Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 11 – Arco 4

Capítulo 110: Recomeço.

 

Hideki



— Primeiro de tudo, não me ache...

— Não te acho um inimigo. Não precisa se preocupar.

— É que... você mandou meu irmão para um lugar...

— Eu precisava pensar, e ter muitas pessoas envolta de mim enchendo meu saco me deixava paralizado.

Os olhos do que poderia ser um pequeno garoto, estavam estranhos naquele momento... ele seria olhando para todos os lados, menos para mim, eu sabia que isso poderia ser um desespero vindo do seu peito, e entendia essa situação... se pelo menos eu tivesse cabeça para pensar direito naquele momento... Talvez fosse a pior hora para conversar com alguém que precisava de tanta ajuda quanto eu, a pior hora para simplesmente não entender que isso não estava sendo segurado nas minhas mãos. Não tinha uma pessoa que poderia atender meus sentimentos, naquele momento não era uma conversa sobre o que aconteceu que eu queria…

— No meio da luta... meu irmão se separou de mim, não sabíamos o que fazer naquele momento, mas pressenti que algo estava acontecendo...

— Pressentiu?

— Sim, no céu havia umas estrelas que davam as constelações de um caractere que parece ser dos humanos...

Leon desenha um papel, e logo mostra pra mim o que estava vendo no céu aquela hora, rapidamente associei ao kanji da morte (死), ele logo explica que disso saiu meu pai, e os outros deuses que poderiam ser conhecidos como Mier, a deusa dos mares, e Krig, praticamente o deus da guerra, Leon se escondeu e decidiu que iria ouvir o que os outros estavam falando pelo lado de fora, praticamente descobriu que eles estavam lá por uma razão meio estranha, eles queriam de todas as formas a Maki, a nova rainha de júpiter...

— Pelo o que parece... a morte dela não estava nos planos, quando Riki se encontrou com os outros, ele disse algo do tipo… “Talvez a linha que estamos... seja a errada.”... Os outros dois deuses ficaram irritados com isso. 

— A morte dela... não estava nos planos? 

Logo parei para pensar no que o irmão dele disse naquela hora, onde tudo poderia fazer parte do plano, e se a morte dela não fazia... do que ele estava falando naquele momento?

— Se isso não estava nos planos, o que teu irmão quis falar? E se também não é isso... Então o que eles queriam fazer?

— Não sei... não consegui ficar por muito tempo escutando a conversa deles. E sobre meu irmão... claramente ele estava mentindo, pois nunca faria algo contra o que prometeu.

Ele seguiria firme confiando no irmão dele até mesmo depois de descobrir que ele seria capaz de matar a mulher que salvou eles no passado.

— Então... continue... o que mais você ouviu?

— Ele falou que... fará a Akumo declarar guerra contra os humanos, mas que isso deveria fugir dos planos dele, e ela mesmo fazer isso uma hora ou outra, então depois de um tempo decidiram que vão esperar os movimentos da deusa.

— Se ele não tem contato com a Akumo... isso significa que eles não estão trabalhando juntos?

— Conto que seja mais precisamente algo desse jeito, não consigo escutar a voz da Akumo daqui.

— E por qual motivo você escutará a voz dela?

— ... Eu escuto os pensamentos de todas as pessoas, até mesmo a voz dos mortos... os seus pensamentos são uma confusão eterna, e mais do que isso, a voz da Akumo antigamente era extremamente distante, hoje em dia... já não sei mais onde está.

— Ela achou uma forma de acabar com isso?

— Creio que não...

Por um momento foi isso que pensei, mas algo estava coçando a minha orelha... se ele pode ouvir os pensamentos das pessoas, isso se aplicaria ao irmão dele, que até então diz que não sabia ser um traidor.

— Não se aplica a ele. — diz o Leon.

— Por qual motivo?

— Não sei... não consigo escutar os pensamentos das pessoas que são da minha família, isso... não sei se é real... pois não consigo escutar os pensamentos de Riki.

— Ah?...

— Nunca fui capaz de fazer isso, na verdade, nunca consegui entender o motivo por trás dessas coisas...

— Não iremos pensar muito nisso.

