Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 16: A estrela chegou.

Shiori

 

Do céu… uma silhueta que conheço muito bem, na verdade… se parece com uma pessoa que conheço muito bem, por conta da luz do sol não consigo ver quem é. Da minha boca sai palavras automáticas.

— Mãe… é você?

Akumo, que até então estava distante, olhou atentamente para a silhueta que estava voando.

— Finalmente você apareceu, Solveig. É só tocar na sua filha que você decide aparecer…

— Uma mãe deve proteger sua própria filha, não? — responde a silhueta.

As outras lutas não estavam sendo afetadas, na verdade continuaram como se nada tivesse acontecido, o que me deixa estranha… Eu consigo aos poucos andar, mas é complicado usar meu braço. A mulher que estava voando, agora está no chão, na minha frente…

Seu cabelo estava liso e alaranjado, ele era curto com cortes retos, seus olhos estavam amarelos e sua roupa… usava um vestido formal que chegava ao ponto de tocar o chão, na sua mão direita segurava uma espada de fogo.

Era a mulher que eu mais queria encontrar na vida… eu finalmente, depois de tanto tempo… eu finalmente te vi. Ela se aproxima e toca no meu rosto, ela dá um sorriso.

— Finalmente nos vimos novamente… depois de anos, né? 

— Mãe… você finalmente… finalmente apareceu…

— Eu estava de olho em você em todos esses anos.

Eu queria perguntar o que aconteceu para você estar dessa forma, mas nada estava saindo da minha boca, na verdade eu só conseguia te observar e isso causava uma certa estranheza, eu tinha tantas e tantas coisas para te perguntar e tantos assuntos pra conversar que… que eu… não tenho a minima ideia de por onde começar.

Você parece ter percebido isso, e olha diretamente aos olhos de Akumo, a mulher de pele totalmente branca não parece se assustar com a raiva que é possível perceber nos olhos de minha mãe.

— Filha, conversaremos depois de eu arrumar tudo isso, pode descansar aqui… eu vou te proteger.

— Mas, mãe…

Ela solta a sua mão do meu rosto e assim corre para lutar contra Akumo, a luta era tão rápida e tão perigosa que se tornava aos poucos invisível aos meus olhos, eu não conseguia de forma alguma acompanhar os ataques e o que estava acontecendo ali, eu só conseguia ouvir os gritos de ódio.

Só que em meio a isso eu me lembrei que o Hideki estava lutando sozinho contra o Saymon, vou em direção a ele, não posso deixá-lo sozinho, tenho que ajudar… vai que ele neste momento está no chão quase morrendo?  Acabarei com nossa promessa, acabarei com tudo de uma vez, não é assim que tem que ser.

Eu estava andando aos poucos, estava difícil por conta do impacto que tive contra a parede, a flecha que estava no meu braço ainda estava doendo… mas tenho que continuar seguindo em frente, não posso parar agora, minha mãe está de volta, eu tenho que ajudar o Hideki e acabar com isso o mais rápido possível, só assim eu vou poder falar com minha mãe…

Hideki, onde você está? Onde você está? Me diga… vai, por favor, me diga…

Ando por quase todo lugar e não te vejo, ao meu redor tinha muitos corpos de alunos, eu pareço não me preocupar com isso, não posso me importar, é estranho essa sensação de escutar somente meu coração bater e nenhum sentimento tomar conta da minha mente, qual o nome disso..,? Adrenalina? Talvez.

Depois de andar por aí eu finalmente te achei, lutando contra o Saymon…

— Hideki…

Antes que eu pudesse te chamar novamente, sua luta é parada por Yukiro que aparece do seu lado, assim eu finalmente pude perceber o que estava acontecendo na minha volta. Os alunos que assim estavam vivos… já fugiram, aqueles que estão nos meus pés… eles estão… mortos.

Espera, morte? O que isso significa? Essas pessoas pararam de existir nesse momento? Calma, não é hora de ter uma reflexão… Meu coração que estava inquieto, nesse momento está normal, minhas batidas estão calmas, eu posso pensar.

