Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 34: Vai me deixar para trás?

Shiori

  

 

A minha mente… está estranha, onde estou? Uma sala de aula… Hideki estava do meu lado, ele estava… lendo algum livro.

Hideki era estranho nos momentos mais aleatórios possíveis, ele ficava lendo um livro chamado… não sei. Tem uma garota de cabelo preto e curto… ela usa uma regata preta e uma blusa vermelha na cintura…

— Hideki…

— Oh… que interessante… — diz Hideki olhando o livro.

— Hideki…?

— Então… o Zero…

Uma lágrima cai do rosto dele, parece que… está se emocionando com o livro.

Ele fecha o livro e assim respira fundo… me olha atentamente e parece ter percebido que… eu estava o esperando.

— Eita, Shiori? O que aconteceu…? Cadê todo mundo?

A sala estava vazia, e não tinha outra… estava no final da aula, era mais um daqueles dias que o Hideki se perdia no mundo dele e saímos uma hora atrasados.

Ele arruma sua mala e me dá sua mão… andamos de mão dadas até a saída da escola. E… o pôr do sol estava na nossa frente.

Estranhamente eu sinto falta desse pôr do sol… é como se por muito tempo eu não tivesse visto ele… que sentimento estranho. 

Éramos os últimos a sair da escola, então o caminho de volta era bem solitário e silencioso, dava só para ouvir os carros buzinando e o lindo barulho do vento… o silêncio… o silêncio era perturbador, até mesmo para uma criança como eu.

— Hideki…

— Oi?

— Você… tem algo para me falar, né?

Mais cedo nesse mesmo dia, o Hideki disse que ia me falar alguma coisa na saída da escola… isso me deixa ansiosa demais.

— Sim… mas relaxa, ainda temos que chegar em casa… lá eu posso finalmente te falar o que quero.

Ah… essa sensação de que algo ruim vai acontecer… de que ficarei sozinha… de que tudo dará errado. Não quero ir pra casa, não quero descobrir o que vai acontecer.

Os olhos de Hideki estavam… assustadores. Como se ele tivesse descoberto alguma coisa errada, ele se afastava um pouco… o que será que ele tanto está querendo esconder por tanto tempo.

Nos aproximamos de casa e Hideki entra logo em seguida.

— Eu… vou pro quarto. — diz Hideki.

Ele sobe as escadas e fica por lá… nisso me aproximo da mesa de jantar… e lá havia um pequeno papel. Meu coração… trava. Como se em algum momento eu já tivesse visto isso, o que será… por que dentro da minha mente diz que não devo fazer isso? E por que meu coração quer tanto ver o que tem dentro daí?

Pego o papel… por alguns segundos o que escuto é o relógio… o lado de fora já não parece ser o mesmo. A escuridão da sala de jantar… onde somente entrava a luz natural… era assustadora.

Aos poucos abro o papel que assim estava dobrado.

Eu… vou embora.

Escuto a porta abrir e alguém correr. Dentro do meu coração… eu sabia quem era, e sabia que a melhor escolha a se fazer era correr atrás… e é isso o que faço.

Hideki… no final das contas, você também vai me abandonar, também vai me deixar sozinha? Da mesma forma que a mamãe me deixou? Da mesma forma que todos me deixaram… você também vai?

Não quero ser aquela que um dia vai ficar para trás…

— HIDEKI!

Você… no final das contas… também brincou com meus sentimentos por todo esse tempo?

Hideki corria por toda a cidade, e eu estava logo atrás… eu não sei o que estava acontecendo, mas muita coisa… muita coisa estava errada. Mamãe tinha me deixado pra trás a tão pouco tempo, e com isso Hideki veio morar comigo… mas por que? Por que ele também quer fugir? Será que no final das contas… o erro sou eu?

Assim… paramos em algum lugar.

No topo de um monte onde só se via a cidade aos poucos ligar suas luzes… e aos poucos… o sol sumir.

— Por que… veio atrás de mim? — pergunta Hideki.

— Eu queria entender… por que até você vai embora…?

Hideki assim olha pra trás, os seus olhos que estavam pintados de roxo… lacrimejavam. Naquele momento… parece que surge um nó na minha garganta. Duas crianças estavam sozinhas fora de casa… sem saber o que está acontecendo direito… por que… por que está tudo dando errado?