— Hideki... se Akumo declarar guerra contra os humanos, isso pode significar o fim da vida na terra...

— Eu sei.

Nesse momento olhei para o lado de fora, as pessoas estavam se esforçando de todas as formas para levantar a cidade novamente, as correntezas de água que tinha por todo lugar também ajudavam a fazer alguma coisa dar certo nesse momento, mas o que mais me deixava intrigado era o que Leon falava, a cada palavra, um novo mistério crescia na minha mente, mas nada que tivesse como ter uma resposta sem começar a pensar em toda a minha existência.

Naquele momento existia algo que deveria ser mais importante pra mim naquele momento, eu sabia que se Akumo declarasse guerra, poderia ser o fim da humanidade, pois todos se juntaram contra uma deusa, e aqueles que não se juntarem passaram a ter um fim tenebroso nas mãos daquela mulher, com o fato dela ser completamente louca... por conta disso fiquei sem saber o que fazer naquele momento, de início... não queria declarar guerra contra os deuses, e principalmente contra ela, afinal de contas... é muito forte.

Naquele momento não havia muitas coisas para se fazer, só pensar em milhares de possibilidades...

— Talvez o Kay possa nos ajudar, ele tem os amigos dele.

— Amigos?

Talvez eu esteja me esquecendo de alguma coisa...

— Bem, podemos deixar isso de lado, temos visitas...

Quem assim aparece é Emilly, que me olhava um pouco triste, não por minha causa, mas talvez por conta de tudo o que aconteceu, afinal de contas, ela viu o próprio reino decair na sua frente sem que pudesse fazer alguma coisa, talvez ela tivesse ouvido tudo o que Leon disse, e começado a pensar sobre as pessoas que permite entrar no reino, a cada do Leon entregava que os pensamentos dela não estavam bons naquele momento, mas até mesmo sem ele dava para perceber. Ela dá uma risada falsa e assim me olha.

— Obrigada por ajudar o povo... novo rei...né?...

— Desculpe por retirar isso de você.

— Não... nem se preocupe, mas se vai seguir esse caminho, poderá haver algo que irá te ajudar a pensar melhor nas coisas, afinal de contas, uma guerra poderá estar vindo por aí!

— É...

— Como novo rei, deverá pensar no que vai fazer, e talvez além disso... terá que pensar em formas de seguir em frente com apenas essas coisas na mente, o povo depende de você.

— ...

Ela começa a sair... como se também, de forma indiscreta, pedisse para eu segui-la.

Me levanto, suspiro fundo... e assim continuo.

— Leon... não considero seu irmão uma pessoa ruim, é só que... por enquanto eu preciso pensar, e ter muita gente falando comigo não é algo que eu quero no momento... mas ainda sim, obrigado por ser amigável e fiel.

— ... não há de que.

Deixei o garoto demônio pensando em suas coisas naquele momento, e assim segui a Emilly que estava andando fielmente para frente sem olhar para trás.

Dava para perceber que naquele momento as pessoas do reino estavam se esforçando ao máximo para trazer a cidade de volta ao seu estado normal. Mas isso era ignorado pela gente que passava no centro de tudo sem pensar duas vezes.

— Existe algo que possa te ajudar nesse momento, algo que até mesmo minha mãe tentou manter escondido de mim... a tal futura rainha nos olhos dela, mas era óbvio que não poderia deixar isso pra sempre guardado.

— Ta tudo bem em mostrar os segredos do reino pra mim?

— ... não me faça perguntas difíceis.

Ela deve estar tão perdida quanto eu neste momento... não saber o que vai fazer da vida é algo assustador, ainda mais que ela tem tudo, mas ao mesmo tempo não tem algo para ajudar. A princesa me guiou pelo reino que nesse momento estava destruído, e seguiu caminho até os cantos das muralhas, as pessoas não chegavam na gente naquele momento, os rios que se moviam constantemente pelo reino, criavam uma atmosfera limpa... mesmo que tudo fosse destruído, mas naquele momento não era isso o que importava de verdade.

— Como esse reino não faliu, mesmo estando parado no tempo, já se perguntou isso?

— Bem... algumas vezes.

