Volume 1

Visita de Um Amigo

Depois de um longo dia de limpeza, Amane sentiu que a barreira entre a Mahiru e ele ficou ligeiramente menor, mas isso necessariamente não significava que eles se tornaram muito mais próximos.

Eles ainda tinham contato zero na escola; Às vezes, eles conversavam um pouco quando ele ia pegar sua porção de jantar com ela, mas era só isso.

No outro dia, Mahiru havia repreendido o Amane, dizendo que ele tinha que manter seu apartamento arrumado. Suas palavras eram definitivamente severas, mas também deixaram claro que ela realmente se importava com ele, pelo menos um pouco.

Como o Amane estava recebendo lembretes e dicas de limpeza, seu apartamento permanecia tão bonito quanto estava quando ele e a Mahiru terminaram de arrumar o local.

“Wow, realmente está limpo.” Essa foi a primeira coisa que o Itsuki disse quando ele visitou em um dia livre. Ele murmurou com uma voz espantada quando viu a transformação drástica que a sala havia sofrido.

“Eu nunca pensei que seu apartamento poderia ter uma aparência tão boa. Estava muito sujo. Eu lembro que ajudei você a pegar tralhas uma vez, mas no dia seguinte estava um desastre.”

“Dá um tempo,” Amane rebateu seu amigo.

“Não, sério, pense nisso. Qual foi o maior número de dias que você passou sem deixar cair nada no chão?”

“Esse é sem dúvidas um novo recorde. Não estou deixando há duas semanas.”

“Duas semanas?! É isso mesmo? Isso não é motivo para se orgulhar, sabe?”

Amane fez uma pequena careta. Ele agora estava bem ciente que, normalmente, as pessoas não deixam suas coisas espalhadas pelo chão. Ainda assim, ele sabia que o Itsuki estava falando apenas em um lugar de bondade e bom senso, então o Amane não podia falar muito. Afinal de contas, Itsuki também o ajudou, muito antes da Mahiru, então o Amane sabia que não deveria agir como um idiota.

Itsuki sorriu alegremente diante do silêncio sombrio do Amane. “Ei, eu acho que se seu apartamento estiver tão limpo, eu poderia até trazer a Chi para cá.”

“Sem chance; por que eu devo assistir vocês dois flertando em meu próprio apartamento?”

“Não seja tímido, parceiro.”

“Não transforme meu apartamento em seu ponto de encontro!”

Por que eu deveria ter que assistir meu amigo e sua namorada namorando?

Amane desejou que o Itsuki pudesse entender sua posição e compreender que tipo de tortura seria ter que assistiu a um casal doentiamente doce flertando o tempo todo. Ele sabia que o Itsuki estava brincando sobre trazer a Chi, mas mesmo assim, o Amane não achava muito divertido o fato dele estar sempre na primeira fila para assistir o relacionamento enjoativo deles.

“Relaxa, eu estou brincando. De qualquer forma, você finalmente deixou o lugar limpo, não vá bagunçar tudo de novo, ouviu?”

“Eu tenho tudo sobre controle,” Amane afirmou.

“Alguém como você… Bom, tanto faz. Apenas certifique-se de adquirir o hábito de guardar as coisas depois de tirá-las do lugar.”

“Você é minha mãe?”

“Agora, Amane, querido, você tem que ser diligente na limpeza do seu quarto!” Itsuki zombou.

“Isso foi muito bizarro; você soou muito com a minha mãe, é assustador!”

Amane sentiu um arrepio percorrer suas costas, quando o Itsuki o repreendeu em um falsete forçado.

Ele tinha certeza que o Itsuki nunca conheceu a mãe dele, mas ainda assim, a impressão atingiu um nervo. A imitação de uma dama feito pelo Itsuki também não foi muito reconfortante. Amane mostrou a língua para ele, e o Itsuki gargalhou com diversão.

“É assim que sua mãe se parece, Amane? Porque a minha é muito fria comigo…”

“Na verdade, estou com inveja. Minha mãe me incomoda sempre que tem a chance.”

“Ela se parece como uma mãe que realmente se preocupa com o seu filho.”

“Eu apenas acho que ela é apegada demais…”

“Não, tenho certeza que ela tem que cuidar de você, porque você é muito desleixado.”

“Oh, cala a boca. Eu estou falando sério, você sabe, que a minha mãe é muito grudenta.”

Talvez pelo fato do Amane ser filho único, sua mãe estava sempre se preocupando com ele.

