Volume 6 – Arco 3
Capítulo 50: Promessa.
Any
— EU DECLARO QUE ANY SAIRÁ PARA UMA JORNADA! — disse o rei.
Estávamos na sala do trono esperando os anúncios que o rei estava dando, eram tantos que nem tinha como ficar por muito tempo… mas o mais importante deles foi o último, que era o de que eu sairia em uma jornada.
O reino não teve reação, na verdade eles estavam mais tranquilos do que todos… nesse ano eu tinha completado 18 e estava saindo para uma jornada até a academia de batalha… depois de conversar melhor com a Emilly, chegamos em uma conclusão adequada.
Eu teria que seguir essa jornada sozinha, só assim poderia entender melhor como o ser humano funciona… iria treinar normalmente e iria seguir a minha vida normalmente. Por todos os anos que esperei chegar aos 18, treinei escondida da Emilly a arte da cura. Mas por que… cura?
Por algum motivo na minha cabeça eu tinha em mente que poderia ser uma curandeira nata, mas óbvio que não era só isso, teria muitas outras coisas que poderia fazer. Treinava secretamente com todas as espadas e armas do estilo… a dificuldade que era fazer tudo sozinha era… imensa.
Mas não poderia deixar de lado todas as coisas que queria muito fazer, todos os caminhos que estavam na minha frente e qual deles eu realmente poderia seguir… tinha que escolher apenas um… mas por algum motivo queria seguir dois, então tudo se tornou extremamente difícil de um tempo pra cá.
Os livros não demonstravam tudo que era necessário após um certo nível de treinamento, então estava por conta própria. Conseguia me aperfeiçoar sem ter muitos problemas, o que era interessante para uma pessoa igual a mim…
Naquele momento foi anunciada a minha saída do reino… e as pessoas secretamente comemoravam… aquilo não era comum… normalmente quando se anunciava a saída do reino, todos tentavam parar a pessoa… mas nesse momento era como se todos simplesmente dissessem pra mim…
“Pode ir embora, está tudo bem.”
Não que isso me preocupava… mas era… terrível, honestamente para qualquer pessoa isso deve ser um caos, imagine que todos da sua cidade simplesmente comecem a te expulsar sem poder fazer alguma coisa… era como se o sonho deles estivesse se tornando realidade.
— Aquela maldição… poderá ir embora… poderemos viver em paz novamente! — diz uma criança.
É assim que eu percebo que simplesmente era impossível de viver nesse reino com todas as mentiras que foram ditas. Mas mesmo assim… queria voltar para esse lugar, queria estar aqui por mais tempo e viver com essas pessoas mais uma vez, talvez se essa mentira não fosse dita… tudo estaria bem, mas… era impossível ver a minha vida sem isso.
Não que fosse algo bom, mas era impossível ver tudo sem a escuridão, eu desejava a luz que nem louca… e não tinha pra onde seguir. Não tinha como ver a luz do dia… mesmo com a Emilly por perto.
Todas as coisas que me falaram desde que nasci… foram terríveis. E por conta disso, teria que aceitar tudo como se estivesse tudo bem. “Podemos viver em paz sem essa maldição!” Era incrível que uma criança falava assim… isso demonstrava o tanto que essas pessoas contavam mentiras sobre tudo.
Honestamente não me preocupava ter que escutar coisas tão sombrias… mas ainda sim… era assustador. Emilly se aproximou do palco e assim olhou para toda a população… extremamente brava. Todos estavam cochichando sobre o quando é bom eu ter que sair do reino.
— CALEM A BOCA, TODOS VOCÊS. — grita Emilly.
Naquele momento o reino inteiro ficava quieto… o rei estava extremamente surpreso.
— Qual é a de vocês em? Olhem para a merda que estão falando.
O povo… fica confuso com o que a princesa falava, mas o que deixava tudo isso pior não era o fato da princesa estar realmente certa… mas era o fato de que as pessoas já criaram essas mentiras, e já tornaram todas uma verdade absoluta… tanto que até as crianças já estavam por dentro de tudo isso… só que Emilly só percebeu isso no momento em que foi questionada por uma.
— Mas… Alteza… não é certo comemorar o fato de uma doença ir embora?
— Uma… doença?
