Volume 1

Capítulo 16: Os cavaleiros do Governo…

Enquanto conversavam, um homem de cerca de trinta anos se aproximou deles com a carta que Lonios havia entregue ao guarda. 

Ele era loiro, alto, com o cabelo até o meio das costas e um chapéu de aba larga com uma pena pendurada no topo. 

Seus bigodes terminavam em pontas. Usava uma roupa de couro e um colete, com uma túnica presa ao ombro por broches.

— Sãr Lonios o Andarilho? — perguntou o homem. — Eu sou Sãr Araniz Locniel. Estamos honrados em recebê-lo para integrar a 53ª Expedição. — Fez uma reverência, tirando o chapéu e quase o arrastando no chão.

— A honra é minha, Sãr Araniz. Este é meu escudeiro Nimbus — respondeu Lonios com um leve cumprimento de cabeça.

— É uma honra conhecê-lo, Nimbus — Araniz olhou para o garoto e fez uma pequena reverência. — Me acompanhem até o salão principal. Vou apresentar os senhores aos outros cavaleiros da Expedição.

Eles seguiram Araniz pela porta dupla e entraram no vasto salão principal do castelo. 

As paredes estavam adornadas com grandes faixas de tecido bordado, multicoloridas, que desciam do teto quase até o chão. 

Escudos e armas cruzadas estavam espalhados, reforçando o ambiente militar. No centro do salão, uma mesa redonda estava cercada por várias pessoas.

Araniz se aproximou da mesa e iniciou as apresentações. 

— Senhores, esses são Sãr Lonios o Andarilho e seu escudeiro Nimbus. Sãr Lonios, 

— Este é Sãr Portos Emes — disse, apontando para um homem careca, alto, de olhos claros e nariz adunco, com cabelo quase raspado. Ele vestia um sobretudo preto, como Lonios, mas bem menos gasto. 

— Este é Sãr Flavius Wulfric — continuou. Flavius não parecia ser de Cenferum, seu tom de pele negro, altura e o peso um pouco acima da média o tornavam notável. 

Seu cabelo raspado e a camisa branca de botões, acompanhada de calças de couro, eram bem diferentes da maioria ali. Ambos não pareciam ter mais de trinta anos.

— Nós três trabalhamos juntos há algum tempo e formamos a equipe que fará a segurança de uma das naves — Araniz continuou. — Para a outra nave, decidimos formar uma nova equipe, composta pelo senhor, Sãr Adon Ethel.

Nimbus pensou, "Será irmão de Sãr Ahbran?" O homem mais velho da mesa parecia ter cerca de sessenta anos, talvez mais. 

Ele era alto, com uma barriga protuberante e um rosto largo, marcado pela gordura. Seus cabelos nas laterais da cabeça eram grisalhos, enquanto o topo da cabeça estava completamente careca. 

A barba estava bem aparada. Atrás dele estava o garoto que havia lutado com os guardas mais cedo. 

— E Sãr Elisis Cirrus — completou Araniz. 

Nimbus sentiu um arrepio. A garota era um pouco mais velha que ele, talvez uns dezesseis anos. Sua estatura era de um metro e setenta, com uma cintura fina e peitos médios. 

Ela tinha um rosto delicado, com nariz arrebitado, lábios de espessura equilibrada e olhos e cabelos castanhos. 

Seu vestido rodado era similar ao das donzelas nobres que Nimbus vira no porto. Ao vê-la, ele se sentiu desconfortável e pensou que deveria manter distância. 

Não poderia deixar que algo acontecesse como aconteceu com Anabele.

— Sãr Adon é um cavaleiro experiente, com várias batalhas e viagens ao éter em seu currículo — disse Araniz. — Sãr Elisis foi proclamada amazona recentemente, e esta será sua primeira missão. Juntos, com o senhor, formarão a equipe responsável pela segurança da outra nave.

— É uma honra, Sãr Lonios — disse Sãr Adon, aproximando-se de Lonios e Nimbus. O garoto atrás dele o seguiu. 

— Este é Valeros, meu escudeiro. Esta será a última missão dele como meu escudeiro. Após ela, irei me aposentar, e ele assumirá meu lugar como cavaleiro. 

— Assim, podemos considerá-lo o quarto cavaleiro da missão, em pé de igualdade comigo. É um prazer conhecê-lo, Sãr Lonios. E você também, Nimbus, não é? — O cavaleiro deu um tapinha nas costas de Nimbus.

