Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 39: Bem-vinda a terra!

Maki

3 Anos atrás



Em um piscar de olhos, estou em um lugar totalmente diferente do que estava, não é mais uma floresta, e sim um painel escuro… uma mulher aparece na minha frente, seu nome é Nina.

Seu corpo estranhamente deformado me dava a sensação de estranheza, talvez pelo motivo de que nunca vi algo parecido antes. O olhar dela era calmo, parece já ter feito a mesma coisa com outras pessoas algumas vezes.

— Seja bem-vinda ao meu mundo…

— Então você é a Nina… certo?

— Oh… você me conhece? Isso é tão bom… falavam bastante de mim lá em Júpiter?

— Não. Uma pessoa me contou sobre você.

— Que triste, achei que minhas habilidades foram reconhecidas em outro mundo…

— O que você quer comigo?

— Nada demais… senhora Maki, é só que eu amo fazer as pessoas mergulharem em suas próprias memórias… o triste é que eu nem apaguei algo de você, já que a senhora nem estava aqui quando tudo estava caindo aos pedaços.

— Você ama fazer as pessoas sofrerem com suas próprias memórias…

— SIM, é exatamente isso! É divertido ver o quanto uma pessoa reage ao descobrir que o que ela acreditava era só uma mentira… é divertido demais!

— Mas… comigo não tem como fazer isso, eu já sei de toda a verdade sobre minha vida.

— Sim, você é muito sem graça, por isso eu posso só fazer você reviver os momentos… será que você gostaria de reviver essas coisas?

— Por mim tanto faz, não tem como me afetar agora.

— Ahaha…

Nina ri de uma forma totalmente decepcionada, depois ela me olha sem reação alguma, talvez eu seja o contrário do que ela queria encontrar. No final das contas eu aprendi da melhor forma que não devo demonstrar sentimentos nem nada do tipo, isso só atrapalha todo mundo em todas as situações.

— Você também é como os outros… totalmente sem graça…

— Seja lá o que você quer…

Nina me olha séria… e apenas estala seus dedos.

Em um piscar de olhos eu estou… em uma colina, na minha frente havia um homem encostado na pedra, a paisagem que estava na minha frente era extremamente linda…

Eu sinto que já isso em algum momento… mas não lembro como. O que tinha acontecido antes…? Se me lembro bem… eu acabei de sair de Júpiter… por que estou tão séria se coisas terríveis aconteceram por lá?

— Oh… então você veio? — perguntou o homem.

Seu cabelo era longo e branco, seu rosto era velho… e totalmente acabado, parece que ele estava triste até demais.

— Q… Quem é você?

— Eu sou Riki! Prazer em conhecê-la… senhorita Maki.

— Você sabe meu nome…

— Sim, você é conhecida por algumas pessoas aqui da terra.

Terra? Se me lembro bem, nos livros de história… terra é um planeta distante de Júpiter que é habitado por seres humanos, pessoas que são diferentes da gente.

— O que você quer comigo? — pergunto.

— Nada, talvez só te ajudar a viver em um lugar que você não conhece muito bem.

Na primeira vez… o que vem à cabeça é se uma pessoa como essa é confiável, ele era estranho e foi alguém que conheci em questões de segundos. Mas uma voz fala na minha cabeça.

— Ele é confiável. Não tenha medo…

Uma voz estranha e que nunca ouvi antes, mas que parece ser confiável também…

— Entendo… senhor Riki, onde estamos…?

— Na terra, em um lugar meio distante de todos os conflitos, então não tem muito com o que se preocupar quando se trata do quão o ser humano é idiota.

— Do que… você está falando?

— Talvez esse assunto seja meio complicado para uma criança, eu achei que por ser uma princesa… você iria entender de coisas assim.

… Sua conversa era estranha, parecia que ele estava irritado com muitas coisas, talvez ele… só queria desabafar para alguém, se ele é uma pessoa confiável… talvez seja extremamente gentil da minha parte querer simplesmente ajudá-lo… afinal de contas, ele vai me ajudar também.

Me aproximo dele, que estava sentado em uma pedra, e assim coloco minha mão na sua cabeça e faço uma espécie de carinho.

