Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 32: A primeira guerra dos deuses.

Shiori

  

 

— Vamos… ir para o Reino Diamante. — digo.

Quando falei isso, era como se uma maldição tivesse se estabelecido no quarto onde todos se encontravam, eu não sei desde quando a Any estava ali, ouvindo nossa conversa… mas não parecia ser muito tempo.

Seus olhos inofensivos demonstraram confusão com o que acabei de falar.

— O Reino Diamante, certo? — perguntou Any.

— Sim.

— Por que ir para um lugar tão distante?

— Existe uma pessoa que preciso ver.

— Oh, entendo.

— Existe uma forma de você nos ajudar a ir?

— Sim… até conseguiria arranjar uma carruagem para vocês… se não fosse a guerra dos deuses.

Isso novamente é citado, por um momento tinha esquecido o que era que impedia esse mundo de seguir em frente… mas aqui na minha frente eu tinha como descobrir mais e mais sobre essa guerra… algo que possivelmente a minha mãe participava.

Se eu saber mais disso, provavelmente poderei entender um pouco o que minha mãe estava fazendo por aí.

— Any, como assim… “se não fosse a guerra dos deuses”?

— Ah… talvez vocês não saibam algumas coisas… me sigam.

Any sai do quarto, e assim… um pouco com medo de ser esquecida novamente, seguro a mão de Hideki e aos poucos ele me puxa pro lado de fora. Algumas coisas estranhas aconteceram com o meu coração, mas não há muito o que fazer daqui pra frente.

Começamos a andar pelos corredores do castelo, até chegar na área principal… e lá vemos uma mulher um tanto quanto estranha.

Seus lindos cabelos cacheados que traziam um tom tão perfeito de beleza, com sua roupa vermelha que parecia de uma realeza… e seu ar puro que era transmitido pela sala… desde que vi isso, percebi uma coisa: ela é alguém tão importante…

— Senhorita Emily, não vi que você tinha acordado. — diz a empregada que se chamava Jennifer.

A empregada começa a correr em direção a essa mulher, e assim ela se vira em minha direção.

Seu rosto era fino e perfeito, seu corpo possuía curvas nos lugares mais lindos de se ter… podemos compará-la com a deusa da beleza, de tão linda que ela é.

— Oh, você chegou na hora certa… irmã. — diz Any.

— Any… você está acordada!

Essa beldade em pessoa se aproximava correndo para abraçar a Any.

— Como você está!? — pergunta Any enquanto abraça essa tal pessoa.

— Estou bem, e você?

— Maravilhosa! Oh, tenho que te apresentar umas pessoas.

— Quem?

— Essas aqui! — diz Any enquanto aponta diretamente pra gente.

Hideki solta minha mão e se curva, tentando demonstrar respeito.

— Meu nome é Hideki Hirai.

Assim ele se levanta e aponta pra mim.

— E essa aqui é a minha namorada, Shiori Takahashi.

— E-Ei…

— Se curva, vai…

Me curvo da mesma forma que Hideki, escuto um pouco de risadas vindo dele. Mas ao observar seu rosto e ver que ele está sorrindo… isso faz meu coração se aquecer. Yukiro e Maki se apresentam logo após, mas de forma totalmente diferente… honestamente eu me sinto um pouco envergonhada pelo o que acabou de acontecer, não sou a melhor pessoa quando se trata de etiqueta, mas… eu tento.

E logo após tudo isso… a princesa decide se apresentar.

— Meu nome é Emily Maurer, sou a única princesa desse reino… sejam bem-vindos.

Ela assim para, respira um pouco.

— Se estão aqui, provavelmente são amigos da Any, certo?

— Não, não, eles são as pessoas que me ajudaram a fugir da academia.

— Entendo, e o que fazem aqui?

— Estavam pedindo por ajuda. Eu vou levá-los até a saída da cidade, tem um lugar que querem ir.

— Entendo… por muitos problemas no reino, não poderei ajudá-los dando uma carruagem ou algo do estilo, mas se precisarem de algo… não tenham medo de pedir, afinal de contas… vocês ajudaram a minha irmã.

