Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 11 – Arco 4

Capítulo 105: Riki Hirai.

 

Hideki

 

Maki se reúne comigo após o anúncio do rei, as pessoas do reino estavam desesperadas… mas após alguns segundos nem o grito delas mais se escutava, na verdade… a população que estava na nossa frente parou e todos caíram no chão. O céu foi coberto por uma fumaça roxa e o ar ficou cada vez mais difícil de respirar, é assim que me ajoelho um pouco, perdendo minha força…

— O que… está acontecendo? — pergunta Maki.

Ela não aparentava estar sendo afetada pelo ar difícil de respirar, na verdade… ela estava olhando toda a população que estava na nossa frente, eles estavam se levantando, só que dessa vez… sem vida alguma. Talvez esse ar fosse uma forma de controlar as pessoas que estavam em volta, não sei dizer… mas isso não acontecia comigo, já que o ar era gelado demais e ardia tudo quando se respirava.

A população aos poucos se virava para nós dois, com isso me levanto e aponto minha espada para eles, na minha mente não iria fazer diferença caso algo acontecesse com todo mundo, afinal de contas, eles nem sequer são alguma coisa pra mim… mas esqueci que havia alguém que se importava com eles mais do que qualquer coisa. 

— HIDEKI, POR FAVOR… NÃO FAÇA ISSO!!!! — grita Any.

Por mais distante que ela estava, ainda era possível ouvir a sua voz, já que estava rasgando a garganta para gritar isso…

— Maki, vamos sair daqui.

— Você vai escutar o pedido dela? Nosso plano de acordar a Shiori estará mais distante se fizer isso.

— Eu sei, mas meu objetivo não é matar a população… tenho um plano pra eles depois de tudo.

— Entendo. Como vamos fugir daqui.

— Vamos pelos restos da torre ou do castelo, isso vai nos ajudar a ganhar um tempo.

— Esse lugar… está me enlouquecendo….

— Eu entendo, depois teremos tempo para descansar.

Eu começo a correr, e Maki vem logo atrás de mim. Passamos por cima de todos os destroços do que sobrou das torres e do castelo, e lá em cima dava para ver a cidade, a fumaça pegou todas as pessoas… a população inteira estava contra a gente, não tinha muito o que fazer se não deixar ficar assim por um tempo, não tinha como se aproximar do rei. Hiro estava enlouquecendo cada vez mais pelo o que aconteceu com seu animal de estimação, por conta disso ele atacava todos que estavam na sua frente, até a população… não havia uma forma de deixar todos vivos quando esse cara estava atacando todo mundo.

O laser que saía daquela boca gigante fazia um estrago enorme quando se tratava da cidade. Eu precisava de alguma forma chegar lá em cima para finalizar o dragão, e quem sabe, o Hiro… ele não é um vilão, mas sim uma pedra no caminho, algo que tem que ser eliminado.

Atacar uma pessoa assim seria como ser o vilão da história, afinal de contas, ele não está fazendo nada de errado sem ser se vingar das pessoas que traíram o coração dele, mas… Hiro estava atrapalhando tudo o que eu queria fazer, isso não me irritou, só me deixou pensando no que deveria fazer para tentar arrumar toda a situação, era impossível pra mim pelo menos tentar arrumar tudo isso. Talvez eu não devesse matá-lo… e sim apenas deixar de lado tudo o que ele pode fazer, afinal de contas, não é ele que estou procurando e sim o dragão…

Uma mão tocou meu ombro, era Maki que tinha se aproximado de mim…

— O que vai ser agora, Hideki.

— Eu tenho em mente algumas coisas, mas ver que tudo está desse jeito, fica difícil pensar.

— O que seria?

— Meu objetivo é derrotar o dragão, isso pode ajudar os outros com as coisas, mas o maior problema é como eles irão conscientizar as pessoas do reino com eles estando… como zombies…

— Pra isso, eu já percebi o que está acontecendo.

— Hm?

— Aquele homem que se disse o novo rei, ele tem um poder que pode hipnotizar as pessoas.

— Creio que já percebi isso, quando ele fala, a população acaba seguindo.

— Sim, por conta disso… é melhor tentar matar ele, talvez… esteja até mesmo por trás do Hiro.

— Do Hiro?

— Veja o quão fácil foi aceitar tudo o que estava acontecendo, Hiro… está sendo hipnotizado, então… não mate.

— … vai ser difícil.

