Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 8 – Arco 3

Capítulo 78: Confissão.

Shiori



— Quando disse pra você ir embora, é vazar desse lugar, não correr atrás da sua filha. Já que quebrou esse acordo, terá que morrer.

Seus olhos se fecharam um pouco, mamãe respira fundo e solta todo o ar.

— Já chega dessa luta que nunca terá fim. — disse mamãe.

Ao falar algo desse tipo, mamãe deixou o rosto de Riki confuso, como se ele não soubesse o que viria logo em seguida. Ela jogou sua espada no chão, não por medo, mas porque por um pequeno tempo, queria conversar.

— Vamos deixar de lado todo esse medo, todo esse sofrimento, e vamos dar uma chance… vamos conversar, Riki.

— Conversar? Depois de matar todos que são meus amigos e estragar tudo… você quer conversar?

— Eu sei que cometi um erro que é irreversível, mas não falo que quero conversar para me salvar, e sim para salvar a minha filha.

— Salvar a sua filha… antes de ver o que tem a dizer, quero que confesse seus crimes a sua filha, e se falar errado alguma coisa… irei te matar.

Mamãe se virou de costas àquele que é seu inimigo, não parecia ter medo do que poderia acontecer com ela. Me olhou atentamente e fixou um olhar triste ao meu coração.

— Sabe… filha, a mamãe não é uma boa pessoa, e por isso decidiu te deixar para trás, para que você não pegue a maldade que há no coração de uma pessoa igual a mim…

Ela se arruma e dá pequenos passos em minha direção, ao se aproximar, se ajoelha e segura o meu queixo, como se estivesse me fazendo olhar para os seus olhos.

— Mamãe já matou até mesmo deuses. Tudo por culpa que engravidei.

— Como assim, mamãe?

— A mamãe não poderia ter você, um deus não poderia ter uma filha, caso contrário seria morto com sua família, como já fiz a minha… só faltava o outro passo, morrer. Como uma mãe protetora e que ama muito a sua filha, não quis que algo desse tipo acontecesse. Tentei ao máximo te proteger de longe, como se estivesse me assegurando que tudo ficaria bem com você, também apaguei suas memórias, para que conseguisse viver sozinha e bem, que não corresse atrás de mim.

Percebi que uma lágrima caiu de seu rosto, mas logo era apagada pelo fogo que ela mesma criava.

— Mesmo assim você correu atrás de mim, talvez pela ajuda daqueles que não tiveram suas memórias apagadas. Eu não queria que você descobrisse que na verdade estou lutando contra deuses para te manter viva, pois sabia que nesse momento você se sentiria culpada por tudo isso, e quem sabe poderia pedir para morrer. O desejo de uma mãe não iria se realizar de forma simples, então decidi que era hora de me afastar cada vez mais e não deixar rastro algum.

— Por que… se afastou mais se eles estavam atrás de mim?

— Percebi que quanto mais me afastava, mais eles corriam atrás de mim, e o principal, mais eles tentavam se aproximar de você… colocando um garoto como seu melhor amigo, nesse caso, o Hideki.

— O que…

Eu fui cortada pela minha própria mãe, mas não era só isso, minha mente já tinha me bloqueado.

— Sim, o Hideki não é nada mais nada menos que apenas uma tentativa dos outros deuses te matar, é por isso que… matei todos.

Os olhos de mamãe demonstraram um sentimento duvidoso, era como se ela sentisse prazer em fazer o que fez, mas… seu rosto tentava ao máximo demonstrar tristeza. Existia um fogo no olho direito dela, brilhava um pouco…

— Eu matei muitos somente para te proteger, inclusive… tentei matar a deusa da vida, por conta dela tentar ir contra você. Era isso, tentei criar um mundo perfeito só para você viver, o que não sabia era que eles tentaram usar tudo contra mim, inclusive uma criança.

— Já que você contou tudo, agora prepare-se… deusa do sol.

Riki começa a se aproximar da mamãe e assim aponta sua espada para ela… só que a espada que havia na sua mão simplesmente some, sua feição se torna confusa e mamãe sorri como se fosse uma psicopata. Os olhos dela demonstravam agora o verdadeiro sentimento dela, o prazer em matar pessoas.