A princesa dá um sorriso fofo e assim vira suas costas e continua a conversar com as empregadas sobre limpar os quartos. Any assim continua seu caminho e todos nós decidimos segui-la. Ela anda pela cidade que nesse horário estava tão quieta…

— Vocês… querem saber da guerra, certo?

— Sim, o máximo possível. — digo.

— Certo. Não há tantas e tantas coisas que posso respondê-los… só o que o reino diz.

— Por que está ajudando a gente? — pergunta Hideki.

— Tecnicamente eu devo a minha vida a vocês, já que por conta disso… eu fui salva e finalmente pude ver minha família novamente.

Um ato que tecnicamente era digno de ser chamado de herói, mas não naquele momento…

— Enfim, o início da guerra é um mistério para todos nós, mas o que todos da família real decidiram fazer… é ajudar a deusa que fazia esse lugar funcionar. Nós do reino tínhamos uma pessoa tão poderosa aqui dentro que ajudava o lugar com uma energia em específico.

— Uma deusa ajudava o reino? — pergunto.

— Sim, o nome dela… era Solveig.

A minha mãe?

— Ela ajudava o reino com muitas coisas, e em um momento ela anunciou que iria se ausentar pois uma guerra dos deuses havia começado, e o que mais a chateava… era o fato de não poder ter a ajuda do povo… pois naquele momento, ela estava com medo de que todos morressem.

— E… o que ela fez?

— Seguiu seu caminho… e disse que em algum momento ela voltaria, mas não naquela forma.

— Você sabe que deusa ela era?

— Sim, a deusa do sol.

— Any… o que é o sol para vocês? — pergunta Hideki.

— Para nós desse reino, o sol é a nossa forma de vida, sem ele… há escuridão, e na escuridão… não há formas de viver. Pense comigo… você tem medo da escuridão? 

Por um momento o que se escutava eram as pessoas que estavam batendo os tapetes nas janelas mais altas enquanto passamos por uma viela.

— Sim. Tenho medo da escuridão. — diz Hideki.

— E por conta desse medo… as pessoas acabaram por acreditar que o sol é o nosso único aliado, e o que uma pessoas dessas vai fazer ao descobrir que existe uma deusa do nosso aliado?

— Vira sua deusa também?

— Isso. Nossa deusa disse que iria para uma guerra, e que o reino não poderia ajudar. Mas o rei… aquele idiota ficava tentando se casar com a deusa do sol e mesmo que fosse uma ordem dela… o rei criou um portal e assim mandou toda a população para a guerra.

— A população não pensou que isso seria terrível?

— Não, muito pelo contrário. Mas enfim, naquele lugar descobrimos que os deuses estavam lutando por ideais.

— Ideais…

— Algo a dizer, senhor Hideki.

— Não… as pessoas vivem lutando pelos seus ideais, mesmo que isso machuque extremamente outras pessoas.

— Como assim?

— Guerras, lutas, brigas, entre qualquer coisa do tipo, elas sempre acontecem por ideais que não se conectam, as pessoas raramente tentam entender um ao outro, sempre acontece brigas desse estilo… no estilo em que um tem que sair ganhando. No final das contas… quando você está lutando, está lutando pelo ideal.

— E se eu estiver lutando para viver?

— Está lutando pelo seu ideal de vida. Os ideais… sempre estão em conflitos, e não há nada que o ser humano possa fazer, porque… no final das coisas, criamos a nós mesmos com o ideal de lutar pela vida. E provavelmente é esse ideal que está em jogo nessa guerra, certo?

— De certo modo… você não está errado. Os nossos mensageiros conseguiram captar o motivo, e que era algo tão idiota… muitos deles queriam apenas dominar o mundo, outros lutavam pelos direitos iguais dos deuses, pois eles não podem se relacionar com os seres humanos.

— Então era realmente uma gigante briga de ideais… o que aconteceu depois?

— Existem mais alguns motivos que foram perdidos em meio a guerra, pois naquele momento… perdemos cerca de 70% da nossa população. E muitos mensageiros morreram. E ainda para piorar… a deusa do sol sumiu em algum momento da guerra, junto com o deus da criação, e até agora estamos a procurando.