— Eu sei, se encontrar alguma outra forma… iremos tentar fazer, por enquanto… deve ser assim.

— Entendo, obrigado, Maki.

— Que nada, depois iremos conversar melhor, caso se sinta mal… retorne.

— Certo.

Respirei fundo e tentei encontrar uma brecha para ir de encontro com o rei falso, talvez fosse melhor tentar fazer outra coisa que estava totalmente fora do plano, mas já não havia muito o que fazer, tudo o que foi planejado estava dando errado, no mínimo, o que poderíamos fazer é aceitar toda a situação. É assim que percebo que comecei a pensar mais nas outras pessoas do que em mim mesmo, por conta disso deixei de lutar contra o dragão que queria tanto derrotar para simplesmente salvar toda a população e quem sabe poder usar isso ao meu favor. Não tem muito o que fazer, tenho que dar meus pulos para achar uma solução.

Corri para dentro do que ainda tinha do castelo e assim comecei a passar por todas as salas, em todas havia pelo menos um guarda parado esperando para me ver, ele provavelmente sabia que eu iria entrar nesse lugar pelo menos uma vez, corri, passando por todos e apenas se esquivando dos ataques, sem devolver nada, sabia que caso isso acontecesse, poderia se tornar alguém que apenas iria trazer medo para as pessoas quando acordassem, ou melhor, acabaria com o plano que Any tem em mente, qualquer coisa que fosse acontecer poderia dar errado de uma forma ou de outra, então… deveria ter que pensar direito.

É assim que me aproximo do salão principal, uma sala circular gigante que servia de centro para o castelo, todos os corredores estavam obstruídos e não havia uma forma de entrar por eles, por conta disso… o falso rei estava por aquela sala, junto com Emilly e os outros reféns que ele tinha feito, no caso, a familia de Emilly. Uma lança voa em minha direção, consigo esquivar por pouco, logo vejo de onde veio e lá estava ele… aquele homem terrível que havia dominado toda a população.

— Então a mosca decidiu ir de encontro com a rede da aranha… Hideki Hirai.

— Me diga, você tem alguma coisa haver com meu pai, não é?

— Talvez sim… o que lhe interessa nesse caso?

— Isso decidirá se vai morrer ou apenas servir de informante pra mim.

— Você é um cara engraçado, até mais do que isso… ousado.

Retiro minha espada da bainha e aponto para o falso rei.

— Oh… não mire a espada em mim… não sou eu quem está procurando. 

Logo ele estala os dedos e outra lança voa em minha direção, dessa vez vindo direto da minha esquerda, consigo esquivar… e ao olhar pra lá, não havia nada… Emilly via tudo isso, mas estava com sua boca tampada, então não conseguia me falar o que poderia estar acontecendo… não consigo entender.

— Seu pai desenvolveu coisas interessantes para bater de frente com você, Hideki… uma pena não poder te matar aqui.

Tenha calma e não se distraia com as palavras vazias dele, pense que você já lutou se desviando de várias coisas ao mesmo tempo… sim, igual foi com a Nina, igual foi com a amiga de Maki.

Abaixei minhas pernas, coloquei a espada para trás segurando com as duas mãos, poderia estar sem proteção, mas não era isso o que eu queria. De dentro da minha mente uma voz gritava intensamente para fazer esses exatos movimentos, como se fosse um mestre de esgrima formal. A vida dessas pessoas estavam na minha mão, de alguma forma tinha que achar uma brecha para poder atacá-lo, por uns segundos paramos e assim olhei envolta, tinha que ter algo que poderia jogar essas lanças em minha direção.

Diferente da luta com a Nina, as outras pessoas conseguiram se esquivar, por conta disso não teria nenhuma preocupação em defender os outros, mas aqui é diferente, os reféns não conseguem se esquivar, ele poderia em qualquer momento jogar uma lança em direção a eles que simplesmente não iria conseguir protegê-los… tem que haver alguma coisa que posso fazer… pense, Hideki… pense…

 — Então é real… você não consegue vê-lo… ISSO É SIMPLESMENTE MAGNÍFICO.

Outro projétil voa em minha direção, dessa vez das minhas costas, não iria conseguir esquivar pois percebi tarde demais, e muito menos defender, minhas mãos estavam segurando a espada, não ia ter reflexo o suficiente para tentar pegar e apagar a lança, ou tentar contra atacar com minha espada…

Por um momento pensei que essa poderia me acertar, mas uma outra lança para esse projétil no ar, o rebatendo direto contra o falso rei, seu rosto é arranhado e ele simplesmente transforma seu sorriso em um rosto de completa raiva, quem estava ao meu lado, lutando comigo, era a Any… que por mais ferida que estivesse… ainda sim se aproximou para lutar ao meu lado.