Meu coração dispara, como se fosse um medo dentro de mim, não queria pensar nisso, mas sim, era verdade… eu estava com muito medo da mamãe, quando tentei falar com ela, Hideki aparece do meu lado, tocando meus cabelos com sua mão ferida… ele passa por mim e para na minha frente, ele olha pra trás como se estivesse tentando me proteger.

— Relaxe, vai ficar tudo bem, não vou deixar as pessoas fazerem algo do tipo com você.

Hideki que apenas era uma criança assim como eu, se demonstrou corajoso e deu um pé a frente para os dois deuses que estavam na sua frente, não consegui ver o rosto dele, mas parecia sério. Seus ferimentos eram pesados e mesmo assim ele segurou e olhou frente a frente o próprio pai.

— Olha só o que temos aqui, se não é meu filho.

— Já chega de tudo isso que você está fazendo.

“Sempre fui protegida por ele, desde criança, em algum momento deveria mudar isso, deveria protegê-lo… não posso sempre ser a donzela em perigo, em algum momento devo ser a princesa a salvar o príncipe, da mesma forma que mamãe me ensinou… mas por que é tão difícil proteger aquele que amamos?”

— Cala a sua boca, moleque, você não entende o que está acontecendo por aqui, afinal de contas é só uma criança que fica se metendo onde não é chamado, é claro que acharia que poderia lutar contra alguém que é mais forte do que você mesmo, saiba que se for por mim, a sua existência será nula.

— Não enquanto tiver esse poder em mãos.

Quando Riki tenta levantar uma espada criada em suas mãos para o Hideki, novamente essa lâmina some, o que deixa o deus da criação ainda mais confuso com o que aconteceu, seus olhos começam a tremer de raiva e aos poucos me levanto para olhar o que está acontecendo. Mamãe estava parada observando tudo acontecer, enquanto Hideki estava de frente com seu próprio pai apenas esperando por um novo ataque.

O deus da criação fica cada vez mais confuso com o que está acontecendo.

— Por que? Por que? POR QUE O QUE EU CRIO SEMPRE SOME?!

Sua confusão começa a se tornar compreensão ao olhar novamente para a criança na sua frente.

— Não importa o que você faça, eu sempre irei destruir tudo o que você criar, sempre que for algo contra as pessoas que eu amo, nunca deixarei você fazer algo nesse nível… agora… pai.

Hideki estende suas mãos para dar um perdão àquele que ele chama de pai.

— Não precisamos chegar ao nível de um filho tentar matar o próprio pai… ambos vivemos juntos desde o início, por que você teve que mudar assim do nada? Vamos voltar para o passado e viver daquela forma que sempre vivemos… eu sei, a mamãe sumiu e isso dói em mim também, mas mesmo assim… não é hora de tentar destruir tudo o que você demorou para construir…

O deus ri alto e caí no chão.

Não convivi com o Hideki na época que tudo estava de boa na vida dele, então essa é uma parte que não sei o que pode ser feito, seus olhos demonstraram um sentimento de perdão, ele realmente estava para perdoar a pessoa que mais estragou a vida dele…

Por que ele faria algo desse nível? O que Hideki tinha na mente dele?

— Você… não entende o que acontece na mente de outra pessoa, é por isso que tenta tanto… é por isso que você me lembra sua mãe…

“O deus parecia ter entendido o que estava acontecendo na sua frente, mas se cheguei aqui sofrendo dessa forma, obviamente ele não aceitou o perdão do Hideki. No coração da criança que estava me protegendo havia um sentimento que não tinha como explicar, em meio a um poder tão forte, algo que poderia destruir o mundo inteiro… havia uma gigante bondade que não tinha como explicar.”

— Se tudo fosse tão bonito como você sonha… seria mais fácil e não poderíamos chegar nesse nível, mas Hideki, existe um buraco imenso entre a gente, da mesma forma que você não conseguirá entender, eu não conseguirei te explicar o que está acontecendo, apenas tente pensar da sua forma… e não. Não aceitarei o seu perdão. Exatamente por você me lembrar dessa pessoa… EXATAMENTE POR VOCÊ ME LEMBRAR ESSA PESSOA QUE EU IREI TE MATAR!