— Não é por conta de comerciantes, e sim... por conta do corpo da deusa Pérola estar aqui.

— Deusa Pérola?

Nunca fui uma boa pessoa quando se tratava de saber sobre histórias, entre qualquer coisa do tipo. O nome não me era familiar, e em todo esse tempo... nunca vi essa pessoa.

— Não explicar isso... talvez seja algo como “deusa de toda riqueza”.

— Hm... e qual o motivo de querer me mostrar isso?

— Talvez, de alguma forma... seja útil pra você, afinal de contas, está correndo atrás do Riki, certo?

— É...

— E ela foi uma das primeiras deusas.

Uma das primeiras a ser criadas, que provavelmente deve saber o que aconteceu com meu pai para tanta comoção, e tanto ódio por mim... as vezes me parou perguntando se caso eu cometesse o erro.

Na nossa frente, escondido pelos escombros, havia uma porta que parecia levar para o porão de algum lugar, ela, com muita dificuldade, consegue abrir, quando tentei ajudar praticamente fui negado com a desculpa de que apenas o sangue real poderia tocar naquela porta.

A visão que tinha era um corredor de escadas que seguia numa completa escuridão, pelo o que parecia havia tochas por todo lugar, mas elas não se acenderam... talvez pelo tempo que se passou desde a última vez que foi aberta, que de acordo com Emilly... se passaram anos.

Começamos a descer as escadas, que aos poucos se demonstraram com um cheiro de cinzas, como se algo tivesse queimado...

— Faz anos desde a última vez que desci, ela não acordou desde então.

— Pérola estava dormindo todos esses anos?

— ... praticamente ela é uma dorminhoca que sempre está em boa forma.

Após uns minutos descendo, vejo que uma luz aparece no fim do túnel, e lá... um novo mundo perfeito se demonstrava na minha frente, algo que estava logo abaixo do reino, o local tinha vinhas que descia pelo menos uns 100 metros, pedras bem colocadas com musgo, e um lago extremamente limpo que passava pelo chão, parecia estar de dia, mas eram apenas vagalumes que brilhavam por todo o lado, as paredes pareciam de uma caverna, mas bem colocadas, e logo na frente, onde parecia ser o centro, havia uma bela moça dormindo em meio a um colchão com várias cobertas transparentes, seu belo corpo se mostrava aos poucos, junto com seu lindo cabelo curto e loiro, todo seu delicado corpo começa aos poucos a se levantar, e logo... demonstrar um rosto belo... seus olhos, que tinham a mesma cor de uma esmeralda.

— Parece que... finalmente acordei... daquele sonho infiel.

Sua voz era angelical, calma… e com um tom de perfeição.

Emilly se ajoelha e logo...

— Bom dia, Pérola.

— Bom dia... Emilly, vejo que trouxe convidados dessa vez.

— Sim, seu nome é Hideki Hirai.

— ... Hirai...

— Filho de Riki, o tal deus que compartilhou sua criação.

— Entendo, e o que o filho de uma terrível pessoa faz nos confins do mundo?

Seus olhos eram desafiadores, e provavelmente... demonstrava algo que eu nem ao menos conseguia acreditar.

Entrei na frente de Emilly...

— Me falaram que você foi uma das primeiras deusas... por favor, me ajude.

— Ajudar?

— Eu quero...

Por muito tempo não acreditei que poderia sequer falar algo do tipo, mas... levando em consideração tudo o que está acontecendo, era óbvio que meu pai estava por trás de tudo isso, ele queria... me fazer sofrer.

“— Não é preciso pensar demais nisso. Ele realmente só deseja a nossa morte, e se ele quer isso...”

Por muito tempo achei que você só estivesse brincando com meus sentimentos, é o que eu pensei, achar que eu deveria matar o meu próprio pai, o que você acha que está fazendo de errado? Para muitos a vingança era clara, apenas deveria matar aquela pessoa que parecia ter trazido ódio pra mim.

Mas... pra mim nunca foi claro.

Nunca foi claro que na verdade eu nasci... para matar meu próprio pai.

Talvez eu devesse me perguntar.

— Será que vale a pena... a vingança?...

