Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 12: Infanterie-Kampf.

Saionara

10 anos atrás.



— Escutem, vocês duas vão invadir esse castelo e pegá-lo para mim. — diz Akumo.

— Certo, mãe. — digo.

— Certo.

Escuto Akumo sair da sala, a venda ainda estava em meus olhos… o estranho era… o que eu poderia fazer nesse momento? Agora as duas acham que eu entrei no poder de Akumo, mas não é verdade, a minha consciência ainda existe.

O poder de Akumo é bastante simples. Caso o sangue dela percorra o corpo de alguém, uma lavagem cerebral acontece. Isso parece ter acontecido com Alysci, mas desde quando…?

— Saionara, vamos?

— Vamos, Alysci.

Tenho que ter muito cuidado, terei que seguir as ordens até chegar no momento de reencontrar Solveig, ela deve estar nos procurando agora, invadir um castelo, né? Será que tem alguém por lá? Acho que não. Alysci me levanta e assim me leva até um lugar para retirar a minha venda. Akumo não confia em mim para ver o que tem dentro da casa dela, parece não confiar muito na Alysci também.

O lugar onde estamos nesse momento é acima de uma montanha, a vista que temos é de uma cidade gigante e muito linda, era possível ver as luzes acesas da cidade, parecia ser um lugar que nunca morre. Estranhamente o que bate no meu coração é solidão. Vejo Alysci seguindo caminho até a cidade e a sigo.

Ela não conversa comigo e eu faço o mesmo, não há muito o que a gente falar, na verdade em todos esses momentos eu estava apenas sem falar com ninguém, nem com Akumo falei direito, o que irá acontecer daqui para frente…?

Nos aproximamos da cidade e seguimos até um castelo que parecia não ter fim em sua altura, o céu que estava escuro e um pouco nublado, começa a demonstrar chuva.

— Alysci, vai começar a chover.

— Eu sei, vamos fazer tudo isso rápido.

— Alguém mora neste castelo?

— Sim, uma senhora. E pelo o que parece tem uma garota também.

Era o que eu menos queria ouvir neste momento, não quero matar ninguém, não quero apontar uma arma para alguém, mas tenho que seguir o que Akumo e Alysci falarem, tanto que se eu fizer algo do contrário delas… tudo estará acabado.

Alysci então quebra o portão e neste momento um raio cai ao lado, o barulho foi tão alto que era impossível de escutar o portão se quebrando, logo em seguida uma chuva muito forte começa. O lado de fora do castelo é extremamente lindo, havia uma fonte no centro de um jardim perfeito… 

Entrando de vez no castelo é possível ver que ninguém mora aqui. O lugar é extremamente vazio… o chão banhado a ouro e os desenhos do céu noturno no teto são as coisas que chamam atenção… Tirando isso, nenhuma alma viva existe por aqui.

— Não morava uma velha e uma garota aqui?

— Mora, elas estão em algum lugar do castelo.

— Entendo…

Andamos pelo local inteiro em busca de pessoas, mas até então nada estava por aqui. Até que…

— Procurando alguma coisa, filhas de Akumo?

Atrás da gente havia uma pessoa estranha, uma pessoa mais velha com um olhar de experiência, essa moça tinha um corpo que gritava por ela… parecia ser uma pessoa extremamente forte.

— Claro, queremos esse lugar para a gente. — diz Alysci.

— Sabe, esse castelo não está à venda, quantas vezes terei que falar isso a vocês?

— Se realmente não quiser colaborar, teremos que fazer isso à força.

Alysci avança direto na mulher e seu soco é defendido.

— Sabe, eu não queria quebrar o castelo, mas vocês não me dão escolha…

— Também não queremos danificar o produto, mas não há nada que possamos fazer, certo?

— Creio que sim…

A velha assim chuta Alysci em minha direção, e começa a falar.

— Aqueles que forem se opor contra minha pessoa, terão que sofrer o que o inferno tiver. Que o poder do deus do inferno chegue nos meus punhos, para julgar aqueles que são contra você. Gehenna

O que é isso? Uma conjuração? Começo a dar uns passos para trás. Em todos esses anos que passei com Akumo, fui obrigada a ter um treinamento forçado, achei que por muitos anos meu corpo não iria aguentar o que foi feito comigo, mas não tinha escolha.

Pego uma adaga que tem em meu bolso e me preparo para o ataque, a velha se aproxima rapidamente e desfere ataques em alta velocidade, eu consigo me defender até certo momento, chegava num ponto onde me cansava… mas para a minha salvação, Alysci aparece atrás da moça e dá um chute contra a parede.

A mulher é jogada para longe, quebrando várias e várias paredes e coisas do tipo, até chegar do lado de fora do castelo. Alysci corre em direção a ela gritando o que parecia ser o seu nome.

— LOLA, ESSA LUTA ACABA AQUI!

Vou logo atrás. Alysci se prepara para dar um ataque que acabaria com a vida de qualquer um, mas naquele momento, uma garota aparece para proteger Lola, com uma espada em mãos a garota defende o ataque de Alysci e é jogada para trás pelo recuo.