Olho em volta e vejo o que aconteceu, o castelo que era lindo agora está destruído, o Hideki estava muito machucado, e a minha mãe… apareceu querendo minha proteção. Me ajoelho… o que eu estava fazendo em todo esse tempo? O que eu queria estava tão perto de mim todo esse tempo, é como se meu esforço fosse todo para a merda, e por conta disso, estou em meio a uma pilha de corpos, algo que nunca vi antes… mas por algum motivo isso não me causa angústia, não me causa tristeza, dó, ou qualquer sentimento diferente.

É como se eu já tivesse visto isso em algum momento, mesmo que nunca tenha acontecido de verdade. As pessoas que estavam vivas estavam lutando com tudo que tinham, Hideki estava completamente focado, Yukiro estava parecendo uma pessoa louca, minha mãe estava lutando contra o que parecia ser uma inimiga de muito tempo atrás… nada disso está fazendo sentido, é como se estivesse seguindo um caminho muito linear…

Como e qual o motivo das pessoas não reagirem ao que está acontecendo?

— Talvez esses pensamentos sejam desnecessários… senhorita Shiori.

Atrás de mim aparece uma pessoa encapuzada com um sobretudo, essa voz… eu já ouvi ela em algum lugar, é aquela mesma sensação que tive ao ver a minha mãe novamente, só que… mil vezes pior.

— Quem…

— Riki Hirai. Você me conhece, já que é melhor amiga do meu filho.

O pai do Hideki? Espera… é como se todos os nossos sonhos tivessem se tornado realidade, o Hideki pode encontrar o pai dele agora, mas por que tudo isso está tão estranho?

Hideki estava parado com sua espada apontada em direção ao Saymon. Enquanto isso Yukiro estava dando alguns passos pra frente, indo em direção a Saionara que estava logo atrás de Saymon.

— Escuta Yukiro, você treinou por tanto tempo e nunca ganhou de mim, o que vai mudar agora que pode me bater?

— O simples fato que não preciso me segurar…

Saymon entra na frente do caminho de Yukiro, ele não queria deixar a garota se aproximar, eles não se falam, na verdade é demonstrado sorriso na face dos dois, mas Yukiro… foi mais rápida.

Ela enfia sua espada no pescoço de Saymon e assim corta a cabeça do garoto que estava em posição de ataque, não havia tempo para trocar qualquer tipo de ataque, aquilo não era pra ser a luta dele, era para ser da Saionara, mas parece que ao se meter no meio… teve o que foi melhor para ele.

Yukiro dá um sorriso cada vez mais largo, se parece com Akumo… o que ela está fazendo? Está enlouquecendo aos poucos… isso talvez pode ser algo ruim, se ela ficar ao ponto de querer matar a gente? O que faremos?

Hideki estava assustado com o que acabou de acontecer, como se estivesse um pouco impressionado também, foi algo muito rápido que nem teve tempo para reagir direito ao que acabou de acontecer.

— Menos um. — diz Yukiro.

Hideki dá um passo para trás e assim cai no chão, aquilo foi o suficiente para fazê-lo parar por um tempo, assim ele olha na minha direção… mas não para mim, na verdade estava observando o homem que até então era um mistério para ele, ou talvez não…

O homem retira o capuz que assim tampava seu rosto, se demonstrando quem era para o Hideki, o garoto arregala seus olhos de forma assustada, a única coisa que sou capaz de ver é o seu longo cabelo que estava preso e era branco, como se fosse um idoso já…

— Há quanto tempo… Hideki.

— Pai…?

Aos poucos me aproximo dos dois, mas percebo algo… Riki não estava aqui para rever o seu filho, na verdade era para fazer outra coisa… eu sinto que deveria avisar o Hideki disso… mas como eu vou fazer isso? Não consigo falar nada, é como se eu estivesse sendo silenciada… mas por qual motivo?

Hideki, não se aproxima desse homem, sai daí… eu quero poder falar isso, mas eu não consigo…

Aos poucos me aproximo do garoto e do seu pai, mas…

Paredes começam a se erguer na volta de todo o lugar, fazendo com que a luta da minha mãe fosse separada, do lado de dentro das muralhas estava a minha mãe, do lado de fora estava Akumo.

Eu não sei o que aconteceu com a Yukiro e a sua luta, mas não estou mais escutando a sua espada.

— Sabe… eu acho que isso não é uma boa forma da gente se reencontrar… — diz Riki.