Naquele momento seu rosto demonstrava toda a dor de uma pessoa que percebeu toda a verdade. Naquele momento… estava tudo… tão ruim para a princesa que nem ao menos conseguiu pensar em uma resposta para a criança. Pois… ela percebeu que uma verdade não é algo que simplesmente aconteceu e realmente pode ser citado como uma… a verdade… é o que a maioria pensa.
Talvez em um lugar tão perfeito a verdade pode realmente ter outro significado, mas aqui não é assim… a verdade é o que o rei diz e o que o povo pensa. Pessoas que vão para o lado contrário de tudo isso, podem ser julgadas como mentirosas ou até pior, podem ser julgadas como traidoras.
— A Alteza… está do lado da maldição? — pergunta uma mulher.
— O que? Eu não estou… do lado de maldição nenhuma!
— Isso… é mentira, você quer a Any por perto… você quer que o povo morra mais cedo!
Emilly fecha os dentes e assim respira fundo. Naquele momento tudo poderia acabar em questão de momentos, Emilly poderia literalmente falar que todos que estão contra a mim irão morrer e que se foda, mas é óbvio que ela não iria fazer isso… ela não iria sacrificar a população inteira só por um preconceito contra uma pessoa…
Emilly respira fundo… mas todas as pessoas falando sobre esse assunto… a deixam tensa e assim, Emilly corre.
— EMILLY! — grita o rei.
Naquele momento tudo estava tão errado… mas o pior de tudo, a princesa tinha se transformado em uma inimiga do povo.
Me isolei do povo nesse momento, pois sabia que se me vissem… tudo iria piorar, corri atrás da princesa até chegarmos do lado de fora do reino.
Ela estava de costas e nem parecia ter me percebido… segurava tanto para não chorar que parecia ser a coisa mais importante da sua vida.
— E… e quem é que liga? — pergunta a princesa.
Ela parecia querer gritar para todos ouvirem todas as suas dores, talvez fosse melhor deixá-la falar tudo para os céus… assim seria a melhor forma dela parar de chorar, provavelmente.
— É TUDO UMA MENTIRA! VOCÊS ESTÃO ACREDITANDO EM UMA MENTIRA! Maldição do Reino Diamante? QUEM IRIA ACREDITAR EM ALGUMA COISA ASSIM? Vocês são fracos o suficiente para acreditar em tudo que uma pessoa que comanda esse lugar? Como podem… como? Isso não é minha culpa… não é… EU SÓ QUERIA TE PROTEGER, DROGA!
Com esse grito que parecia o fim… a princesa se ajoelha e se segura ao máximo pra não deixar lágrimas caírem… se me lembro bem, em uma de suas histórias que contou pra mim, Emilly prometeu a sua mãe que nunca mais iria chorar na vida, talvez mesmo em uma situação onde ela não consiga fazer algo… ela se segura ao máximo para que nada saia de seus olhos.
A princesa é uma pessoa extremamente forte e talvez ela entenda isso… mas machuca meu coração ter que observar ela agir dessa forma, eu não queria que fosse assim, não queria mesmo… toda essa discussão sobre maldição machucava mais ainda meu coração. Talvez porque meu nome estivesse mais do que colocado no meio dessa briga inteira.
Eu não queria entrar em um reino e ser lembrada como uma maldição… eu acho que qualquer pessoa se machucaria demais com isso em mente, mas por que? Por que mesmo sendo tratada de forma terrível… por que mesmo assim eu quero seguir em frente?
Me aproximo da princesa e assim abraço ela por trás.
Talvez assim ela perceba o que quero dizer… aonde quero chegar…
A princesa segurou tantos e tantos anos… sem chorar, sem soltar nada… talvez ela só precise que tudo isso saia, que tudo isso…
— Para…
— Não. Até você poder ser feliz novamente, não irei soltar.
— Não… não posso quebrar minha promessa…
— E eu estou falando pra você quebrar? Estou falando para você soltar tudo!
— Não posso… se eu soltar tudo… eu irei chorar.
— E qual o problema nisso? Qual o problema em demonstrar uma fraqueza?
Talvez uma promessa seja mais do que somente algo no seu coração, uma promessa pode ser para uma pessoa, um motivo de vida… mas para outra pode ser somente palavras que estão jogadas no ar.
Para Emilly… uma promessa era algo que se fazia a uma certa pessoa, e que poderia se levar para o resto da vida como um motivo para seguir em frente.