Riki se levanta e rapidamente soca seu filho, o jogando contra uma parede imensa, que faz ele perder total o fôlego. A minha reação é rapidamente correr em direção àquele que estava me salvando, na tentativa de fazer o mesmo com ele.

Mamãe tenta me parar em uma tentativa de me chamar, mas não dá certo, sigo minha intuição, correndo em direção àquele que me salvou uma vez, não, milhares de vezes. O que eu não sabia era que estava correndo para a minha morte.

Riki, extremamente bravo, me segura e quando ele vai tentar me bater pensando que era seu filho, Hideki aparece e tenta bater no próprio pai, mas erra o golpe por ser contra-atacado. Riki dá um chute no próprio filho, o jogando pro alto. Mesmo com extrema dificuldade, Hideki tenta falar:

— Não… NÃO TOQUE UM DEDO NELA!

No alto, uma espada entra no estômago do Hideki, pelas costas, logo em seguida outra pela sua mão direita, depois a esquerda, mas todas sumiram. O sangue que caía no chão era dourado… e por esse motivo, Riki começa a rir intensamente.

— ENTÃO É VERDADE! VOCÊ É REALMENTE UM DEUS, REALMENTE AQUELE QUE PODE TENTAR ME MATAR!!! Vamos… VAMOS, DEMONSTRE TODO O SEU PODER!

Ele gritava, ria, se divertia com o fato do seu filho ser esfaqueado milhares de vezes em vários lugares. Nada curava o Hideki, mas ainda sim ele continuava vivo de alguma forma, seu corpo estava extremamente cortado… com isso, ele cai no chão.

Com extrema dificuldade ele segura no pé do seu pai.

— Não… encoste… um dedo… NELA!!!

E Hideki leva o último chute, o que possivelmente iria finalizá-lo.

— HIDEKI!

Quando gritei o seu nome, Riki segurou a minha boca e me jogou contra o chão, o dano que levei não foi o suficiente para me desmaiar, mas sim o suficiente para me deixar sem voz… o meu grito silencioso saiu, o que fez mamãe se manifestar e tentar atacar Riki.

— PARA COM ISSO!

O ataque da mamãe era defendido.

— Você não tem o direito de fazer isso com a minha filha, se tem problemas de família que se resolvam com sua criança!

— Até que você tem razão, mas não há mais nada para se resolver com ele, tudo aqui está acabado… e lembrando que você cometeu um crime, só estou limpando o que você fez.

— Você… NÃO VAI FAZER NADA COM A MINHA FILHA!

Mamãe brilhava como o sol e tentava lutar com Riki, mas ele conduzia a luta como se fosse uma dança, o deus sabia que estava no controle de tudo quando jogou o Hideki no chão, por isso estava mais tranquilo agora.

Aproveitei o momento para me aproximar do Hideki que estava jogando no chão.

O sangue descia pelo seu corpo, mas ele ainda sim respirava… ele se segurou ao máximo para ficar vivo.

— Ah… você… chegou… Shiori!

Hideki sorriu com a minha presença. Não consegui falar nada, apenas desejei para as estrelas que tudo desse certo, desejei que o Hideki sobrevivesse de alguma forma… mas não era isso que importava pra ele naquele momento.

— Eu… consegui te salvar?

A pergunta que travou meu corpo por completo, percebi que não tinha como continuar daquela forma, então… silenciosamente respondi que sim, comecei a chorar, e me segurei para que não saísse nada, pois sei que se ele me visse chorando iria perder tudo o que tentou fazer, Hideki iria ficar chateado comigo…

— Que bom… eu consegui te salvar! Shiori… não estou… vendo nada…

Seus olhos estavam cortados, mas nem por isso eu deixei de abraçá-lo e me manchar de sangue.

— Isso é… o seu calor…

“Desde esse momento… percebi… que eu realmente te amo.”



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