Apesar da cordialidade, havia uma tensão no ar. Parecia que Lonios e Nimbus não eram totalmente bem-vindos ali. 

— A honra de nos juntarmos a essa equipe é nossa, Sãr Adon. O senhor é parente de Sãr Ahbran? — Lonios perguntou.

— Sim, sou primo por parte de pai. O senhor o conhece?

— Sim, há alguns anos ele tem me arranjado alguns trabalhos como cavaleiro. Nada demais, talvez por isso ele tenha se lembrado de mim para esta missão.

Enquanto Flavius, Portos e Araniz conversavam entre si, Sãr Adon se aproximou de Lonios e Nimbus novamente. 

O velho cavaleiro deu um tapinha no ombro de Lonios antes de voltar para sua cadeira. 

Seu jovem escudeiro, indiferente, o seguiu. Adon parecia cansado e se apoiou na cadeira para sentar. 

Nimbus não sentiu muita confiança nele, assim como em Sãr Ahbran. Ambos não pareciam estar em sua melhor forma, embora Ahbran o tivesse surpreendido antes.

Sãr Elisis não se levantou da cadeira, então Lonios foi até ela. 

— Que falta de educação a minha! Mil perdões, senhorita. Essa minha vida de cavaleiro andarilho fez-me esquecer os bons modos perante uma dama — disse Lonios, pegando a mão de Elisis. 

Ela se levantou, ajustando o vestido com a mão livre, e Lonios beijou sua mão. Ela segurou a barra da saia com a outra mão e se inclinou um pouco. 

Nimbus imaginou que, além de ser uma amazona, Elisis deveria ser filha de algum político de Cenferum, o que a daria o status de membro do alto escalão do governo, talvez por isso a atitude de seu mestre. 

— Não se desculpe, Sãr Lonios. Eu mesma não estou acostumada com esse tratamento. Entre iguais, ele é dispensável. Aqui somos todos cavaleiros — disse Elisis, sorrindo.

— Entendo, Sãr Elisis, aqui somos todos iguais.

Com essas palavras, os outros cavaleiros pararam o que estavam fazendo e se observaram por alguns segundos em silêncio. 

Depois, voltaram às suas conversas. Lonios aguardou Nimbus se aproximar para apresentá-lo a Elisis, mas alguns segundos constrangedores se passaram, com o cavaleiro alternando olhares entre Elisis e Nimbus. 

Desistindo de esperar, Lonios deu uma risadinha encabulada e chamou Nimbus.

— Venha cá, Nimbus. Desculpe meu escudeiro, eu realmente deveria ter gasto algumas horas lhe ensinando boas maneiras.

Nimbus estava boquiaberto, observando Elisis com uma expressão de pura surpresa.  Até que o empurrão de Lonios quase o fez despertar. 

Quando Lonios o conduziu até onde ela estava, Elisis estendeu a mão com um sorriso, e o garoto, sem saber o que fazer, ensaiou um beijo forçado na mão dela. Ela riu da situação e, em seguida, deu um tapinha carinhoso na sua cabeça.

— Não precisa se preocupar, Lonios. Eu já conheço a rotina de treinos. Se até o senhor esqueceu os bons modos, imagine seu aprendiz. Não se preocupem — ela disse, voltando a se sentar. 

Lonios se acomodou ao seu lado, e Nimbus, desconfortável, se afastou o máximo que pôde. Sentou-se em uma cadeira no canto da sala e se encolheu, envergonhado. 

Não gostava dessa situação, afinal, tinha prometido a si mesmo que não se envolveria mais com ninguém que pudesse lhe causar dor.

— Então, quando iremos partir para essa expedição? Sãr Ahbran me notificou que a construção da nave está quase finalizada — perguntou Lonios, buscando saber mais detalhes.

— Sim, é verdade, Sãr Lonios. A nave está praticamente pronta e poderia partir amanhã, se o filho mais jovem do Grande Líder, Renan, o ministro de obras e estruturas, não estivesse interferindo. Ele teve algumas ideias que, segundo ele, vão melhorar o desempenho da nave. Sãr Araniz, que estava conversando com os outros cavaleiros, interrompeu a discussão e se voltou para Lonios.

— Melhorar muito o desempenho? — Araniz gargalhou, visivelmente cético. 

— Todos sabem que aquele garoto nem deveria estar comandando os preparativos de um jantar, quanto mais os detalhes para melhorar o desempenho de uma nave. 