Ela não o mimava exatamente, mas metia o nariz nos negócios dele e extrapolava nas conclusões. Amane com certeza não a odiava, mas ela o deixava desconfortável às vezes.

Sua mãe lhe havia dado todo tipo de instruções quando ele saiu de casa para viver sozinho e frequentar o ensino médio, e às vezes ela aparecia para ver como ele estava, sem avisar. Os imprevistos podem ser horríveis.

“Bom, isso não demonstra o quanto ela o valoriza, Amane?”

“E o amor dela é um fardo pesado.”

“Oh, eu desisto. Você é o tipo de pessoa que nunca valoriza o que tem até que tudo acabe.”

“Você fala como se tivesse resolvido tudo, mas não tem seus próprios problemas? Para lidar com esse tipo de intromissão?"

“Ha-ha! É a Chi, cara; o que mais posso fazer?” Itsuki tinha todos os tipos de problemas quando se tratava do seu pai e sua namorada, portanto, sua repreensão realmente não tinha muito peso por trás disso. Mesmo assim, Amane sabia que havia alguma verdade no que seu amigo estava dizendo, então ele não discutiu mais.

Itsuki suspirou baixinho, como se dissesse a Amane para deixá-lo se preocupar com seus próprios problemas. No entanto, a expressão dele permaneceu alegre e despreocupada. “Vou acabar com qualquer que interferir comigo e com a Chi!” Itsuki disse, declarando algo um pouco perturbador. “De qualquer forma, “Eu vou pensar em algo para a situação do meu pai, então está tudo bem. Por enquanto, que tal organizar sua vida, Amane?”

Itsuki riu alto, e o Amane respondeu fazendo uma cara feia. “Eu sei disso; você não precisa me falar.” Ele sorriu secretamente para si mesmo, pensando que já tinha ouvido isso antes, de outra pessoa, recentemente.

Itsuki tinha visitado o apartamento do Amane para ver como ele estava vivendo. Bom, na verdade, ele veio principalmente para se divertir e brincar, então a discussão sobre o estado da sala rapidamente terminou e, em pouco tempo, eles estavam jogando videogame. Sua intenção inicial era estudar para uma prova na semana seguinte, mas essa ideia foi rapidamente descartada.

“Cuidado com os kits de vida; vamos ficar sem,” Amane disse.

“Vamos pensar em algo; vai ficar tudo bem,” Itsuki respondeu.

“Não nesse nível…”

Enquanto Amane considerava sobre a melhor forma de lidar com seu companheiro de equipe menos cauteloso, o som da campainha tocou na sala e imediatamente deu origem a uma preocupação diferente.

“Hmm? Um visitante?”

Itsuki olhou para cima, depois de pausar o jogo. Ele sabia que o Amane nunca havia dito a ninguém onde morava e que não tinha nenhum amigo que pudesse visitá-lo em casa, além do próprio Itsuki. Mais importante, qualquer visitante regular teria parado no saguão lá embaixo de qualquer maneira, portanto, uma mensagem deveria ter sido enviada pelo interfone.

“Eu realmente não sei, mas deve ser um vizinho, certo? distribuindo um aviso da comunidade ou algo do gênero,” Amane mentiu, pois sabia muito bem quem provavelmente era.

“Ah, saquei,” Itsuki respondeu.

“Só vou demorar um minuto.”

Amane fez o possível para dissipar as suspeitas do Itsuki e se apressou em direção à porta da frente, lutando para esconder a contração em seu rosto que poderia entregá-lo. Ele teve sorte que a Mahiru não o chamou depois de tocar a campainha.

Ele abriu a porta rapidamente, sem se preocupar em verificar quem era, e se esgueirou pela pequena abertura para sair, onde não poderia ser visto. Amane fez questão de fechar a porta atrás de si.

Como ele suspeitava, era a Mahiru que estava ali, piscando surpresa para o Amane, que deve ter parecido estar agindo de forma muito incomum.

Imediatamente, ele pressionou o dedo indicador nos lábios e silenciou a Mahiru. “...Por favor, fale baixinho. Itsuki está aqui.”

“Itsuki?” ela perguntou.

“Meu amigo. Ele veio aqui para jogar.”

“Ah, certo.”

Mahiru acenou com a cabeça, entendeno o comportamento reservado do Amane, e lhe passou um recipiente de comida, como fazia todos os dias, sem se preocupar em questioná-lo mais.