— Está tudo bem…

Ele me olhou estranhamente e dá um sorriso de canto.

— Não há com o que se preocupar, princesa.

Riki retira minha mão da sua cabeça e se ajoelha na minha frente.

— Se está preocupada se sou confiável ou não… aqui coloco a minha honra em jogo.

Se ajoelhar e colocar a sua honra em jogo na minha frente, era como se declarar fiel para toda a vida. Assim cabe a princesa aceitar ou não a honra da pessoa.

— Eu aceito a sua honra.

Ele dá um sorriso maior, era perceptível que estava feliz.

— Bem, então me siga! — diz Riki enquanto se levantava.

Riki se aproxima da ponta da montanha e começa a andar no ar.

— Eu… não sei fazer isso.

— Então segure a minha mão.

Riki estende sua mão como um cavalheiro, e eu a seguro, eu começo a andar no ar. De início é extremamente estranho e dá muito medo… mas mesmo assim é divertido… o toque no ar é gelado e é como se eu estivesse pisando em uma espécie de vidro…

Podemos dizer que ficamos andando de forma lenta por um tempo, até me acostumar, depois disso ele começa a me levar para um lugar estranho, a floresta que estava abaixo de nós era extremamente colorida e muito bonita, suas cores brilhavam e isso era… perfeito.

— Nós estamos na floresta mãe.

— Floresta mãe?

— Sim, é um lugar criado pela deusa das flores e de tudo referente a isso, é a minha mulher!

Pousamos um pouco longe daquela floresta, na frente de uma casa pequena… na frente dela havia uma mulher estranha…

— Oh.. então você é a Maki, prazer… meu nome é Solveig.

A mulher se apresenta e assim… eu olho atentamente ao seus olhos. 

— Eu sou… Maki. 

Ela se ajoelha e declara sua honra… e eu aceito. 

— Se quiser ser formal comigo, coisa que não precisa… pode me chamar de deusa do sol.

— Deusa do sol…

— Hahaha… você é muito fofa.

Seu elogio era verdadeiro, era perceptível a partir do momento que seu sorriso era extremamente verdadeiro.

— Bem, seja bem-vinda a sua nova família! Não serei sua mãe… então tenha calma.

— Eu não serei seu pai.

Solveig se aproxima de mim e me olha no fundo dos meus olhos, aquilo era assustador… mas depois ela sorri e acaricia meu cabelo.

— Está tudo bem…

— Por que isso do nada… Solveig? — pergunta Riki.

— Você sofreu muito enquanto vinha pra cá, certo?

Essa pergunta… essa maldita pergunta. Não a respondi, apenas abaixei minha cabeça.

— Aproveite que aqui é um bom lugar para começar do zero… se quiser chorar, se quiser repensar se vai mesmo ficar, fique à vontade. Ninguém irá te julgar pelas suas escolhas.

A forma que Solveig me tratava… era como se estivesse cuidando de uma filha, ela era o completo oposto da minha mãe.

Uma pessoa que não entende meus problemas… se ajoelha na minha frente e diz que vai ficar tudo bem, eu não consigo responder porque… ela parece ser uma pessoa tão boa que é impossível de olhar nos seus olhos e falar tudo o que realmente quero.

Como é possível…

— Se me lembro bem… a única pessoa que eu conseguia chamar de amiga… morreu na minha frente, tudo aquilo foi terrível. Eu não queria que isso acontecesse… mas por que? Por que as pessoas que são boas são as primeiras a me abandonarem…? Eu… não quero viver sozinha…

De repente… um sentimento complexo afeta meu coração. De acordo com ele, não conseguia esconder meus pensamentos e apenas deixava tudo sair de uma vez, uma criança como eu… tinha que lidar com muitas coisas, seja em momentos isolados… ou até mesmo no meu dia a dia.

Raramente tive momentos de paz ou tranquilidade… todos eles eram divididos com a mesma pessoa… a Sarah. Mas ela se foi… e fiquei sozinha novamente, sem ter alguém para confiar e acreditar. Tudo aquilo que passava na minha mente… me deixava atordoada.