Olhei pra cima, onde não poderia ver as estrelas, o lugar... por mais lindo que fosse, era vazio, respirei o puro ar que tinha e então olhei para a deusa novamente.

— O que você me diz? Será que vale a pena a vingança? — perguntou Pérola.

— Não sei...

Ela parece ter entendido o que estava acontecendo na minha cabeça, por isso me olhou, e tentou se aproximar aos poucos.

— Desde aquela época... ele estava atrás de um motivo... destacar o ódio por tudo o que ele criou. Agora eu entendo, talvez aquele cara só queresse matar, ou ter seu próprio império, com sua linda rainha, é incrível que os dois ainda estejam vivos.

— Vivos? Você está falando que... minha mãe...

Novamente essa questão bate na minha cabeça, era como Nina tinha falado a muito tempo atrás. 

“— ...E sim... ela está entre nós...”

Como, como nunca fui capaz de ver a minha própria mãe por aí? Como ela esteve tão longe, mas ao mesmo tempo... tão perto...

— Ela obviamente está viva, caso o contrário... o mundo estaria em ruínas agora. Os seres humanos não iriam descobrir uma forma de viver sem oxigênio, e até mais do que isso, eles nunca achariam uma forma de viver sem as florestas e a vida na terra.

— Afinal, ela é deusa da vida, de tudo, a criação do mundo e do universo vem dela...

Por fim, Pérola abriu seus braços, como se estivesse indo abraçar a luz.

— Ela está em todos os lugares.

Por fim, senti um ar quente na minha volta, senti que ele girava... esse ar entrelaçou meu pescoço, era como se alguém estivesse me abraçando, e mais do que isso, não queria me largar de forma alguma.

Por todo esse tempo, procurei uma forma de vê-la novamente, mas ela sempre esteve me vendo... sempre cuidando de mim, por aquela hora eu segurei o choro, mas sorri.

— Que bom… que você está aqui...

Aceitei o fato por menor que fosse a escolha, afinal de contas, não tinha como provar que ela não estava... tudo se movia conforme a melodia da minha vida, ela me guiou por todos os lugares, apenas para encontrar a felicidade, encontrar um motivo de seguir em frente... quando tudo estava caindo aos pedaços, ela fez chover, para que assim me sentisse coberto pelo frio da chuva, pois... você estava chorando, assim como eu chorei...

Pérola, ao perceber o que estava acontecendo, me olhou... e assim sorriu por um breve momento, mas ainda sim estendeu sua mão em minha direção…

— Me diga, garoto. A vingança vale a pena?

— Não sei dizer... mas eu quero... retirar o poder das mãos dele.

— Ahahaha... você é realmente interessante... assim como Solveig disse.

— Bem, de alguma forma eu vou te ajudar a se tornar um rei, a ser quem você deve ser, assim poderá buscar a “vingança” que sempre quis.

— Eu posso... falar com uma pessoa antes?

— Ora, vá em frente.

Corri as escadas até chegar no topo dela... mesmo naquela noite, tudo estava perfeito. As estrelas no alto do céu criavam uma luz que o sol não poderia reproduzir, as vezes sinto falta de ver um amanhecer real, mas outras vezes meu coração prefere a noite, já que nesse momento… tudo parece melhor.

O olhar das estrelas... é como se alguém estivesse me observando...

— Você... tem um tempo para conversar?

Quem me perguntava era Yukiro, que parecia estar me esperando do lado de fora, ela estava com um terno quase roxo, e uma camisa de manga longa que brilhava... seus olhos estavam sem reação, e assim se levanta, para me olhar de frente, ao me reparar, ela inclusa sua cabeça e sorri...

— É bom de ver... quando seu rosto está feliz.

Sem querer eu sorri de volta, talvez uma confirmação que acabou de acontecer tenha feito meu dia um pouco melhor.

— Obrigado...

Bem, aproveitar que saiu daquele lugar... a gente fez uma boa parte da cidade voltar ao normal.

— Entendo, isso é bom...

— E claro, um cemitério também foi feito, para aqueles que não aguentaram tudo o que aconteceu.

— Quantas baixas?