Dentro havia um tipo de ensopado chamado oden, o prato perfeito para a estação, agora que o tempo tinha esfriado. A Mahiru provavelmente estava preparando-o desde a manhã. Amane aceitou com gratidão e soltou um leve suspiro ao olhar para a Mahiru. Não havia realmente motivo para ela fazer isso todos os dias.

“Olha, eu realmente aprecio o que você faz, mas… eu não tenho muito tempo. Desculpa,” Amane se desculpou.

“Eu não estava esperando ser agradecida ou algo do tipo… Eu fico feliz, sabe, por termos limpado o suficiente para que você possa convidar seus amigos,” Mahiru respondeu.

“Acho que eu devo me ajoelhar e lhe agradecer.”

“Sem chance; não faça isso.”

Mahiru olhou para ele com espanto nos olhos. Talvez, ela tenha pensado que fazer com que Amane fizesse algo assim, a tornaria uma tirana. Amane sorriu ironicamente.

Havia um pouco de seriedade em sua declaração, porque ele realmente estava em dívida com ela. Ela tinha feito tanto por ele, que ele realmente deveria estar de joelhos. Amane não conseguiu se conformar em continuar aceitando toda a comida de graça, então ele decidiu que queria discutir o pagamento das refeições a ela em algum dia.

“Bom, se seu amigo está aqui, eu suponho que não podemos conversar muito. Com licença.”

“...Você sempre está me ajudando. Eu vou fazer questão de guardar este segredo do Itsuki.”

“Por favor.”

“Quero dizer, mesmo que eu conte tudo, ele provavelmente não acreditaria em mim.”

“Eu suponho que não.”

A confirmação honesta da Mahiru levantou alguns sentimentos complexos para o Amane, mas ele sabia que ela estava certa. Se ele estivesse no lugar do Itsuki, e alguém dissesse a ele que a Mahiru Shiina tem fazendo refeições para ele diariamente, ele definitivamente não acreditaria. Qualquer pessoa descartaria tal afirmação, como uma fantasia.

Isso era o quanto o anjo estava fora de alcance.

Normalmente, seria impossível imaginar a Mahiru tratando até mesmo um homem bonito e superior com sua comida caseira, muito menos alguém medíocre e desleixado como o Amane. Isso nunca aconteceria.

“...Eu posso te perguntar uma coisa?” Amane chamou.

“O que seria?” Mahiru parou antes que entrasse em seu apartamento.

“De que adianta você continuar compartilhando suas refeições comigo?”

Normalmente, as pessoas não dão comida de graça—elas esperavam algo em troca. Amane provavelmente não pensaria em fazer o mesmo, se suas posições estivessem invertidas. Mesmo que ele não acreditasse por um momento, que houvesse a possibilidade de que ela tivesse sentimentos por ele, ele não podia deixar de imaginar.

Com a pergunta do Amane, o olhar da Mahiru desviou para cima, como se ela própria estivesse pensando um pouco, e então, sem alterar sua expressão, respondeu “Minha própria satisfação. Não há nada além disso. Para mim, é tão fácil cozinhar para duas pessoas quanto para uma, e acho que simplesmente gosto de cuidar das pessoas.”

“Então, é porque você gosta de cozinhar?”

“Bom, isso também. Eu acho que, é porque eu posso te dar refeições sem você ter qualquer ideia estranha, e você vai me dizer me dirá genuinamente que minha comida é saborosa sem quaisquer segundas intenções. Além disso, é satisfatório para mim, porque fiquei preocupada depois de ver seus hábitos alimentares.”

“...É assim mesmo?” Amane pressionou, um pouco decepcionado.

“É assim que as coisas são. Então, não se preocupe com isso. Pense nisso como… um surto repentino de boa sorte.”

“Sim, madame.”

Mahiru não parecia que iria lhe dar mais do que essa resposta, e depois de fazer uma reverência cortês, ela disse “Pardon-me” e retornou para o seu apartamento.

“Eu acho que é assim que funciona,” Amane murmurou para si mesmo. “Ainda não acho certo que ela deu isso para mim de graça, no entanto.” Ele abriu a porta de volta para seu próprio apartamento.

“Quem era?” Itsuki perguntou.

“Minha vizinha. Ela me deu um pouco da janta dela. Eu vou colocá-lo na geladeira, então não reinicie o jogo sem mim,” Amane respondeu.

“Ah, desculpe, eu já derrotei o boss.”

“Você só pode estar brincando comigo.”



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