Honestamente eu queria piscar meus olhos novamente e aceitar que tudo isso não passava de um sonho. Não queria começar do zero, só queria entender… por que?

— Entendo… mas você não está sozinha agora… — diz Solveig.

— O que você quer dizer com isso?

— Digo… você tem nós! Pode ser meio estranho… mas somos pessoas também. Por mais que não entendamos direito quais seriam os problemas de uma princesa, ainda podemos entender quais são os problemas de uma pessoa comum. Não sei o que se passa na sua vida para início de conversa, só pelo o que contou pra gente, sinto que é algo ruim.

— …

— Mas… mesmo que seja tão terrível assim, não tira a parte que você querendo ou não… não desistiu.

— Mas… isso foi totalmente ruim, eu só não desisti porque tinha medo de descobrir o que há do outro lado.

— Do outro lado, certo? Deve haver muitas coisas boas, afinal de contas… é só um paraíso gigante que você diz o que vai acontecer. Por que tem medo de ir para um lugar assim?

— Não…

Não tenho medo de ir para um lugar assim, tenho medo das coisas que podem acontecer lá, o medo de fazer pessoas viverem ao meu lado mesmo sabendo que elas não se dão bem. Medo de viver em um lugar falso, que apenas o que eu penso acontece… não é um lugar bom.

— Se tem tanto medo dessas coisas, por que não começa do zero agora?

— Porque… eu estaria abandonando as pessoas que morreram me ajudando a chegar aqui.

— Não. Você estará fazendo o que eles querem, provavelmente.

— Como pode ter tanta certeza?

— Se uma pessoa se sacrifica por você, é porque ela te quer viva. Aproveite isso… ninguém fará algo tão grande nesse ponto para te ver desistir no meio do caminho. Aproveite o fato de você estar viva para começar de novo, fazer uma nova vida.

— Mas…

— Você não vai estar deixando para trás aquelas pessoas que te ajudaram a chegar aqui, vai estar ajudando essas pessoas a viverem em paz do outro lado.

— …

— Elas estão te vendo, estão observando cada passo seu… olhe para o céu, o que você vê?

O céu estava lindo e completamente azul.

— Nada.

— Hm, algum momento você irá ver algo diferente, e quando chegar essa hora… tenho certeza que se lembrará do que falei aqui. Bem, me apresentando novamente, eu sou Solveig… a deusa do sol! Declaro minha honra a princesa de Júpiter? Não! Declaro minha vida a Maki, uma nova garota que chegou aqui na terra.

Sua declaração era referente a eu começar do zero, ela quer que eu abandone o cargo de princesa e viva normalmente como um ser humano qualquer, talvez… abandonar esse passado não seja algo tão ruim assim.

Deixar para trás todos aqueles pensamentos terríveis sobre Júpiter… e recomeçar do zero. Será que é isso mesmo que você quer, Sarah? A poucos momentos te vi nos meus braços… mas agora… você está no outro lado, talvez desejando que eu continue seguindo em frente e que viva por nós duas, isso é difícil, ok?

Não é fácil viver normalmente sem você aqui.

— Eu sei que você consegue. — diz Solveig.

Ela estende sua mão como se estivesse pedindo para me puxar para outra vida…

Na minha frente eu tenho a escolha de viver normalmente como um ser humano… ou… continuar sendo a princesa de Júpiter… e deixar todos os mortos para trás, infelizmente não dá para reviver vocês, então… eu vou seguir minha nova vida.

Quero simplesmente viver em paz e tentar entender qual o significado da minha existência.

Seguro a mão de Solveig e ela me puxa para um abraço.

— Seja bem-vinda a terra!

Sua frase feliz me dá um sentimento bom, como se… agora… eu não ia ser abandonada.

O futuro… talvez seja bom, talvez seja interessante seguir uma nova vida por mais complexa que seja.

Ei, Sarah… eu vou seguir em frente e achar uma forma de te encontrar novamente, sei que você deve estar feliz aí do outro lado… então… algum momento eu irei estar do seu lado e vou te contar todas as coisas boas que vivi aqui na terra! Vai ser divertido… me escute.

— Bem-vinda a terra. — diz Riki.



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