“Eu prometo que irei voltar!” Talvez essa seja uma das promessas mais lindas a se fazer, e que se é feita para Emilly… ela vai te esperar… vai te aguardar por toda a eternidade até que você cumpra o que falou.
— Não posso… não posso mesmo…
— Sim, você pode chorar, você não pode segurar tudo isso pra você mesma… eu sei que segurou por tanto tempo… mas por favor… não pense que está sozinha e que tem de segurar tudo isso só por você mesma… eu estou aqui e irei te ajudar no que for preciso.
— Para…
— Você… não está sozinha.
— …
— Foi dolorido todo esse tempo?
— … Foi…
— Você teve que aguentar tudo isso sozinha, não é? Todo esse sofrimento com sua família, todo esse preconceito comigo… você tentou ignorar, mas no final das contas era a primeira e se meter no meio de tudo isso.
— …
— Vamos, pode contar comigo… a sua promessa estará em minhas mãos, você pode chorar, nem Deus, nem ninguém irá ver.
— Você vai ver…
— Não estou vendo seu rosto.
Meu braços que estavam na frente de Emilly começaram a molhar aos poucos… naquele momento eu percebi que ela estava chorando, mas queria não saber disso… a promessa de Emilly estaria para sempre guardada no meu coração e sua quebra… também.
Passei minha mão em seus cabelos, como uma forma de carinho… com isso ela começou a falar.
— É difícil… é muito difícil…
— O que é difícil?
— Ser princesa… é muito difícil ter que aceitar tudo… como se fosse fácil demais.
— Mas você não precisa aceitar tudo.
— Claro que preciso, tenho que ficar quieta para tudo que acontece…
— Eu estou aqui com você, e por conta disso… não precisa ter medo de nada.
Naquele momento… era como se estivesse escutando o coração da princesa. Ele batia forte como se estivesse se reerguendo. Talvez eu estivesse ajudando um pouco.
— Tem muita coisa que eu simplesmente não consigo fazer sozinha… mas mesmo assim… mesmo assim tenho que aguentar tudo isso e tentar fazer… não posso simplesmente sair do reino ou abandonar tudo. Tenho uma pessoa pra esperar…
— Tem alguém que está aguardando, certo?
— Sim…
— E por conta disso, você tenta fazer tudo sozinha, para preparar o lugar o quanto antes?
— Exato… mas é difícil…
— Você não precisa fazer tudo isso sozinha, princesa… você sabe, tem a mim, da mesma forma que tenho você.
Assim… eu começo a escutar o seu choro, ela não estava se segurando, apenas estava… chorando.
Naquele momento… a felicidade do meu coração estava forte, não porque vi a princesa chorando, mas pelo motivo de que eu consegui fazê-la tirar coisas do seu peito, retirar vários pesos. Talvez naquele momento… eu pudesse fazer mais alguma coisa, mas não sabia o que era…
Emilly se vira e assim seu rosto que estava todo molhado por conta de suas lágrimas… é demonstrado.
Ela me abraça.
— Obrigada… Any.
Eu abraço ela de novo, e assim começo a sentir calor. Aquele sentimento de abraçar alguém era algo que raramente sentia… mas neste momento eu sabia mais do que qualquer um… mais do que qualquer pessoa que estava fazendo o certo.
Princesa… não… Emilly…
Eu te amo.
5 HORAS DEPOIS.
— Você… vai? — pergunta Emilly.
— Claro, mas irei voltar!
Quando demonstro um sorriso pra ela, seu rosto se espanta, talvez fosse raro pra uma pessoa reagir a um rosto tão belo quanto o que fiz…
— Emilly, tenho algo pra te falar.
— O que?
Eu seguro suas duas mãos, as juntando.
— Eu prometo… por tudo que há de bom nesse mundo, eu prometo que irei voltar.
Seu rosto se espanta novamente.
— Eu prometo… que irei lhe esperar!
Eu dou um beijo na sua testa e ela fecha seus olhos como se estivesse curtindo o momento.
Após tudo isso eu olho novamente pra ela.
— Até mais, Emilly.
— A-Até… Any…
Naquele momento eu comecei a andar até a academia de batalha, não sabia o que estava para vir, mas sabia que ao voltar… teria uma pessoa me esperando.
Talvez esse realmente seja… o melhor momento da vida.