— Você… — Hideki não termina sua frase… ele morde os lábios e se vira completamente.

Eu pude por mais uma vez… ver Hideki por completo. 

Eu sabia que ele era incapaz de esconder algo de mim, não porque ele está dependendo de mim, mas pelo motivo de que o Hideki… só se conseguiu abrir comigo.

Ele olhava para os lados assustado, como se algo terrível fosse acontecer com ele.

— Hideki… o que está acontecendo? Por que tudo isso do nada?

— Eu… não consigo viver ao seu lado… ainda mais… porque é minha culpa…

Hideki por muito tempo se culpava por algo, mas em nenhum momento ele falava o que era.

— Mas… até então… por que está se culpando por algo? E pelo o que está se culpando?

— É por minha culpa… que Solveig foi embora…

Nesse momento… meu corpo congela, sinto que deveria falar que está tudo bem… mas…

Você agora… vai falar que o odeia por isso… seu sentimento será de raiva. Dor. Sofrimento. Você será… a pior pessoa do mundo.

— Sua culpa…?

— Sim. Ela não me quer por perto… por isso… por isso… ela foi embora.

— Espera.

— Em uma pequena discussão que tive com ela… 

Relaxa… o que você vai ver agora… não aconteceu de verdade, mas eu queria colocar isso… porque acho incrível te quebrar.

Hideki estala seus dedos e o corpo de minha mãe aparece na minha frente.

Dou um passo pra trás… ela estava morta. 

Não precisava ser um expert em algo para descobrir isso, até mesmo uma criança seria capaz de dizer.

ÓDIO! Sinta… ÓDIO!

— O que… você fez…?

— Eu… matei ela…

A imagem de um garoto que estava na minha frente… começa a ser consumida por ódio.

Por que uma pessoa como você… tem que ser tão especial, em?

Por que…? Por que eu tenho que ser especial?

— Isso… me responda com clareza, por que você tem que ser especial? — diz uma voz feminina.

O corpo do Hideki é consumido por uma mulher extremamente diferente do normal.

— Me diz… Shiori… por que tudo é culpa sua?

— Culpa… minha?

— SIM, me explica, por que você existe?

A mulher transforma o lugar em uma sala branca. Meu pensamentos… voltam ao normal.

— Se eu não posso te quebrar com a sua vida, eu vou te quebrar normalmente.

— O que você quer comigo…?

Aquele dia em que havia sido mostrado nas minhas memórias realmente aconteceu… mas a diferença era o final. Hideki e eu discutimos naquele dia, ele queria ir embora pelo motivo de que estava triste por ser um peso morto pra mim… esse era seu pensamento.

Na verdade eu estava extremamente preocupada com ele, chegava em um nível onde eu saia pra trabalhar e me perguntava sobre o que estava acontecendo com ele… era alguns meses depois da tragédia na sua casa… o que esse pensamento que ela criou quis dizer…?

O que ela quer fazer agora?

Na minha frente aparecia… a minha mãe…

Atrás de mim estava eu mesma…

Do meu lado direito estava Hideki…

E do esquerdo… outra eu.

Os quadro apontavam o dedo pra mim…

— Você sabe… o quanto errou. — diz Hideki.

— Hideki…?

— Filha… isso realmente não pode ficar assim… você está triste, sabe o quanto foi difícil colocar aquilo dentro de você?

— Espera… mãe…

— Os seus sentimentos são falsos… e você sabe o quanto foi errado tentar quebrar a maldição que a mãe colocou na gente. — diz a “eu” do lado esquerdo.

— Não falem isso como se eu tivesse conseguido quebrar aquilo…

— Pois você quebrou… se não… por qual outro motivo está chorando? — pergunta a última.

Eu finalmente senti que no meu rosto… estava caindo uma lágrima, talvez eu estava um pouco acreditando naquele passado que ela me mostrou… mas não é verdade.

— Eu demorei tanto… tanto pra colocar isso em você… só para poder sorrir… você tem que sorrir, minha filha… sorria…

Minha mãe dizia isso com um sorriso extremamente forçado em seu rosto, como se… naquele momento… alguém estivesse a ameaçando, estivesse forçando a fazer isso.