— Talvez não seja… pai, eu estava te procurando…

— Eu também estava te procurando, filho.

Uma voz começa a ecoar pela minha mente, não era algo gentil… era uma ordem, e o meu corpo simplesmente segue essa ordem.

Você não pode mais se mexer.

Droga, não consigo falar, não consigo me mexer… vamos corpo, me obedeça, o que está acontecendo aqui? Não consigo ver o que está acontecendo à minha volta… Hideki, perceba o que está acontecendo… se não… se não…

— Você me achou…

— O que aconteceu com a mamãe?

— Ela está bem, ela está perfeitamente bem.

— S-Sério?

— Sim… parece até que nada aconteceu com ela naquele dia.

— Você conseguiu salvá-la então? Que legal… — diz Hideki enquanto demonstra um sorriso infantil.

Riki começa a levantar sua mão até a cabeça do garoto que estava hipnotizado com a notícia. Minha mãe aparece do meu lado, ela não diz nada e não faz nada…

— Desculpe filho, mas talvez tenha coisas que terei que apagar da sua mente, tenha calma, vai dar tudo certo no final das contas… eu ainda irei fazê-lo… passar por todo inferno.

O que? Eu tenho que me mexer, eu tenho que sair desse feitiço ou seja lá o que isso for, não posso deixar o Riki encostar no Hideki, vamos… vamos corpo, SE MEXA, EU TENHO QUE AVISAR O HIDEKI DO QUE ESTÁ ACONTECENDO, SE NÃO TUDO SERÁ EM VÃO…

FAZÊ-LO PASSAR PELO INFERNO? O QUE VOCÊ QUER FAZER COM SEU PRÓPRIO FILHO? O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SEU DESGRAÇADO? NÃO ENCOSTE UM DEDO NELE, SE NÃO… SE NÃO…

VAMOS, SE MEXA, SAÍA DESSE TRANSE, O HIDEKI ESTÁ DEPENDENDO DE VOCÊ, SE NÃO FIZER NADA AGORA… SERÁ IMPOSSÍVEL FAZÊ-LO VOLTAR AO NORMAL, VOCÊ SENTE QUE SERÁ DESSA FORMA, AGORA… AGORA, SE MEXA, SUA DESGRAÇADA.

— SE ACHA MESMO QUE VAI FICAR ASSIM, ESTÁ TOTALMENTE ERRADA, SUA PUTA!

Yukiro aparece do nada, jogando Saionara na direção de Riki que segura a cabeça da mulher.

— Você está atrapalhando tudo… Yukiro.

Hideki assim olha para o lado, como se tivesse acordado de um transe, e a mesma coisa acontece comigo e com a minha mãe… calma, essa não é a hora para ficar pensando nas coisas, sinto que tenho poucos segundos para falar qualquer coisa que seja, então… TENHO QUE SER RÁPIDA!

— HIDEKI, SAI DAÍ AGORA, ELE NÃO ESTÁ AQUI POR CONTA DE ALGO BOM, ELE QUER FAZER ALGO RUIM COM VOCÊ, SAI DAÍ AGORA!

Como se fosse uma ordem para o garoto, minha mãe grita com tudo no meu lugar, assim ele percebe a existência dela. Hideki assim dá um passo para trás, ele estava confuso com o que estava acontecendo naquele momento, mas não é como se tivesse culpa, todo mundo reagiria dessa forma… 

Corro em direção a ele e o puxo para trás, como se estivesse o levando para longe. E olho no rosto daquele homem que estava tentando fazer isso com o Hideki.

Riki, o verdadeiro pai dele, não tentaria fazer isso com o próprio filho, isso está tudo realmente muito estranho, não é hora de pensar muito, tenho que tentar entender o que está acontecendo aqui. “Hipnose? Qual seu motivo para fazer isso com ele? o que o Hideki te fez?”

São perguntas que não posso fazer por enquanto, tenho que ver quem é a pessoa que está por trás disso tudo, e ela está na minha frente nesse momento, relaxe… você não consegue lutar, mas consegue proteger a pessoa que está segurando, tenha noção de quem é este homem… por que ele está fazendo isso?

São coisas que só você pode fazer Shiori…

E… este homem… ele é…



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