— Yukiro, o que você está fazendo aqui? — pergunta Lola.

— Eu… quero te proteger… mamãe…

Mamãe? Essas duas são mãe e filha?

Alysci não se importa com o que acabou de acontecer, e quando a garota avança em direção a ela, sua espada é tomada. Alysci chuta a garota para o ar e finca sua espada em seu peito… matando a garota. O corpo é jogado para longe.

Lola não parece ter ligado para isso, na verdade parece estar um pouco surpresa com o que aconteceu, tem algo de estranho aqui… se sua filha morre em sua frente, a reação será essa? Lola avança para cima de Alysci, jogando muitos golpes contra a minha irmã. Alysci parece aos poucos se divertir com a situação, ela estava com um sorriso de ponta a ponta, defendendo todos os ataques e tentando retrucar alguns.

— SAIONARA, ENTRE AGORA AQUI, VAMOS MATAR ESSA MULHER!

Como ordens que parecem ser mandadas ao meu coração, eu sigo e entro na luta. Aquele lugar não era para mim, a luta estava em um nível tão alto que nem consigo acompanhar direito, pareço ser um peso morto para Alysci, também pelo motivo de não querer matar alguém, mas neste momento… não tenho escolha, terei que avançar contra Lola.

A luta aos poucos vai ficando mais tensa, a mulher que estava contra duas pessoas parecia estar lidando bem com tudo isso, parecia que estava acostumada com esse tipo de situação, assim ela joga Alysci para longe e começa a lutar contra minha pessoa, ela fingia chutar minhas mãos para soltar a faca, seus golpes eram meio assustadores, ela conseguia manter um ritmo tão alto que chegava em um ponto onde você não parecia conseguir acompanhar, parecia que ela estava te guiando nesta luta.

Até chegar no momento onde um de seus chutes me acerta… ela loucamente avança em minha direção, chutando a minha mão esquerda para o alto, pegando a faca que eu segurava e apontando contra meu peito… aquele parecia ser o meu fim…

— Que a escuridão tome conta deste corpo fraco e terrível, deixe o sangue da nossa mãe correr pelos seus vasos sanguíneos, você está sozinho no meio de tanta escuridão... é agora, vá em frente, este não é mais o seu receptáculo, AGORA SEU CORPO É DE AKUMO, A DEUSA DA ESCURIDÃO.

É isso o que escuto antes da faca acertar meu corpo… assim… uma onda de escuridão afeta todo o local, quem sabe deve ter afetado toda a cidade… não sei dizer, mas… escuto uma voz extremamente familiar.

— O QUE AS DUAS QUEREM COMIGO? NÃO PERCEBEM QUE NÃO É MOMENTO DE ME CHAMAR? NÃO CONSEGUEM NEM FAZER O MÍNIMO QUE PEDI A VOCÊS?

Era Akumo, que surge do céu olhando atentamente para Lola. Ao tocar no chão, Akumo me segura pelo pescoço, eu estava sendo sufocada e isso estava doendo muito…

— Acha mesmo que não percebi o que você fez? Todos esses anos… eu só estava esperando meu corpo voltar ao normal, agora eu posso finalmente fazer o que eu quiser.

Uma de suas lâminas é fincada no meu peito, a sensação é de estranheza, eu não sentia dor… eu sentia meu corpo sendo preenchido com uma espécie de líquido…  o sufocamento não dói mais, eu estava estranhamente bem. A minha cabeça está estranhamente… tranquila.

Me sinto uma pessoa nova, alguém que é capaz de entender o que está acontecendo aqui.

Não, espere… isso não pode acontecer… lute. Lute. Lute. LUTE! Eu estou… tendo o sangue de Akumo rodando meu corpo… não… isso é imperdoável… não pode ser assim…

Akumo me solta no chão e a única coisa que posso fazer daqui para frente é observar… 

— Lola, parece que terei de acabar com suas coisinhas.

— Há, faz tempo que não lutamos, não é mesmo?

— Claro, claro… mas não sou eu que vou lutar com você.

— O que…?

Um punho atravessa o corpo de Lola. Não consigo imaginar sua dor, mas parece ter sido o suficiente para pensar no que você fez até agora. Lola é levantada e cospe muito sangue de uma vez, ela quase pinta o chão de vermelho. Akumo começa a se atentar para os lados, até ver algo que chama a sua atenção.

— O que é isso? O corpo da criança está se regenerando… espera… não me diga que ela tem a pedra da vida…

— Akumo… 

— Olhe isso, Lola… essa garota tem a pedra da vida… isso significa que se eu roubar isso, poderei viver para sempre independente do que fizerem…

— Você… nunca vai conseguir… tirar isso… da minha… filha…

— Sua filha? Oh… essa é a famosa Yukiro, entendo…

Akumo segura Lola pelos cabelos e joga seu corpo em direção a garota.

— Uma mãe morrer nos braços da filha… deve ser tão horrível para a garota…

Lola começa a tossir mais sangue… como ela consegue se manter viva? Depois de passar por tudo isso, como ela ainda está viva? O que te mantém de pé?

Akumo começa a rir muito alto.