Quem eles estão procurando é a minha mãe, não eu… então não posso fazer nada nesse momento. Mesmo que… ela tenha morrido, não há nada que posso fazer, acabar com as crenças de uma nação inteira não é de meu feito.

— E se ela morresse? — perguntou Hideki.

Por um instante… todo mundo olhou para o Hideki, até mesmo as outras pessoas que só escutavam a nossa conversa.

— E se ela morreu, certo… isso claramente foi uma pergunta que passou na nossa mente, principalmente por ser a pior de todas. E se ela realmente morreu? O que nós… desse reino irrelevante para o universo… o que nós iríamos fazer? Continuar vivendo sem ao menos ter o nosso “sol” que brilhava toda manhã? Eu te respondo, Hideki… apenas iremos nos adaptar e agradecer todos os dias por uma pessoa tão incrível quanto a Solveig ter vindo para o nosso reino.

— Entendo.

— De uma forma ou de outra teremos que seguir em frente. Porque esse é o ideal.

— Então por que…?

— Por que não aceitamos que ela morreu mesmo que esteja na nossa cara? 

Isso deixa Hideki em silêncio.

— Porque esse também é nosso ideal. O ideal é tentar descobrir o que aconteceu com a nossa deusa do sol. Afinal de contas, um ideal é só uma meta que um ser vivo quer cumprir, e nós só estamos seguindo como o planejado.

— A guerra continua… certo?

— Sim, em um lugar tão distante que nem é possível chegar sem um portal. Falam que o deus da criação voltou para a guerra como se nada tivesse acontecido, mas não encontraram a deusa do sol.

Continuamos andando até a saída.

No final das contas… ninguém queria entrar no meio dessa conversa, pois nunca iria chegar em um fim, os dois parecem conectar suas ideias… e assim parecem chegar em uma espécie de acordo.

— Nessa guerra dos deuses que existem muitos objetivos… será que os seres humanos um dia abrirão seus olhos para entender que essa guerra é deles também? — pergunta Any. 

— Como assim? — pergunta Maki.

— Os seres humanos estão perdendo em tudo, mesmo não participando da guerra, pois isso afeta todos nós, temos que abrir os nossos olhos… temos que acordar pra vida e entender que tudo isso não passa de uma porta de entrada pra nós. Devemos entrar nessa luta e encarar a verdade, entender que no final das contas… essa guerra também é nossa!

O vento bate forte nesse lugar que estamos, e por conta disso é possível ver seus cabelos avermelhados voarem pelo ar, demonstrando em suas costas… uma linda e perfeita espada.

— Mas mesmo que eu esteja preparada para lutar… a população não quer voltar para aquele lugar, pois o nosso rei… é covarde demais para pedir algo assim, os nossos estrategistas já desistiram da verdade e não querem mais saber do que está acontecendo… só apenas aceitaram viver como seres humanos normais.

— Eles… desistiram?

— Sim, pois na visão deles… “um rei que não consegue declarar guerra, nunca será um verdadeiro rei.” e é até entendível isso.

— Sim, eu consigo entender o lado desses estrategistas. — diz Hideki.

— Bem, vocês entenderam… certo?

— Sim, deu para entender o que está acontecendo.

Assim chegamos em um portão diferente do que viemos para esse lugar, e chegando lá… apenas paramos de lado.

— Tem mais alguma coisa que posso ajudá-los?

— Cuide da Mel pela gente? Ainda iremos voltar. — diz Hideki.

— Sim, eu cuidarei da raposa de vocês.

— Então… é só seguir o caminho?

— Sim, o reino é distante, então não poderei ajudá-los com alguma coisa do tipo…

— Bem, até mais… Any! — diz Hideki.

— Até, Hideki… Maki, Yukiro e Shiori! Tenham uma boa sorte na aventura de vocês!

E assim nos viramos de costas e seguimos o nosso caminho até o reino que na verdade era a casa de Nina. Nesse momento que poderia ser julgado como perfeito, tínhamos um certo medo do que poderia acontecer.

O futuro é assustador quando se trata de não saber nada… pois diferente do passado que já sabemos, aqui não sabemos nada… e um pequeno deslize contra a nossa vontade, já pode causar um futuro completamente novo.

O que irá acontecer nesse reino… nem mesmo eu sei.



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