— No total? Foram 3000, a cidade perdeu muita gente... eles estão pensando no que fazer agora, e onde o novo rei poderia estar.

— Entendi, eu queria conversar com a Shiori...

— Oh, isso é bom, eu conversei com ela.

— Sério?

— Uhum... contei algumas coisas, mas... o lugar que ela está é totalmente diferente agora, um quarto especial pra ela.

— Entendi.

— Bem, quando você estiver melhor, dê uma passada lá! Provavelmente vai se divertir quando ver o que fizemos...

— Claro.

— Hideki...

— Oi.

— O que vai ser agora?

— Difícil decidir o que fazer, acho que nunca vi tanta gente confiando nas minhas escolhas.

— O povo está com muita dificuldade de escolher o que fazer da vida, alguns querem ir embora e viver em outro lugar, outros querem vingança pelo o que aconteceu, estariam dispostos a matar qualquer deus que aparecer na frente deles.

Talvez fosse normal esse tipo de sentimento, afinal de contas. Perder tudo o que demorou anos para ser construído deve dar raiva... e pior do que isso, perder aqueles que amam...

— Eu entendo o sentimento deles, mas não podemos nos mover sem saber o que eles estão fazendo do outro lado, pode ser complicado ou até mesmo impossível, mas não podemos fazer nada por enquanto...

— Hm…

— Vamos esperar para ver o que pode acontecer, eu ainda tenho que conversar com as pessoas principais, ter uma conversa provavelmente vai melhorar a situação, e assim ajudar...

— Correto, você sabe o que fazer a partir de agora.

Ela se afasta, bota suas mãos nas costas, e se vira um pouco.

— Nunca fiz esse tipo de coisa, mas às vezes é bom... dê o seu melhor, meu amado irmão.

Coloquei minha mão sobre seu cabelo, e sorri firmemente.

— Obrigado...

Ela se afasta, e continua correndo para ajudar aqueles que necessitavam de sua ajuda, a Yukiro sabia o que fazer a partir de agora, ela achou um lugar que queria ficar, provavelmente por conta de todos que ela gosta estarem por aqui.

Mas... andei até o lugar que a Shiori estava, mesmo sem ter uma informação, era como se meu coração soubesse onde ela estava.

Quando dei o primeiro passo, parei por um momento, respirei fundo e assim olhei o céu novamente, as estrelas passavam por todos os lados, não havia uma forma de ignorar isso, logo sorri, e passei a andar novamente.

Pequenas luzes amareladas começavam a subir no céu, e logo percebi que haviam algumas frases nelas, algo como: Dê o seu melhor, tudo vai ficar bem, desejamos o melhor para todos, e um feliz ano novo.

Aquilo era um pequeno festival, se me lembro bem, antigamente as pessoas faziam isso todos os anos, mas como se perderam no tempo, e três anos se passaram, provavelmente era a melhor época para se comemorar isso, um pequeno tempo que tudo deu certo, alguns pingos de água começaram a cair do céu, mas ainda sim… as luzes se moviam firme e forte.

Eles... ainda tem esperança que algo bom poderá acontecer no mundo, e que tudo isso acabe, esse sofrimento onde você pode perder aquele que ama a qualquer momento.

Abri a porta de um pequeno lugar, lá havia apenas um quarto, era onde Shiori estava, as paredes eram laranjas, e havia pintado com várias cores de caneta algumas frases.

“Acorde, Shiori!!”

“Estamos esperando ansiosamente pela sua volta!!”

“Tudo vai ficar bem, basta acreditar.”

“Acreditamos em você!!!”

Eram algumas das frases que estavam por lá... logo segurei uma cadeira e me sentei ao lado de sua cama, seu rosto continua belo mesmo depois de algum tempo que tinha se passado.

Por um momento, senti como se ela estivesse levantado, mas era apenas uma imaginação, segurei o choro por aquele momento, apenas para poder te olhar com um sorriso, pois sei que não gostaria de me ver chorando em cima do seu corpo adormecido.

— ... Já faz um tempo que não apareço por aqui.

...

— Parece que tudo começou a dar um pouco errado, mas acho que não tem problema aparecer aqui às vezes para ver como você está.