— Nunca vi ideias mais idiotas vindas de alguém. Até minha querida esposa, que não entende nada de naves, sabe que aquilo que ele inventa não vai funcionar — disse Flavius, enquanto dava mais um trago na sua caneca de cerveja.

— Não leve a mal o Sãr Flavius, Sãr Lonios. Ele fala demais quando bebe. Nosso ministro é criativo e inteligente, e está se esforçando muito para melhorar a nave — defendeu Portos. — No mais tardar, amanhã partiremos.

— Posso falar com o senhor, Sãr Araniz, em particular? — Lonios pediu, abaixando um pouco a voz.

— Claro, Sãr Lonios — respondeu Araniz, levantando-se e indo em direção a um canto do salão. Lonios o seguiu e, assim que ambos se afastaram, fez sinal para Nimbus acompanhá-los. O garoto, em passos rápidos, obedeceu.

— O que o senhor deseja, Sãr Lonios? — perguntou Araniz.

— Veja bem, Sãr Araniz, meu escudeiro nunca participou de uma expedição antes. E esta será uma missão muito perigosa, já que partiremos com apenas duas naves. Seria possível Nimbus ficar hospedado aqui no castelo até nossa volta? — disse Lonios, com uma expressão séria.

Nimbus ficou em silêncio, sentindo suas pernas tremerem. Aquelas palavras foram como um golpe. 

Sãr Lonios não estava disposto a levá-lo na missão, o que significava que seu sonho de viajar pelo éter, enfrentando monstros e piratas, teria que esperar.

— Entendo, Sãr Lonios. Também deixamos nossos escudeiros de fora dessa missão, devido ao seu alto nível de perigo. Só Sãr Adon insistiu em levar Valeros, porque o garoto é realmente um excepcional guerreiro. 

— Claro, o senhor pode deixá-lo aqui, e se quiser, onde será treinado pelo mestre de armas do conselho da nossa classe, o mesmo que treina nossos escudeiros — disse Araniz, oferecendo uma alternativa.

Nimbus queria protestar, mas o olhar de desaprovação de Lonios o fez pensar duas vezes. Ele mordeu os lábios e permaneceu em silêncio.

— Eu agradeço muito, Sãr Araniz — disse Lonios, colocando uma mão sobre o ombro de Nimbus. — Meu escudeiro é muito importante para mim, e eu lamentaria muito perdê-lo em uma missão para a qual ele não está preparado.

O que mais o assustava não era ficar longe de Lonios, mas sim a ideia de ficar sozinho com a tal Retalhadora à solta.

— Muito bem, estamos combinados então — disse Araniz, sorrindo. — Seu escudeiro será deixado aos cuidados de nosso mestre de armas até que o senhor volte. Não se preocupe, Nimbus, você será bem tratado. 

Araniz também colocou uma mão sobre o ombro de Nimbus e, ao perceber o cansaço dos dois, continuou:

— Acho que os senhores devem estar cansados da viagem. Vou mostrar os aposentos para que possam descansar.

Ele fez sinal para o castelão que, imediatamente, escoltou os dois para um dos vários quartos do castelo. 

As coisas dos dois já estavam dispostas em um dos cantos do local, que tinha duas camas, um guarda-roupa, uma escrivaninha e uma cadeira e sem nenhuma decoração. 

A janela tinha vista para o pátio e a noite já estava bem avançada.

Imediatamente após entrarem, Nimbus protestou.

— Mestre, por favor me leve junto nessa missão, é o meu sonho viajar pelo éter.

— Eu sei Nimbus, mas é muito perigoso.

— Mestre, eu sei me defender, eu não serei um fardo para o senhor, o senhor mesmo disse que eu já sou páreo para qualquer soldado.

— Eu sei Nimbus, mas agora que eu o encontrei não posso lhe perder — Lonios falou e Nimbus não entendeu sobre o quê o cavaleiro estava falando.

— Como assim, agora que me encontrou?

— Digo, você se tornou muito importante pra mim, para eu perdê-lo agora. Está decidido, você vai para a capital e vai me esperar voltar. — Lonios virou as costas e foi remexer as suas coisas.

Nimbus resolveu nem continuar com a discussão, pois quando Lonios tomava uma decisão ele não costumava mudar de ideia. Então ele se deitou numa das camas e ficou ali, chorando baixinho embaixo das cobertas.

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