— Não… mas…

— É CULPA SUA, SE NÃO TIVESSE FEITO ISSO…

— É tudo sua culpa.

— Você é a culpada…

— Se é assim… deveria morrer… eu não acredito que dei a luz a uma garota que nem ao menos agradece ao que a mãe faz.

— Morra…

— Morra!

— Morra…!

— Você deve morrer…

Essas pessoas gritavam… riam da minha cara, pediam a minha morte, choravam, eram expressivas até demais…

Escutei isso milhares de vezes…

— Morra, sua inútil.

— Isso, sem você aqui… tudo será mais fácil.

— Você não merece existir mesmo.

— O QUE SERÁ QUE ACONTECE SE EU TE DAR UMA CORDA?

Onde estou… quanto tempo se passou?

— SUMA DA MINHA FRENTE!

— SAÍ DAQUI SEU LIXO!

— É TUDO SUA CULPA!

— SE NÃO FOSSE POR VOCÊ…

Alguém… me ajuda…

— NÃO É MINHA CULPA… PAREM…!

Eles não paravam, na verdade estavam mais intensos…

— PAREEEEMMMM!!!!!

Um grito que vinha não de mim… mas de dentro da minha garganta, parecia que a qualquer momento iria rasgar minhas cordas vocais…

Uma rachadura na sala aparece no teto… e aquilo vai ficando pior, até quebrar como se fosse vidro.

Uma pessoa saiu dali, um homem que tinha a mesma estrutura do Hideki, com a diferença que possuía duas tranças que tocavam o chão.

Ele me olha… e sorri de canto.

Naquele momento eu descobri quem era, uma pessoa que estava comigo desde o início de tudo, uma pessoa que eu realmente queria ver no final das contas… mas por que está tão diferente? O que aconteceu enquanto eu estava aqui?

— Eu demorei… Shiori?

— Não…

Era Hideki, ele estava com duas espadas, uma em cada mão. E assim ele olha atentamente para frente.

— É aqui que tudo isso vai acabar… Nina.

As quatro pessoas entram em conflito e começam a agonizar de dor.

— Como… você chegou aqui…? — perguntou Nina.

— Eu era o único capaz de fazer isso, certo? Aqui estou então… para terminar com tudo… fazer todas as pessoas descobrirem a verdade.

— HÁ, O QUE VOCÊ SABE SOBRE ISSO?

— Eu não sei nada sobre a verdade, mas pode ter certeza que depois de te matar… irei descobrir tudo.

— NÃO É POSSÍVEL ME MATAR… Senhor Hideki… não sou uma pessoa… e sim algo que está com todos.

— Então irei fazer todos esquecerem de você.

Hideki dá um passo pra frente e aquelas pessoas somem.

— Você estava assustada? Desculpe… garanto que agora farei o que seja possível para simplesmente você esquecer tudo isso e se tornar alguém feliz novamente.

— Você… quebrar… a promessa da mãe dela? O que você quer fazer?

— Quero fazer o impossível querida deusa… agora. Vamos começar.

Uma luta vai começar na minha frente, Hideki não estava aqui para conversar, na verdade ele queria terminar tudo isso o quanto antes.

Do mesmo buraco que ele saiu, surge Any… que estava totalmente diferente. A mesma coisa com Yukiro e com Maki.

— O que aconteceu com… vocês?

— Há… uma hora você percebe. — diz Yukiro.

A silhueta na minha frente… de um homem extremamente forte e com duas espadas não me é estranha… o que aconteceu para você ficar dessa forma… Hideki…?

No final das contas está da mesma forma de sempre, você está na frente… mas não vai me deixar para trás, certo?

No final de tudo… você não vai me abandonar… certo?

Seguro no seu pé. Por favor… me olhe… não se vá.

Ele me deixa para trás e assim me olha.

— Desculpe. Mas antes de tudo isso… eu quero te tirar daqui… assim eu vou poder me desculpar apropriadamente.

Ele dá mais um passo à frente e aponta a espada para Nina.

— SEU INSOLENTE, QUEM VAI TE MATAR SERÁ EU!

Assim uma luta parece começar… mas eu sou fraca para saber o que acontece ali.



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