Uma chuva começa do lado de fora, era possível ver na janela que ocupava muito espaço na parede...

— Shiori... sem você aqui... não sei muito o que fazer, nem sei o que fazer. É difícil pra mim ter que aguentar todo esse tempo sem ter sua ajuda... eu acho que até mesmo me perdi no meio de tudo isso. Todos estão dando tudo de si, mas parece que pra mim... não é o suficiente que está vindo de mim mesmo. O caminho que criei não é o suficiente pra mim, nunca vai ser... é como se tudo o que eu estivesse pensando fosse errado ou fosse pouco para ajudar o povo. Eu sei que eles precisam de mim, eu sei que tenho que fazer as coisas, mas é difícil, imaginar que tudo isso fosse dar errado, que eu fosse ficar praticamente sozinho... não consigo... aguentar direito todo esse barco. O mundo não está do meu lado, mas nem por conta disso pensei em desistir, mas neste momento onde tudo está dando errado, não consigo pensar em outra coisa sem ser desistir, nada de bom acontece e quando é algo que poderia dar certo… está tão distante. Percebi que as palavras não ajudam, eu tenho que fazer ações, mas para fazer essas ações, preciso ter vontade... e para ter vontade, preciso ter um empurrão, caso contrário não consigo fazer nada sozinho, não consigo... Eu sinto sua falta, de poder te abraçar, de poder te ver sorrir, de poder ver seus olhos abrirem, o jeito que você era, toda desastrada, mas que ainda sim estava feliz nos piores momentos, a forma que você segurava sua própria força, sem você nada disso seria possível, eu nunca conseguiria sair de casa se não fosse você! O meu mundo... mesmo que fosse ruim, em pedaços... por sua causa, tudo se juntou, um sol gigante apareceu no meu coração, pronto para aquecer toda a neve que estava por lá, mas agora que se foi... nunca que conseguirei pensar em outra forma, estou tentando... tudo que posso para te acordar, MAS NADA FUNCIONA!

Me levantei assustado, lágrimas começaram a cair dos meus olhos, naquele momento não me segurei, seguia firme e forte.

— Pode ser dificil, ou até mesmo impossível, mas ainda sim eu quero te ver de novo, na minha frente, sorrindo como sempre sorriu... QUE DROGA! EU NÃO AGUENTO MAIS TER QUE LUTAR SOZINHO! NÃO AGUENTO MAIS TER QUE FICAR AQUI VENDO TUDO ISSO ACONTECER SEM PODER FAZER NADA!

Me ajoelhei, botei a mão no meu peito, como se estivesse segurando firme meu próprio coração.

— NÃO DÁ! NÃO SOU FORTE, NÃO SOU BOM, NÃO SOU HUMANO! UMA PESSOA COMO EU DEVERIA TER PENA, OU ATÉ MESMO NOJO DE MIM! LUTAR DESSA FORMA? TÃO ERRADA E EGOÍSTA? O QUE HÁ DE ERRADO COMIGO? COMO EU POSSO SER ASSIM? ACREDITAR QUE EM ALGUM MOMENTO VOCÊ ABRIRÁ OS OLHOS E ME OLHARÁ NOVAMENTE, É COMO SE FOSSE SÓ ISSO O QUE MOVE MEU CORAÇÃO!

“Está confuso.”

— E DAÍ QUE ESTÁ CONFUSO, E DAÍ QUE NINGUÉM ENTENDERÁ O QUE EU ESTOU FALANDO? NÃO QUERO QUE ENTENDAM, EU QUERO QUE ESCUTEM!

“Está errado.”

— FALAM COMO SE EU FOSSE ESPECIAL, ALGUÉM QUE QUERIA NASCER, ME DIGA, POR QUE EU TENHO QUE SOFRER TUDO ISSO? O QUE EU FIZ DE ERRADO? ONDE EU ERREI? PEDI PARA NASCER?... CLARO QUE NÃO, NÃO PEDI PARA NADA DISSO ACONTECER, NÃO PEDI PARA NASCER NEM PARA SER FRACO... Mas mesmo assim... mesmo assim... se fosse para nascer, se fosse para ser alguém, QUE PELO MENOS TIVESSE ME FEITO HUMANO! SEM ALGO DENTRO DE MIM! VOCÊ ACHA QUE EU QUERIA VER TUDO ISSO? VIVER TUDO ISSO? CLARO QUE NÃO!!!! QUE DROGA!

