentilmente de lado na coxa de Amane, ela piscou surpresa, e os olhos de obsidiana que a observavam se estreitaram com afeição.

“Aquecida agora?”

“... Sim.” Mahiru sentiu o calor correr para seus olhos.

   Amane a estava abraçando sem nenhuma reserva, e ainda assim ele deliberadamente se absteve de tocar em quaisquer preocupações internas que ela pudesse ter. Para garantir que o calor não se dissipasse, ele lhe ofereceu um sorriso terno.

   Ele pode ter pensado que Mahiru estava fingindo ser corajosa, mas isso estava bom para ela. Ela tinha fé que Amane a aceitaria como ela era, não importa o que acontecesse.

   Um suspiro quase tenso escapou dela, mas Mahiru não olhou para a expressão de Amane. Em vez disso, ela descansou a bochecha contra o peitoral forte dele.

     Eu não sou párea para ele.

   Amane viu através dela — através de sua personalidade, seu orgulho trivial e as ansiedades que ela não conseguia apagar completamente sozinha. Ele antecipou tudo, orquestrando essa situação que Mahiru não podia recusar. Ele fez tudo isso para que Mahiru pudesse se sentir naturalmente à vontade, mesmo que apenas um pouco.

   Ciente de que Amane estava respeitando seus sentimentos e não a pressionando a revelar mais do que ela estava disposta a compartilhar, Mahiru exalou suavemente.

     Eu realmente amo essa parte dele também.

   Observar seus próprios pais às vezes a fazia questionar o próprio conceito de família. Para Mahiru, a ideia de uma família feliz sempre foi uma fantasia, algo que ela não conseguia acreditar que realmente existisse. Mas conhecer Amane e ver como ele era tratado a fez perceber que poderia haver famílias que realmente se importassem e respeitassem uns aos outros, dando as mãos reciprocamente ao longo da vida.

   Ele cresceu no que ela muito invejava — uma família ideal. E isso o tornava ainda mais deslumbrante para ela.

     Eu... preferiria ter Amane-kun.

   Nascida em uma família que, como filha deles, estava longe de ser admirável, mesmo aos seus olhos, Mahiru nunca favoreceu a ideia de passar seus dias com outra pessoa ou construir uma família. Mas conhecer Amane lhe ensinou esperança. Ser tão gentilmente envolvida e cuidada por Amane a fez pensar novamente que ela poderia caminhar para o futuro com ele, que eles poderiam encontrar a felicidade juntos.

   Foi naquele momento que ela percebeu o quão aberta estava à ideia desse tipo de relacionamento para toda a vida com Amane no futuro. Ela não conseguiu evitar se sentir um pouco perturbada e se contorceu nos braços de Amane.

     Sim, eu o amo muito, e sim, eu nunca mais quero me separar dele. Mas ainda assim!

   O relacionamento deles poderia ser pesado demais para estudantes do ensino médio suportarem? Mahiru entendia que nove em cada dez relacionamentos no ensino médio não duravam. Com isso em mente, pensar sobre o futuro deles nessa fase provavelmente era um pouco — não, bem — pesado mesmo. Ela sabia que Amane também a amava profundamente e que pretendia ficar com ela por muito tempo, mas pensar conscientemente sobre casamento carregava um tipo diferente de peso.

   Mahiru soltou um gemido suave, dominada por sua própria força de apego e afeição. Amane, é claro, não tinha consciência do redemoinho emocional dentro dela e simplesmente acariciou suas costas gentilmente com um olhar preocupado.

“... Hum, Amane-kun?”

“Hm?”

“... Não é pesado demais para você?” Mahiru não especificou o assunto de sua frase, o que talvez tenha sido injusto.

   Amane piscou várias vezes para a pergunta de Mahiru antes de rir levemente. “Não se preocupe, não é pesado para mim. Você está tão preocupada com isso, mesmo que eu tenha treinado?”

“Não é que eu esteja exatamente preocupada, é só que…”

“Você costuma deixar as pequenas coisas te afetarem, Mahiru. Não se preocupe com isso. Apenas se apoie em mim e dependa de mim. Se isso te ajudar a relaxar um pouco, eu te levanto quantas vezes você quiser.” Amane provavelmente entendeu ambos os significados nas palavras de Mahiru e riu. “Você demonstra contenção nos momentos mais estranhos,” ele acrescentou. Ele pode não ter entendido o real significado por trás de ‘peso’ que Mahiru não havia realmente expressado, mas isso foi o suficiente para ela. Foi o suficiente para ela que Amane a aceitasse.

“Olha, se você estiver lutando ou ansiosa, apenas me diga. Bem, claro, eu posso não ser capaz de fazer algo sobre a causa raiz disso, e seria errado da minha parte assumir isso, pois sua dor é somente sua,” disse Amane. “…Mas, o que eu posso fazer, Mahiru, é ficar ao seu lado até você superar essa dor.”

“…Sim.”

“Você pode desabafar se isso te fizer sentir melhor, mas não precisa. Depende de você. Eu vou aceitar o que te deixar mais confortável.”

   A postura inabalável de Amane de deixar a escolha para Mahiru a fez se sentir segura do fundo do coração.

     …Estou verdadeiramente feliz por ter me apaixonado por ele.

   Ela deixou seu corpo relaxar e se inclinou para ele.

“…Estou bem.” Mahiru não tinha intenção de desabafar sobre seus problemas familiares com Amane. Ela já tinha feito isso alguns dias atrás. A torrente de emoções cinzentas dentro dela poderia ser muito avassaladora para ela lidar sozinha. Mas, enquanto tivesse Amane ao seu lado, Mahiru sentia que poderia aceitar essas emoções e memórias negativas profundamente enraizadas e seguir em frente. “Erm, bem, não se trata de fingir ou engarrafar tudo ou algo assim... Eu só acredito que essas são coisas que preciso deixar para trás para seguir em frente.”

   Não importa o quanto ela desabafasse, as aflições, a tristeza e as queixas de sua eu mais jovem continuariam a jorrar inesgotavelmente. No final, enquanto a causa raiz permanecesse, elas eventualmente ressurgiriam. Para seguir em frente com Amane, Mahiru sentiu que precisava desembaraçar a forma distorcida de apego aos pais que tinha desde a infância, que estava profundamente enraizada em seu desejo por eles.

   Isso também era para impedi-la de cometer mais erros.

“...Entendi.” Amane disse calmamente e continuou a acariciar suas costas.

“Simplesmente ter você ao meu lado é mais do que suficiente,” Mahiru continuou. “Sua presença me traz grande conforto.”

“Você deve estar exagerando.”

“É a verdade, sabia?”

   Se ela não tivesse conhecido Amane, o futuro de Mahiru não teria sido tão brilhante. Ela não seria capaz de confiar em mais ninguém, ou mesmo de amar alguém do fundo do coração. Ela teria vivido carregando um ressentimento intransponível em relação aos pais.

   Com toda a probabilidade, ela teria caminhado pela vida em solidão, sob um céu perpetuamente nublado.

“…Tenho sorte de ter conhecido você, Amane-kun.”

   Um murmúrio solene escapou dos lábios de Mahiru. Sem dizer mais nada, Amane gentilmente a abraçou, envolvendo-a em seu calor.



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