— ISSO É TÃO DIVERTIDO… TÃO DIVERTIDO!!! Agora… vocês duas. Por que não fizeram o que pedi?

— Desculpe, eu…

Alysci é interrompida com um soco que leva em seu rosto.

— O QUE VOCÊ QUER FALAR COM ISSO? Eu já não disse que primeiramente você tem que falar “senhora Akumo”? E VOCÊ SAIONARA? Eu sempre soube que você não tinha levado meu sangue em seu corpo… eu só estava esperando esse momento em específico para fazer isso com você.

Ela se ajoelha na minha frente.

— Vamos… grite, se divirta com a situação. Isso não é engraçado? Ver o corpo dessa mãe morrer nos braços de sua filha imortal?

Não… isso não é engraçado, mas por algum motivo eu quero tanto rir dessa situação… parece que aos poucos eu estou entendendo o que você quer falar, isso parece ser realmente muito divertido, eu acho que entendo…

NÃO, PARE, ISSO NÃO É DIVERTIDO. NÃO É O QUE VOCÊ QUERIA FAZER…

Mas por algum motivo… é tão bom ver isso…

NÃO, NÃO É NADA BOM VER ISSO… NADA BOM!

— O que é isso? Você não ri… você é uma pessoa tão sem graça… 

Akumo começa aos poucos a dar tapas em meu rosto.

— Ei… ria… vamos… se divirta, não me diga que eu fiz algo errado.

Aos poucos… um sorriso se abre no meu rosto, aquela situação era engraçada, aquela situação era divertida de ver, eu sentia o desespero das pessoas e isso era tão divertido… ah, que coisa mágica, chore garota, chore…

Começo a rir.

— ISSO, ISSO… SE DIVIRTA COM ESSA SITUAÇÃO, ATÉ PORQUE VOCÊ É A PIOR PESSOA DO MUNDO, VOCÊ É TERRÍVEL, VOCÊ É UMA ESCÓRIA PARA A HUMANIDADE E PARA OS DEUSES… REPITA COMIGO.

— SIM!

— “EU SOU A PIOR PESSOA DO MUNDO!”

As palavras magicamente vão se repetindo e saindo da minha boca, isso é… incrível.

— Ai ai… você é tão divertida… agora eu tenho uma missão para vocês! Venha aqui, Alysci.

— Sim, senhora Akumo?

— Esse castelo vai se chamar da forma que vocês quiserem, aqui vocês irão recrutar alunos de todo o mundo, e fazer com que isso seja uma academia de batalha, todo final de ano eu vou voltar aqui e pegar o corpo de todas as pessoas que estiverem aqui, assim eu vou pegar a mana e o poder de todos. 

Akumo me solta no chão e começa a pensar.

— Na verdade… o nome desse lugar será Infanterie-Kampf. Não quero saber de simpatizar com os alunos, deixe-os por aí treinando, assim… será até melhor para mim. Assim eu poderei até mesmo matar os outros deuses e ter todo o poder deles somente para mim, SOMENTE PARA MIM, ISSO É TÃO BOM, TÃO BOM, TÃO BOM…. Enfim… entendido?

— Sim. — digo.

— Claro, senhora Akumo. — diz Alysci.

— Ah… e aquela garota ali, eu vou conseguir quebrar a pedra dela e assim eu vou matá-la. Então a deixe por ai, faça ela sofrer tanto até chegar no ponto de desistir da vida. Enfim, eu vou indo.

Akumo vai embora, a garota que parecia estar morta, agora está viva. E ela parecia ser contra a gente, estava chorando alto e sendo irritante… 

Mas dessa forma nós criamos a Infanterie-Kampf.

 

10 anos depois.

 

Neste ano Akumo apareceu dizendo para manter os alunos até o final, ela disse que teríamos a visita de Riki, já que ele também quer ajudá-la a ficar no topo do mundo, então quer ver como ela está fazendo isso. Sinto que já escutei esse nome, mas não fica muito tempo na minha cabeça.

Ela disse sobre os três alunos e falou sobre o quão importante eles são para ela, o quão importante eles são para o poder dela, isso até que chama minha atenção, mas não há muito mais o que fazer. Terei de aguardar o que ela tem para demonstrar.

Akumo pediu para deixar eles treinarem e deixar que pensem que estão conseguindo fugir, ela disse que assim será melhor para ela, o sangue deles precisa estar quentinho… bem, fazer o que. Não tenho muito mais escolha a não ser aceitar o que você quer fazer.

Sei que não sabe da nossa existência… mas será que algum momento eu vou conseguir fazer você ligar mais para a gente, Akumo?

Estranhamente sinto que eu tinha uma vida há alguns anos atrás, às vezes eu escuto umas vozes me chamando, mas quando tento parar e perceber… não é ninguém. Alysci também me falou que escuta a mesma coisa… eu sinto que estava esperando por alguém, mas quem era? Quem eu estava tentando encontrar? Eu não sei… sinto que agora a única coisa que me importa nem é eu mesma… agora a única coisa que me importa é a Akumo.

É a deusa da escuridão… 

Você é quem importa.



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