Dei um soco no chão com tudo, irritado com minha própria vida, mas ainda sim, gritei mais alto ainda, para que todos ouvissem... 

EU ME CANSEI!

E assim... respirei fundo, para acalmar a respiração ofegante e retarda que estava no meu peito...

Uma chuva forte começou... e assim me levantei, enxugando minhas lágrimas…

— Se é pra dar tudo errado... que pelo menos... me mate antes.

Logo percebi que em cima de uma mesa pequena que estava ali, tinha uma pequena caixa em cima com meu nome nela... não sabia de quem vinha, não tinha uma letra bonita... mas logo segurei a caixa, que estava ali como um presente.

Quando abri era uma nova roupa, rapidamente retirei e percebi que era um terno, meio roxo, com uma gravata que brilhava, tinha quase o mesmo estilo que a Yukiro...

“Era hora de mudar um pouco o estilo!”

— O que é isso?... — perguntei.

Sem entender muito, coloquei o terno, e logo abri a porta…

— Eu… vou voltar depois, boa noite... Shiori.

Contar meus sentimentos para ela mesmo que não estivesse acordada era como gritar para o céu, para que de alguma forma me escute, eu tinha uma missão, que era fazer ela acordar a todo custo, mesmo sem saber o que fazer... eu estava meio mal... pois queria... queria ver seu sorriso de novo, olhar você com seus lindos girassois, que mesmo em um céu somente de estrelas, você conseguiu trazer o sol de novo a minha vida... por favor, volte... Shiori...

Respirei fundo.

Estava na hora.

Havia uma guarda-chuva preto do lado da porta, peguei, e logo abri, saindo do lugar e fechando a porta, assim segui para o lado de fora do reino, pois apenas queria reconhecer o que estava acontecendo comigo, mesmo que houvesse algo no meu peito, queria gritar para o mundo todo o quão errado estava tudo isso, queria que eles me ouvissem uma vez só, para assim reconsiderar.

Os muros estavam levantados, e ainda não consegui sair pelo portão principal, parei... e olhei para o céu novamente que dessa vez estava… coberto de nuvens. Por um momento pensei em voltar para o reino se seguir um caminho que poderia ser errado, mas do outro lado havia uma liberdade, algo que eu poderia simplesmente seguir e deixar todos para trás, indo com tudo nos meus sonhos de ser uma pessoa normal.

Eu queria que pelo menos uma vez eu pudesse pensar direito, se eu escolhesse a liberdade, provavelmente viveria sozinho, mas ainda sim, sem problemas para levar em consideração, mas meu coração palpitou, e logo percebi que era o caminho errado a seguir, dificilmente conseguiria viver sozinho, como disse antes.

Então dei um passo a frente para o reino, respirei fundo, e logo... me preparei.

Com minha nova roupa, segurei o guarda-chuva, e andei pelas finas ruas do reino, esperando que em algum momento o tempo melhorasse... mas assim como na minha mente, estava chovendo muito.

Ainda sim, segui em frente, de uma forma eu consegui seguir em frente, como se tudo fosse dar certo pra mim... como se de alguma forma algo tivesse que acontecer, eu ainda tinha que seguir o caminho ao lado da Shiori, que nesse momento estava desacordada, mas caso ela fosse acordar, eu teria que ser a primeira pessoa a ver ela e dar as boas-vindas.

Novamente... segui o caminho que pode dar tudo errado... mas mais uma vez eu queria tentar.

Mesmo que fosse impossível, eu queria tentar...

Somente para te ver sorrindo de novo.

Eu quero te ver, mais do que tudo.

E assim segui o caminho para dentro do reino, preparado para o que pudesse acontecer, mesmo que tudo isso fosse em vão, queria lutar para olhar o sorriso de Shiori.

Vamos lutar... mais uma vez.



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