Ela não me olhou, simplesmente apontou uma lança de guerra em direção ao falso rei.

— Acha que conseguiria fazer o suficiente para me destruir? Eu falei que voltaria… e agora é hora de acabar com tudo o que você pode fazer.

— Ah… isso não é bom…

Sem olhar pra mim, Any decide falar:

— Hideki, ele tem um demônio na sala, eu lutarei contra o demônio, pode lutar contra o rei falso… eu deixarei você matá-lo se quiser… enquanto isso protegerei suas costas da mesma forma que lutou para me proteger contra a deusa das memórias. Estou depositando minha confiança em você.

— Como chegou até aqui?

— Não posso falar agora, talvez… deixe para mais tarde.

— Ainda… assim como você fez… eu ainda irei lutar pela minha amada. — diz Any.

Logo apontei minha espada em direção ao rei… que mesmo assim… se enfureceu.

— Ah… vocês estragam tudo… não pode fazer coisas desse jeito, ele ficará bravo…

Uma espada apareceu na mão dele, era fina e pontiaguda, por conta disso… respirei fundo…

Avancei pra cima do falso rei e logo ele também fez o mesmo, nossas espadas se chocaram e jogaram nós dois para uns centímetros pra trás, ele faz uma acrobacia e logo aparece atrás de mim, seu ataque é defendido, e nossas espadas se chocam novamente, dessa vez ele se aproxima do meu rosto e diz:

— Talvez… se eu te matar aqui, seu pai poderia me perdoar.

Logo eu faço força o suficiente para jogá-lo na parede… aperto a espada, era hora de parar de fazer movimentos feios e travados para começara realmente lutar sem parar, meus ataques começam e ele consegue desviar de grande maioria, aquilo logo começa a jogar a poeira do chão para o ar, se tornando dificil de manter uma respiração adequada e principalmente, não permitindo uma visão decente.

Mas, mesmo assim, continuo meus ataques direto sem medo algum, de alguma forma, mesmo que ele desviasse de tudo… eu teria que ainda sim conseguir bater de frente com ele, o sorriso que se manteve no rosto durante a luta me deixava completamente irritado, como se estivesse me menosprezando, talvez estivesse mesmo, vendo como esse sujeito é.

Quando ele tenta contra-atacar, a sua espada bate na minha, e logo me joga para o lado, assim ele tenta fincar na minha cara, um terremoto acontece e sua espada vai um pouco para o lado, arranhando meu rosto, um barulho alto se escuta, era o dragão do lado de fora que estava gritando, provavelmente de raiva.

Não posso parar por aqui.

O ar estava denso, a poeira estava por todo lado, mas ainda sim… virei a minha espada e dei um ataque direto na lateral desse falso rei, o jogando contra a parede que estava ao meu lado, o ataque foi tão forte que sangue voou por todo lado. O homem bateu na parede e logo caiu no chão, me aproximei de seu corpo caído… 

— Não… não pode ser assim…

Logo ele cospe muito sangue por conta da luta de Any, que havia neutralizado o demônio…

Ele se ajoelha e assim pega uma adaga que estava em seu bolso… ela tinha pequenos detalhes em dourado, assim ele finca em seu próprio coração, pensei que fosse um suicidio, mas não era isso… estava além disso. Na hora não percebi, mas ele estava aumentando seu poder.

— Sabe Hideki… às vezes… seu inimigo não é quem você pensa.

Uma fumaça roxa domina o local e logo as luzes começam a voar por todo lado, as paredes do castelo começam a rachar… então uma voz masculina ecoou por todo o castelo.

— HIDEKI, PEGA TODO MUNDO E SAÍ!

Era Kay que estava possivelmente na estrada do castelo, ou do que sobrou dele.

Na minha frente estava uma pessoa se transformando em outro alguém, um cabelo branco e longo começa a brilhar, aquele rosto…

O corpo era só um receptáculo, algo que estava além da minha própria compreensão… mas ainda sim, aquela pessoa, aquele rei falso era nada mais do que apenas uma pessoa também falsa, aquele que estava aparecendo na minha frente era ele… o deus da criação… Riki Hirai… o meu pai.

— Faz um tempo… meu querido filho.



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